Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 28 de março de 2013

Já Era Hora



Eu sei, eu sei, as patroas da classe média estão indignadas, mas temos de reconhecer, essa nova lei das empregadas domésticas é mais do que justa. Isso faz parte do necessário pacote de inclusão social. Parabéns ao governo do Brasil.

Quem Foi Que Pariu Feliciano ?




Um dos grandes males do Brasil é o reacionarismo da bancada evangélica. Eles são contra tudo o que é necessário para o Brasil: descriminalização do aborto, da maconha e casamento gay.   Curiosamente, esses medievais fazem parte da base de apoio do governo Dilma, porque o que importa é a governabilidade. Esse bispo Feliciano, do PSC, está presidindo, vejam só, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados porque isso faz parte deste pacote da governabilidade. Lembro muito bem que o pessoal do PT sempre criticou o governo FHC por conta de suas alianças com o PFL do ACM. Mas é muito melhor e saudável para o Brasil fazer aliança com o PFL do ACM do que com esses medievais evangélicos. Governabilidade é sim importante, mas um governo tem de ter critérios: Renan Calheiros, presidente do Congresso e Feliciano nos Direitos Humanos é responsabilidade direta do atual governo do Brasil e sua política de aliança. Todo mundo fala -- e com razão -- do bispo Feliciano, mas muitos se calam quando os mensaleiros José Genoino e João Paulo são  indicados para Comissão de Constituição e Justiça.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Os Interesses Privados de Lula





Matéria de capa da Folha hoje, empreiteiras financiam viagens de Lula ao exterior. Alguns, os de sempre, estão a criticar a Folha, esse jornalismo marrom que adora atacar o PT. Eu sempre digo, esse pessoal não tem compromisso com a verdade, o controle social da mídia é para impedir que notícias como essa sejam divulgadas. Maldito financiamento público de campanha. Lula diz que está a defender interesses do Brasil. Lindo, maravilhoso, só tem um detalhe, em cada país que visitou havia, também, interesses das nossas empreiteiras multinacionais....

segunda-feira, 18 de março de 2013

Black and White


Ao Norte do Uruguai, no Extremo Sul do Brasil


Quanto acordei estava no Uruguai 


Era Punta del Diablo, mas parecia a Grécia 


Era para pintar um quadro mas preferi tirar uma foto de smartphone


E sai pela cidade a procura de detalhes 


Na volta a Lagoa Mirim 


Ao lado, perto do Taim, no extremo sul do Brasil, uma capela,Capila 

quarta-feira, 13 de março de 2013

E o Papa é Argentino



Fiz algumas pesquisas sobre o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, jesuita, arcebispo de Buenos Aires, o papa Francisco.  Sei que Cristina K. andou chamando Francisco de medieval, por conta da questão do casamento gay. E o papa é argentino, quem diria, argentino.

terça-feira, 12 de março de 2013

O Opositor e o Mito Embalsamado

Henrique Capriles tenta buscar eleitorado chavista

A diferença entre Capriles e Chávez na eleição de 2012 não foi tão imensa. Chávez teve 8 milhões de votos e Capriles 6,4 milhões, uma diferença de 1,5 milhão de votos. É uma diferença, mas não tão significativa assim. A questão é terá Capriles condições de conquistar esses votos diante de um mito embalsamado?

segunda-feira, 11 de março de 2013

Padrão de Burrice


Futuro Nebuloso


‘A morte do caudilho’, por Mario Vargas Llosa


PUBLICADO NO ESTADÃO DESTE DOMINGO
MARIO VARGAS LLOSA

O comandante Hugo Chávez Frías pertencia à robusta tradição dos caudilhos que, embora mais presentes na América Latina que em outras partes, não deixaram de se assomar a toda parte, até em democracias avançadas, como a França. Ela revela aquele medo da liberdade que é uma herança do mundo primitivo, anterior à democracia e ao indivíduo, quando o homem ainda era massa e preferia que um semideus, ao qual cedia sua capacidade de iniciativa e seu livre-arbítrio, tomasse todas as decisões importantes de sua vida.

Cruzamento de super-homem e bufão, o caudilho faz e desfaz a seu bel prazer, inspirado por Deus ou por uma ideologia na qual, quase sempre, se confundem o socialismo e o fascismo ─ duas formas de estatismo e coletivismo ─ e se comunica diretamente com seu povo mediante a demagogia, a retórica, a espetáculos multitudinários e passionais de cunho mágico-religioso.

