Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 11 de maio de 2009

"A Moça"


"Se sair na mídia, não vai ser bom"
Cristiano Mariz na Revista Veja desta semana.


A empresária Magda Koenigkan viveu quinze meses, a partir do fim de 2007, com Marcelo Cavalcante, coordenador de campanha de Yeda Crusius, encontrado morto em fevereiro passado. Ela relatou a VEJA as confidências que seu companheiro lhe fez sobre irregularidades que teriam sido cometidas em nome da governadora gaúcha

Veja: Como era a relação de Marcelo Cavalcante com Yeda Crusius?


Magda: Era assim: na campanha ela ligava para ele a todo instante e pedia: "Marcelinho, precisamos arranjar 10 000 reais para isso e aquilo". E ele arranjava.
Era ele, então, quem coletava doações?Se havia um dinheiro para receber, Marcelo pegava e entregava a Carlos Crusius (marido da governadora). No começo (da campanha), tinha de convencer as pessoas a colaborar. Quando Yeda começou a subir nas pesquisas, ficou mais fácil. Vinham 200 000 reais dali, 100 000 de lá. Só que esse dinheiro não entrava para o caixa.


Veja: Ia para onde?

Magda:Olha, entre o fim do segundo turno eleitoral e a semana posterior à eleição, Marcelo recebeu 400 000 reais de dois fabricantes de cigarro, 200 000 de cada um. Ambos pediram para que a verba não fosse entregue oficialmente. Então, foi para o caixa dois.


Veja: Marcelo falava em caixa dois?

Magda:Até do caixa dois do caixa dois. Marcelo deu os 400 000 reais a Carlos Crusius no comitê da campanha. Crusius agradeceu e foi para uma sala mais reservada, enquanto Marcelo conversava com fornecedores que esperavam para receber o dinheiro que lhes deviam. Aí, Crusius apareceu e disse: "Quero me desculpar. Não conseguimos o dinheiro. Vamos precisar de mais um prazo. Espero sua compreensão".


Yeda: Como Marcelo reagiu?

Magda: Foi tirar satisfações com Crusius. Ele sempre me repetia essa história. Contava que disse a Crusius: "Como não tem dinheiro? Entreguei na sua mão". Marcelo acreditava que Crusius escondia tudo da governadora. Mas ela justificou a história. Chegou e disse: "Marcelinho, Crusius quer pagar uma dívida antiga nossa que está apertando a gente e, se sair na mídia, não vai ser bom". Marcelo se indagava sobre que dívida era aquela. Ele, que cuidava das finanças dela, não conhecia essa dívida.

Yeda: O que foi feito dos 400 000 reais?

Magda: Passado algum tempo, Crusius finalizou a compra de uma casa. Pelo que o Marcelo contava, usou os 400 000 reais nisso.


Veja: A casa da governadora?

Yeda: É. O Marcelo falava que o pai de um dos secretários da governadora simulou ter comprado um apartamento dela na praia. Teria sido uma venda forjada para mostrar que ela tinha renda para comprar a casa. Contou também que a casa custou cerca de 1 milhão de reais, talvez mais. Mas esses 400 000 foram entregues por baixo do pano (ao vendedor).


Veja: Marcelo relatou-lhe outras irregularidades?

Magda: Sim.


Veja: Quem pagava as passagens aéreas e hospedagem para o Marcelo e a equipe da campanha de Yeda?

Magda: O caixa dois. Marcelo se hospedava no hotel Swan Molinos (em Porto Alegre). Quem pagava era uma agência de publicidade, a DCS. Arcava também com os jantares que a governadora fez antes e depois da eleição.


Veja: Houve irregularidades antes da campanha eleitoral?

Magda: Marcelo contou que, quando ela era deputada, todo mês entravam cerca de 10 000 reais de um sindicato (Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Sicepot). O dinheiro ia diretamente para a governadora. Quem pegava era uma mulher contratada pelo Marcelo, Walna Vilarins (atual coordenadora de ações administrativas do governo gaúcho).


Veja: Por que Marcelo participou do governo Yeda, mesmo sabendo desses fatos?Magda: Houve um momento em que ele mudou. Em novembro do ano passado, chegou ao conhecimento dele que havia áudios em que ele falava sobre as doações de campanha, como funcionava o pagamento da hospedagem da equipe e a compra da casa. Marcelo ficou muito angustiado e apreensivo.


Veja: Quem gravou esses áudios?

Magda: Outro integrante da campanha de Yeda, Lair Ferst. Ele ajudou Marcelo a arrecadar dinheiro. Entre 2006 e 2007, eles se encontraram diversas vezes. Em novembro, Lair contou a Marcelo que tinha gravado todos esses diálogos e que ia entregá-los à Justiça.


Veja: Marcelo avisou o governo Yeda?

Magda: Sim. Sugeriu que fizessem um acordo com Lair. Disse que havia muitos indícios do caixa dois e que Lair tinha ido com ele pegar dinheiro em empresas que não aparecem em lugar nenhum na receita declarada de campanha.


Veja: A senhora ouviu as gravações?

Magda: Ouvi. São conversas em barzinhos. Em janeiro, Marcelo foi procurado pela Justiça para confirmar se a voz nas gravações era dele e se tudo aquilo que ele dizia nelas era verdade. Estava com depoimento marcado entre a semana do Carnaval e a seguinte, mas morreu antes disso...


Veja: Marcelo lhe disse que iria confirmar que a voz das gravações era dele?

Magda: Sim.

Nenhum comentário: