Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Direita Mais Atrasada Que Apoia o PT


O companheiro Collor

Dizem que a Dilma é de esquerda e o Serra é de direita. Eu nunca concordei com isso. Acho que o Serra e a Dilma pertencem ao mesmo campo ideológico de centro esquerda. Eu tenho afirmado isso nos Blogs da nossa certa esquerda e recebido pedradas e tomatadas.

Hoje entrei no Diário Gauche que insiste em destilar (cada dia mais) todo seu ódio e sua raiva contra a direita brasileira. Diz ele que a direita dá mostra de desespero apenas porque o Alexandre Barros, jornalista e cientista político escreveu um artigo chamado“Nem Dilma nem o Brasil merecem isso” está aqui na íntegra, conclamando a Chefe da Casa Civil a desistir da candidatura porque está com câncer.



O que é interessante é que certa esquerda está plenamente convencida de que existe um movimento sólido, articulado e monolítico da direita no Brasil. Toda a paranóia é pouca. Mas esquecem os interlocutores e blogueiros da nossa complicada certa esquerda de que a direita mais retrógada, mais atrasada, mais medieval do Brasil está apoiando o governo de esquerda do PT.

E isso que estou dizendo aqui é facilmente comprovável. Basta ler a relação dos senadores que defendem o governo na CPI da Petrobrás.

Do lado do governo do PT temos: Paulo Duque (PMDB-RJ), Romero Jucá (PMDB- RR) e Leomar Quintanilha (PMDB TO), João Pedro (PT-AM) Ideli Salvatti (PT-SC) e Inácio Arruda (PCdoB-CE). Fernando Collor (PTB -AL) e Gim Argello (PTB-DF).



E sabem quem escolheu esses membros? O presidente Lula e o Sarney, como noticiou o Globo ontem.

Que listinha revolucionária essa, hein?

No domingo, reportagem do GLOBO mostrou que a estatal repassou R$ 609 milhões, sem licitação, para financiar 1.100 contratos com ONGs, patrocínios, festas e congressos nos últimos 12 meses . Entre os beneficiados, há desde entidades cujo endereço não existe até outras que pararam de funcionar ou são ligadas a aliados do governo.

Cabra Marcado Para Cozinhar



Um amigo recomendou. Disse: vá na locadora e tira o filme "Estômago". Achei esquisito o título, mas tudo bem. Ontem coloquei o filme no DVD na noite fria de outono. G-O-R-G-O-N-Z-O-L-A. Isso mesmo gorgonzola, assim começa o filme. Um cabra nordestino explica para o companheiro de prisão como é que surgiu o queijo gorgonzola. O leite esquecido pelo marido, pela mulher que fica bolorento, começa a feder e vira queijo gorgonzola. O companheiro de cela parece não estar interessado no diálogo, o queijo fede como chulé.


É a velha história do nordestino que chega sem grana na rodoviária de São Paulo e perambula pela centro da cidade em busca de pouso, comida e trabalho. E as coisas acontecem. O cabra conhece o segredo da culinária, a arte do equilíbrio de cozinhar, sabe dosar os têmperos, sabe o ponto certo, o momento em que a carne está pronta, quando se pode colocar o alecrim, o manjeiricão, o tomilho, o tomate, a cebolinha verde. O cabra pira nas panelas e faz sucesso.

Seu nome é Severino Nonato, muito bem interpretado por João Miguel, que se apaixona pela puta Íria (Fabíula Nascimento) que "faz tudo", mas não beija Severino na boca, "por questão de ética".

E o crime acontece e Severino Nonato vai para a prisão, onde continua a fazer arranjos culinários nas gororobas servidas na cela. No feijão aguado ele acrescenta tempero, na carne dura ele pica e faz um belo cozido. E o cabra faz sucesso e consegue, com isso, o poder. Na prisão ele é chamado de "o do Alecrim", mas gostaria de ser chamado de Nonato Canivete, "é eu".

Este blogueiro recomenda. História boa, diálogos divertidos, roteiro inteligente, boa fotografia. No final das contas sobra a grande verdade: culinária é mais do que arte, é poder.


Severino Nonato e Íria comendo cochinha de galinha no bar do seu Zulmiro. Eta Brasil bão!

Caracas Engarrafada


Caracas, Venezuela.

David Coimbra, melhor colunista de ZH e bom cronista dos nossos dias, esteve esta semana em Caracas na Venezuela acompanhando o bom empate do imortal tricolor em terras de Hugo Chávez. Na Venezuela a gasolina custa 10 centavos de dólar. Hoje, na coluna dele em ZH.

Drama em Caracas

O grande drama urbano da humanidade no século 21 se desenrola com rara gravidade aqui, nas ruas de Caracas.Não é da pobreza que falo. É do carro.
Esta é uma cidade de avenidas largas, recobertas por camadas de asfalto negro lisas como tábuas de bater bife. São ruas arborizadas, de calçadas amplas, margeadas por prédios de requintado gosto arquitetônico, alguns modernos, encimados por luminosas placas de propaganda que lembram Tóquio e Pequim, outros clássicos no estilo espanhol dos colonizadores. O clima eternamente abafado dessas alturas caribenhas é amenizado por uma brisa fresca que desce os 2.600 metros da Montanha Ávila. Uma cidade do porte do Rio de Janeiro, mas com menos pontos de estrangulamento, porque os morros não ficam em meio à área urbana, ficam em torno – Caracas se situa no centro de um vale. Cresceu como cresceram as cidades espanholas, a partir de uma praça maior, no caso, a Praça Bolívar. Da Bolívar, as ruas da capital se espraiam como os raios do sol.Em tese, seria fácil organizá-la, seria um lugar aprazível de se viver. Isso, claro, desconsiderando-se as favelas embutidas nos morros do lado oeste, precárias como quaisquer favelas do planeta. O problema de Caracas, mesmo da Caracas rica, são os carros. Aqui há carros demais.De manhã bem cedo, os carros já estão nas ruas e delas não se retiram até que o sol se ponha. Carros, carros carros, só o que se avista são carros arrastando-se entre os grandes edifícios. O trânsito é irritantemente vagaroso. Percorre-se um metro, depois mais um metro, e mais um, e o carro para, e avança mais dois metros, mais dois, e para de novo. Qualquer deslocamento, por curto que seja, leva no mínimo vinte minutos. Se a viagem for um pouco mais longa, de uma zona a outra da cidade, pode-se ficar detido uma, duas, até três horas no trânsito.Entre os carros, aproveitando-se da lentidão do tráfego, circulam comerciantes de ocasião. Vendem de tudo: pipoca, arepa e até cafezinho. Os vendedores de café carregam quatro ou cinco térmicas em um suporte parecido com uma caixa de engraxate e, nos engarrafamentos, oferecem copinhos de plástico aos motoristas. Que podem, tranquilamente, pagar, beber e pedir outro antes que o carro rode outra vez.Carros, carros, carros. Os motoristas dirigem com a mão na buzina, em zigue-zague, trocando de pista sem dar sinal, desviando de motoqueiros que enxameiam pela esquerda, pela direita, na frente, atrás. Carros. Eles enfeiam a bela cidade que é Caracas. Eles a tornam dura e nervosa.A gasolina custa 10 centavos de dólar. Às vezes menos. Com R$ 2 pode-se encher um tanque. Mesmo que o preço dos carros não seja barato (um popular sai por US$ 10 mil), os caraquenhos estão comprando a cada dia mais carros. Até porque o transporte público é uma tragédia. E a cidade não anda. A cidade um dia vai parar.Eis o grande dilema do século nas cidades do Ocidente e do Oriente. O mundo tornou-se dependente dos carros, inclusive economicamente. Mas o mundo não suporta mais carros. As cidades estão cheias deles, a natureza já não aguenta mais seus excrementos, em pouco tempo metrópoles como Caracas ficarão presas para sempre em engarrafamentos monstros. Como o planeta haverá de se libertar da miserável dependência dos carros?

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Chicote Nunca Mais.... Será?


O jornalista Paulo Santana andando com um carroceiro na Ponte do Guaíba em Porto Alegre.

Depois de muita discussão, muito blá, blá, blá, muito protesto, a Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou o fim da circulação de carroças, pasmem, até 2.016.

Ufa, finalmente.

Mas agora os ilustrados e sábios doutores do Ministério Público ingressaram com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade alegando que a proposta não poderia ter partido do legislativo.....