Sua popularidade costuma ser enorme, irracional, mas também efêmera, e o balanço de sua gestão, infalivelmente catastrófico. Não devemos nos impressionar em demasia pelas multidões chorosas que velam os restos de Hugo Chávez. São as mesmas que estremeciam de dor e desamparo pela morte de Perón, de Franco, de Stalin, de Trujillo e as que, amanhã, acompanharão Fidel Castro ao sepulcro.

Os caudilhos não deixam herdeiros e o que ocorrerá a partir de agora na Venezuela é totalmente incerto. Ninguém, entre as pessoas de seu entorno, e certamente em nenhum caso Nicolás Maduro, o discreto apparatchik a quem designou seu sucessor, está em condições de aglutinar e manter unida essa coalizão de facções, de indivíduos e de interesses constituídos que representa o chavismo, nem de manter o entusiasmo e a fé que o defunto comandante despertava com sua torrencial energia nas massas da Venezuela.

Uma coisa é certa: esse híbrido ideológico que Hugo Chávez urdiu chamado revolução bolivariana ou socialismo do século 21, já começou a se decompor e desaparecerá, mais cedo ou mais tarde, derrotado pela realidade concreta: a de uma Venezuela, o país potencialmente mais rico do mundo, ao qual as políticas do caudilho deixaram empobrecido, dividido e conflagrado, com a inflação, a criminalidade e a corrupção mais altas do continente, um déficit fiscal que beira a 18% do PIB e as instituições ─ as empresas públicas, a Justiça, a imprensa, o poder eleitoral, as Forças Armadas ─ semidestruídas pelo autoritarismo, a intimidação e a submissão.

Além disso, a morte de Chávez coloca um ponto de interrogação na política de intervencionismo no restante do continente latino-americano que, num sonho megalomaníaco característico dos caudilhos, o comandante defunto se propunha a tornar socialista e bolivariano a golpes de talão de cheques. Persistirá esse fantástico dispêndio dos petrodólares venezuelanos que fizeram Cuba sobreviver com os 100 mil barris diários que Chávez praticamente presenteava a seu mentor e ídolo Fidel Castro? E os subsídios e as compras de dívida de 19 países, aí incluídos seus vassalos ideológicos como o boliviano Evo Morales, o nicaraguense Daniel Ortega, as Farc colombianas e os inúmeros partidos, grupos e grupelhos que por toda a América Latina lutam para impor a revolução marxista?

O povo venezuelano parecia aceitar esse fantástico desperdício contagiado pelo otimismo de seu caudilho, mas duvido que o mais fanático dos chavistas acredite agora que Maduro possa vir a ser o próximo Simon Bolívar. Esse sonho e seus subprodutos, como a Aliança Bolivariana para as América (Alba), integrada por Bolívia, Cuba, Equador, Dominica, Nicarágua, San Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda, sob a direção da Venezuela, já são cadáveres insepultos.

Nos 14 anos que Chávez governou a Venezuela, o preço do barril de petróleo ficou sete vezes mais caro, o que fez desse país, potencialmente, um dos mais prósperos do planeta. No entanto, a redução da pobreza nesse período foi menor que a verificada, por exemplo, no Chile e no Peru no mesmo período. Enquanto isso, a expropriação e a nacionalização de mais de um milhar de empresas privadas, entre elas 3,5 milhões de hectares de fazendas agrícolas e pecuárias, não fez desaparecer os odiados ricos, mas criou, mediante o privilégio e o tráfico, uma verdadeira legião de novos ricos improdutivos que, em vez de fazer progredir o país, contribuiu para afundá-lo no mercantilismo, no rentismo e em todas as demais formas degradadas do capitalismo de Estado.

Chávez não estatizou toda a economia, como Cuba, e nunca fechou inteiramente todos os espaços para a dissidência e a crítica, embora sua política repressiva contra a imprensa independente e os opositores os reduziu a sua expressão mínima. Seu prontuário no que respeita aos atropelos contra os direitos humanos é enorme, como recordou, por ocasião de seu falecimento, uma organização tão objetiva e respeitável como a Human Rights Watch.

É verdade que ele realizou várias consultas eleitorais e, ao menos em algumas delas, como a última, venceu limpamente, se a lisura de uma eleição se mede apenas pelo respeito aos votos depositados e não se leva em conta o contexto político e social no qual ela se realiza, e na qual a desproporção de meios à disposição do governo e da oposição era tal que ela já entrava na disputa com uma desvantagem descomunal.

