Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 31 de julho de 2008

E a História se Repete. Até Quando Vai se Repetir?


Salas arrombadas, sumiço de materiais, elevadores danificados e até fezes pelo chão seriam alguns dos itens de um relatório elaborado pela superintendência regional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para descrever o resultado da invasão promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Capital há uma semana. Ontem, devido à falta de condições de trabalho no prédio localizado na Avenida Loureiro da Silva, a coordenação do ministério no Estado liberou os funcionários para irem para casa.
Desde quinta-feira passada, cerca de 600 sem-terra ocupam as instalações do edifício de oito andares, onde também se localiza o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) - órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e liderado por Mozar Dietrich, ex-assessor de Miguel Rossetto na pasta e publicamente simpático à luta do MST. Embora os andares em que fica o Incra sejam o alvo preferencial do protesto que pede pressa no ritmo dos assentamentos no Estado, os corredores do Ministério da Agricultura são objeto de queixas de furtos e depredações.
- Quando invadiram o Incra outras vezes, também acabamos pagando o pato. Mas, desta vez, o grau de destruição foi bem maior - lamenta um servidor que prefere não se identificar.
Conforme o superintendente federal da Agricultura no Estado, Francisco Signor, o maior estrago teria sido provocado após o arrombamento da sala de máquinas dos elevadores. Durante o fim de semana, com a suposta intenção de recolocar em funcionamento os equipamentos, que se encontravam desligados, os sem-terra teriam ocasionado avarias no sistema eletrônico de dois dos três existentes.
- Havíamos concluído recentemente uma reforma que custou R$ 300 mil. Agora, vamos ter de ver em quanto ficará o conserto - afirma Signor.
Nos últimos dias, o relatório contendo imagens e informações sobre os danos provocados pela invasão foi encaminhado ao Ministério da Agricultura em Brasília. As informações incluem supostos estragos feitos na casa de máquinas, o sumiço de ferramentas em um valor estimado de R$ 10 mil e de materiais de escritório, o arrombamento de uma sala em que se encontram arquivos de documentos do órgão e a existência de fezes no chão.
- Encontramos camisinhas, portas quebradas, colchões ocupando os corredores e a entrada dos gabinetes, fezes, um cheiro horrível. São coisas lamentáveis - revela um servidor.
Militantes controlavam acesso da população
Oficialmente, a sede do ministério em Brasília se limitou a informar por meio da assessoria de imprensa que, com base nos relatos, entrou em contato com a pasta do Desenvolvimento Agrário recomendando esforço para obter uma reintegração de posse e a comunicação dos acontecimentos à Casa Civil. Apesar disso, a própria superintendência gaúcha da Agricultura pretende encaminhar hoje uma ação à Justiça pedindo a liberação do prédio.
Ontem pela manhã, um grupo de militantes do MST controlava o portão de acesso ao edifício, permitindo somente a entrada de alguns poucos funcionários e de sem-terra autorizados pela coordenação dos invasores a sair e voltar. Casos especiais eram analisados pelos líderes do movimento no local. Em seguida, os servidores da Agricultura e do Incra foram liberados do serviço.
Isso resultou na interrupção do atendimento à população. Diariamente, cerca de 200 pessoas procuram o ministério para tratar de assuntos como registros e regularização de insumos e alimentos, licenças para importação e exportação e certificação de trânsito animal, entre outros serviços. Signor afirma que a liberação dos funcionários da Agricultura, pasta que costuma ser relacionada pelos sem-terra aos interesses do agronegócio, também teve como objetivo evitar atritos entre servidores e invasores:
- Orientei a todos para que mantivessem a calma, mas, sabe como é, às vezes fica difícil controlar animosidades.

Fonte:Zero Hora de hoje.

Lider das Farc diz que a Luta (Armada) Continua



Em entrevista, o lider das Farc ((Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciou que a luta armada continua. Diz Ivan Márquez que "Com [o presidente da Colômbia, Álvaro] Uribe, a paz não é mais que uma quimera. A solução política ao conflito só é possível com outro governo". Marquez também tentou justificar os seqüestros cometidos pelas Farc como via para conseguir a libertação dos guerrilheiros presos. O líder disse que os comunistas estão "em todo o seu direito de buscar, por todos os meios, a liberdade dos combatentes presos, tanto nas prisões do regime (Colômbia) quanto nas do império (EUA)".

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Então tá.

Fracasso em Genebra

O negociador de Nova Delhi, Kamal Nath, é tido como um dos responsáveis pelo fracasso das negociações da rodada de Doha em Genebra.

Brasil perde com novo colapso da Rodada Doha, mas trilhou na Suíça um caminho melhor para negociações comerciais.


Poucas vezes desde que foi lançada, em 2001, a Rodada Doha de liberalização do comércio mundial esteve tão próxima de uma conclusão como agora em Genebra. Teria sido, decerto, um desfecho aquém das expectativas iniciais, talvez insuficiente para lançar uma nova era nas trocas mercantis internacionais. Ainda assim, teria sido um bom acordo, especialmente para o Brasil.Entretanto, por um impasse lateral ao núcleo da proposta delineada na sexta -quando o Itamaraty ousou, acertadamente, afastar-se de parceiros tradicionais como Argentina, China e Índia para endossar um texto favorável ao interesse brasileiro-, a negociação naufragou. Índia e EUA foram irredutíveis em suas posições acerca do mecanismo de salvaguardas especiais, que permitiria a uma nação elevar extraordinariamente suas tarifas quando as importações de determinado produto disparassem.Os emissários do governo Bush negociavam algo -a queda dos subsídios agrícolas- que talvez não pudessem entregar, dada a hostilidade, agravada em período eleitoral, do Congresso dos EUA ao tema e à gestão republicana. É possível que tenham encontrado numa disputa acessória com a Índia um pretexto para dinamitar as negociações de Genebra e, assim, transmitir o ônus para o próximo presidente, que tomará posse em janeiro.O negociador de Nova Déli, Kamal Nath, desde cedo mostrou que foi à Suíça para exibir-se como um herdeiro de Nehru na defesa dos pobres do mundo contra os ardis imperialistas. O discurso, ultrapassado nas principais democracias contemporâneas, ainda faz sucesso na Índia, em especial no Partido do Congresso, pelo qual Nath pretende tornar-se premiê no ano que vem.Por conta de idiossincrasias desse naipe, a agenda de liberalização do comércio agrícola mergulha agora num novo período de refluxo. Dificilmente voltará à tona antes da reconfiguração política por que vão passar a Casa Branca e o Congresso americano. Os países começam, então, a buscar alternativas menos ambiciosas, como os acordos bilaterais e setoriais de comércio.Prevê-se também um novo ciclo de conflitos judiciais na Organização Mundial do Comércio. Questionamentos contra subsídios e barreiras a importações, que estavam engavetados à espera de solução sistêmica na Rodada Doha, serão retomados.Embora o Brasil tenha sido bastante prejudicado pela falta de acordo em Genebra, pois teria muito a ganhar com a queda de barreiras a suas exportações agrícolas, o saldo para a diplomacia brasileira não foi ruim. O Itamaraty percebeu, enfim, as peculiaridades das negociações comerciais e soube se desvencilhar de amarras meramente ideológicas a fim de defender o interesse econômico brasileiro.Que tenha sido o início, ainda que tardio, de uma fase mais pragmática na diplomacia comercial do governo Lula. Tal ânimo será necessário para romper tabus, como a negociação de tratados comerciais com os EUA e a emancipação do Brasil, no âmbito do Mercosul, para fazer os acordos que lhe interessarem.


Editorial da Folha de hoje.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Rossetto Ganhou um Emprego Legal

Miguel Rossetto que perdeu para Maria do Rosário a disputa para a prefeitura de Porto Alegre acabou de ganhar um emprego bem legal do Lula. Esse é o velho PT de guerra.

Do Blog da Santa pesquei o seguinte:

Diz que hoje (29) a Petrobras vai apresentar a diretoria de sua nova subsidiária, a Petrobras Biocombustíveis, atual menina dos olhos do presidente Lula. Pois bem. A nova subsidiária foi inteiramente esquartejada entre partidos políticos. O presidente será Alan Kardec, funcionário da Petrobras, apoiado por PCdoB, PMDB e sindicalistas (olha eles aí de novo!).O PT indicou dois diretores: Ricardo Castelo Branco, atual gerente da Petrobras; e Miguel Rossetto, ex-ministro da Reforma Agrária. (Miguel Rossetto, indicado pelo ministro Tarso Genro e pela ministra Dilma Roussef, perdeu de ser o candidato do PT em Porto Alegre, mas como sabemos, este governo não deixa os seus no sereno. Vai ser diretor da Petrobrás Biocombustíveis. Muito melhor, vamos combinar). Mas não acabou. O ex-deputado Roberto Jefferson que, mesmo tendo sido o homem-bomba do mensalão, continua mandando uma barbaridade, emplacou um diretor: Fernando Cunha, atual gerente da Petrobras... Aqui

Perguntas e Respostas sobre a Rodada de Doha


O QUE É A RODADA DOHA?

A rodada de conversações (cujo nome é uma referência à capital do Qatar, país onde ela começou em 2001) são negociações amplas com o objetivo de liberalizar o comércio de produtos agrícolas, industriais e serviços entre os 153 países-membros da OMC. As conversações também tratam de questões menores, como aperto das regras sob as quais o comércio internacional é conduzido e facilitar aos exportadores o transporte de bens através de fronteiras nacionais.


POR QUE ENTROU EM COLAPSO?