Bota burocracia nisso....

Conhecida como Lei das Carroças, a Lei Municipal 10.531/2008 estipula prazo de oito anos (10 de setembro de 2016) para que seja banida a circulação de carroças e veículos de tração humana na área urbana. Apresentado pelo vereador Sebastião Melo (PMDB) em 2005, o projeto exige da prefeitura alternativas de renda aos atuais catadores.
No entendimento do MP, a proposta deveria ter partido do Fogaça. Do Fogaça? O Fogaça tem medo de qualquer tipo de movimento que tenha gritos, apitos e confusões. Fogaça é refém das minorias participativas. Fogaça está sempre em cima do muro.

Esse é o caso típico que demonstra porquê motivos o Brasil não funciona e não vai para a frente. Não conheço nenhuma capital brasileira que tenha carroças como Porto Alegre. Nunca vi carroça no Rio de Janeiro, nem em São Paulo, nem em Curitiba, nem em Floripa. Nunca vi. Mas Porto Alegre tem. Buenos Aires não tem e nem Brasília tem. Mas Porto Alegre tem.
Catadores de lixo existem em todas essas cidades, mas o poder público, a prefeitura deve organizar essa coleta. O que ocorre é que os catadores de lixo querem atuar livremente, não querem regras, porque com as regras eles faturam menos. Os carroceiros querem o liberalismo puro e eu não sabia.

Na ZH de hoje:

Para o presidente da Associação dos Carroceiros da Grande Porto Alegre, Teófilo Rodrigues, a possibilidade de derrubada da lei é vista com alívio:– É uma esperança para nós, pois nos galpões (de reciclagem, principal alternativa da prefeitura para substituir as carroças) ninguém está ganhando um salário mínimo. Já nas ruas, se consegue de R$ 500 a R$ 600 por mês.

A presidente da ONG Chicote Nunca Mais, Fair Soares, que defende o fim da circulação de carroças na Capital, não é contrária à posição do MP, desde que a questão não seja deixada de lado:– Concordo com o Ministério Público desde que se exija uma atitude do Executivo. A derrubada da lei para que tudo fique como está é um erro.

A Perfeita Ironia de Vargas Llosa


Mario Vargas Llosa é cercado por admiradores depois de ser liberado pela imigração no aeroporto da capital venezuelana

Gostei da ironia do Mario Vargas Llosa que ficou retido por mais de uma hora no Aeroporto de Caracas.
Um funcionário do Departamento de Imigração disse a ele, “de maneira cordial”, que, “como estrangeiro, não tinha direito a fazer declarações políticas na Venezuela”

Llosa respondeu, também de maneira cordial, que estando na terra de Simón Bolívar, o libertador da América do Sul, ninguém poderia colocar restrições ao livre pensamento e à livre expressão, e que eu iria falar com toda a liberdade como faço sempre.

O escritor também teve a bagagem revistada.

E comentou: Eles comprovaram que não trago contrabando, nenhum material explosivo, nada subversivo, apenas alguns livros de poesia.





Fonte ZH de hoje.

Angeli


Os Brasis


Duas realidades separadas no tempo e no espaço: uma família nordestina dos anos 80, com seus numerosos filhos, e outra típica do Sudeste no final da década de 90, composta por pai, mãe e filho.
Tirado daqui.
Como fazer com que aquela família numerosa e miserável, vivendo sem qualidade de vida se torne uma típica família classe média? O primeiro passo é o Estado brasileiro investir, com seriedade, na educação e melhorar a gestão pública. O segundo passo é acabar de vez com o preconceito de que os pobres deste país são pobres porque explorados pelos ricos. A quem interessa a pobreza?

Resultado Óbvio




Dos professores de quinta a oitava série do país, 26,6% não têm a habilitação legal exigida para dar aulas nesse nível, que é diploma de ensino superior com licenciatura. Do total de docentes desse nível, 21,3% não têm nenhuma graduação e 5,3% têm diploma superior, mas sem a licenciatura.O retrato é do censo da educação básica de 2007 feito pelo Inep, o instituto de pesquisas ligado ao MEC. Pela primeira vez, foram identificados dados individuais do universo de 1,8 milhão de docentes de escolas públicas e particulares do país. (Folha de hoje)
Mais sobre o assunto, na Folha e na ZH.


O Brasil só vai para a frente se investir -- e investir bem -- em educação que forme para a cidadania e para o mercado de trabalho. Existem dois empecilhos para que isso ocorra. O primeiro é que o professor é mal remunerado. Segundo a Folha de hoje:


O salário médio de um professor de ensino médio com nível superior no Brasil era de R$ 1.335 em 2007. Isso representa dois terços dos rendimentos de um enfermeiro diplomado (R$ 2.022), metade do que ganham jornalistas (R$ 2.767) e 27% do obtido por médicos (R$ 4.865).

Outro empecilho é que o sistema é desorganizado. Não existe gestão administrativa, mas política. Muito professor atua fora da sala de aula, em função administrativa. E há o interesse corporativista, dos CPERS da vida, em manter o status quo do Plano de Cargos e Salários de 1974 que engessa qualquer tipo de gestão.

O problema do Brasil é que os dados chegam na nossa cara, como esse do Censo da educação divulgado pelo MEC, e nós, os brasileiros, não fazemos nada além de discutir, discutir e discutir. É muito blá, blá, blá e pouca ação.




quarta-feira, 27 de maio de 2009

POA Resiste Para Quem?


Existe um Blog chamado Poa Resiste.

Existe um outro Blog que se chama Implicante por Natureza.

Gosto do nome Implicante por Natureza.

Eu sou um pouco implicante por natureza.


No Blog Poa Resiste está essa fotografia que ilustra este humilde post.

Minha voz implicante foi para cima, como se vê nas postagens que fiz e recebi do Blog POA Resiste. A propósito, Poa Resiste para quem?



em Maio 26, 2009 às 3:34 pm Responder Carlos Maia
O cartaz acima mostra uma inverdade. Por que não mostram o projeto com calçadão, via pública, marina, bares e restaurantes onde todas essas atividades vão ficar entre os prédios e o guaíba? Vocês estão querendo enganar o povo de POA divulgando cartazes mentirosos como os de cima. Isso sim é uma vergonha.
em Maio 27, 2009 às 12:27 am Responder poa resiste
Inverdade, Sr. Carlos Maia?Que inverdade? Aquilo é uma ilustração feita em cima de uma foto do Pôr-do-Sol do nosso Guaíba!Ela mostra o ponto de vista que os favoráveis ao projeto detestam mostrar, visto de baixo com os espigões tapando a vista do Rio Guaíba.
Caso o Sr. tenha visto o projeto, o que não acreditamos que tenha ocorrido pois ele não existe, por favor nos mande.O que o empreendedor tornou público foi apenas um estudo gráfico (ilustração) em 3D.Parece que o senhor Maia gosta de mandar comentários mas não gosta de ler as respostas a seus escritos. Se tivesse lido a resposta a um de seus comentários anteriores teria lido que a “Marina” não poderá sair, pois ficaria muito próxima do canal de navegação do Guaíba.Seu desconhecimento do que fala é muito grande.
em Maio 27, 2009 às 4:43 pm Responder Carlos MaiaO seu comentário está aguardando moderação.
Os espigões vão tapar a vista apenas de quem trafega pela Diário de Notícias, vista esta que não existe hoje. Este Blog não fala que haverá uma outra via, na frente dos espigões, onde os carros poderão passar e desfrutar o por do sol, haverá também um calçadão, com bares e restaurantes. Se a marinha vai deixar ou não construir uma marina lá é questão que estou sabendo agora. Mas há espaço para negociação, até mesmo porque existe uma outra marina, no veleiros e outros clubes ali perto. A diferença é que a marina a ser construída é pública. É fundamental que Porto Alegre tenha um grande calçadão e ciclovia ligando a Vila Assunção até a Usina do Gasômetro e passando pelo projeto do Pontal do Estaleiro. Na outra mensagem se falou de que aquele local seria destinado a um parque. É o que eu também acho, mas na justificativa de voto do Adeli Sell que foi obrigado a votar contra o projeto ele mesmo esclarece que o Tarso, quando prefeito, achou muito caro o valor para desapropriar. Agora Inês é morta, a área é privada e sobre ela podem ser edificados prédios comerciais. A consulta só vai dizer se prédios residenciais podem lá ser construídos. Para mim tanto faz, eu só quero que aquele projeto saia e Porto Alegre possa ir adiante e construir uma cidade melhor para todos. É isso o que eu defendo.

