Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 29 de julho de 2008

Obama




Multidões em transe por Obama. E a cobertura e as análises da mídia dizem: calma. O candidato democrata leva 200 mil pessoas para a rua na Alemanha (!). E os comentários dizem: isso pode prejudicá-lo. Parece que está mesmo difícil aceitar a novidade. Depois da devastação conservadora, espalhou-se a sensação de que nada pode mesmo mudar muito, que política é o tédio e os cambalachos de sempre, que democracia é simplesmente a vitória do dinheiro e dos interesses. A candidatura de Obama mostra que o jogo não está jogado. E não só nos EUA.O que Obama provocou vai muito além de uma candidatura presidencial. É a canalização de energias de transformação que pareciam perdidas. Se for mesmo eleito, Obama não poderá jamais corresponder a essas expectativas. Mas, na situação atual, o mais importante, em primeiro lugar, é impor uma derrota ao conservadorismo. E, mais que isso, reabrir espaços de discussão e convivência democráticos que ficaram fechados por muito tempo.Obama sabe bem aproveitar toda essa energia. Tenta colar sua imagem à de Kennedy, usando o paletó pendurado no ombro e discursando em Berlim. Parece o presidente negro daquele filme-catástrofe de Hollywood.Ao mesmo tempo, o profissionalismo de sua equipe conta com os quadros mais experientes da campanha de Hillary Clinton e do próprio governo Bill Clinton. Diz-se que sua comitiva na visita ao Iraque contava pelo menos 20 carros.O seu discurso é vago e genérico?Sem dúvida. Como presidente, terá de fazer composições políticas que vão frear muito desse movimento de renovação? Com certeza. Mas o que parece mais estranho é o esforço para conter as expectativas desde já, como uma preparação para a decepção que virá. A idéia é que muita mobilização vai acabar por produzir uma imagem de arrogância e desprezo pelos EUA, colocando em risco sua eleição.Para quem não tem qualquer simpatia por Obama, essa é uma maneira sutil de miná-lo sem ter de mostrar sua posição. Procura reforçar a sensação de arrogância ao tratá-lo já como presidente e não como um candidato em início de campanha.Algo parecido acontece quando se diz que um governo republicano é melhor para os interesses brasileiros porque menos protecionista. Como se o Brasil se reduzisse simplesmente aos interesses das empresas instaladas aqui. Quem tem simpatia pela candidatura deveria pensar antes que o melhor de Obama é o que ele produziu. E que ganhar a eleição é de fato decisivo. Mas não mais importante do que ver as pessoas na rua mostrando sua cara.


Artigo de Marcos Nobre, Folha de hoje.

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