Fundamentalmente, pelos mesmos motivos que as vinham perturbando há anos: o desejo de alguns dos grandes países emergentes, como Índia e China, de manterem o direito de proteger seus agricultores e suas indústrias, que eles alegam vulneráveis se expostos à concorrência internacional. Do outro lado, os EUA, e em certa medida a União Européia, exigiram acesso a esses mercados em troca do corte de seus apoios à agricultura. As partes não conseguiram chegar a acordo que agradasse a todos.

ASSIM, A QUESTÃO É DE UM CONFRONTO ENTRE RICOS E POBRES?

Não. Os países desenvolvidos estão rachados quanto a algumas dessas questões. Nações exportadores agrícolas muitos eficientes, como Brasil e Uruguai, também desejam acesso a mercados agrícolas como o da Índia, mas tendem a ser menos incisivas que os EUA.

O QUE ACONTECE AGORA?

Alguns funcionários estão tentando retratar a situação de maneira positiva e disseram que as negociações voltarão no final do ano. Mas, com a rápida aproximação da eleição nos EUA, parece improvável que uma reunião substancial de ministros venha a ser realizada antes que um novo presidente se instale na Casa Branca.

UM ACORDO COMO ESSE FARIA GRANDE DIFERENÇA?

Não muita, ao menos não imediatamente. A maioria das estimativas quanto ao impacto na economia mundial de um acordo na Rodada Doha é da ordem de US$ 100 bilhões, ou cerca de 0,1%. E, como os países mais pobres já contam com acesso especial aos mercados mais ricos e o valor desse acesso seria reduzido por um corte geral nas tarifas de importação, um acordo poderia na verdade ser desvantajoso para eles.

POR QUE TÃO POUCO EFEITO?

As negociações da OMC cobram as chamadas "bound rates", o máximo legal ao qual países podem elevar suas tarifas de importação ou subsídios agrícolas, e não as taxas aplicadas, que são as que estão efetivamente em uso no momento. A disparidade entre as duas é conhecida como "water" (água). Já que as taxas aplicadas muitas vezes estão bem abaixo das taxas máximas, os acordos da OMC muitas vezes "cortam a água", e não reduzem de maneira imediata as tarifas e subsídios aplicados no mundo real. Os EUA, por exemplo, estão oferecendo um limite de US$ 14,4 bilhões aos subsídios agrícolas, que são vistos como causa de distorção no comércio internacional. Mas porque esses pagamentos estão vinculados a preços e os mercados de commodities registraram grande expansão recentemente, os EUA na verdade pagam entre US$ 7 bilhões e US$ 9 bilhões anuais em subsídios aos agricultores no momento.

POR QUE ASSINAR ENTÃO?

Um bom motivo é como apólice de seguro. Um acordo quanto a limites para as "bound rates" das tarifas impede que elas sejam elevadas subitamente e assim reduz o risco de que o mundo recue ao tipo de protecionismo repleto de represálias que vigorou nos anos 30. Patrick Messerlin, professor de economia no Sciences-Politiques, de Paris, diz que Doha deveria ser vista como "uma rodada de confirmação". No momento, diz ele, grandes economias emergentes como Índia, México e Brasil poderiam mais que triplicar suas tarifas sobre produtos agrícolas e industriais, a qualquer momento, sem violar as normas da OMC.

A OMC MESMA SOFRERÁ NA AUSÊNCIA DE UM ACORDO?

Imediatamente, não. Em médio prazo, possivelmente sim. A OMC quer mais que negociar acordos de liberalização. Também opera um sistema de solução de disputas que adjudica se os países estão rompendo as regras existentes. Isso forçou, por exemplo, uma reforma do complexo e dispendioso regime europeu de apoio ao açúcar e compeliu o Congresso americano a repelir regras que incidiam sobre os impostos empresariais. Caso os governos não consigam fechar acordos comerciais em negociações sob os auspícios da OMC, podem relutar mais em respeitar as regras que já estão em vigor.


Matéria do Financial Times publicada na Folha de hoje.

O Brasil Perde Mais com o Fracasso de Doha

E agora Amorim?

Todos perdem com o fracasso da Rodada Doha, mas o Brasil, à primeira vista, perde mais.Todos perdem se se levar em conta o ganho que surgiria para os países em desenvolvimento de um acordo realmente equilibrado e que justificasse plenamente o nome completo da negociação que é Agenda Doha de Desenvolvimento.No caso do Brasil, os números que foram apresentados à delegação brasileira pelo comando da OMC pareciam suculentos a ponto de levá-la a uma guinada ainda mal explicada, apoiando a proposta do diretor-geral, Pascal Lamy, que não é substancialmente muito diferente do que vinha sendo posto à mesa nas negociações técnicas.Pela avaliação da OMC, conforme a Folha apurou, só a China ganharia mais do que o Brasil com a aceitação do pacote Lamy.A OMC não especifica, no entanto, os números em que baseia seus cálculos. O jornal "Valor Econômico" usou cálculos do setor privado para informar que "o ganho agrícola para o país com a Rodada Doha seria de US$ 4,9 bilhões", um incremento de quase 190% nas exportações brasileiras de carne bovina, de frango e etanol para as duas maiores potências do planeta (EUA e União Européia). Convém, no entanto, tomar sempre com cautela todos os cálculos sobre ganhos futuros em negociações comerciais.Afinal, ao terminar a anterior rodada de liberalização (a Uruguai, que acabou em 1994, depois de oito anos), houve cálculos de portentosos lucros para os países em desenvolvimento, Brasil inclusive. Aconteceu o contrário: ganharam muito os países já ricos, o que é natural. Se se liberaliza o comércio, ganha mais quem tem mais comércio -e quem mais tem comércio são os países ricos. Agora, no entanto, o cenário é diferente: China, Índia e, em menor medida, Brasil também se tornaram usinas comerciais, com potencial para ganhar com o livre comércio (desde que as regras sejam equilibradas, o que não acontece hoje).Portanto, o Brasil perde, para começar, por deixar de ganhar, fosse qual fosse o ganho.Perde também politicamente, por ter abandonado parceiros com os quais manteve intensa convivência ao longo dos sete anos de negociações da Rodada Doha. O chanceler brasileiro Celso Amorim justificou a guinada em nome do "interesse nacional". É justo e lógico. Mas era preciso antes combinar com parceiros como, principalmente, Índia e Argentina.A mudança de posição do Brasil inviabiliza o G20, o grupo de países em desenvolvimento criado em 2003 para extrair concessões em agricultura dos países ricos. O G20 foi sistematicamente mencionado, pelo Itamaraty e até pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o instrumento que levaria, nos sonhos presidenciais, a mudar a "geografia comercial" do planeta.Não mudou, como se viu, nem serve mais, como Amorim deixou publicamente claro em seguida à aceitação do pacote Lamy. A morte não declarada do G20 faz o Brasil perder voz de comando: o chanceler Amorim cobrou de seus parceiros no G20 que seguissem o exemplo brasileiro e "assumissem riscos". Não foi ouvido por Índia, China e Argentina, entre outros.A guinada criou ruído também nas relações com a Argentina, apunhalada pelas costas depois de o Brasil ter jurado que defenderia até a morte na OMC o tratamento do Mercosul como união aduaneira.Significa que os países-membros dessa união adotam, além de tarifa zero para as trocas comerciais entre eles, a mesma tarifa de importação de países não-membros. Ou, posto de outra forma, o nível de proteção tarifária tem que ser igual para todos. Em Genebra, no entanto, o Brasil aceitou uma proteção inferior à que a Argentina quer, o que automaticamente significa tornar ainda mais furado o esquema de união aduaneira.De novo, pode-se usar o argumento do "interesse nacional", mas, se o Mercosul é prioritário para a diplomacia brasileira, seu principal sócio no bloco não pode ser abandonado de repente sem gerar ressentimento. Claro que ressentimentos diplomáticos ou comerciais não são permanentes. Basta ver o presidente venezuelano, Hugo Chávez, rindo, agora, do "por qué no te callas?" que lhe sapecou o rei da Espanha. De todo modo, os problemas com Índia e Argentina só podem entrar na coluna do prejuízo na medida em que não houve o ganho esperado com a guinada que gerou os problemas.O Brasil perde ainda porque o fracasso da Rodada Doha deixa presos apenas com alfinetes os ganhos presumíveis surgidos na negociação da semana passada.Exemplo: a promessa européia de abrir-se ao menos um pouco para o etanol brasileiro -um dos cavalos de batalha principais de Lula- já foi fulminada ontem por dois países, Irlanda e França, com o detalhe nada trivial de que a França preside a União Européia até o fim do ano, com toda a força que a presidência dá ao país que a exerce para influir na agenda do conglomerado.


Artigo de Clóvis Rossi na Folha de hoje.