No entanto, em última instância, o fato de haver na Venezuela uma oposição ao chavismo que na eleição do ano passado obteve quase 6,5 milhões de votos é algo que se deve, mais do que à tolerância de Chávez, à galhardia e à convicção de tantos venezuelanos que nunca se deixaram intimidar pela coerção e as pressões do regime e, nesses 14 anos, mantiveram viva a lucidez e a vocação democrática, sem se deixar arrebatar pela paixão gregária e pela abdicação do espírito crítico que o caudilhismo fomenta.

Não sem tropeços, essa oposição, na qual estão representadas todas as variantes ideológicas da Venezuela está unida. E tem agora uma oportunidade extraordinária para convencer o povo venezuelano de que a verdadeira saída para os enormes problemas que ele enfrenta não é perseverar no erro populista e revolucionário que Chávez encarnava, mas a opção democrática, isto é, o único sistema capaz de conciliar a liberdade, a legalidade e o progresso, criando oportunidades para todos em um regime de coexistência e de paz.

Nem Chávez nem caudilho algum são possíveis sem um clima de ceticismo e de desgosto com a democracia como o que chegou a viver a Venezuela quando, em 4 de fevereiro de 1992, o comandante Chávez tentou o golpe de Estado contra o governo de Carlos Andrés Pérez. O golpe foi derrotado por um Exército constitucionalista que enviou Chávez ao cárcere do qual, dois anos depois, num gesto irresponsável que custaria caríssimo a seu povo, o presidente Rafael Caldera o tirou anistiando-o.

Essa democracia imperfeita, perdulária e bastante corrompida, havia frustrado profundamente os venezuelanos que, por isso, abriram seu coração aos cantos de sereia do militar golpista, algo que ocorreu, por desgraça, muitas vezes na América Latina.
Quando o impacto emocional de sua morte se atenuar, a grande tarefa da aliança opositora presidida por Henrique Capriles será persuadir esse povo de que a democracia futura da Venezuela terá se livrado dessas taras que a arruinaram e terá aproveitado a lição para depurar-se dos tráficos mercantilistas, do rentismo, dos privilégios e desperdícios que a debilitaram e tornaram tão impopular.

A democracia do futuro acabará com os abusos de poder, restabelecendo a legalidade, restaurando a independência do Judiciário que o chavismo aniquilou, acabando com essa burocracia política mastodôntica que levou à ruína as empresas públicas. Com isso, se produzirá um clima estimulante para a criação de riqueza no qual empresários possam trabalhar e investidores, investir, de modo que regressem à Venezuela os capitais que fugiram e a liberdade volte a ser a senha e contrassenha da vida política, social e cultural do país do qual há dois séculos saíram tantos milhares de homens para derramar seu sangue pela independência da América Latina.

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK


 

Capriles contra o Mito




Não vai ser fácil para o candidato Henrique Capriles vencer o mito. Ontem ele anunciou sua candidatura para o governo da Venezuela, a eleição será em 14 de abril. Sintonizei, então, a rádio nacional venezuela e os cabras estavam indignadíssimos com as primeiras declarações do lider opositor. Diziam eles que a família de Chávez vai processar Capriles por ofensas morais. Capriles apenas disse que o velório de Chávez era um ato de propaganda política.




Capriles segura a constituição bolivariana
Depois, no início da  noite,  todas as redes venezuelanas anunciaram o retornos das aulas nesta segunda-feira e dando conselhos aos professores sobre como devem tratar o assunto morte de Chávez. Para os bolivarianos Chávez não morreu, ele está ainda vivo, suas alma e suas idéias nunca morrerão. E Capriles vai ter de enfrentar o mito embalsamado. Tudo o que ele disser contra esse novo deus será considerado pecado. O bolivarianismo se transformou em religião. O fanatismo impera. A inconsciência também.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Chávez










 
 
Chávez sempre foi assunto corrente neste Blog. E talvez continue sendo. Mas agora existe uma lacuna, um vazio.
 
É perfeitamente compreensível essa comoção popular pela morte do comandante. Foi Chávez que resolveu colocar dinheiro do petróleo para fazer inclusão social. Antes não era assim. E por isso ele é tão amado e idolatrado pela população mais pobre e carente.
 
