Consensos e valores
Clóvis Rossi
Folha de hoje.
Se desse para acreditar em governantes, o resumo da Cúpula de Londres seria simples: sai o Consenso de Washington, entram os "valores e princípios". Explico: quem decretou o fim do Consenso de Washington, a partir da reunião do G20, formado pelas maiores economias do planeta, foi Gordon Brown, o primeiro-ministro britânico. Quem entronizou "valores e princípios" foi a própria declaração final da cúpula, nos seguintes termos: "Concordamos em que é desejável um novo consenso global sobre valores e princípios-chave que promoverão atividade econômica sustentável". Bonito, não? Ainda mais que os chefes de governo assinam a promessa de uma saída "verde" para a crise, ou seja, usar os impressionantes fundos anunciados desde o início do problema para "fazer a transição rumo a tecnologias e infraestrutura de baixo uso de gás carbônico, limpas, inovadoras e eficientes no uso de recursos [naturais]". Eu até topo, mas vamos combinar o seguinte: o texto de ontem, assim como o anterior, da cúpula de Washington, em novembro, afirma, com todas as letras, que "a única base segura para uma globalização sustentável e crescente prosperidade para todos é uma economia aberta baseada em princípios de mercado, regulação efetiva e instituições globais fortes". Não parece o último prego no caixão do Consenso de Washington, ainda que combalido faz tempo. Nem parece combinar com a pregação que o presidente Lula fez em Santiago do Chile em favor de um "Estado forte". Bem feitas as contas, o resultado mais provável da cúpula é o que esta Folha já antecipara na segunda-feira: sai o G8, entra o G20. Já está até convocada nova cúpula do grupo "antes do final do ano". Aí, sim, se verá que "valores e princípios" predominarão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário