Considero o Ministro dda Saúde, José Gomes Temporão, um dos bons ministros do atual governo Lula. Mas partidos aliados querem a cabeça de Temporão, porque ele não se submete a essa danosa prática de distribuir cargos políticos entre os partidos aliados. Temporão, assim como Osmar Terra no RS, é um técnico, um estudioso, um expert em saúde pública.
Sobre o assunto, artigo de Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente do Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), publicado na Folha de hoje.
O Problema não é Temporão
"O mesmo profissionalismo que um doente exige de um médico é o que um país sério exige no tratamento da saúde pública."
A fotografia de um ministro da Saúde de cabeça baixa, pensativo e muito tenso, ilustrava a manchete de página de um jornal: "Temporão se enfraquece sem apoio do PMDB". A edição do jornal era do dia em que mais se acendem fogueiras no país, o Dia de São João. Era uma coincidência. Nessa data, veio mais uma vez à tona o esporte recente de algumas áreas políticas, o de disparar fogos de artifícios contra o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.Esse é um dos maiores equívocos do debate sobre a saúde pública no Brasil. Temporão não é o problema nessa área. Pela seriedade e pelo profissionalismo dos administradores escolhidos pelo ministro para instituições federais no Rio de Janeiro, ele certamente é a solução.O problema, qualquer que seja o ministro, é a tentativa imoral de certos setores de alguns partidos de politização exacerbada de uma área que, com a urgência das UTIs, precisa de decisões, de atitude e de compromissos rigorosamente profissionais.O mesmo profissionalismo que um doente exige de um médico é o que um país sério exige no tratamento da saúde pública.Com tantos graves riscos e tão dolorosas conseqüências que estamos acostumados a ver por todo o país, em filas e enfermarias de hospitais, não se pode tratar esse problema com o mesmo remédio de manipulação dos conchavos políticos. Ou alguém seria louco de conferir a filiação partidária de um médico antes de ser levado por ele para um centro cirúrgico?Eis aí o nome do primeiro grande problema da saúde pública no Brasil: gestão. E quem foi, sem trocadilho, que tocou o dedo na ferida senão o ministro Temporão, ao propor nesse terreno, por projeto de lei em lenta discussão no Congresso Nacional, a criação de fundações para gerir profissionalmente os hospitais públicos?Houve, no início, grandes elogios a essa idéia, saudada como uma forma de acabar com o caos em hospitais em que desfila diariamente a tragédia de milhares de brasileiros necessitados.No entanto, agora algumas áreas políticas boicotam a criação desse novo modelo, e o fazem por motivos fáceis de serem identificados.Boicotam porque ainda não assumimos um compromisso sério, de governo e de país, para tratar esse assunto como tratamos hoje, por exemplo, a política econômica: com responsabilidade, com linhas de ação que exijam compromissos amplos da União, dos Estados, dos municípios e da sociedade brasileira e com um pacto informal de continuidade de decisões eficientes. E, sobretudo, com um forte grau de conscientização de que só a mobilização de todos os níveis de governo contornará as graves carências do setor.Não seria exagero imaginar, por exemplo, que, como a Lei de Responsabilidade Fiscal na área econômica, se tenha também uma Lei de Responsabilidade da Saúde, com obrigações e metas que sirvam ao mesmo tempo de estímulo e de cobrança.Dê-se à saúde a blindagem necessária e a seriedade que se está dando à economia, com todos os percalços ainda existentes e com todo o caminho ainda a percorrer, e milhares de brasileiros que sofrem agradecerão, como agradecem diante dos resultados da política econômica.O problema, pois, não é o ministro Temporão. É a seriedade com que devemos encarar o desafio entregue a ele. Atira-se em Temporão como se vai atirar em qualquer ministro, qualquer que seja o partido que o indicou.Alguém declarou, sem a coragem de se identificar, que, "se Temporão deixar o governo, ninguém vai chorar por ele". Alguns até iriam rir de satisfação, como o fizeram em outros tempos os vampiros, sanguessugas e outros assassinos. Entretanto, a imensa maioria, os sofredores, estes, sim, iriam chorar. Chorariam lágrimas que os brasileiros, alegres por natureza, não aceitam.
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