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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 14 de abril de 2009

Pirataria é o Único Negócio que Funciona na Somália


No El Pais de hoje.

Pirataria é a única indústria que funciona na Somália

Em um mundo em crise, ser pirata na Somália é um negócio rentável, o único que funciona em um país destruído pelas guerras: € 75 milhões de lucro em 2008, com 40 barcos sequestrados. Este ano, com uma frota de destróieres, fragatas e lanchas-patrulhas dos EUA, Rússia, Índia e União Europeia - a Espanha assumiu o comando da força aeronaval europeia - mobilizada nas águas do oceano Índico sob o mandato do Conselho de Segurança da ONU, o número de incidentes se multiplicou: em três meses e meio ocorreram 60 ataques.

Os piratas mantêm sequestradas 260 pessoas e 16 barcos retidos, seis dos quais foram capturados na última semana (um liberado na sexta-feira por comandos franceses). Calcula-se que o lucro em resgates seja de € 38 milhões em 2009."


É uma tragédia que as coisas tenham chegado a esse ponto", afirma à agência Reuters Mohamed Abdullahi Omaar, ministro das Relações Exteriores do novo governo provisório da Somália, formado por islâmicos moderados. "Também demonstra de forma categórica que o assunto da pirataria deve ser tratado e resolvido em terra. Nossa prioridade é restabelecer o estado de direito."

Omaar pertence à décima quinta tentativa de formar algum tipo de governo que ponha fim ao caos que reina desde 1991, quando o Estado se esfumou com a derrubada de Siad Barre e foi substituído por bandos criminosos, com frequência drogados com khat e divididos em um labirinto crescente de clãs, subclãs e sub-subclãs impossível de se acompanhar e compreender.


O novo presidente provisório, eleito em fevereiro por um Parlamento não menos provisório, e dessa vez com o apoio dos EUA, Sharif Ahmed, é a grande esperança de evitar que o país caia nas mãos da milícia Al Shabab (juventude), braço armado do setor radical da antiga União de Cortes Islâmicas, ligada à Al Qaeda e que controla o sul e a metade da capital, Mogadíscio.Sharif Ahmed é o líder do setor moderado daquelas Cortes depostas em dezembro de 2006 pela Etiópia e os EUA, que então não souberam explorar as diferenças internas e expulsaram todos, moderados e radicais, do poder em Mogadíscio. Era o tempo de George W. Bush, pouco propício aos matizes. O problema de Sharif Ahmed é que controla apenas o norte da capital e o centro da Somália.Os piratas não são o problema, mas a consequência do caos e da pobreza, denuncia a ONG Médicos Sem Fronteiras, que mantém equipes locais no país. Vinte e cinco por cento dos somalis dependem de uma ajuda humanitária cada vez mais perigosa de distribuir. Três milhões de seus 8 milhões de habitantes (não há censo) estão desalojados. Escasseia a água potável, a luz elétrica vem de geradores a diesel, quase não há professores e não funciona o sistema de saúde, que carece de tudo. Na Somália só funcionam as armas, os telefones celulares e por satélites e os navegadores GPS, as ferramentas indispensáveis para a pirataria.A rota do mar Vermelho, que liga o Índico ao Mediterrâneo, é de grande importância econômica: cerca de 30 mil barcos sulcam suas águas por ano. Os ataques piratas não se limitam aos 2.896 km de costa e são cada vez mais ousados: o cargueiro Maersk Alabama foi assaltado a mais de 400 km da costa. Contra destróieres de US$ 800 milhões como o americano Bainbridge, os piratas se deslocam em barcos dos quais partem as lanchas com meia dúzia de homens armados com lança-granadas.A comunidade internacional decidiu enfrentá-los com navios de guerra. Por enquanto não há planos para lutar contra o caos político que a alimenta, que até o aparecimento dos piratas produziu um benefício menor: os barcos utilizados para assaltar navios eram de pescadores que não têm o que pescar em águas cheias de modernas frotas de pesca estrangeiras que não tiveram de pagar um dólar em direitos de pesca a um governo inexistente.O ministro Omaar insiste que a única solução é fortalecer a autoridade central. "Falamos de uma superfície marinha de um milhão de quilômetros quadrados", duas vezes o tamanho da Espanha. "Com os barcos mobilizados e assim por diante impossível solucionar o problema", acrescenta. Mas devolver o Estado de direito à Somália, com serviços básicos, economia real e ordem exigiria um investimento que ninguém parece disposto a assumir. Preferem pagar os resgates e a escolta de navios mercantis e superpetroleiros a investir na luta contra a miséria, que é a mãe de todos os males.

6 comentários:

ZEPOVO disse...

Certas coisas são muito difíceis de entender.
Os EUA saem detonando meio mundo atrás de terroristas, mas para o absurdo da pirataria nada fazem.
Será que agora vão se preocupar um pouco ou a Somália não tendo petróleo nem ópio, esta fora dos "objetivos estratágicos"
Já que temos que engolir a "polícia do mundo", que trabalhem um pouco!

Charlie disse...

Recomendo vivamente a leitura de Michael Scheuer, Marching toward hell (ou Imperial hubris) no que diz respeito a política externa americana. Ele é um sujeito bastante pragmático que acredita na intervenção apenas quando diretamente vinculada aos interesses americanos. Condena o apoio a Israel, uma vez que da relação só se beneficia o Estado Judeu (e coloco os EUA em difícil situação política na região), foi contra a Guerra do Iraque, já que não existia nenhuma correlação entre terrorismo internacional e Bagdad (mas que agora existe e é forte), entre outras coisas.

O pragmatismo dele é exatamente isso, desvinculado de ideologia ou religião. Alguns o consideram um "isolacionista", o que também não é verdade, já que quando identificado um interesse nacional ele apoiará a intervenção.

E, interessante, ele critica duramente a doutrina americana de invasão+ocupação+reconstrução. Acredita que inútil e moralmente condenável usar da força para impor o american way sobre outros países. Ele defende a volta das antigas expedições punitivas e impiedosas: invade+destrói+sai. A reconstrução e os rumos políticos do país em questão ficam por conta de sua população.

Charlie disse...

No caso somali, cabe a pergunta: existe algum interesse vital americano em jogo? Acho que não.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Gostei da dica, Charlie... Zé, infelizmente, a Somália, o chifre da Africa, não tem objetivo estratégico.... Mas o que os americanos faziam lá em 1993 quando ocorreu o incidente registrado no excelente filme, Falcão Negro em Perigo???

Charlie disse...

Faziam cagada, segundo o mesmo Scheuer. Intervenção motivada por motivos humanitários que resultou em marines mortos e um estado geral de baderna que reina até hoje (verdade que a tal baderna já imperava antes da intervenção).

Essa mania idiota de vestir a armadura de paladino da nova ordem mundial ainda vai liquidar o país.

Charlie disse...

Correção, não eram marines, eram army rangers e delta force