Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vem Aí a Complicada Cúpula das Américas


Obama e o presidente do México, Calderon, juntos ontem.

Obama, dono da velha OEA, estende a mão à OEA do B


Artigo de Clóvis Rossi na Folha de hoje.



A 5ª Cúpula das Américas poderia ser substituída com vantagem pelo encontro de amanhã cedo entre o presidente Barack Obama e os governantes dos países da Unasul (União de Nações Sul-Americanas).


É, afinal, a reunião entre o país número 1 da OEA (Organização dos Estados Americanos), que a velha esquerda latino-americana carimbava como "Ministério das Colônias" dos Estados Unidos, e o que a nova esquerda sul-americana quer consolidar como pilar principal da "OEA do B", a Unasul.


O reconhecimento de Obama à Unasul é música aos ouvidos do governo brasileiro. "O encontro demonstra que a Unasul já tem o reconhecimento internacional de que é uma instituição importante", diz o embaixador Osmar Chohfi, representante do Brasil na OEA.


O projeto de integração dos países sul-americanos é prioritário no governo brasileiro desde a primeira encarnação de Celso Amorim como chanceler, na gestão Itamar Franco (1992/1994).


Nascida como Comunidade Sul-Americana de Nações, em 2004, só ganhou estado formal em maio do ano passado. Com menos de um ano, ser chamada para um encontro com o presidente dos Estados Unidos é de fato um reconhecimento importante. Ainda mais que Obama seguiu o caminho institucional: pediu o encontro ao governo chileno, que é o presidente de turno da Unasul.


Falar com os presidentes da Unasul é falar com quem de fato conta na América Latina, já que o outro grande regional, o México, que não participa da Unasul, recebeu ontem mesmo a visita de Obama.


Mas, cuidadoso com as suscetibilidades, o presidente norte-americano convidou também, para encontros separados, os representantes dos dois outros processos de integração, a Caricom (Comunidade do Caribe) e o Sica (Sistema de Integração Centro-Americano).


Fatiamento e Cuba

Visto de outra forma: Obama fatiou a América Latina, o que lhe oferece a vantagem de tratar do tema Cuba à margem do plenário da cúpula propriamente dita.


É óbvio que o tema Cuba, totalmente ausente do comunicado final, aparecerá nos três encontros.


Afinal, os líderes dos 33 países da América Latina e do Caribe lançaram em dezembro, na Bahia, a OEA do B, oficialmente batizada de OEALC (Organização dos Estados da América Latina e do Caribe). Cuba participa, mas está suspensa da OEA oficial, da qual fazem parte os Estados Unidos e o Canadá, por sua vez, ausentes da OEALC.


Há unanimidade entre os 33 latino-americanos/caribenhos em que o embargo a Cuba é arcaico. O documento de suspensão da ilha caribenha da OEA é definido como "manual da Guerra Fria" por experiente diplomata que conhece todos os escaninhos da instituição.Obama está preparado para ouvir, a julgar pelo que disse seu embaixador na OEA, Hector Morales, em conversa com jornalistas na semana passada: "Cuba não está na agenda, mas é óbvio que alguns países levantarão o tema em Trinidad e Tobago".

Palco para Chávez

Mas entre ouvir discursos pró-Cuba e aceitar que o texto final mencione a ilha vai uma distância que o presidente norte-americano se recusa a percorrer.Por isso, é para ele mais cômodo ouvir os mais estridentes defensores de Cuba (Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa) em uma sala em que estarão também os moderados Luiz Inácio Lula da Silva e Michelle Bachelet, para não mencionar Alan García e Álvaro Uribe, muito mais pró-EUA que pró-Cuba.


Ainda mais que, no encontro que mantiveram em Washington, no mês passado, Lula defendeu Chávez junto a Obama, mas avisou que o presidente venezuelano é um boquirroto incontrolável. Não há melhor palco que uma cúpula como a de Trinidad e Tobago para dar vazão à verborragia de Chávez.


Daí a que produza algum resultado, vai uma imensa distância. Ainda mais que há outros assuntos, além de Cuba, na agenda de alguns presidentes. Correa, por exemplo, quer tratar com Obama do tema da imigração. A remessa dos migrantes é essencial para a economia equatoriana, embora a maioria dos equatorianos da diáspora tenha se dirigido à Espanha, não aos EUA.Quase todos os chefes de governo querem falar (ou ouvir mais do que falar em alguns casos) da crise econômica, naturalmente inclinados a culpar, como Lula já o fez, "os brancos de olhos azuis", no caso os responsáveis pelo setor financeiro nos Estados Unidos.


De todo modo, com o documento final já pronto -e sem destaques agudos-, o potencial de choque na cúpula se transfere para as três reuniões de Obama no sábado e para o período chamado de "retiro", no domingo, em que cada governante falará do que quiser.

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