Nota de corte
Artigo de Marcos Nobre na Folha de hoje.
Vez por outra aparece quem ainda tenha saudade do tempo em que a seleção para a universidade era feita pelos professores dos próprios cursos. Havia bibliografia específica, banca de entrevista, dissertação. Mas era uma meia dúzia de gatos pingados que selecionava outra meia dúzia de gatos pingados. A partir do final da década de 1960 a universidade pública começou a se expandir rapidamente. E quando muito mais gente tem condições de entrar na universidade, meia dúzia de gatos pingados não bastam para fazer a seleção. Foi quando nasceu o vestibular. Foi uma solução recebida com desconfiança na época. Mas que mostrou ter boa inventividade e uma relativa diversidade na formulação das provas.Com o tempo, as patologias da fórmula foram ficando cada vez mais evidentes. Alguns vestibulares de universidades de alto nível de qualidade acabaram tendo mais poder sobre o ensino das escolas do que o Congresso Nacional. Os vestibulares ficaram cada vez mais padronizados. Os cursinhos pré-vestibulares se tornaram grandes empresas e concentraram o mercado de preparação para o vestibular, estabelecendo uma uniformização segundo os parâmetros de três ou quatro vestibulares mais concorridos. Isso favorece abertamente quem tem dinheiro para pagar cursinhos, taxas de inscrição e viagens para os locais das provas.Todos esses defeitos evidentes não impediram o surgimento agora de saudosistas de um vestibular que ainda nem se foi por completo. De novo: o que se tem é muito mais gente em condições de disputar uma vaga na universidade do que antes. Tanto pela expansão de vagas nas universidades federais como pelo aumento do número de alunos que conseguem acabar o nível médio. A inventividade que esteve na criação dos vestibulares não passa agora de uma conversa interessada: desde cursinhos e burocracias universitárias até editoras e autores de livros.É verdade que o processo de implantação dessa nova forma de seleção tomará pelo menos uma década. Também a questão do sigilo do exame é muito grave e deve ser tratada com a seriedade devida. Mas União e Estados têm agora uma oportunidade única de retomar, junto com o Congresso Nacional, o controle sobre o ensino médio. E as universidades poderão ganhar em inventividade e eficácia, acrescentando elementos adicionais específicos de seleção para seus cursos.Fazer do Enem um exame de seleção de validade nacional vai colocar às claras não apenas interesses. Vai também mostrar que tem muito mais gente capacitada querendo estudar.
4 comentários:
Idéia interessante seria fazer valer as médias do secundário. Mas, claro, burlar o sistema é simples: matricule seu filho em escola de baixa reputação, onde uma nota 10 é uma barbada e ele terá vaga garantida na faculdade. Ou pior ainda, escolas iriam facilitar ao máximo a vida de seus alunos e fazer disto uma bela propaganta: matricule seu filho em nossa escola e garanta sua vaga na faculdade...
A prova do Enem é geral para todos os colégios. O fim do vestibular diz respeito exclusivamente às universidades públicas, sendo que o ingresso se daria de acordo com a média da prova do Enem que seria universal (para todos). O que pode acontecer é que os alunos das escolas particulares, que têm, em tese, melhor formação poderiam levar vantagem na classificação. E por isso a necessidade cotas sociais (nunca raciais) para alunos das escolas públicas.
quem é que valou em fim do vestibular?
acho muito tosco milhões de pessoas publicando artigos intitulados como o "fim do vestibular".
O que eu vejo, não é um fim; mas sim uma reorganização em matéria de conteúdos e forma de abordá-los nas provas. Não vejo de que forma essa reforma no vestibular poderá mudar o ensino público, pois a UFRGS tem um vestibular muito bem elaborado e, não por isso as escolas públicas seguem este padrão.
A hierarquia dos cursinhos e escolas particulares mais caras continuarão favorecendo as classes mais abstadas. O único fator que será alterado é a atual preparação: antes seria para as faculdades públicas de modo particular, agora será voltado para o ENEM.
É uma idéia visivelmente demagógica, um grande exemplo de como idéias que parecem ser simples e de aparente bom senso escondem muito mais problemas do que podemos imaginar.
Também não vejo NECESSIDADE nas cotas, o que necessita nesse país é um ensino público digno, com professores qualificados - cedidos pelo estado - e acessível a toda a população.
Na verdade, o texto do post está equivocado - e me penitencio. Não vai haver o fim do vestibular, mas uma reengenharia necessária para admissão de alunos nas universidades. Uma coisa é certa, o sistema atual de ingresso nas universidades públicas tem que ser mudado.
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