Cachola de Titica de Galinha


Remindo disse...
Sabes apenas os títulos dos livros. Podes chamar o educador (Paulo Freire) de marxista, mas não me parece que que o diminuas com este rótulo. Com a crise do teu capitalismo, Marx está saíndo de novo das prateleiras e seus escritos sobre a ganância dos capitalistas (crise dos mercados), sobre o individamento das pessoas(crise americana) estão cada dia mais atuais.


Pois é, dizem que estão passando espanador para tirar os mofos dos livros do velho (e do novo) Marx. Já disse e repito, Marx foi um excelente crítico das nuances do capitalismo do século XIX. É fundamental para quem estuda política, economia e sociologia e até mesmo ciências sociais estudar -- e bem -- Marx. Mas Marx foi um péssimo conselheiro, um pífio vidente. Dizem que Marx acerta todas. Eu discordo deste ponto de vista. O grande erro de Marx foi não ter previsto o crescimento de uma grande massa de classe média que é dominante hoje na Europa onde Marx viveu, na América do Norte, em alguns países asiáticos e está se tornando também predominante na América Latina. Esse foi o grande erro de Marx, porque o surgimento desse fenômeno sociológico fez cair por terra a divisão da sociedade pelo dualismo simplório dos explorados e exploradores. A grande cidade moderna é reduto dessa classe média dominante que é tudo ao mesmo tempo: revolucionária e reacionária; pós modernista, modernista e conservadora; que participa e não participa. E esse fenômeno é que encanta a humanidade de hoje em dia. O mundo que estamos embutidos é complexo, difuso e diversificado e se balança entre as sucessivas crises do mercado, do capitalismo e das gripes suínas da vida. Crises essas que são alimentadas pela velocidade impressionante das novas tecnologias, sobretudo essa geringonça chamada internet. Dizem que o capitalismo está com os dias contados. Eu não acredito nessa lenda. A Folha de hoje anuncia que o investimento externo no Brasil aumentou muito em abril de 2009, porque o Brasil, por incrível que pareça, é um país com estabilidade e os juros são elevados e bons para o investidor. Que diabo de crise é essa? O mundo de hoje continua como o de ontem. Poucas mudanças estão sendo sentidas. Talvez um maior controle do Estado sobre os mercados. E acho isso fundamental, sempre concordei que a participação do Estado como indutor, controlador e fiscalizador da economia e dos mercados -- que não podem e nem devem ser absolutamente livres. E mesmo pensando assim e defendendo esse tipo de atuação, sou proclamado pelas listas e blogs de esquerda como um ilustre neoliberal. Mas convenhamos, os interlocutores que participam das listas de esquerda não tem nada muito além na cachola do que titica de galinha.

Duelo de Titãs?


Lula

"Você já assistiu a um filme chamado "Duelo de Titãs'? É um duelo de titãs aí. O que esperamos é que os coitadinhos aqui, presidentes, recebam uma boa notícia dos gigantes PDVSA e Petrobras""Se eu conseguir eleger a Dilma [Rousseff], eu vou ser o presidente da Petrobras e você, [José Sérgio] Gabrielli, [presidente da estatal], vai ser meu assessor. Aí o acordo sai"

Chávez
Durante a conversa reservada com Lula, Chávez comentou que as empresas brasileiras seriam poupadas. "Estamos nacionalizando o país. Menos as empresas brasileiras. Conversei com o Emilio [Odebrecht] para [incluí-lo] nesta corrida ao socialismo. Mas ele não quis", disse, rindo. Esse trecho foi ouvido pela imprensa devido a um erro da Presidência.


Fonte:Folha de hoje.

A Voz do Delfim


Delfim Netto tem sido voz destacada em tempos de crise. Leio direto suas colunas na Folha e as publico aqui no (argh) depósito. No fundo, no fundo, fecho com ele. Quem diria, em tempos passados, na época da ditadura, eu simplesmente detestava o Delfim. Achava o cara o fim da picada. E hoje ele está ai e eu, este humilde vivente, batendo palmas. Como dizia o velho Magalhães Pinto, política é como nuvem, ela está sempre mudando.

O Estado não cria recursos
Coluna do Delfim Netto, na Folha de hoje.

Os tempos turbulentos que vivemos trazem à tona a insegurança e as incertezas que cercam o exercício das políticas fiscal, monetária e cambial inspiradas tanto na teoria econômica hegemônica (o chamado "mainstream") como na de inspiração keynesiana. Dois exemplos bastam: 1º) o escandaloso debate público entre o velho "el maestro", o habilidoso Alan Greenspan, e o novo e ambicioso secretário do Tesouro dos EUA, Tim Geithner, que atribui toda a crise à política do Fed. Geithner esqueceu que era membro do Federal Open Market Commitee (FOMC), que aprovou aquela política! Isso é um sinal claro da qualidade das decisões dos Bancos Centrais, supostamente apoiados na "ciência" monetária hegemônica; 2º) as fantásticas dúvidas, apoiadas em modelos keynesianos, das estimativas do valor do multiplicador das despesas do governo, que vão de 0,5 a 1,5! Uma consequência colateral dessas discussões é a ideia equivocada de que a crise pode encontrar solução no tamanho do Estado, quando ela é, de fato, resultado da sua omissão. O que precisamos, na verdade, é de um Estado-indutor que: 1º) utilize de forma eficiente os recursos que extrai (como imposto) da sociedade e realize a tarefa de fornecer os "bens públicos" (segurança, justiça, igualdade de oportunidade etc.) que só ele pode produzir e 2º) dê aos "mercados" a garantia e a liberdade para funcionarem e, a partir de uma regulação bem definida, produzirem livremente os "bens privados". Assistimos à reencarnação de uma perigosa ilusão. Frequentemente, nos momentos de dificuldade, as sociedades são seduzidas pela crença ingênua de que o Estado cria recursos. Na verdade, o melhor que o Estado pode fazer é reconstruir a coordenação das atividades econômicas destruída pela crise, o que ajudará a gerar recursos. Estes são criados pela ação do capital humano (a força de trabalho, sua educação e sua higidez) sobre o capital físico (a terra, as máquinas, as estradas, os portos etc.). A ação direta do Estado pode ajudar investindo (dando emprego) em bons projetos de infraestrutura que não comprometam o equilíbrio fiscal no futuro e aumentem a produtividade do setor privado. Mas isso é pouco. Para voltar a crescer temos de restabelecer o crédito interbancário mais rapidamente do que estamos fazendo. E a melhor maneira de fazê-lo é dar "conforto" jurídico adequado aos agentes públicos do Banco Central para que este possa utilizar todos os instrumentos monetários ao seu dispor.

Iotti


terça-feira, 26 de maio de 2009

Os Meninos da Ipiranga




Ontem, na esquina mais movimentada de Porto Alegre, cruzando a Ipiranga com a Silva Só, pelas 19 horas, um menino de uns 9 anos saiu correndo na frente dos carros, atrás dele um outro menino de 12 anos com uma pedra na mão. Todos os carros pararam até que os meninos alcançarem a calçada, mas lá chegando eles voltaram para o meio da rua, correndo um atrás do outro. E assim ficaram. Depois que assisti a essa cena deprimente fiquei pensando, como esse Brasil é mesmo um pais complicado. O poder público, ao invés de tirar essas crianças da rua vira refém da politicagem. Se discute picuinhas por aqui e por lá e as crianças continuam nas sinaleiras, catando a miséria do dia a dia. Por que o Estado brasileiro é tão incapaz de manter as crianças na sala de aula, dando-lhes abrigo, comida e habitação para os que não possuem lar? Isso nunca vai ser dinheiro posto fora, isso sim é investimento. A pergunta que deve ser feita é a seguinte: a quem interessa a pobreza? Ora, pipocas, somente os alienados não sabem que pobreza interessa aqueles que fazem dela massa de manobra. E, por isso, eu não acredito em Paulo Freire e sua arte de transformar o ser humano em agente de sua ideologia política. O método Paulo Freire forma as pessoas apenas para a construção de uma duvidosa cidadania, não existe nenhum compromisso em formar cidadão para o mercado de trabalho, porque esse, segundo sua catequese, aliena. Paulo Freire é da época em que se acreditava que o trabalho aliena, que o fetiche da mercadoria aliena. E que o único caminho para construir a boa democracia é a união dos oprimidos. Por isso seu método está defasado e pertence ao passado já enterrado, porque ele não vai resolver o problema das crianças que brincam na rua na frente dos carros.

