Levei para Buenos Aires o "Túnel" do Ernesto Sábato. Li metade do livro no avião na ida e a outra metade devorei no primeiro dia. Sábato ainda está vivo. Ele nasceu em 1911 e está perto dos cem anos. É impressionante a quantidade de aniversários de 100 anos que ocorrem nos dias de hoje. No futuro próximo, teremos mais e mais aniversários de 100 anos. O Túnel é uma história existencialista que lembra os romances de Sartre e Camus. São dois personagens fortes, o dono da história, o sanguíneo Castel que mata a enigmática Maria. Por que Castel matou Maria? Um belo dia numa galeria de arte, Maria contemplou o trabalho de Castel e ficou impressionada com uma janela que havia num de seus quadros. Castel, que estava lá, também percebeu o olhar de Maria. Havia entre os dois um segredo não compartilhado. Eles não se conheciam e teriam um dia de se encontrar. Dias depois de muita angústia, os dois se encontraram, por acaso ou não. Eles conviveram e se gostaram. Circulavam pela Calle Posadas, na Recoleta, pela Plaza Francia, na Buenos Aires da metade do século passado. Maria descobriu os segredos de Castel, conseguiu entrar em seu íntimo e alcançar a janela de seu tunel. Mas Maria desaparecia. Seu tunel não era transparente como vidro, ele tinha também longas paredes de concreto. O que Maria fazia quando desaparecia? Quantos homens andavam com ela? Será que Maria tinha condições de amar Castel? Castel perguntava a Maria. Castel gritava com Maria. E se irritava, porque as respostas de Maria eram sempre genéricas e evasivas. Maria simplesmente não respondia. Ela enrolava. Não queria responder. E o mistério alimentava a raiva. E depois vinha o ciúmes, o maldito ciúmes. Castel enlouqueceu. Maria era casada com Allende, um cego. Maria enganava um cego e o pior, passava dias e dias em Mar Del Plata, onde morava um primo. Ela e o primo, sozinhos na casa de Mar del Plata. Por onde anda Maria? Quem anda com ela? E Castel matou Maria.
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