Está sendo preparado o funeral do multiculturalismo. Alguns acham que ele caiu juntamente com as torres gêmeas. Outros pensam que ele sangrou até morrer com Theo van Gogh, o crítico assassinado por um muçulmano holandês em Amsterdã.
No Reino Unido, o multiculturalismo talvez tenha voado pelos ares no atentado ao metrô em 7 de julho de 2005, pelas mãos de quatro homens -todos criados no Reino Unido. Três anos depois de tudo isso, Kenan Malik, um dos mais inteligentes de nossos críticos sociais, escreveu o obituário.Em seu novo livro "Strange Fruit - Why Both Sides Are Wrong in the Race Debate" (Frutos Estranhos - Por Que os Dois Lados Estão Errados no Debate Racial, Oneworld Publications, 288 págs., 18,99, R$ 61), Malik afirma, para começar, que o conceito de raça não é científico e, em seguida, que o multiculturalismo é culpado de reforçá-lo, acarretando conseqüências graves para nossa sociedade.
Malik abre seu livro com a alegação infame de James Watson, co-descobridor do DNA, de que os africanos têm inteligência inferior à "nossa".Não apenas nossos genomas são virtualmente idênticos como as diferenças que ocorrem existem em grande quantidade no interior das populações.Em outras palavras, se a humanidade inteira fosse exterminada, com a exceção de uma única tribo pequena, virtualmente todas as variações genéticas continuariam a existir.Todos nós sabemos diferenciar um inuíte de um etíope, mas, deixando de lado suas características superficiais, as categorias amplas e inconsistentes de raça constituem um guia falho às diferenças genéticas.Então por que, já que o conceito está tão desacreditado, continuamos a pensar em termos raciais?Devido ao culto ao multiculturalismo, afirma Malik. Enquanto no passado os pensadores progressistas defendiam que se desse tratamento igual a todos, apesar de suas diferenças, hoje eles advogam tratar as pessoas diferentemente em razão de suas diferenças.Esse respeito equivocado pela diversidade nos leva a atribuir uma marca, como uma cor ou um credo, a comunidades que são complexas.A conseqüência disso não é apenas a divisão da sociedade segundo critérios étnicos, como também o fortalecimento das forças conservadoras internas às comunidades. Desse modo convertemos os mulás em porta-vozes de pessoas que, anteriormente, talvez tenham visto seu legado islâmico como não mais que uma parte de sua identidade.Os rumores sobre a morte do multiculturalismo são exagerados, sem dúvida.Mesmo assim, nos círculos intelectuais é considerado elegantemente arriscado criticar o movimento, e algumas dessas críticas se aproximam perigosamente da xenofobia.Não é o caso de Malik. Seu tom é comedido, e seus argumentos são bem-fundamentados. Lúcido e importante, seu livro é alicerçado na crença fundamental na dignidade humana universal.
Este texto saiu no "Financial Times".Tradução de Clara Allain.
Do Caderno Mais da Folha de Ontem.
Kenan Mallic tem uma página na internet aqui.
Um comentário:
A globalização parece não ser para todos. O ser humano é racista por natureza, apesar dos mais civilizados, por comprometimento com o politicamente correto agirem de maneira "esperada" no trato com estrangeiros.
Os últimos acontecimentos estão fazendo com que a Europa e os EUA regridam alguns séculos nessa matéria.
O sonho da humanidade unida, feliz e convivendo em harmonia é uma utopia. No fundo ainda somos bárbaros prontos para eliminar a tribo vizinha.
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