Cargos Para os Companheiros


Na Folha de hoje.

Petistas têm 1/5 dos cargos de confiança
Pesquisas mostram que sindicalistas foram nomeados para 43% dos postos desse tipo no governo federal


Cerca de 26% dos profissionais que ocupam cargos de confiança no governo Lula ou já foram ou são filiados a um partido político. Desse total, a grande maioria é de filiados ao PT, aproximadamente 80%.

Os dados fazem parte de duas pesquisas recentes feitas pelo CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV, coordenadas pelas cientistas políticas Maria Celina D'Araújo e Camila Lameirão.

Em 2007, a Folha revelou que 45% da cúpula do governo era sindicalizada. Os novos indicadores mostraram poucas variações no decorrer do dois mandatos de Lula. Os sindicalizados variaram para 42,8% (mais alto do que a da média nacional de 17,7%, segundo os dados da Pnad de 2007).Ainda na comparação entre os dois mandatos de Lula, a participação em movimentos sociais foi de 46% para 46,3% e, em organizações locais, de 23,8% para 26,8%."Vale destacar o incremento no pertencimento a centrais sindicais, indicando a corroboração da tese de que esta é uma instância que efetivamente está sendo fortalecida pelo governo", escreve Lameirão. O percentual de pessoas ligadas a centrais sindicais passou de 10,6% para 12,3%.A estrutura administrativa do poder Executivo federal conta com mais de 77 mil cargos ou funções de confiança, nomeados pelo presidente, por ministros ou por autoridades competentes. Cerca de 26% desse total, mais de 20 mil pessoas, são cargos DAS (Direção e Assessoramento Superior), alvos da pesquisa.Quanto mais alto é o cargo de confiança, mais filiados há. Os cargos de confiança analisados foram os chamados DAS-5, DAS-6 e Natureza Especial. Nos DAS-5, são 59,3% de filiados e 30,6% nos DAS-6.A pesquisa aponta que no segundo governo Lula aumentou a participação de pessoas com experiência em cargos de direção no Executivo.A pesquisadora Maria Celina D'Araújo também analisou os partidos que mais ocuparam cargos de ministros desde a redemocratização. Foram o PMDB (66) e o PT (52).A professora chama a atenção para o fato de que o primeiro governo Lula foi o único em que o partido do presidente ocupou mais de 60% das pastas ministeriais (33 em 54).Considerando todo o período desde a redemocratização, 11,5% dos ministros tinham algum vínculo com sindicatos. No atual governo Lula, o número sobe para 27%. "Mesmo prestigiando menos os empresários em postos de mando, os governos Lula não se colocaram em confronto com os empresários. Pelo contrário. De toda a forma, aponta um compromisso político inédito com os setores organizados dos trabalhadores", diz Araújo.

Fala, Professor Michel




Mais um artigo sobre a necessária reforma política. Dessa vez, o presidente da Câmara dos Deputados e professor de direito constitucional, Michel Temer, publicado na Folha de hoje. Eu concordo com ele num ponto, o Brasil deve pensar em fazer a reforma política para vigorar a partir de 2.014. Não se pode misturar eleição que está por vir, de 2.010, com modificação no sistema político. Cheira maracutaia.

Lista fechada com voto proporcional. Voto distrital. Misto ou puro. Voto majoritário para eleger deputado (distritão). Deixar como está, ou seja, voto proporcional, mediante quociente eleitoral? Sobre nenhum deles há acordo.Financiamento público? Também há divergência. Sustenta-se que só é possível com a lista partidária fechada. Ou financiamento público com privado apenas permitido para as pessoas físicas? Financiamento público apenas para cargos majoritários? Ou tudo deve ficar como está, quero dizer, financiamento privado autorizado às pessoas físicas e jurídicas? Também não há convergência.Coincidência de eleições para todos os cargos, incluindo o prefeito? Divergências, mais uma vez. Fim da reeleição, com período maior de governo? O tamanho do desacordo leva alguns a pensar na re-reeleição.Eleição de suplentes de senador pelo voto ou como chapa? Nem se toca no assunto.
Todos esses temas fazem parte do que se convencionou chamar reforma política. Pelas várias opções apresentadas, defendidas e acusadas, pode-se avaliar a dimensão da divergência.Por isso, talvez, a reforma política é a matéria mais apregoada durante as eleições, sendo o primeiro tema esquecido logo após. Não é porque não se a queira fazer. É pelas dificuldades para realizá-la.

Lista Fechada ou Flexível ?




Segue o debate sobre a necessária reforma política que o Brasil tem de fazer. A Revista Veja já bateu o martelo: defende o voto em lista fechada e financiamento público de campanha. O dono, o proprietário, o ditador deste Blog ainda não tem opinião formada. Dizem que ele namora com a lista fechada, mas ainda não saiu casamento. O cientista político, André Marenco, professor da UFRGS é contra, seus motivos são relevantes, conforme artigo que escreveu na ZH de hoje.

Os neo-oligarcas e a reforma política, por André Marenco*

A ideia fixa em favor da introdução de uma regra eleitoral baseada em listas partidárias fechadas constitui o novo sonho de consumo dos políticos brasileiros. Seus defensores sustentam que a transferência do direito de definir a nominata dos candidatos eleitos do voto dos eleitores, para as mãos de dirigentes e funcionários partidários possuiria o condão de promover o Brasil ao patamar dos países modernos e mais democráticos, com partidos fortes, menor corrupção, maior transparência e até mesmo maior participação de mulheres nos cargos públicos.Um teste singelo para verificar se isto é correto consiste em simplesmente solicitar aos áugures das listas fechadas que apresentem um único exemplo de país que, tendo originalmente as mazelas encontradas no Brasil (partidos fracos, corrupção), as tenha eliminado substituindo listas abertas por listas fechadas. Não há outra possibilidade de resposta que não o silêncio.A mudança proposta no Brasil, com a substituição de um modelo de voto preferencial por listas partidárias fechadas, somente pode ser encontrada em dois casos durante o último século. O primeiro foi a Dinamarca, que, tendo adotado o voto preferencial em 1915, o substituiu por listas fechadas em 1920, permanecendo com esta regra até 1953. Naquele ano, contudo, voltou a um sistema de lista aberta, mantido até hoje. Resta apenas o caso da Polônia, que trocou, em 2001, seu sistema de lista aberta pelas listas partidárias fechadas.Países modernos possuem listas fechadas? Alguns, como Espanha e Portugal, sim, como também um campeão mundial da corrupção e desigualdade (Serra Leoa). Outros, como Suécia, Finlândia e Dinamarca, apresentam voto preferencial. Voto preferencial pode ser considerado responsável por menor transparência e maior corrupção? A julgar pela agenda dos reformadores, sim. Considerando os resultados efetivos, não. Utilizando dados do Banco Mundial, que classifica 191 países no mundo quanto à corrupção, os piores desempenhos são de Serra Leoa, Paraguai, Indonésia e Moçambique, todos com listas fechadas, e os melhores, novamente, Suécia, Finlândia e Dinamarca, todos com voto preferencial.Tampouco a intuição de que a representação feminina seria maior nos Legislativos eleitos por listas partidárias pode ser confirmada: nestes, o percentual médio de mulheres nas câmaras baixas nacionais é de 16,9%, abaixo da participação feminina nas democracias com voto preferencial (18,2%).Quando queriam definir a concentração de poder nas mãos de poucos, os gregos empregavam uma palavra: oligarquia. A reforma dos sonhos dos políticos brasileiros limita-se a concentrar dinheiro (financiamento público) e poder (listas fechadas) nas mãos de caciques e funcionários partidários.

*Professor de Ciência Política da UFRGS

Quando a Justiça Pisa na Bola


Uma quadrilha furta quase uma centena de caminhões na região metropolitana de Porto Alegre. A polícia investiga, faz monitoramento, consegue provas e na hora H, prende os 15 suspeitos.