Prestando Contas à Vida - Gilberto Dupas


As populações brasileira e mundial têm envelhecido muito rapidamente. É uma séria questão para os sistemas de previdência e saúde pública e para os próprios velhos, mais solitários e dependentes.No entanto, é possível transformar velhice em liberdade. Nesse momento especial, entre a vida e a morte, o homem comum pode filosofar; e, assim, flertar com a imortalidade.A filosofia tem saído da moda enfrentando rivais cada vez mais arrogantes. Informática, marketing e design tentam substituir o personagem conceitual -o filósofo ou o artista- por telas planas, telefones celulares e internet. É o reinado dos simulacros. Segundo Deleuze e Guatari, filosofar é a arte de criar conceitos potentes para tentar dar significado a questões para sempre mal resolvidas, como velhice e morte. Mas conceito não é dado ou comprado, é criado. E filosofar é criar ou mudar conceitos.Para eles, filósofos e artistas têm uma saúde frágil. Não por causa de suas doenças ou neuroses, mas porque viram na vida algo grande demais para suportar, o que pôs neles a marca discreta da morte. Esse algo é também a fonte que nos faz viver através das "doenças do vivido", justamente o que Nietzsche chama de saúde.O que define filosofia e arte, duas das grandes formas de pensamento, é enfrentar o caos esboçando um plano.Para tanto, a filosofia formula conceitos, e a arte, percepções. Essas disciplinas não são como religiões, que invocam deuses para pintar sob nossos guarda-sóis um firmamento artificial. Ao contrário, elas propõem que só venceremos se rasgarmos o pano pintado e enfrentarmos o caos.O sistema econômico e cultural entrega aos homens comuns grandes guarda-sóis com forros pintados que lhes dão uma falsa segurança enquanto servem à lógica própria do capital.São do tipo "comprando um novo iPod ou estendendo a vida a qualquer preço você pode ser feliz".Por baixo do pano, essa lógica desenha suas palavras de ordem como um firmamento único. Cabe ao filósofo e ao artista contidos em nós abrir uma fenda no guarda-sol e fazer passar um pouco do caos livre e tempestuoso que dá sentido à vida.A cada rasgo que fizermos, os gênios da comunicação a serviço do pensamento único correrão a preencher a fenda e lotá-la de novas certezas. Será preciso, então, cortar novas fendas, operar novas destruições, restituindo a novidade que já não podia mais ser vista.O pensamento único se esconde atrás de um tipo religioso de fé cega num futuro que outros nos impõem.Nunca as tecnologias progrediram tanto na exploração do corpo e da mente. E, no entanto, Roudinesco nos lembra de que em nenhuma época o sofrimento psíquico foi tão vivo: solidão, psicotrópicos, tédio, depressão, desamparo, obesidade, uma pílula a cada minuto de vida: "Quanto mais se promete a felicidade e a segurança, mais persiste a infelicidade, mais aumenta o risco".Ela cita Canguilhem, Sartre, Foucault, Althusser, Deleuze e Derrida como alguns dos que se recusaram a aceitar uma ideologia da submissão e a virar soldados de uma "normalização" do homem. Eles gostariam de transformar todos nós em rebeldes, seres capazes de abordar a existência como consciência do mundo.Podemos compreender, então, como a morte pode prestar contas à vida; ou seja, como se pode aceitar a morte para que haja vida. Na "Ilíada", Aquiles encarna o ideal absoluto "da bela morte e da vida breve", origem da concepção grega de heroísmo. Roudinesco lembra Vernant, para quem um dos grandes enigmas da condição humana é encontrar na morte o meio de superá-la, vencê-la dando-lhe um sentido do qual ela é completamente desprovida. É quando o agir significante se transforma em obra eterna. Doença e morte, paradoxalmente, são parte da vida.Dentro dessa perspectiva, o doente, com seu sofrimento e sua dor, é o único capaz de julgar sobre sua normalidade. Quem quiser transformar a vida num conjunto de funções que resistem à morte fará com que a morte não lhe pertença mais.No entanto, a morte está inscrita na história da vida, assim como a doença na existência de cada sujeito. Fenômeno progressivo de degradação lenta dos corpos, ela se apodera do homem desde o seu nascimento, habitando-o ao longo de sua vida até a última passagem. Mas nosso espírito, enquanto construindo os significados que atribuímos à vida, pode ter o gostinho da imortalidade. Depende de nós. Basta sermos capazes de abrir pequenos furos no falso firmamento que querem nos impor e deixar passar um pouco de caos.
GILBERTO DUPAS , 65, é coordenador geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP, presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI) e autor, entre outras obras, de "O Mito do Progresso" (Unesp).


A foto acima é de Gilles Deleuze e Felix Guattari

E Dessa Vez Vai Rolar?


Todo o ano se discute se a proposta de revitalização do Cais do Porto de Porto Alegre vai mesmo se concretizar. Desde o governo Antônio Britto é o mesmo lenga lenga. Os projetos ficam sempre no papel. Nenhuma licitação foi aberta até agora.


Dessa vez, o governo da Yeda, traz uma nova proposta que está no site da Zero Hora.


Será que dessa vez vai sair?


Mas uma coisa é certa, o projeto tem que ser feito para a classe média portoalegrense circular por aquele local. Ou seja, é necessário que contenha bons restaurantes, lojas, shoppings, teatros, cinemas etc.


A matéria da ZH é a seguinte:


Se a nova proposta de revitalização do Cais do Porto da Capital se concretizar, o polêmico muro da Mauá poderá sofrer a primeira intervenção de sua história.Oplano escolhido para a área prevê reduzir a altura do paredão de concreto construído na década de 70 para evitar que se repetisse uma enchente como a de 1941. O objetivo da proposta vencedora é ampliar a visão dos armazéns e do Guaíba para quem circula a pé ou de carro pela Avenida Mauá.Com 2.647 metros entre a rodoviária e a Usina do Gasômetro, o muro tem três metros. A estrutura, que representa 4% da extensão dos diques da cidade, compõe o sistema de proteção contra cheias do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP).- Desde a construção do muro da Mauá, nenhum projeto deu garantia de segurança. Neste momento, é absolutamente inviável retirar o muro para se ter uma vista melhor do Guaíba. Na qualidade de diretor-geral do DEP, eu não assumiria o ônus e depois ser apontado como culpado em caso de uma enchente como a de 1941 - afirmou o diretor-geral do DEP, Ernesto da Cruz Teixeira.Sobre a proposta de reduzir pela metade o muro, Teixeira prefere não se manifestar porque o departamento não foi ouvido pelo corpo técnico da M. Stortti Consultores Associados (MSCA), empresa que encabeça o consórcio selecionado pelo Projeto de Revitalização do Cais Mauá.
Conheça o projeto e o cronograma da reestruturação do Cais do Porto
Apresentado pela governadora Yeda Crusius na segunda-feira, o plano para o cais deve ser encaminhado em 30 dias para análise da Câmara de Vereadores. Na discussão, poderão ser realizados ajustes. De acordo com o diretor da MSCA, Maurênio Stortti, uma idéia adicional é abrir um canal de comunicação direta com a sociedade por meio de um site, para que a empresa receba opiniões e sugestões.Conforme Edemar Tutikian, coordenador executivo do projeto de revitalização, o chamado plano de negócio é um conceito que poderá ser alterado até a execução do projeto. Isso significa que qualquer intervenção poderá ser feita de forma diferente da apresentada inicialmente.Concessão de exploração deve ser de 30 anosA expectativa é abrir licitação até dezembro para selecionar a empresa que receberá concessão para explorar comercialmente o cais do porto por 30 anos. A vencedora terá de reembolsar o custo do projeto em até R$ 700 mil. A previsão é iniciar as obras no segundo semestre do ano que vem, em um investimento que totalizará R$ 400 milhões.Em 2011, está prevista a conclusão da primeira etapa da obra. Em 2013, deve ocorrer o término das intervenções. Pela proposta, os armazéns, recuperados, vão abrigar bares, restaurantes e lojas. Na beira do cais, o plano prevê a instalação de plataformas flutuantes para pedestres, que acompanhariam a variação de nível do Guaíba.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Amy e o Crack


Dizem que Amy Winehouse é viciada em crack. Logo a Amy Winehouse que tem tudo na vida para ser feliz. Comprei o DVD dela, Live in London. Ela é surpreendente. Por que pessoas como Amy se viciam em crack? Dizem que uma pedra de crack - que custa 5 reais - dá um barato de 30 segundos e na segunda dose o vivente já fica viciado. Amy saiu ontem de um hospital. A esfarrapada desculpa é que ela teve uma reação alérgica a um certo remédio. O Rui Castro disse hoje na Band News FM que o show de Amy no Rock and Rio de Madrid foi decepcionante e que ela estava para lá de Bagdá e que ela perdeu feio para a Mariah Carey, que não é lá o bicho, mas fez um show do tipo "pé no chão". O Rui também falou que circula no youtube um vídeo mostrando a Amy fumando crack. Dei uma olhada no youtube e apenas identifiquei isso aqui. Não dá para ver direito se é ela. Ele disse também que existem sites na internet, onde pessoas podem apostar qual o dia em que Amy vai morrer. Talvez, espero que não, Amy esteja se tornando o grande ícone da frustada rebeldia da nossa época.


O secretário da saúde do Rio Grande do Sul, Osmar Terra, disse que o crack é hoje o grande problema da saúde pública do Estado. A nossa gurizada, a nossa juventude, o nosso futuro está se viciando em crack. E crack não é que nem maconha, o crack vicia mesmo e deixa o vivente completamente dependente. É o que dizem por ai. Se uma pessoa como a Amy que tem grana, boa vida, faz sucesso é dependente do crack, imaginem um pobre coitado, desempregado, sem grana, vivendo uma vida miserável!

