Leio no Diario Gauche de hoje um artigo do Luiz Nassif sobre o MST, em verde.
O dono do gauche comenta abaixo, em vermelho.
Depois eu comento.
O enigma MST
Confesso que o MST (Movimento dos Sem-Terra) ainda é uma incógnita para mim.
No ano passado estive em sua sede, na via Dutra, para falar sobre meu livro “Os Cabeças de Planilha”. É surpreendente. Militantes do Brasil inteiro por lá, uma cultura mstiana sendo formada, os prédios construídos por eles próprios, uma ânsia de aprender. Me lembra o pouco o que me relatavam amigos judeus sobre as primeiras colônias comunitárias de Israel.
No início, o MST foi acusado de estimular a adesão às invasões prometendo posses de terra. Mas hoje o que se vê é uma comunidade organizada em nível nacional, com valores políticos e culturais próprios, uma identidade que vai se tornando mais nítida, à medida que se afasta a sombra de José Rainha e se consolida a liderança de João Pedro Stédile. Existe uma música do MST, um modo de ser do MST, enfim os ingredientes fundamentais que consolidam uma estrutura e lhe permite expandir-se sem se descaracterizar.
Hoje [ontem, domingo] o Estadão traz um bom material sobre a universidade do MST, sem preconceito, bastante informativa.
E aí dá o nó. Quem monta uma Escola Latino-Americana de Agroecologia e Escola Nacional Florestan Fernandes, que ministram cursos de especialização de nível superior, tem um projeto mais amplo do que ficar invadindo fazendas e ferrovias. Presume-se que tais escolas visem criar uma capacitação para atuar na economia – não na guerrilha.
Por outro lado, é nítida a extração marxista, passada especialmente pela liderança maior, Stédile, sujeito articulado, com idéias claras sobre economia, assim como as ações espetaculosas que chamam a atenção para o movimento, mas provocam resistências variadas.
Não tenho claro para mim qual o objetivo final do MST. Montar uma capacitação que lhe permita desenvolver um modelo de economia comunitária, como alternativa para o agronegócio e para a agricultura familiar, para depois dar o salto? E qual seria esse salto: transformar-se em um partido político? Ampliar o nível de confronto? Fortalecer o tal modelo bolivariano de Chávez (um dos apoiadores do movimento), que ainda não se sabe bem o que é?
O MST ainda é uma incógnita. Mas não dá para enquadrá-lo em visões simplificadoras
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Tenho um grande respeito pelo Nassif. Mas neste comentário sobre o MST, ele deixa vazar o seu lado de jornalista positivista, de quem precisa de qualquer maneira simplificar as coisas para que sejam palatáveis ao senso comum, leitor de jornal. Se a coisa não pode ser resumida e explicada conforme padrões mentais consagrados, logo ela é carimbada de enigmática.
O MST não é nenhum enigma, é um movimento social – hoje nacional – que rompe com a política tradicional e institucional praticada na nossa democracia formal. Como movimento que é, ainda está no vir-a-ser do processo social e político, por isso, muitos não conseguem analisá-lo com os velhos instrumentos teóricos de que dispõem.
O MST não é nenhum enigma, é um movimento social – hoje nacional – que rompe com a política tradicional e institucional praticada na nossa democracia formal. Como movimento que é, ainda está no vir-a-ser do processo social e político, por isso, muitos não conseguem analisá-lo com os velhos instrumentos teóricos de que dispõem.
Criar conceito sobre o fenômeno é uma forma de simplificação, eu diria, de entendimento do mesmo, uma forma de apreensão do fenômeno. O conceito é uma ferramenta para desmontar a complexidade do fenômeno e nos capacitar a compreender as partes que o organizam de forma singular.Novos fenômenos exigem novos conceitos. Para os positivistas, bastam os velhos conceitos para explicar os novíssimos fenômenos. Também não acho que haja uma finalidade já escrita no fenômeno MST, uma teleologia, como tu queres, não. Nem que esteja programado para cumprir as etapas tradicionai: movimento-institucionalidade-partido político-poder-decadência-e-arquivamento histórico. Não. O avanço do movimento dependerá de tantas variáveis quantas a história puder lher oferecer como desafio. O assunto é bom.
Voltei.
A democracia formal não é uma realidade apenas brasileira, ela é mundial. Mas ela não é apenas a que está ai. Ela deve ser melhor e para todos. E esse é um grande desafio. E é por isso que devemos todos lutar. Tenho dúvidas se o MST, como movimento politicamente organizado, está interessado em participar dessa caminhada. Não considero o MST como movimento democrático, porque ele é dominado por uma elite que dita as ordens, tudo é feito e imposto de cima para baixo, com base na fé de uma ideologia que acredita que os passos da história já estão determinados: a luta de classes como motor da história, o caminho, a verdade e a vida. Definitivamente, o burguês Nassif não gosta da maneira de agir do MST, mas ele mudou de público consumidor e era necessário fazer uma certa propagandinha para quem consome seus artigos. No fundo, no fundo, Nassif não disse nada.
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