O caso vai para o Juiz de Canoas, RS, que indefere o pedido de prisão porque os presídios estão superlotados

Diz o ilustre magistrado:

– Chega de o Estado cumprir a legalidade para prender e não cumprir a lei quando a pessoa está encarcerada, em condições que afrontam a dignidade humana. No caos prisional que temos, infelizmente, temos de reservar a prisão para aquelas situações que são mais graves, que são com violência ou grave ameaça à pessoa. A sociedade é que tem de pressionar o Poder Executivo para que construa mais presídios, que coloque as pessoas em situação mais digna. Espero que sirva para reflexão –

Gostei do que disse o delegado do caso:
– Esse grupo permanecerá praticando crimes na rua porque o magistrado não quer que esses criminosos fiquem mal acomodados na cadeia.Dos 15 pedidos de prisão, quatro eram de suspeitos que já cumprem penas nos regimes aberto e semiaberto.

Também estou de acordo com o que afirmou o promotor:
– Se o presídio está superlotado, cabe ao Judiciário interditá-lo. O sistema prisional apresenta problemas em todo o país. Se fosse assim, teríamos de soltar todos os presos –

Segundo a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), dois presídios do Estado estão totalmente interditados e 23, parcialmente, entre eles o Presídio Central de Porto Alegre. O governo pretende apresentar um balanço sobre a situação carcerária.
Fonte, matéria de capa da ZH de hoje.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Crise e Ilusão


A nova política

José Arthur Giannotti
Caderno Mais! da Folha de Ontem

Crise econômica abre espaço para questionar legitimidade das instituições políticas

Para entender a crise atual do sistema capitalista de produção convém insistir no seu caráter automático. A crise se aninha na natureza da ação socioeconômica que repõe o capital.
Os agentes operam no mercado imaginando que suas ações sempre serão contrabalançadas por ações alheias, atuam graças à mediação do dinheiro que, por si mesmo, aparece como se tivesse a virtude de transformar mercadoria em preço e preço em comprador.
Dada essa equação, a economia cresceria indefinidamente. A crise revela a perversidade desse processo e recoloca a questão do Estado nesse movimento de reposição.
Mas qual Estado?

Se deixarmos de lado esse automatismo, simplesmente iremos procurar agentes responsáveis pela crise, como se todos eles não tivessem culpa no cartório.
O desafio não é encontrar novos mecanismos de mercado, mais sadios e consistentes, mas instituir órgãos reguladores do funcionamento dos vários mercados capazes de legitimar seu funcionamento, isto é, assegurar que funcionem em vista do bem-estar e do bem-ser da população.

Ilusão em xeque


A crise revela o caráter social do capital e indica como ele precisa ser reestruturado de um ponto de vista político.
Mas política radical. Em que sentido? Está posta em xeque a ilusão de que a luta política deva recorrer a um fundamento comum consensual, como se o ser humano fosse naturalmente social e atuasse a partir dessa sociabilidade primeira.
Basta um olhar crítico sobre a política internacional contemporânea para que se perceba que os conflitos, por serem tão radicais, podem ser identificados com um confronto de civilizações. Não é assim que vejo, pois as populações querem participar de uma forma de vida pós-industrial.
Assim sendo, o consenso, a legitimidade das decisões, passa a ser construído e resulta do esforço de cada parte em vista de manter a si mesma segundo o que pretende ser, mas reconhecendo a possibilidade de persuadir e de ser persuadida.
Hoje a legitimidade se faz construindo instituições legitimadoras.
Neste início de maio se realizou em Grenoble [França] um fórum reunindo mais de cem pesquisadores para discutir a democracia em nível mundial.
Foi organizado por Pierre Rosanvallon, que acaba de publicar "La Légitimité Démocratique" [A Legitimidade Democrática], um excelente livro, e conta com a participação importante de Claude Lefort.
Todos sublinhando que a democracia é sistema aberto, sempre se reinventando, mas que, nos dias de hoje, somente se torna legítima na medida em que se associa a instituições capazes de se tornarem imparciais diante de conflitos, refletir sobre seus efeitos e não perder contato com as várias populações interessadas. É preciso ir além do bom funcionamento dos procedimentos eleitorais, reconhecer o caráter global das políticas econômicas e a necessidade de políticas sociais compensatórias.

Crise evidente


Note-se que não são apenas os franceses que estão colocando essas questões -elas se impõem na Alemanha, na Inglaterra, nos EUA. Enquanto eles discutem os desafios de uma democracia pós-eleitoral, assistimos à perda de legitimidade de nosso processo eleitoral, enfim, do sistema de representação. Nosso Estado cresce sem que seja nem mesmo posta a questão do caráter democrático de suas decisões.
A crise no Legislativo é mais evidente.
Quando seus membros se confessam imorais, quando arrombam os cofres públicos, quando propõem novas regulamentações que não passam de máscaras para manter antigos privilégios, estão simplesmente evidenciando e velando a crise sistêmica no processo de representação e de legitimação.
Não é de hoje que saliento a necessidade de pensar a moralidade pública no contexto de inventar novos parâmetros, por conseguinte, de quebrar até mesmo antigas regras morais para que novas se estabeleçam.
Nunca imaginei, entretanto, que políticos viessem confessar sem pejo que pouco lhes importa o lado moral de suas ações, visto que, mesmo se mostrando sem caráter, continuam a receber o voto popular. Há melhor prova da ilegitimidade do sistema? Nessa mistura entre o público e o privado, não é o caráter democrático da instituição que está sendo posto em xeque? O popular nem sempre é democrático, isso já sabemos por experiência própria.
Se não há preocupação com a democracia interna, menos ainda se pensa nas dificuldades de estabelecer um sistema democrático controlando os mercados. Já que nos contentaremos com um Estado grande (ou inchado?), importa-nos apenas o controle externo que permita nosso crescimento
.
Por aqui o importante é fazer de conta que se é eficaz, seja lá em qual domínio. Onde estão, porém, as transformações das burocracias do Estado que tragam para o mundo essa ideologia da eficácia?
Diante das pressões da mídia e da insatisfação popular, o Legislativo requenta propostas de reforma política. Mas não vejo em nenhuma delas uma preocupação de aprofundar a democracia, de melhorar o sistema representativo a partir dos obstáculos e dos erros do jogo de poder atual.



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JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!.

Maisa - A Nossa Shirley Temple





Do caderno Mais! da Folha de ontem
Diálogo entre Maisa e Silvio Santos
[Maisa para Sílvio Santos] "Silvio, (...) uma pergunta que meus amigos fazem: é verdade que você vai ao cabeleireiro e [coloca] um tipo de uma peruca?"
[Silvio Santos] "Você tem alguma coisa a ver com o meu cabelo?" [...] "Maisa, fiquei vendo seu programa quando você começou a sua carreira... Você era muito ruim, feia, desajeitada. A roupa era feia, o cabelo era feio. Você agora é toda bonita, toda simpática, sorridente, inteligente. É só insubordinada, o resto melhorou muito. O que você espera fazer daqui a dois ou três anos, quando o público não der mais bola para você? Porque agora você agrada o público, você é uma menininha de seis anos que responde como gente grande. Mas daqui a uns quatro anos, quando você tiver dez anos e já for uma mocinha, você acha que o público vai gostar de você?