Os Deslizes da Yeda e o Pessoal do Olívio

Os Blogs de esquerda elegeram a Casa da Yeda como a 'Casa do Espanto'.
Qualquer deslize que a Yeda faça vira um problemão. O problema é que a Yeda comete um monte de deslizes. E um dos grandes deslizes da Yeda foi a compra da sua casa, exatamente quando sua campanha recebeu uma bela graninha para concorrer ao segundo turno contra o carrancudo do Olívio Dutra. E o pessoal do Olívio não perdoa Yeda. Qualquer coisinha eles abrem a boca. E o pessoal do Olívio está de olho na compra da casa da Yeda. E a Yeda, arrogante e teimosa, disse que não tem que dar satisfação. Mais um deslize. O pessoal do Olívio não gosta da Veja, porque ela faz parte do PIG, mas a Veja gosta de estampar em suas edições cópias de contratos para desmascarar os políticos. Fez assim com o PT na época do mensalão. Dessa vez a Veja desmascarou a Yeda e existe a suspeita de que ela adquiriu a casa de um tal de Laranja por bem mais do que o valor declarado de R$ 750 mil. Ela que está tendo dificuldades em mostrar que pagou ou vai pagar R$ 750 mil vai ter mais dificuldades ainda para demonstrar que teve de desembolsar 1 milhão. O pessoal do Olívio está soltando fogos, eles estão vibrando e alguns até elogiaram a Veja. E assim caminha o Rio Grande dividido entre os deslizes da Yeda e o pessoal do Olívio. A que ponto chegamos.

Os Contrastes, as Idiossincrasias e os Preconceitos

O empresário Alexandre Accioly é considerado como parasita e praga social nos blogs de certa esquerda.

O Diario Gauche postou a seguinte mensagem:


Deu na coluna de Mônica Bergamo, hoje na Folha:
Chá de cadeira
O empresário Alexandre Accioly virou um "sem-blindagem". Explica-se: ele mandou blindar um de seus carros, uma minivan Chrysler [foto] na empresa Cart, de SP, por R$ 70 mil. Depois de 50 dias, foi buscar o carro. "Ele estava intocado, num canto, todo empoeirado. É muita picaretagem", diz.
Guigo Fausto, dono da empresa, rebate: "Eu avisei ao funcionário dele que a blindagem demoraria uns 100 dias".
Accioly se diz inconformado: "Gente, já blindei mais de dez carros, até Porsche. Não comprei um carro zero para ficar parado 100 dias".


Vejam os comentários:


Accioly é um conhecido parasita de SP.Depois os marginais sequestram essa coisa e exigem um resgate pesado, aí ele vai dizer que não tem segurança.Não sei porque essas pragas sociais não mudam de vez pra Miami.
29/7/08 11:51
Carlos Eduardo da Maia disse...
Eu gosto da Monica Bergamo justamente por isso, ela capta muito bem as idiossincrasias e os contrastes do Brasil de nossos dias. Sou um leitor dela.
29/7/08 11:52

Anônimo disse...
engraçados esses 'contrastes' dela, nunca li "o seu Altério, lá de são João das Candongas, foi buscar seu sapato no conserto ontem e não estava pronto". Além do mais, ela não captou nenhum contraste, porque não há reflexão, ela só deu uma 'notícia' de uma pessoa que é importante no mundo que é importante para ela.É querer encher o saco...
29/7/08 11:56
Carlos Eduardo da Maia disse...
O Accioly não tem nada de parasita. Pelo menos, o capital que ele tem gera empregos e gera impostos para o governo fazer os PACs da vida. É exatamente por esse tipo de raciocínio, para lá de chinfrin e cafona, que a juventude brasileira não simpatiza mais com os cérebros algemados da nossa esquerda.
29/7/08 11:57

panoramix disse...
Exato Maia as idiossincrasias e as vicissitudes da vida! Como é difícil ser rico neste país!
29/7/08 11:57
Carlos Eduardo da Maia disse...
Qual o problema de ser rico, Panoramix? Por que o preconceito? E o Accioly é um cara rico que gera emprego, diversão e impostos... Qual o problema? Existem ricos em todos os países socialmente desenvolvidos neste mundo.

A Moda Agora é Mulher-Bomba


Policial iraquiano inspeciona a bolsa de uma peregrina xiita a caminho do santuário do imã Musa al Khadhim, no norte de Bagdá

Quarenta e nove iraquianos morreram ontem no Iraque. Esses atentados foram executados por mulheres-bomba em Bagdá e Kirkuk. Todas as vítimas são peregrinos xiitas.
Nenhum americano, nenhum inglês envolvido no assunto. São os iraquianos matando os iraquianos. E a moda agora é a mulher-bomba.

Por isso que é complicado executar a idéia simplista de retirar as tropas americanas, inglesas e de outros aliados do Iraque. Essas tropas reforçam o poder de polícia do Estado iraquiano.
Quem, afinal, está por trás dos atentados e por que está aumentando o número de mulheres-bombas?

A Folha de hoje publica matéria do New York Times sobre o assunto:

O aumento do número de mulheres-bomba decorre ironicamente, ao menos em parte, do sucesso americano em deter e matar membros da Al Qaeda no Iraque. As mulheres que cometem atentados suicidas geralmente sofreram a perda de parentes masculinos -em combate, presos, ou eles próprios homens-bomba.As estatísticas apontam 27 casos de mulheres-bomba neste ano, contra oito em 2007. A maioria das suicidas são jovens, de entre 15 e 35 anos, de acordo com a polícia iraquiana."A maioria das mulheres-bomba vêm de pequenas vilas. Vivem vidas tradicionais, sem direitos", diz o chefe do centro de operações do Exército iraquiano em Diyala, Abdul Karim al Rubaie.Analistas e militares apontam que a Al Qaeda recruta as mulheres-bomba mediante ameaças e promessas de que elas vão para o paraíso se morrerem lutando pelo islã.

Obama




Multidões em transe por Obama. E a cobertura e as análises da mídia dizem: calma. O candidato democrata leva 200 mil pessoas para a rua na Alemanha (!). E os comentários dizem: isso pode prejudicá-lo. Parece que está mesmo difícil aceitar a novidade. Depois da devastação conservadora, espalhou-se a sensação de que nada pode mesmo mudar muito, que política é o tédio e os cambalachos de sempre, que democracia é simplesmente a vitória do dinheiro e dos interesses. A candidatura de Obama mostra que o jogo não está jogado. E não só nos EUA.O que Obama provocou vai muito além de uma candidatura presidencial. É a canalização de energias de transformação que pareciam perdidas. Se for mesmo eleito, Obama não poderá jamais corresponder a essas expectativas. Mas, na situação atual, o mais importante, em primeiro lugar, é impor uma derrota ao conservadorismo. E, mais que isso, reabrir espaços de discussão e convivência democráticos que ficaram fechados por muito tempo.Obama sabe bem aproveitar toda essa energia. Tenta colar sua imagem à de Kennedy, usando o paletó pendurado no ombro e discursando em Berlim. Parece o presidente negro daquele filme-catástrofe de Hollywood.Ao mesmo tempo, o profissionalismo de sua equipe conta com os quadros mais experientes da campanha de Hillary Clinton e do próprio governo Bill Clinton. Diz-se que sua comitiva na visita ao Iraque contava pelo menos 20 carros.O seu discurso é vago e genérico?Sem dúvida. Como presidente, terá de fazer composições políticas que vão frear muito desse movimento de renovação? Com certeza. Mas o que parece mais estranho é o esforço para conter as expectativas desde já, como uma preparação para a decepção que virá. A idéia é que muita mobilização vai acabar por produzir uma imagem de arrogância e desprezo pelos EUA, colocando em risco sua eleição.Para quem não tem qualquer simpatia por Obama, essa é uma maneira sutil de miná-lo sem ter de mostrar sua posição. Procura reforçar a sensação de arrogância ao tratá-lo já como presidente e não como um candidato em início de campanha.Algo parecido acontece quando se diz que um governo republicano é melhor para os interesses brasileiros porque menos protecionista. Como se o Brasil se reduzisse simplesmente aos interesses das empresas instaladas aqui. Quem tem simpatia pela candidatura deveria pensar antes que o melhor de Obama é o que ele produziu. E que ganhar a eleição é de fato decisivo. Mas não mais importante do que ver as pessoas na rua mostrando sua cara.


Artigo de Marcos Nobre, Folha de hoje.

O Sul em Chamas


O Sul em chamas


Eliane Castanhêde na Folha de hoje.


Tudo começou com os vices de Yeda Crusius e de Cristina Kirchner, e os dois governos estão se esfarelando. Secretários caem, a popularidade despenca, e a sustentação balança.No Rio Grande do Sul, o vice Paulo Feijó gravou uma conversa que jogou o governo da tucana Yeda numa das maiores crises estaduais da temporada. Na Argentina, o vice Julio Cobos deu o voto de Minerva que derrubou o principal socorro financeiro bolado pela presidenta Cristina, que ficou sem o dinheiro -e sem discurso e apoio popular.Nos dois casos, parece faltar experiência e sobrar soberba, numa combinação explosiva. Yeda faz uma besteira atrás da outra. E Cristina não soma adeptos e divide excessivamente a administração, a imagem e a arrogância com o marido e antecessor, Néstor Kirchner. É possível descrever a crise gaúcha num parágrafo: a fita do vice sobre corrupção; a queda de sete secretários (inclusive os principais, como o chefe da Casa Civil); a compra de uma casa entre a eleição e a posse, sem que a aritmética patrimonial feche; até o absurdo projeto de aumento do próprio salário em 143% em meio aos farelos. O salário era muito baixo? Era. Mas haja falta de senso de oportunidade!Com tantos flancos, a governadora não faz mais nada. Ora responde sobre desvios do Detran, ora sobre a queda dos secretários, e sempre sobre a história da casa comprada na hora errada, de forma errada. O resultado é a aprovação em queda livre e uma perplexidade geral. E a economia? A administração?Ninguém merece 10 anos de Carlos Menem nem de sua "aliança carnal" com os EUA, e depois dele a politizada Argentina vem passando por poucas e boas. No também politizado Rio Grande do Sul, a alternância entre direita, centro e esquerda não levou a nenhum paraíso. Os velhos líderes já eram, e os novos não disseram a que vieram.Os tempos são sombrios. As perspectivas não são melhores.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A 'Vida Saudável' de Dragan Dabic


Radovan Karadzic, quando presidia a Sérvia, foi responsável pela execução de 8 mil pessoas. Era considerado o carniceiro de Sarajevo. Há 8 anos era procurado pela OTAN e apareceu como Dragan Dabic, com imensa barba, cabelo comprido e se tornou médico alternativo utilizava a homeopatia, a acupuntura e a macrobiótica para curar de autismo a impotência. Dragan Dabic gozava de tanto prestigio que dava palestras em Belgrado e escrevia para uma revista intitulada "Vida Saudável" e apresentava-se sob o florido lema de "sempre se pode ajudar".