 
 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Morreu o Teimoso


O Teimoso e seu gesto característico


Entrei no taxi e falei: vamos para a Arena. O taxista olhou para mim e disse: morreu o teimoso. É verdade, morreu o teimoso.

Ontem no jogo Grêmio 4 x 1 Caracas, apenas metade dos jogadores do time venezuelano portavam a tarja preta do luto. A outra metade não. Achei estranho.

Se existe algo positivo no que Chávez fez é utilizar os valores recebidos do petróleo para investimento na inclusão social.

Mas para fazer isso não é necessário alimentar antagonismos sociais.

De fato, morreu o teimoso.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Enfim, Uma Notícia Maravilhosa





 Cientistas norte-americanos anunciaram que criança, hoje com 2 anos, e que nasceu com virus HIV transmitido pela mãe doente está praticamente curada.. A criança foi submetida a tratamento com medicamentos antirretrovirais por um ano e meio.  

É Só Notícia Ruim



Pois meu filho ontem  me perguntou: pai preciso de três notícias, uma estadual, outra nacional e a terceira internacional para entregar no colégio Fui logo dizendo, a estadual é que morreu, este fim de semana,  a 240ª  vítima do incêndio da Boite Kiss em Santa Maria; da federal, o goleiro Bruno do Flamengo vai ser julgado pela morte da amante Eliza Samúdio e internacional é que o estado de saúde do presidente da Venezuela, Hugo Chávez é muito grave, ele está á beira da morte.  Meu filho olhou para mim e disse: Bah, pai, é só notícia ruim....

Não comentei com ele, mas fiquei a pensar, será que essa notícia da Venezuela é tão ruim assim?

sexta-feira, 1 de março de 2013

Vergonha de Pibinho




Saiu o pibinho brasileiro, 0,9%. Perdemos o título de sexta maior economia do mundo, o Reino Unido nos passou. É o pior desempenho desde 2009, cujos índices têm a ver com a crise de 2008. Por que isso? Ora, porque não fizemos as reformas, ditas neoliberais, que deveriamos fazer. Gastamos mal, investimos mal, temos péssimos políticos, um congresso de m... e governantes preocupados exclusivamente  com a popularidade. Não é a toa que estamos onde estamos.

Banho de Racionalidade


Grande Gabeira, hoje e no passado usando sunga de croché
 
 
Artigo de Fernando Gabeira no Estadão de 01 de março de 2013. Respeito os caras que foram da esquerda radical e depois tomaram banho de racionalidade.
 
Furacão Sobre Cuba
 
 
Fernando Gabeira *

Grande parte dos neurônios da esquerda triunfante brasileira foi irremediavelmente perdida na guerra fria. Com seus aliados cubanos, ela nos jogou no século passado durante a visita da blogueira Yoani Sánchez.

Sartre pediria um dose de absinto para entender que outro furacão ameaça Cuba: a revolução digital. Marx precisaria de boas almofadas para acomodar seus furúnculos no bumbum ao contatar que uma ditadura comunista não resiste ao avanço tecnológico e científico da humanidade.

Cuba e Venezuela estão ligadas por fibra ótica. Do ponto de vista técnico, a ilha poderia estar toda conectada ao mundo e, pela criatividade e boa educação de seu povo, achar novos caminhos para superar seu atraso econômico. Mas o instrumento não pode ser usado em sua amplitude porque ameaça a estabilidade do governo. Para que o governo exista o atraso precisa sobreviver.

Yoani não é a primeira voz dissidente em Cuba. Mas foi a que melhor usou a conexão com o mundo não só para divulgar seus artigos, mas para garantir algum nível de proteção diante da burocracia. De longe, com seus cabelos longos, saias compridas, pode sugerir aquela personagem que sobe no fio e desanda a fazer milagre no filme Teorema, de Pasolini. Mas é articulada, responde a todas as perguntas, até às mais provocativas, e certamente também foi arrastada para o século passado com aquelas pessoas gritando palavras de ordem.

Digo isso porque no seu blog confessou que a experiência com os militantes brasileiros lhe lembrou coisas parecidas em Cuba, sobretudo os gritos de "traidora" contra uma vizinha que iria para o Porto de Mariel na grande debandada permitida pelo governo. Numa entrevista ressaltou que nem os jovens cubanos usam mais o termo ianque. Um forte cheiro de naftalina exalou não só dos cartazes e gritos, mas de toda a história da campanha organizada pela embaixada cubana, com apoio do batalhão digital do PT.