O Clone Bizarro

Um dia, o comunicador Silvio Santos colocou fotos da princesinha Shirley Temple no camarim de Maisa e reforçou uma semelhança que poucos notariam, sem os cachinhos e os vestidos alegres impostos à menina. Maisa não é tão parecida fisicamente com Shirley Temple. O programa Silvio Santos não tem nada a ver com as sofisticadas produções hollywoodianas da década de 1930. Assim como 2009 está muito distante de 1934, ano em que Temple despontou para o estrelato. Tudo isso é bem óbvio. Neste caso, por que o experiente e astuto apresentador tentaria evocar, com sucesso, a representação da prodigiosa garota californiana se não fosse por uma tacanha exploração do espírito infantil? O que interessa é a tentativa de retomar o que já havia dado certo em outros tempos. Silvio Santos se apropria de um ícone infantil para saciar o desejo do público por algo diferente, sem se preocupar com os efeitos dessa apropriação na personalidade e no desenvolvimento de Maisa. O que importa é o faturamento, o barulho que as travessuras da menina causam na mídia, suas aparições no [programa de TV] CQC e outros medidores do baixo nível da televisão brasileira. Contudo, a assimilação proposta por Silvio Santos não vai tão longe quanto o esperado: como Maisa, Shirley Temple tinha o rostinho de anjo, que tornava cada atitude de adulta ainda mais surpreendente. Sua esperteza e charme incomuns eram destacados em cena, e sua fragilidade era escancarada em momentos estratégicos, para lembrar que era uma criança que estava à nossa frente. Porém, Maisa tem a direção espalhafatosa de seu companheiro de palco, Silvio Santos, enquanto Shirley Temple, apesar de ter feito vários filmes com cineastas de araque, foi dirigida, ainda criança, por artesãos talentosos. O rígido John Ford Foi gente como Henry Hathaway ("Agora e Sempre", de 1934), David Butler ("Olhos Encantados", de 1934; "A Mascote do Regimento" e "A Pequena Rebelde", ambos de 1935; "O Anjo do Farol", de 1936), William Seiter ("Princesinha das Ruas", de 1936) e Irving Cummings (A "Pequena Órfã", de 1935; "Miss Broadway", de 1938), além de mestres como Allan Dwan (em "Heidi", de 1937; "Sonho de Moça", de 1938; "Mocidade", de 1940) e, principalmente, John Ford, um daqueles artistas que transcendem os limites da arte com um domínio sem igual da linguagem ("A Queridinha do Vovô", de 1937). Suas lembranças do trabalho com Ford são curiosas e instrutivas. Em sua autobiografia ["Child Star", Criança Estrela], ela se queixou de que o diretor, num primeiro momento, não pusesse fé no poder de atuação da pequena atriz e lhe desse instruções detalhadas. Enquanto para todos os outros [integrantes] do elenco apenas indicava um caminho, deixando que seguissem e acrescentassem sutilezas à atuação. Mais adiante, percebendo a inteligência e o profissionalismo da garotinha, baixou a guarda e se enterneceu como um espectador comum diante de uma estrela. O mesmo aconteceu com o ator Victor McLaglen, que inicialmente hostilizava a menina, para depois ser conquistado por sua doçura e carisma. Anos depois, Temple destacou que "A Queridinha do Vovô" foi o melhor filme de sua carreira. A atriz que teve boa parte de sua infância perdida para o cinema elege justamente o filme que não a trata como uma estrela, mas que foi construído em torno das possibilidades da história. Era a narrativa a principal atração [baseada numa história do escritor Rudyard Kipling, narra as aventuras de uma menina na Índia, onde o avô é oficial do Exército britânico]. Reveladora escolha de uma atriz acostumada a ser o centro das atenções nos filmes, em detrimento de qualquer outro aspecto cinematográfico. Se existia exploração na década de 1930 (e fica claro que havia), o que ocorre em 2009 se aproxima da crueldade pura e simples. E as diferenças de intenções e contextos são gritantes. Shirley Temple era capaz de interpretar uma criança mimada, mas havia espaço para que ela demonstrasse charme e inteligência. Sem inocência Conquistava todos ao seu redor e arrebatava os espectadores pelo coração. Maisa encanta pelas travessuras e pelos diversos momentos em que aparece em cena como "criança fazendo coisas de adulto". No programa não parece existir brechas para que ela seja mostrada como algo mais do que um clone bizarro. Sua personalidade irrequieta é cutucada o tempo todo, mas existe sobretudo um esvaziamento de conteúdo e inocência, como se da criança só pudessem ser vistas a fragilidade e a inconstância, suscetíveis às manipulações e moldagens do adulto. E o futuro de Maisa, como será? Que caminhos terá sua carreira sob as asas de um tutor que pode ser o maioral da comunicação, mas que pelo visto não tem condições de pensar no melhor para a garotinha? E ela, que parece tão esperta, tão viva, teria condições de impor limites às doses cavalares de vulgaridade e manipulação a que é submetida? Assim como Shirley Temple conquistou o coração do rígido John Ford, teria Maisa condições de despertar sentimentos na pedra que o patrão parece ser?
SÉRGIO ALPENDRE é crítico da revista de cinema "Contracampo".

Elomar Figueira de Mello





Das Barrancas do Rio Gavião

Caderno Mais! da Folha de ontem.

O que primeiro se fala de Elomar [Figueira Mello] é que ele nasceu na mesma cidade de Glauber Rocha [Vitória da Conquista] e mora numa fazenda, criando bodes, isolado, no sudoeste da Bahia. O que me interessa é saber que o seu primeiro disco de composições próprias teve apresentação de Vinícius de Moraes na contracapa, já havia sido lançado no Brasil "Chega de Saudade", já existiam a Tropicália, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Jorge Ben, Os Mutantes. E que sua música parece não ter conhecido nada disso. Como se andasse para dentro, uma pedra inflamada, turbina subterrânea, um jeito de ser. "... Das Barrancas do Rio Gavião" [de 1972] é o intangível da filosofia do sertão.

O Divórcio Litigioso dos Kirchner com a Classe Média Argentina



"Argentina está no caminho do inferno", diz ensaísta

Folha de ontem.



Marcos Aguinis, 74, é hoje a voz da classe média na Argentina, que vive divórcio litigioso com o casal presidencial Cristina e Néstor Kirchner desde o início do conflito com o campo, há 14 meses, e às vésperas de eleições legislativas nas quais o segundo é candidato.
O último livro do ensaísta, "Pobre Patria Mia!" (editora Sudamericana), um autointitulado panfleto contra o legado da era Kirchner, vendeu 60 mil exemplares em dois meses.
Identifica uma Argentina "a caminho do inferno", que nas últimas décadas passou de "rica, culta e decente" a "pobre, mal educada e corrupta".
Golpista para setores que defendem o governo, Aguinis diz que os Kirchner devem enfrentar, no poder, as consequências de seus erros. Psicanalista e neurocirurgião, recebeu a Folha na última quinta-feira e expôs seu diagnóstico da "franca decadência" argentina.

FOLHA - Por que "Pobre Patria Mia"?
MARCOS AGUINIS -
O livro retrata uma frustração de ver a Argentina desorientada e em franca decadência. Recuperamos a democracia em 1983, vivemos uma primavera por três anos, mas a decadência se manteve.

FOLHA - Pelo livro, o sr. foi tido como "escritor da Argentina destituinte". Quer que o governo se vá?
AGUINIS -
Pelo contrário. Que fique e enfrente as consequências de seu mau governo. Falam em crescimento econômico "chinês", mas aumentou a pobreza, há decadência educacional, problemas em saúde, as favelas e o narcotráfico cresceram. Há aumento da anomia, com piquetes e bloqueios por todos os lados.

FOLHA - Como avalia a estratégia do governo, que adiantou a eleição e promove candidatos que não assumirão os cargos?
AGUINIS -
É um desprezo à República, porque não dá valor ao Congresso como Poder independente, e uma degradação do ato eleitoral, como uma fraude anunciada. Aumenta a anomia, esse estado de confusão.

FOLHA - Qual é o legado dos anos Kirchner?
AGUINIS -
Uma decadência, maior insegurança e rancor. Sociedade dividida, República derrubada, instituições débeis.

FOLHA - E onde os Kirchner foram bem?
AGUINIS -
Melhorou a Corte Suprema de Justiça, a de [Carlos] Menem era muito ruim. Há quem diga que foi bom se livrar do FMI [Fundo Monetário Internacional], mas a dívida era a menor do fundo. Kirchner não queria inspeções porque nesse governo não há controles.

FOLHA - E a política de direitos humanos, com reabertura das causas da ditadura?
AGUINIS -
É parcial e interessada, somente para processar crimes da ditadura de 30 anos atrás. Os direitos humanos no presente não são defendidos.

FOLHA - Néstor Kirchner diz que a estatização da previdência privada, em 2008, foi o feito mais importante desde 2003, e o sr. afirma que é um "ato de vampirismo".
AGUINIS -
Ele usa hoje esse dinheiro para manter uma tradição horrível argentina, que começou com [Juan Domingo] Perón: usar o dinheiro dos aposentados para outros fins. Há gente que decidiu pôr seu dinheiro ali porque não confia que o Estado lhe pague uma aposentadoria justa.

FOLHA - Por que o governo perdeu apoio da classe média?
AGUINIS -
Demonstra que o governo não é popular. Está ensimesmado em obter poder e promover capitalismo de amigos. A classe média percebeu.