Os trechos abaixo foram pinçados da revista "Zdravi Zivot" (Vida Saudável). Eram parte da coluna de Dragan Dabic, pseudônimo adotado por Radovan Karadzic.


Meditação - "Não é só o tempo que você dedica à oração nem a determinada posição que adota, mas a série de momentos nos quais mergulha em si mesmo (que poderíamos descrever como uma recomposição), em que acalma a repetição apaixonada e obsessiva da vida cotidiana.Para a dona-de-casa, é o café da manhã solitário antes que a família desperte.


"Sentidos - "Acredita-se amplamente que nossos sentidos e nossa mente sejam capazes de reconhecer apenas 1% daquilo que existe em torno de nós. Outros 3% nós compreendemos com nossos corações. Todo o restante fica envolto em mistério, fora do alcance de nossos cinco sentidos; mas está ao nosso alcance de maneira extra-sensorial


"Religião - "A base de toda religião é a idéia de que a vida é sagrada (o que distingue a religião das seitas). Não existe religião autêntica que não coloque a salvação do homem como seu objetivo"Corpo - "Ainda que não seja possível alterar as funções autônomas do corpo por um esforço de vontade, podemos influenciá-las pelos itens que introduzimos em nossos corpos, como comida, bebidas, sons ou aromas.Mas a maior influência sobre os eventos em nosso interior vem de nossos pensamentos e sentimentos.


"Elevação - "Não resta dúvida de que, no cerne da meditação e da oração, está um esforço para atingir um estado mais elevado. Em alguns lugares, a ênfase está nos estados mentais. Em outros, como aqui, a ênfase está no estado da alma e na união com o Espírito Santo"

O Enigma MST


Leio no Diario Gauche de hoje um artigo do Luiz Nassif sobre o MST, em verde.
O dono do gauche comenta abaixo, em vermelho.
Depois eu comento.

O enigma MST


Confesso que o MST (Movimento dos Sem-Terra) ainda é uma incógnita para mim.
No ano passado estive em sua sede, na via Dutra, para falar sobre meu livro “Os Cabeças de Planilha”. É surpreendente. Militantes do Brasil inteiro por lá, uma cultura mstiana sendo formada, os prédios construídos por eles próprios, uma ânsia de aprender. Me lembra o pouco o que me relatavam amigos judeus sobre as primeiras colônias comunitárias de Israel.
No início, o MST foi acusado de estimular a adesão às invasões prometendo posses de terra. Mas hoje o que se vê é uma comunidade organizada em nível nacional, com valores políticos e culturais próprios, uma identidade que vai se tornando mais nítida, à medida que se afasta a sombra de José Rainha e se consolida a liderança de João Pedro Stédile. Existe uma música do MST, um modo de ser do MST, enfim os ingredientes fundamentais que consolidam uma estrutura e lhe permite expandir-se sem se descaracterizar.
Hoje [ontem, domingo] o Estadão traz um bom material sobre a universidade do MST, sem preconceito, bastante informativa.
E aí dá o nó. Quem monta uma Escola Latino-Americana de Agroecologia e Escola Nacional Florestan Fernandes, que ministram cursos de especialização de nível superior, tem um projeto mais amplo do que ficar invadindo fazendas e ferrovias. Presume-se que tais escolas visem criar uma capacitação para atuar na economia – não na guerrilha.
Por outro lado, é nítida a extração marxista, passada especialmente pela liderança maior, Stédile, sujeito articulado, com idéias claras sobre economia, assim como as ações espetaculosas que chamam a atenção para o movimento, mas provocam resistências variadas.
Não tenho claro para mim qual o objetivo final do MST. Montar uma capacitação que lhe permita desenvolver um modelo de economia comunitária, como alternativa para o agronegócio e para a agricultura familiar, para depois dar o salto? E qual seria esse salto: transformar-se em um partido político? Ampliar o nível de confronto? Fortalecer o tal modelo bolivariano de Chávez (um dos apoiadores do movimento), que ainda não se sabe bem o que é?
O MST ainda é uma incógnita. Mas não dá para enquadrá-lo em visões simplificadoras
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..........

Tenho um grande respeito pelo Nassif. Mas neste comentário sobre o MST, ele deixa vazar o seu lado de jornalista positivista, de quem precisa de qualquer maneira simplificar as coisas para que sejam palatáveis ao senso comum, leitor de jornal. Se a coisa não pode ser resumida e explicada conforme padrões mentais consagrados, logo ela é carimbada de enigmática.
O MST não é nenhum enigma, é um movimento social – hoje nacional – que rompe com a política tradicional e institucional praticada na nossa democracia formal. Como movimento que é, ainda está no vir-a-ser do processo social e político, por isso, muitos não conseguem analisá-lo com os velhos instrumentos teóricos de que dispõem.


Criar conceito sobre o fenômeno é uma forma de simplificação, eu diria, de entendimento do mesmo, uma forma de apreensão do fenômeno. O conceito é uma ferramenta para desmontar a complexidade do fenômeno e nos capacitar a compreender as partes que o organizam de forma singular.Novos fenômenos exigem novos conceitos. Para os positivistas, bastam os velhos conceitos para explicar os novíssimos fenômenos. Também não acho que haja uma finalidade já escrita no fenômeno MST, uma teleologia, como tu queres, não. Nem que esteja programado para cumprir as etapas tradicionai: movimento-institucionalidade-partido político-poder-decadência-e-arquivamento histórico. Não. O avanço do movimento dependerá de tantas variáveis quantas a história puder lher oferecer como desafio. O assunto é bom.


Voltei.


A democracia formal não é uma realidade apenas brasileira, ela é mundial. Mas ela não é apenas a que está ai. Ela deve ser melhor e para todos. E esse é um grande desafio. E é por isso que devemos todos lutar. Tenho dúvidas se o MST, como movimento politicamente organizado, está interessado em participar dessa caminhada. Não considero o MST como movimento democrático, porque ele é dominado por uma elite que dita as ordens, tudo é feito e imposto de cima para baixo, com base na fé de uma ideologia que acredita que os passos da história já estão determinados: a luta de classes como motor da história, o caminho, a verdade e a vida. Definitivamente, o burguês Nassif não gosta da maneira de agir do MST, mas ele mudou de público consumidor e era necessário fazer uma certa propagandinha para quem consome seus artigos. No fundo, no fundo, Nassif não disse nada.

A Adolescência Acabou? - Contardo Calligaris


A ADOLESCÊNCIA ACABOU?

A pesquisa de hoje mostra a mesma coisa que, aparentemente, descobrimos a cada vez que sondamos os adolescentes: eles são tão caretas quanto a gente, se não mais. Eles se preocupam sobretudo com família, saúde, trabalho e estudo. Seu maior sonho é a realização profissional -não empreendimentos fantasiosos, mas o devaneio de qualquer mãe de classe média: ser médico, advogado ou encontrar um bom emprego que lhes garanta casa própria e carro. Em matéria de política, a maioria se posiciona à direita ou ao centro e não tem interesse em participar de movimentos sociais. Eles têm opiniões parecidas com as da média nacional: são contra a legalização do aborto, contra a descriminalização da maconha e a favor da diminuição da maioridade penal. Sobre a pena de morte, estão divididos meio a meio.Não são aventurosos: têm pouca vontade de viajar e estão preocupados com a violência. Na hora do sexo, têm muito medo da Aids.Quanto às drogas, espantalho dos pais, eles preferem a que os adultos se permitem, o álcool.Cúmulo para quem imagina que os adolescentes sejam contestatórios: em sua maioria, eles acham que o que aprendem na escola é de grande utilidade para o futuro.Em suma, a surpresa da pesquisa de hoje não está nos resultados, mas no nosso susto ao lê-los: ainda acreditávamos numa visão cinematográfico literária da adolescência. Ou seja, supúnhamos que os adolescentes fossem insubordinados e visionários. Será que já foram e desistiram? Ou será que nunca foram, como sugere a comparação com a pesquisa Datafolha de 1998 e com outra, da revista "Realidade", de 1967?A adolescência como época separada e específica da vida foi inventada nos anos 1950 e 1960. É nessa época que o cinema e a literatura (narrativas inventadas pelos adultos) criaram a figura do adolescente revoltado, ao qual foi confiada a tarefa de encenar as rebeldias inconfessáveis e frustradas dos adultos.Uma explicação materialista para esse fenômeno diz que, no quase pleno emprego do pós-guerra europeu e americano, era bom que os jovens levassem mais tempo antes de chegar ao mercado de trabalho; ou, então, que um tempo maior de preparação e estudo era exigido por um mercado de trabalho cada vez mais especializado.Outra explicação, menos materialista, diz que os adultos, na pequena prosperidade do pós-guerra, achavam sua vida um pouco chata (e era, de fato, mais do que nunca, massificada). Os adultos, portanto, sonhavam com aventuras às quais pareciam ter renunciado em troca de uma casa, um liquidificador, dois carros e uma TV. E eles inventaram a adolescência como encarnação de sua vontade de uma vida menos enlatada.A invenção cultural da adolescência nem sequer transformou a maioria dos adolescentes em rebeldes. Mas produziu um clima suficiente para que, aos 20 anos, alguns membros da geração nascida logo após a guerra chutassem o balde que os adultos queriam, mas não sabiam chutar: contracultura, aspirações sociais, revolução sexual etc. O mundo ficou melhor para todos.Mas foi um momento especial, em que a insatisfação reprimida dos adultos do pós-guerra delegou aos jovens uma missão quase revolucionária. Desde então, é como se a adolescência tivesse perdido sua razão de ser.Resta, aos adultos, a expectativa de que os adolescentes corram os riscos que a gente não quer mais correr ou nunca quis, de que eles sejam nossa face audaciosa, sedenta de experiências e de terras incógnitas, generosamente preocupada com um mundo melhor. Mas é uma expectativa vaga, que se confunde com nossa vontade periódica de tirar férias.Hoje, quais são nossas aspirações extraordinárias e escondidas? Quais os sonhos que os adolescentes defenderiam e encenariam para nós? São apenas visões de nós mesmos, um pouco mais bem-sucedidos.O tempo da adolescência acabou. O que sobrou dele? Talvez apenas uma trilha sonora.


