Abaixo artigo, publicado na ZH de hoje, de Luiz Fernando Veríssimo sobre a questão agrária no RS. Este artigo pode servir para a questão agrária no Pará, Tocantins ou Mato Grosso, mas nunca no RS.
Meu comentário depois do artigo
Injustiça e Desordem
Quando Goethe disse que preferia a injustiça à desordem, a Europa recém fora sacudida pela revolução francesa e enfrentava outro terremoto, o bonapartismo em marcha. Sua opção não era teórica, era pela específica velha ordem que os novos tempos ameaçavam. Por mais injusta que fosse, a velha ordem era melhor do que as paixões incontroláveis libertadas pela revolução. Mas a frase de Goethe atravessou 200 anos, foi usada ou repudiada por muitos, na teoria ou na prática e em vários contextos, e chega aos nossos dias mais atual do que nunca. Você não pode pensar na questão agrária brasileira, por exemplo, sem cedo ou tarde ter que se perguntar se prefere a justiça ou a ordem.A injustiça no caso é flagrante e escandalosa. Mesmo que se aceitem todas as teses sobre o desvirtuamento do movimento dos sem-terra e se acate a demonização dos seus líderes, militantes e simpatizantes, a dimensão do movimento é uma evidência literalmente gritante do tamanho da iniqüidade fundiária no Brasil, que ou é uma ficção que milhares de pessoas resolveram adotar só para fazer barulho, ou é uma vergonha nacional. A iniqüidade que criou essa multidão de deserdados no país com a maior extensão de terras aráveis do mundo é a mesma que expulsou outra multidão para as ruas e favelas das grandes cidades, deixando o campo despovoado para o latifúndio e o agronegócio predatório. A demora de uma reforma agrária para valer, tão prometida e tão adiada, só agrava a exclusão e aumenta a revolta.Quem acha que desordem é pior do que injustiça tem do que se queixar, e a que recorrer. As invasões e manifestações dos sem-terra se sucedem e assustam. Proprietários rurais se mobilizam e se armam, a violência e o medo aumentam, a reação se organiza. Agora mesmo no Rio Grande do Sul, enquanto endurece a repressão policial às ações do MST, um documento do Ministério Público estadual prega a criminalização de vez do movimento, caracterizando-o como uma guerrilha que ameaça a segurança nacional, com ajuda de fora. É improvável que uma maioria de promotores de Justiça do Estado, transformados em promotores de ordem acima de tudo, tivesse abonado o documento como estava redigido, com seu vocabulário evocativo de outra era. Mas ele dá uma idéia da força crescente do outro lado da opção definidora, dos que escolheram como Goethe.
Meu comentário:
A 'dimensão' do MST referida por Veríssimo é aumentada pela vanguarda iluminada que manipula uma maioria, como refere Zander Navarro, em recente entrevista. Ou seja, essa dimensão é aumentada com lentes de laboratório de astronomia. E também se aumenta, sobretudo, no Estado do RS, a dimensão do problema agrário, como se no RS existisse apenas latifúndio. LFV ardilosamente reduz o problema como se existisse nesse tabuleiro de xadrez apenas latifúndio e sem terras. Existe sim latifúndio no RS, mas eles estão localizados em certas regiões. Nas zonas de colonização, por exemplo, praticamente não existe latifúndio no RS. E não vamos ser hipócritas, uma propriedade rural tem que dar lucro e para dar lucro ela não pode ser pequena. Agricultura familiar não mantém as pessoas no campo, porque a grana que dá apenas serve para a subsistência das famílias. Ou seja, é o mínimo dos mínimos. Esse artigo de LFV serviria bem para a questão agrária do Pará, do Mato Grosso, mas nunca do RS. Quer resolver a questão agrária? Tem muito latifundiário falido por ai que quer vender suas terras. Que a União compre essas terras e assente as famílias. Mas esse caminho não interessa à vanguarda iluminada do MST.
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