FOLHA - O governo é respaldado pelos setores mais pobres da sociedade. Não é um sinal de que fez algo por essas pessoas?
AGUINIS - O
respaldo vem sobretudo da Grande Buenos Aires, onde estão os mais pobres, que vivem de subsídios. Esse dinheiro deixou de ser ajuda de emergência e se converteu em suborno crônico.

FOLHA - A morte do presidente Raúl Alfonsín levou milhares às ruas em março. Como analisou esses atos e o chamado "efeito Alfonsín", que beneficiaria a oposição?
AGUINIS -
Nas homenagens a Alfonsín não se falava de sua gestão, mas de sua conduta: que não era ladrão, não era orgulhoso, não chamava de inimigo a quem pensa diferente, um homem do diálogo e da lei. O povo argentino quer isso, e é o que os Kirchner violaram. É uma clara mensagem antikirchnerista.

FOLHA - A oposição está preparada para ser uma opção de poder?
AGUINIS -
O governo Cristina vai caminhar melhor se perder a maioria no Congresso. Vai haver controle da corrupção, das licitações. Os Kirchner, que são práticos, vão se dar conta de que vale a pena dialogar e se manter no poder.

sábado, 23 de maio de 2009

New Order - "World"



Belo Clip do New Order, totalmente filmado em Cannes, França. Recomendo.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

'La Libertad' Segundo Sándor Márai



Dos diários de Sándor Márai:


" La libertad es un asunto privado. No existe la libertad institucional. El ser humano sólo puede alcanzar la libertad - de una u outra manera - a solas y gracias a su propi tenacidad. Y además por poco tiempo."

Pescado do Blog da Bípede. Não existe edição brasileira (ou portuguesa??) dos diários desse húngaro fantástico, Sándor Márai.

'Socialismo do Século XXI' Com o Nosso Dinheirinho


Sem caixa, Chávez busca ajuda do BNDES
Folha de hoje
Com dificuldades de caixa após a queda no preço do petróleo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, está negociando com o BNDES o financiamento de projetos em andamento que contam com a participação de empresas brasileiras.

"O BNDES tem uma carteira potencial de projetos com a Venezuela que ascende a US$ 10 bilhões e financiamentos potenciais na escala, por parte do banco, de US$ 4,3 bilhões", disse ontem à Folha o presidente da instituição, Luciano Coutinho, após se reunir com Chávez, em Caracas. A visita é parte dos preparativos para a viagem do presidente venezuelano à Bahia, na terça-feira.
Os financiamentos sob análise se encaixam na modalidade de exportação de bens e serviços de empresas brasileiras. As negociações mais avançadas envolvem duas linhas de metrô em Caracas, no total de US$ 732 milhões.
Ambas as obras estão sob a responsabilidade da Odebrecht, a maior empreiteira em operação na Venezuela. As negociações foram iniciadas em dezembro, e a expectativa da empresa é que o contrato seja assinado nos próximos 60 dias.
Nos últimos meses, a Odebrecht -assim como várias outras empresas prestadoras de serviço ao Estado -vem sofrendo com o atraso no repasse de verbas, provocando a redução no ritmo de algumas obras.Também está em tramitação a concessão de empréstimo de até US$ 300 milhões para a Propilsul, empresa produtora de polipropileno que tem como sócias a Braskem (braço petroquímico da Odebrecht) e a estatal venezuela Pequiven.Os projetos que podem ter envolvimento do BNDES incluem ainda a construção de um estaleiro e uma siderúrgica, ambos a cargo da construtora Andrade Gutierrez, e outras duas fábricas com participação da Braskem.Com a receita do petróleo reduzida à metade e num cenário de pouco crédito mundial, o BNDES é visto por Chávez como opção viável de financiamento externo, principalmente pelo bom relacionamento político com o presidente Lula.De acordo com Coutinho, o encontro com Chávez serviu para discutir mecanismos para que esses financiamentos sejam feitos no âmbito do CCR (Convênio de Pagamentos e Créditos Recíproco), uma câmara de compensação de crédito e débitos da Aladi (Associação Latino Americana de Integração), da qual Brasil e Venezuela fazem parte.Pelo sistema CCR, os bancos centrais fazem periodicamente um acerto de contas. Se o devedor deixa de pagar, o BC desse país assume o débito -na prática, um seguro de pagamento.Do lado brasileiro, um dos obstáculos para a ampliação das linhas de financiamento é o aumento do teto atual para o financiamento de exportação de bens e serviços à Venezuela.A revisão precisa ser aprovada pelo Ministério da Fazenda e pelo Cofig (Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações), no qual apenas representantes de ministérios têm direito a voto."Mesmo dentro do limite anterior, como a Venezuela hon- rou todas as dívidas, e o saldo devedor é muito baixo, existe limite para fazer mesmo dentro do que estava vigente. Então não há há um grande problema imediato", disse Coutinho.

Cartoon Adulto



O óbvio: quadrinhos não são só para crianças
Paulo Ramos e Waldomiro Vergueiro, Folha de hoje.

Reportagem desta Folha publicada na última terça-feira (dia19) revelou que uma obra em quadrinhos com palavrões e conotação sexual seria distribuída pelo governo paulista a alunos do terceiro ano do ensino fundamental. Em nota, a administração estadual reconheceu a falha e mandou recolher os 1.216 exemplares adquiridos. O governador José Serra prometeu punição aos responsáveis e instaurou uma sindicância.

Em entrevista ao telejornal "SPTV - 1ª Edição", da TV Globo, classificou o livro em quadrinhos como um "horror", obra de "muito mau gosto". É preciso olhar criticamente esse noticiário, pois corre o risco de haver generalizações e reprodução de discursos antigos a respeito das histórias em quadrinhos. É o caso da associação delas somente às crianças.

A obra em pauta -"Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol"- não é direcionada ao público infantil. O álbum foi pensado para o leitor adulto, como confirmam o organizador da publicação, o ilustrador Orlando Pedroso, e outros desenhistas do livro.
O governo de São Paulo acerta ao não distribuir a obra a estudantes de nove anos. Nessa idade, o aluno não está preparado para uma leitura nesses moldes. Seria um desserviço pedagógico. Mas parece estar por trás dessa questão um olhar ainda estreito sobre as histórias em quadrinhos, herdado das décadas de 1940 e 1950. Tal olhar ainda está presente também em parte da imprensa. Reportagem sobre o assunto, exibida na edição noturna do "SPTV", começava com a frase "as histórias são em quadrinhos, mas o conteúdo não tem nada de infantil". É um discurso que enxerga a linguagem como feita exclusivamente para crianças. É claro que o conteúdo não é infantil: a obra foi direcionada ao leitor adulto. A falha, assumida pelo governo do Estado, foi direcioná-la ao ensino fundamental. Os quadrinhos, assim como a literatura, o teatro e o cinema, possuem uma diversidade de gêneros. Um deles é o infantil, do qual faz parte a Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa. Mas há muitas outras produções, direcionadas a diferentes leitores. Inclusive aos adultos, como provam muitas livrarias e as tiras publicadas neste jornal. O mesmo discurso tende a ver os quadrinhos de forma infantilizada ou não séria. Essa generalização evidencia desconhecimento sobre as histórias em quadrinhos e sua produção e afastou das escolas, por décadas, essa forma de leitura.
Mais aqui.
PAULO RAMOS, 37, é jornalista e professor adjunto do curso de letras da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo). É autor de "A Leitura dos Quadrinhos". WALDOMIRO VERGUEIRO, 52, é professor titular da Escola de Comunicações e Artes da USP e coordenador do Observatório das Histórias em Quadrinhos, da mesma universidade. É organizador do livro "Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula".
Ah, Valentina

Buscando Autonomia e Eficiência



O melhor investimento que o Brasil pode fazer é revolucionar o serviço público da escola pública. Um primeiro passo já foi dado. As avaliações -- que muitos torceram o nariz para que acontecesse -- estão ai. Elas estão mostrando a cara do Brasil. Há um grande descompasso entre o ensino privado e o ensino público. Mas existem certas escolas públicas que vêm tendo bom desempenho no ENEM. Por que isso acontece? Segundo o professor João Batista Araújo e Oliveira, em seu artigo na Folha de hoje, é porque elas têm mais autonomia e são refratárias as metas e diretrizes ditadas pelas Secretarias de Educação.