Artigo de Contardo Calligaris na Folha de ontem.

Jovem Brasileiro Rebelde é Passado


Na edição de ontem da Folha há uma pesquisa do Datafolha sobre o jovem brasileiro.

A primeira constatação da pesquisa é simples: cai por terra o clássico imaginário do jovem contestador, rebelde, engajado, participativo etc. O jovem brasileiro quer emprego.Seus maiores sonhos são materiais: realização profissional, comprar imóvel e veículo e ficar rico. Seus principais valores são família, saúde, trabalho e estudo.


A economia soterrou o sonho


Com o que sonha um jovem brasileiro? As respostas que moças e rapazes deram ao Datafolha dão a impressão de que a palavra "sonho" suscita neles mais o desejo de tratar de inquietações cotidianas, imediatas e previsíveis para cada faixa de idade. Ou de que talvez ainda seja mesmo um sonho, um devaneio esperançoso, tornar-se um profissional formado num país em que é muito minoritário o número de pessoas que se formam em faculdades.O "maior sonho" dos jovens ouvidos pelo Datafolha é "trabalhar/formar-se" numa profissão (18%). Ter uma casa, terminar os estudos e fazer família são as outras aspirações maiores."Sucesso profissional/na carreira" ou apenas ter um bom emprego (fixo, com carteira, numa boa empresa, com bom salário) ocupam o segundo lugar dos maiores sonhos dos brasileiros entre 16 e 25 anos, com 15% das respostas. Para 7%, o sonho maior é fazer faculdade.Em suma, pois, para 40% dos jovens, o sonho maior é resolver uma ansiedade compreensível e convencional para a idade -e, provavelmente, não só para essa idade: cuidar da vida, encontrar um lugar ao sol, ter um emprego decente e definir sua identidade por meio do trabalho de que gosta.Os mais jovens, de 16 e 17, previsivelmente, sonham em se formar em determinada profissão: é o "maior sonho" para 34% deles. Para os mais adultos, de 22 a 25 anos, a resposta deriva mais para a realização profissional, "sonho maior" para 17% dos entrevistados.Porém, para a faixa de 22 a 25 anos, a resposta mais freqüente é "ter casa/uma boa casa" (22%). No caso das moças de 22 a 25, esse é o sonho maior para 28% (16% no caso dos rapazes); para quem tem filhos, é o sonho maior de 30%. Constituir uma família e cuidar bem dela é o maior sonho para 10% dos entrevistados.As moças mais jovens se preocupam muito mais com a educação de si próprias que os rapazes. "Fazer faculdade/terminar os estudos" é o maior sonho de 20% das meninas de 16, 17 anos e para 9% dos meninos.A diferença de prioridades parece refletida em outra parte da pesquisa, na qual se registra a impressionante e deprimente estatística sobre o desempenho escolar: 54% dos jovens já repetiram o ano (dos que ainda estão no ensino fundamental, 76% já foram reprovados). E os números são ainda piores para os rapazes -63% deles repetiram o ano ao menos uma vez, contra 46% das mulheres.Como contraponto, "ficar rico/ter dinheiro/comprar coisas" é o sonho maior para 13% dos rapazes, mas para apenas 5% das moças.Os sonhos variam pouco entre as classes de renda, educação ou região onde moram os entrevistados. Os mais pobres sonham um pouco mais em ter casa; os mais instruídos sonham um pouco mais com realização profissional.

O Brasil Envelhecendo


Freada Populacional


Há tempos se sabe que a população brasileira está envelhecendo, mas um novo estudo, divulgado no início deste mês, mostra que esse processo está ocorrendo num ritmo bem mais acentuado do que se previa.A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), realizada pela demógrafa Elza Berquó, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, revelou que a taxa de fecundidade da brasileira atingiu, em 2006, a marca de 1,8 filho por mulher -cifra inferior à taxa de reposição populacional, que é de 2,1.O IBGE, em sua estimativa oficial, de 2004, não previa que esse patamar fosse atingido antes de 2043. Mesmo a ONU, que costuma fazer projeções menos conservadoras, não antecipava índices inferiores a 2,0 para o Brasil antes de 2010.As conseqüências do fenômeno não são triviais. Pela projeção do IBGE, a população brasileira só começaria a diminuir a partir de 2062. Pelo cálculo da ONU, isso se daria na década de 2030. A confirmar-se a tendência identificada na PNDS, o encolhimento pode ocorrer ainda antes.Como quase todos os grandes movimentos demográficos, a mudança encerra aspectos positivos e negativos. Na coluna dos ganhos, destaca-se o fato de que sociedades que experimentam reduções na taxa de fecundidade costumam vivenciar momentos de maior prosperidade.Na escala do indivíduo, isso se explica porque o trabalhador com menos filhos e idosos para sustentar fica mais produtivo. Mas o fenômeno ocorre também em nível de instituições públicas. Ele, aliás, já está acontecendo na educação fundamental. Como o número de crianças é decrescente e as verbas destinadas ao setor, estáveis, aumenta a quantidade de recursos por aluno.É claro que, para capitalizar ao máximo esses efeitos, são necessárias políticas de estímulo ao emprego e de melhoria dos serviços públicos. A fase de bônus da transição demográfica já vem com data para acabar.O rápido envelhecimento da população logo produzirá significativos impactos sobre os sistemas de saúde e de previdência. É fundamental que o Estado e as famílias se preparem desde já.Na saúde é necessário ir investindo na prevenção de doenças da terceira idade bem como na formação de gerontologistas. Ainda mais urgente é a questão previdenciária. A reforma insinuada no primeiro mandato de Lula não se completou. É preciso seguir com o esforço.Com a diminuição da proporção de trabalhadores na ativa por aposentados, será necessário fazer com que as pessoas contribuam por mais tempo. Não é apenas a fecundidade que está caindo. A expectativa de vida também está aumentando rapidamente, tornando mais dramática a necessidade de ajustes.


Editorial da Folha de hoje.

Angeli


quinta-feira, 24 de julho de 2008

Cavalo-de-Pau de Transatlântico


Dizem por ai que o Banco Central deu cavalo-de-pau em transatlântico, porque aumentou a taxa básica de juros em 0,75%. Os juros básicos hoje no Brasil são de 13% ao ano.

O diário gauche lançou o seguinte post em vermelho bem vermelhado. Eu comento depois:

O governo do presidente Lula faz um esforço danado para retomar o crescimento do País – que está estagnado há quase três décadas –, investe no PAC, quer nomear um ministro-gerentão para os programas da área social, e dá mostras efetivas de que está empenhado em um novo ciclo virtuoso de desenvolvimento, mesmo que não seja um crescimento sustentável e economicamente justo (mas isto é outro assunto).
Entrementes, o Banco Central faz esse verdadeiro cavalo-de-pau em transatlântico, ao elevar os juros de forma a conspirar contra tudo aquilo que representa vencer uma estagnação que só beneficiou o capital financeiro, os rentistas e especuladores de sempre.
Quando Lula estava prestes a vencer as primeiras eleições, em 2002, foi muito criticado exatamente por essa metáfora da manobra brusca no transatlântico. Sempre conciliador, Lula não fez nada disso que os eternos alarmistas da direita apregoavam.
Pois bem, e agora? Quem faz malabares de risco com a economia brasileira, em nome de conter o velho dragão inflacionário?
Os malabaristas do risco são os de sempre, os que não querem trabalhar e vivem de rendas auferidas por meios suspeitos e impublicáveis.
Foi noticiado semana passada, que a cidade de São Paulo ultrapassou Tóquio e Nova York no número de helicópteros que a utilizam como base de operações.
Dois fenômenos básicos contribuem para esse “milagre dos emergentes brasileiros”: o processo selvagem e desenfreado das privatizações no governo FHC, e as gordas vantagens comparativas amealhadas pelo capital financeiro nestes trinta anos de estagnação econômica.
A novíssima classe dos altos estratos neo-oligarcas do Brasil aspiram precisamente o que está ocorrendo no País:
a) tolerância jurídica e policial para as suas operações heterodoxas (o deputado tucano Raul Jungmann é o porta-voz destes insopitáveis anseios de classe, hoje);
b) um Banco Central independente que seja instrumento ativo (e agressivo) de política monetária em favor da hegemonia do capital financeiro e seus satélites;
c) uma mídia combativa e militante que sustente um discurso de justificação ideológica no sentido de provocar alarmes continuados de que o combate à inflação é o grande dever patriótico do momento.
O Banco Central do Brasil ontem provou que é um território liberado do capital financeiro internacional, encravado no coração da República do Brasil.
Ninguém pode com o Banco Central, nem Lula.