O curioso é que dentre aqueles cartazes havia um que Yoani empunharia com naturalidade: o que pede o fim do embargo econômico à ilha. O problema é o bloqueio mental, porque torna mais denso o cerco econômico. A manobra articulada pelos cubanos e seus aliados na esquerda é típica de estrategistas que perderam o contato com a realidade. Constantemente obtêm o oposto do que projetaram.

A campanha contra Yoani ampliou a repercussão de sua visita ao Brasil e estendeu o halo de simpatia em torno de uma pessoa que luta pela liberdade de expressão. Em todos os contatos espontâneos ela recebeu carinho no País. Isso talvez tenha mostrado rapidamente a uma estrangeira que nossa política externa expressa a vontade de um partido dominante, não a vontade nacional.

Os neurônios perdidos na guerra fria fazem enorme falta à esquerda no poder. Por que não contestar com argumentos a luta pela liberdade de expressão num regime ditatorial? Simplesmente porque a burocracia cubana e, agora, a brasileira já não se dispõem ao debate, apenas à desqualificação dos que delas divergem.

No livro de Reinaldo Arenas Antes que Anoiteça segui, emocionado, alguns lances do aniquilamento de uma geração de intelectuais e poetas pelas forças da repressão. Percebi que, tanto nele como em Raúl Rivero e mesmo em Juan Pedro Gutierrez, que vive em Havana, existe um grande vínculo com a vida, com os sentidos, e intuí que talvez venha daí a força para prosseguir adiante, apesar da aspereza do cotidiano numa ditadura.

No dossiê que os burocratas cubanos prepararam contra Yoani consta que ela gosta de comer bananas e, às vezes, tomar cerveja com os amigos. Seu último fim de semana foi passado no Rio. Deve ter percebido que o crime que lhe atribuem é uma delinquência de massa, com tanta gente tomando cerveja num domingo de muito calor. A burocracia investe contra isso não apenas pela cerveja ou mesmo pelas bananas. Ela investe contra o prazer, contra a vida, da mesma forma que investiu contra os antecessores de Yoani. Esse é o núcleo indestrutível que ela não consegue alcançar. Suas táticas puritanas no Brasil, então, não têm a mínima chance de prosperar.

Yes, nós temos bananas. O Brasil não é só um grupo de caras de barba vociferando nas ruas e nos blogs. A passagem de Yoani foi uma contribuição nacional para iluminar a realidade cubana e dissipar a aura de romantismo em torno da revolução. Os adversários ajudaram, é verdade. Fizeram a parte do leão, admito. Se continuo nesse tom, acabo me empolgando e escrevendo que os adversários são bons companheiros, ninguém pode negar...

Em alguns momentos você pode errar de século ou mesmo de alvo. Os sequestradores do embaixador americano, em setembro de 1969, quase o confundiram com o embaixador de Portugal. Quando houve um quebra-pau em Minas na passagem do Brizola por BH, um pouco antes do golpe de 64, José Maria Rabelo era protegido por um segurança que socava todo mundo aos gritos de "vamos acabar com esses comunistas!". José Maria agarrou-o pelos braços e disse: "Comunistas somos nós, comunistas somos nós". E ele respondeu: "Ah, bem".

A recepção que cubanos e petistas eletrônicos deram a Yoani não tem a graça do século passado. É um equívoco que envolve o destino de 11 milhões de cubanos e a reputação internacional do Brasil. No passado, pelo menos, havia alguma imaginação. Se um dia a esquerda encastelada no poder for obrigada a voltar a lutar nas ruas por uma causa justa, estará perdida. Imaginem quem será convencido por um grupo de pessoas, narizes de palhaço, gritando coisas do século passado... Ainda não perceberam que o século passou e levou consigo a Juventude Hitlerista, os Guardas Vermelhos, deixando-nos apenas com uns estridentes palhaços chamando de traidora uma jovem mulher cuja vida é o exercício de liberdade.

Eduardo Suplicy bem que tentou fazê-los discutir, mostrar que tudo aquilo era absurdo. O embaixador cubano chegou a perguntar se o senador não era da CIA. Suplicy da CIA? Só quem não o conhece poderia pensar nisso. E quem conhece um pouco a CIA sabe que, apesar de todas as suas loucuras, não seria ousada a esse ponto.
* Fernando Gabeira é jornalista.