Um segredo de polichinelo
Para dar certo, é preciso ir contra o que manda a secretaria, mas a autonomia só se aplica a poucas escolas. Como enfrentar o paradoxo?
A entrevista do diretor Camilo da Silva Oliveira, ("Governo do Estado só me atrapalha", Folha, 4/5), de uma escola pública paulista com desempenho diferenciado no Enem, coloca em xeque a função das secretarias da Educação e sua relação com as escolas. Em síntese, e candidamente, ele diz que, para funcionar bem, uma escola tem que se proteger das orientações da Secretaria da Educação. O diretor está coberto de razão. Praticamente todas as escolas públicas brasileiras com resultados diferenciados -no Saeb ou no Enem- seguem regras diferentes ou regras próprias e, assim, escapam da vala comum. Se a exceção funciona e a regra não, a regra só pode estar errada.

Todas as evidências científicas sobre "escolas eficazes", ou seja, escolas que apresentam desempenho diferenciado, confirmam a importância da autonomia escolar. A autonomia da escola é condição necessária -embora certamente não suficiente- para o sucesso dos alunos. O depoimento do diretor vai direto ao ponto: para funcionar bem, uma escola precisa ter compromisso com a aprendizagem dos alunos. Ele próprio deve ter perspectiva de longo prazo e ser capaz de "proteger" a escola da Secretaria da Educação, bem como administrar um programa de ensino claro, com conteúdos, estrutura e sequência bem especificados e professores bem formados. Um segredo de polichinelo. Mas o depoimento não para por aí. Uma coisa é a escola escolher o que fazer. Outra coisa é decidir o que não fazer. É preciso ter foco, e não se perder em modismos, plumas e paetês. E, sobretudo, é preciso não tirar o professor da sala de aula para capacitações inócuas e não perder tempo em infindáveis e improdutivas reuniões. Em síntese: para dar certo, a escola precisa fazer o contrário do que a secretaria manda. O diagnóstico é válido para praticamente todas as secretarias da Educação do país. Infelizmente, a receita da autonomia pura e simples não é aplicável à maioria das escolas. Uma empresa aérea não pode operar com pilotos corajosos -que pilotam à margem das regras ou contra elas. Da mesma forma, não é possível operar um sistema escolar apostando em diretores excepcionais. Seria irresponsável dar autonomia a escolas sem que o diretor tenha o elemento mais importante -professores qualificados e comando sobre eles. Isso é o que o Brasil tem feito em nome da autonomia. A secretaria faz pedagogia, e a escola faz política. Os resultados estão aí. Como enfrentar esse paradoxo? A evidência científica disponível sobre pedagogias eficazes mostra as vantagens do ensino estruturado -tanto para professores competentes quanto para os de formação deficiente, nesse caso, operando estratégia de apoio. Uma alternativa possível seria adotar estratégias gerenciais de autonomia escolar em dois tempos. Escolas com desempenho superior a um determinado patamar, comprovado em avaliações confiáveis, poderiam operar com autonomia. As demais seguiriam programas estruturados de ensino até atingir o patamar estabelecido, sob a liderança e a responsabilidade do diretor.

Uma estratégia dessa natureza exigiria uma mudança radical na estrutura, função e forma de operação das secretarias da Educação em todo o país. Uma decisão crítica seria a dos programas e materiais de ensino estruturado -que deveriam ser escolhidos pela secretaria ou pelas escolas entre opções de comprovada eficácia. Não há por que inventar a roda com experimentos pedagógicos, materiais feitos em casa ou com a cor local. A outra seria estabelecer o patamar para que a escola adquira sua autonomia. Esse patamar teria que ser elevado, sob pena de desmoralizar o sistema: algo como 70% dos alunos atingindo os níveis 250 e 325 na Prova Brasil da quarta e oitava séries, respectivamente. A terceira seria iniciar um programa de atração de pessoas adequadamente qualificadas para o magistério. No dia em que isso começar -pois ainda não começou-, teremos esperança de um futuro mais róseo para os alunos da escola pública.



Artigo de João Batista Araújo e Oliveira , 62, psicólogo, doutor em educação, é presidente do Instituto Alfa e Beto. Foi secretário-executivo do Ministério da Educação (1995). .

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Novo Habitante do Zoo



Crianças observam Paul Hutton dentro de um cativeiro no zoológico de Londres. Hutton, um funcionário do parque, foi colocado dentro de um quarto que tem o objetivo de se assemelhar o máximo possível ao habitat natural de um ser humano. A exibição visa dar aos visitantes a oportunidade de aprender mais sobre os efeitos do homem no mundo.

Lá Eles Não Querem CPI....


Pesquei no Terra 24 horas essa imagem tirada agora faz pouco no centro do Riiio.
Quem são eles? As minorias participativas que querem porque querem fazer uma CPI para investigar o governo Yeda. Essas mesmas minorias participativas, os Petroleiros e representantes de movimentos sociais fazem protesto em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, contra a instalação da CPI no Senado para investigar denúncias de irregularidades na estatal. Após um ato na Candelária, no centro da cidade, o grupo deu um abraço simbólico no prédio da empresa (Terra Fotos 24 Horas)

Despoluição do Guaíba - E Agora Vai? Duvido.


Estão noticiando que o Fogaça vai assinar com o Bid (Banco Mundial), finalmente, um projeto para a necessária despoluição do Guaíba. Este projeto não é iniciativa do atual prefeito, tramita faz anos e anos. E nunca sai do papel. É exatamente esse o problema do Brasil. Tudo demora. É muito blá,blá,blá. Muita titiquinha para lá e para cá. E os projetos ficam engavetados nas prateleiras da burocracia e dos interesses privados e corporativos.

De Mãos Vazias



Lula e o premiê chinês Wen Jiabao. Lula propôs a ampliação de troca comercial entre os dois países, mas volta de mãos vazias de Pequim, sem ter avançado no objetivo de diversificar a pauta do comércio bilateral.

Muralha Chinesa
Editorial da Folha de hoje.




A viagem do presidente Lula à China termina como a anterior, em maio de 2004, e a do presidente Hu Jintao ao Brasil, seis meses depois: sem resultados relevantes para nosso país. O regime chinês, por seu turno, obteve várias conquistas no período, mesmo sem ter oferecido contrapartidas significativas.Lula parte de Pequim sem acordos novos para exibir. O contrato da Petrobras para exportar 150 mil barris diários de petróleo em 2009 já fora anunciado em fevereiro. A liberação para entrada do frango brasileiro na China data de 2008. Na gaveta ficaram a meta de reverter o cancelamento da compra de 45 aviões da Embraer e questão das barreiras para carnes suína e bovina.Em 2004, Lula podia dizer-se traído pelos chineses. Logo após sua visita, a China suspendeu embarques da soja brasileira, sob pretexto de contaminação. Soja e seus derivados constituem o item principal das exportações para aquele país -32% do total das vendas em 2008.Por ocasião da vinda de Hu Jintao, o Planalto, apressadamente, reconheceu a China como economia de mercado plena, sob protesto da indústria daqui, que viu assim restringida a margem para mover ações antidumping contra os chineses. A contrapartida, autorizar embarques de frango brasileiro, arrastou-se por quatro anos.A burocracia chinesa usa sem peias a alavanca que a assimetria do comércio bilateral lhe franqueia. O movimento comercial mais que quintuplicou desde 2003 e, nos dois últimos anos, se tornou superavitário para a China, com saldos de US$ 3,6 bilhões (2008) e US$ 1,9 bilhão (2007). O país asiático acaba de tomar o lugar dos EUA como principal parceiro comercial do Brasil.Do ponto de vista qualitativo, a vantagem chinesa é muito mais evidente e preocupante. Mais de três quartos do que exportamos para lá são itens básicos, como produtos agrícolas, petróleo e minérios. Mesmo entre industrializados, semimanufaturados (16%) levam vantagem sobre manufaturados (7%). Dos dez principais produtos que os chineses nos vendem, nove são equipamentos eletroeletrônicos, com muito mais valor agregado.O governo federal diagnosticou, corretamente, a necessidade de diversificar a pauta das exportações e de atrair investimentos chineses para o território nacional. O Brasil pode vender mais e melhor para a China. A fim de que isso ocorra, autoridades e empresas precisam deslanchar uma ofensiva sobre aquele mercado, com mais profissionalismo e organização do que o demonstrado até aqui.