Voltei.

Carambas, e a inflação? Esse monstro oculto que abocanha o salário da população de baixa renda e que o governo do PT anda descuidando, não vale um centavo? Ou vamos dizer que inflação é invenção do PIG? O governo do PT segue a mesma política econômica do governo tucano. É exatamente a mesma. É uma continuação. É inegável que o Brasil se desenvolveu muito econômica e socialmente nos últimos anos, graças, inclusive às privatizações, mas tem gente que tem saudades de outros tempos que não existem mais, dos tempos em que o estatismo, o empreguismo, a burocracia e a burrice tomava conta de tudo. Resquícios desse tempo ainda existem, mas ele não volta. Recomendo sobre este assunto o artigo do Delfim - e não sou fã dele - de ontem na Folha aqui.

Marilúcia


Marilúcia Silva é cearense e perambula hoje pelas ruas de Porto Alegre. O que faz Marilúcia aqui? Quem paga suas contas? Ela protesta no Ceará, na Bahia onde também milita e protesta aqui. Não sei, talvez ela até faça parte da elite do MST. Quantas Marilúcias existem no MST? É por isso, justamente por isso, que o poder de polícia de qualquer estado socialmente desenvolvido resolve checar, pedir identidade e depois libera os membros de movimentos organizados, assim como se faz com as torcidas organizadas de times de futebol. Tudo numa boa. Mas leio na mídia que o motivo do protesto do MST aqui em Porto Alegre é pela demora no cumprimento de um acordo feito com o Incra para assentar muitas pessoas. E o Incra não está fazendo sua parte e por isso Porto Alegre foi invadida pelo MST hoje. O que a cearense Marilúcia tem a ver com isso? Quando se diz que o MST tem gente infiltrada de outras paragens, de outras localidades, que chegam aqui com outros sotaques e hábitos, apenas para engrossar o movimento e mostrar para os incautos que o movimento tem muita gente, os amigos do MST pulam em onça pintada. Aposto dois cálices de Malbec e uma passagem de taxi que Marilúcia, que gosta do radicalismo do Valter Pomar, é totalmente a favor dos atos do bispo chantagista que é contra a democratização das águas do São Francisco. Bingo, acertei. Ela deve ser contra, também, à redução da área de fronteira. Bingo, mais dois cálices de Malbec.

Uma Cearense é Responsável pela Manifestação do MST em POA




Leio no diario gauche de hoje o seguinte:

O comando da Brigada Militar do Rio Grande do Sul está com novo procedimento de responsabilização criminal dos movimentos sociais no Estado. Hoje, na marcha que o MST faz, de Nova Santa Rita até Porto Alegre, a polícia militar do governo Yeda Crusius (PSDB) procurou identificar previamente a liderança dos manifestantes.
No caso, está registrado como responsável a líder Marilúcia da Silva. Qualquer incidente que a polícia yedista considerar como abalo da ordem, desacato à autoridade, desordem na via pública, depredação, invasão, atentado ao patrimônio, etc., a responsabilidade recairá – segundo a PM – sobre a referida trabalhadora rural.
A medida – de plano – exorbita do papel legal reservado às polícias militares no Brasil. A polícia militar do Rio Grande do Sul está fazendo uma leitura dos códigos para além dos limites constitucionais previstos à corporação. Trata-se flagrantemente de um abuso de autoridade e do exercício arbitrário do poder policial.


Confesso que sou curioso. Fui para o google e digitei: Marilúcia da Silva MST.

Bingo.

Essa senhorinha, como diria o meu bisavô, é é militante do PT de Santana do Cariri-CE e do MST no Ceará. O que ela está fazendo no RS??? Vai querer um assentamento aqui nesse friozinho? que meda!

Fonte: http://www.ptceara.org.br/noticias/texto.asp?id=934

Ah, ia me esquecendo: ela votou em Valter Pomar para a Presidência do PT.

Fonte: http://www.bahiaja.com.br/noticia.php?idNoticia=5330

Pega Ladrão


A demanda por moralidade na política e maior transparência no processo eleitoral ganhou um aliado polêmico com a divulgação da "lista dos 15" pela AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros). Os fichas-sujas viraram um assunto. Essa onda moralizadora está ligada a um desejo mais amplo de "passar o país a limpo", como mostram as reações ao caso Dantas.Ninguém de boa-fé deixará de reconhecer méritos nesse anseio. Mas ninguém escaldado deixará de perceber também que esse filme é velho e suas motivações são mais ambíguas do que podem parecer.Sabemos todos que notórios ladrões fazem da política a sua profissão. Que usam a imunidade do cargo como biombo para a impunidade e usurpam o mandato popular, transformando-o em ferramenta de seu business ou gatunagem.A generalização dessa percepção, para a qual contribuiu o realismo quase sem nenhum pudor de PSDB e PT na última década, tem alimentado uma certa ojeriza à política. Desenvolveu também em muitos progressistas de antigamente uma espécie de cinismo pragmático.A atitude do eleitor desiludido diante dos candidatos parece oscilar entre dois pólos complementares: 1. O que ele quer arrancar de mim? 2. O que eu posso tirar dele? (O leitor de boa alma faça a gentileza de não vestir a carapuça.)Nesse ambiente, a faxina eleitoral proposta pela AMB corre o sério risco de se converter numa caça às bruxas, manchando a democracia em nome da "higienização" do voto.Entre o critério elástico adotado pela lista dos juízes, que junta candidatos em situações legais muito distintas e passados muito diversos, e a atual legislação eleitoral, que na prática premia os larápios e pune a sociedade, seria o caso de buscar um meio-termo, menos estridente, mas também menos concessivo, capaz de separar o joio do trigo.É essa, aliás, a posição esclarecida do presidente do TSE, ministro Carlos Ayres Britto, infelizmente minoritária no âmbito daquele tribunal que decide as coisas.
Artigo "Pega Ladrão" de Fernando Barros e Silva, na Folha hoje.

Quando LFV Força a Barra


Tem horas que Luiz Fernando Veríssimo é superficial e força a barra. É o caso desse artigo que escreveu hoje sobre a reforma agrária, contestando uma carta do presidente da Sociedade Rural Brasileira. Tenho dito e repito, o Brasil perdeu o trem da reforma agrária, sobretudo na região sul do país. Não há como fazer no Brasil de hoje a reforma agrária que se fez ontem nos países desenvolvidos. Assim, todas as ilações, todos os argumentos, todas as propostas feitas por LFV, no artigo abaixo, caem por terra. Ainda mais em se tratando de Rio Grande do Sul. Existem latifúndios no RS, mas não são muitos e grande parte deles são produtivos. A questão é que a elite do MST, as pessoas que comandam o movimento não querem saber de desapropriação de área improdutiva, seu discurso é contra o capital, sobretudo contra o grande capital, contra qualquer tipo de latifúndio, produtivou ou não, contra o agronegócio e contra todo o tipo de investimento para o grande capital, inclusive a favor da manutenção de uma lei feudal que ainda existe no Brasil que essa que proíbe investimento estrangeiro a 150 km da fronteira. Essa lei atinge de cheio o RS que tem uma imensa área de fronteira e, coincidentemente, é a região que necessita maiores investimentos, inclusive, estrangeiros. Por que o preconceito? E exite no Brasil e no RS espaço para todos. Agricultora familiar e agronegócio são fundamentais para o desenvolvimento do Brasil e não são excludentes. Esses dois projetos de desenvolvimento podem muito bem conviver em harmonia. Mas existem cabeças caducas por ai que não acreditam nisso, acham que isso é lenda. Não é.


Abaixo o artigo de LFV que ele escreveu hoje na Zero Hora.


Para valer


Numa carta ao Estado de S. Paulo o sr. Cesário Ramalho da Silva, presidente da Sociedade Rural Brasileira, comentou um texto meu sobre a reforma agrária intitulado "Injustiça e desordem", publicado aqui há semanas. O sr. Cesário não gostou do texto. Nele eu lamentava a demora de uma reforma agrária para valer no país e o sr. Cesário pergunta: "Que reforma agrária para valer seria essa que dilapidaria o setor do agronegócio, que segura as contas do país, com efeito multiplicador de gerar riqueza, emprego e renda para a indústria e os serviços?" . Segue dizendo que toda a nação já entendeu que o setor rural é o maior responsável pelo crescimento da economia brasileira, junto com a estabilização da moeda, salvo os que insistem num pensamento "ideológico" e atrasado sobre a questão - como, suponho, o meu. E recorre a uma analogia curiosa: "É como voltar ao tempo do Brasil colônia, onde nós, colonizados, não podíamos acumular riqueza porque tudo pertencia à Coroa portuguesa". Me parece que se a situação colonial evoca alguma coisa é a atual coexistência no Brasil do latifúndio sem proveito social ou econômico e as legiões de banidos da terra, com a Coroa portuguesa no papel do proprietário ausente. Não se quer a dilapidação de negócio algum e sim uma reforma agrária que inclua os milhões de hectares vazios mantidos no Brasil só pelo seu valor patrimonial - uma realidade notória que o sr. Cesário não cita - na cadeia produtiva, com colonização bem feita e bem apoiada.O sr. Cesário diz que não há exemplo de reforma agrária que deu certo. Eu tenho alguns. Li um relatório da ONU sobre os efeitos dramáticos na cidade de Calcutá, conhecida pela miséria e a extrema degradação urbana, da reforma agrária feita na sua região. Uma reforma agrária radical livrou o Japão de uma estrutura fundiária feudal e teve muito a ver com sua recuperação depois da guerra. A louca corrida para ocupar o Oeste americano não é modelo para nenhum tipo de colonização racional, mas não deu errado. E já que exemplos americanos legitimam qualquer argumento, mesmo os do pensamento "ideológico", recomendo que se informem sobre o Homestead Act, com o qual o governo dos Estados Unidos lançou, no século 19, o maior programa de distribuição de terra da História. Não surpreende a desinformação sobre reformas agrárias alheias que deram certo, ou só foram frustradas pela reação violenta. Os próprios sucessos da incipiente reforma agrária brasileira são ignorados. Sobre os assentamentos que estão funcionando em paz, e produzindo, e contribuindo para o efeito multiplicador que o sr. Cesário, muito justamente, exalta, só se tem silêncio. O texto que desagradou ao sr. Cesário foi motivado por uma manifestação, depois atenuada, do Conselho Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que equiparava o movimento dos sem-terra à guerrilha e pedia sua dissolução. Diante da flagrante iniqüidade da situação fundiária brasileira, mostravam, como na frase de Goethe, que preferiam a ordem à justiça. A criminalização do movimento dos sem-terra seria a outra face da descriminalização, pela absolvição e o esquecimento, de atos como o massacre de Carajás. Acho que o sr. Cesário e seus pares concordam comigo que a escolha não precisaria ser feita, que ordem ideal seria a que advém da justiça, ou da ausência da injustiça. Mas isso, claro, pressupõe outro Brasil. Talvez outra humanidade.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

'Antes que o Diabo Saiba Que Você Está Morto'



'Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto' está em cartaz no Brasil desde o início de junho e assisti esse filme ontem, 22 de julho, e a sala estava cheia. Pensei, isso é um indicativo de que o filme é bom.

Bingo, o filme é ótimo. É um trama bem feito dirigido por Sidney Lumet e com a participação de grandes atores: Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Marisa Tomei e Albert Finney. Todos eles estão muito bem.


A fórmula do filme é analisar um assassinato que aconteceu por culpa da ganância, dos equívocos pessoais, das histórias incompreendidas de uma família classe média novaiorquina. Presente, futuro, passado, presente, passado, futuro e os personagens interagem nessa trama de suspense que prende o vivente na tela. Eu juro por deus nosso senhor, eu fiquei grudado na tela e não senti o tempo passar.


O crime - aos poucos - é dissecado, esclarecido, o jogo é decidido.


Qual a receita do crime perfeito? Fácil e simples: roubar as joias e a grana da joalheria dos pais. É isso o que decidiram os dois filhos (Philipp Seymour e Ethan Hawke) que precisavam de grana para tocar suas complicadas vidas. Não era mais fácil pedir esse rico dinheirinho diretamente aos pais? Mas o pai, brilhantemente interpretado por Albert Finney, é duro na queda. Dinheiro para os filhos??? Negativo.

Resultado, o assalto é planejado pelos filhos e tudo deu errado. O revólver era para ser de brinquedo, mas o irmão mais moço (Hawke) decidiu contratar um delinquente que levou uma arma verdadeira e a tragédia ocorreu. E uma das vítimas é a mãe dos dois filhos.

E aí começam as complicações. E que complicações!


A história vai, vem, volta, dá rodopios.


E tudo se decide depois de mais de duas horas de filme.


Sinceramente, senhores, esse filme eu recomendo.

A Fome no Brasil é Residual?


Imagem Comum do Cotidiano Brasileiro de Nossos Dias: um Catador de Papel bem Nutridinho.


Segue a polêmica discussão entre o jornalista Ali Kamel e o cineasta José Padilha sobre a questão da fome no Brasil.
A fome no Brasil é mesmo uma questão residual?
Tomara que sim.
Este blog já publicou o artigo Garapa de Padilha. Aqui.
A resposta de Kamel, no artigo Fome, publicado na Folha de hoje está abaixo.

Recomendo.

Fome

Ali Kamel

Não quero briga com o cineasta José Padilha, nada tenho contra ele. Mas também não quero brigar com os fatos.No final de junho, ao falar de seu novo filme para a Folha, Padilha disse que há no Brasil 11,5 milhões de pessoas passando fome. Como esse número não é correto, escrevi artigo no "Globo" contestando-o. Em resposta, ele, em parceria com Francisco Menezes, publicou neste espaço ("Tendências/Debates", 16/7) o artigo "Garapa", uma referência ao seu documentário, que retrata o dia-a-dia de três famílias que passam fome no Ceará (as crianças, na falta de comida, alimentam-se de uma mistura de água e açúcar, a garapa, daí o nome do filme). Padilha e Menezes enfrentaram as questões que propus com algumas provocações e muitos erros. Vou ignorar as provocações, mas apontar os erros principais.1) Padilha e Menezes disseram: "A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, de 2002-2003, revelou que, nos domicílios de até um salário mínimo por pessoa, mais da metade do consumo calórico era de açúcar". Isso é inteiramente falso, tão falso que não imagino como alguém que faz um filme sobre fome erre assim. A POF mostra que, nas famílias mais pobres (rendimento per capita de até um quarto de salário mínimo), a dieta é composta por 69% de carboidratos, 12% de proteínas e 19% de gorduras. Proporção exatamente dentro da normalidade para a OMS: entre 55% e 75% devem ser carboidratos, entre 10% e 15%, proteínas, e entre 15% e 30%, gorduras. A proporção de proteína para os mais pobres (12%) é considerada ótima.A participação do açúcar na dieta deve ser de no máximo 10%, mas ela é alta em todas as faixas de renda. Proporcionalmente, porém, ela é melhor entre os mais pobres: das calorias obtidas de carboidratos, 13% vêm do açúcar. Os de renda mais alta têm apenas 52% da dieta vindos de carboidratos (abaixo do mínimo de 55%) e, destes, 11% vêm do açúcar. O açúcar, entre os mais pobres, representa assim 13 pontos percentuais em 69 (56% dos carboidratos, portanto, não são açúcar). E, entre os de maior renda, representa 11 pontos percentuais de 52 (apenas 41% não são açúcar).Espero que se desculpem publicamente pelo equívoco. 2) Padilha e Menezes combatem a minha proposta de dar o Bolsa Família apenas a quem passa fome e aumentar o valor recebido pelos beneficiários. E perguntam: "Ora, mas, nesse caso, o que aconteceria com as famílias excluídas do programa? Quantas se tornariam desnutridas novamente?". Novamente? Mas, como novamente, se a POF, realizada entre 2002 e 2003, antes do Bolsa Família, já mostrava que o índice de pessoas emagrecidas no Brasil era de 4%, abaixo dos 5% aceitos pela OMS?A maneira mais viável de detectar a fome em grandes grupos é medindo e pesando a população, porque, se a ingestão de calorias for menor do que a necessária, os indivíduos emagrecerão. O índice de até 5% de magros é aceito como normal porque essa é a proporção de indivíduos magros por natureza em qualquer grupo.No Brasil, repito, esse índice era de 4%, contra 19% no Haiti, 38% na Etiópia e 49% na Índia. Em apenas alguns poucos estratos a proporção excedeu os 5%: sempre mulheres, de uma maneira geral da zona rural e das faixas de renda mais baixas (o pico foi de 8,5%). Os dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, realizada em 2006 e divulgada no início de julho, mostram, porém, que essa situação foi superada: o índice só ultrapassou ligeiramente os 5% entre as mulheres sem escolaridade (5,3%) e com mais de seis filhos (6%). A fome, portanto, é residual.3) Padilha e Menezes falam em fome oculta, "em que o indivíduo pode apresentar sobrepeso apesar de estar carente de nutrientes essenciais". Jogo de palavras: em tese, é possível que um obeso possa ter deficiência de micronutrientes, mas é absolutamente falso que isso tenha a ver com fome. Tem a ver com informação. Se o indivíduo é pobre, mas tem renda suficiente para se tornar obeso, é a falta de informação que o faz ficar sem os micronutrientes de que necessita.Com o mesmo dinheiro, e com boa informação, ele poderia se alimentar corretamente. Prova disso é que a falta de nutrientes em obesos pode ocorrer, e ocorre, em todas as classes.O fato inquestionável é que um obeso tem muito menos chances de ter deficiência de micronutrientes do que indivíduos emagrecidos pela fome. Os conceitos de fome gorda e fome oculta induzem a erro: as pesquisas mostram que não é verdade que a dieta dos mais pobres leve à obesidade.Insisto: com "Tropa de Elite", Padilha pretendeu fazer ficção com um pé na realidade; com "Garapa", fará documentário a partir de uma premissa fictícia.


ALI KAMEL , 46, jornalista, é diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo. É autor de "Não Somos Racistas" e "Sobre o Islã".