Essa é uma cena triste que faz parte do cotidiano das grandes cidades brasileiras, o vício pela pedra maldita. |
Tenho acompanhado, um tanto de longe, a questão da ocupação da cracolândia pelo estado e seu necessário poder de polícia.
Na Folha de ontem o professor Vladimir Safatle, sempre ele, baixou a lenha no governador tucano de São Paulo, sempre ele, porque sua excelência mandou a policia para cima dos usuários de crack, inclusive fazendo a polêmica internação compulsória. Diz o professor de filosofia da USP:
Agora, fomos obrigados a assistir a uma incrível intervenção na chamada cracolândia.
Nada adianta a maioria dos profissionais de saúde mental insistir no absurdo que significa tratar uma questão de saúde pública como um problema de segurança. Nada adianta lembrar que a maioria das pessoas nessa região não são traficantes. São, na verdade, usuários, que devem ser tratados não a bala, mas em leitos de hospital. Afinal, há uma parcela da população que se excita quando vê a polícia "impondo a ordem", por mais teatral e ineficaz que seja tal imposição. Para tal parcela, a polícia é um fetiche que serve para embalar o sonho de uma sociedade de condomínio fechado.
Se tais pessoas, ao menos, se lembrassem de Philippe Pinel, o pai da psiquiatria moderna, talvez elas entendessem o valor nulo de tais ações policiais, assim como da defesa de políticas de "internação compulsória" de viciados.
Aquele que é vítima de sofrimento psíquico (e a drogadição é um deles) só será curado quando o terapeuta for capaz de criar uma aliança com a dimensão da vontade que luta por se conservar como autônoma. Não será à base de balas e internação forçada que tal aliança se construirá.
Volto. Com todo o respeito e "data venias" discordo do professor Safatle.
Acho que as linhas da saúde e da segurança não são tão paralelas e intocáveis assim. Em algum ponto, em algumas questões mais graves, essas linhas se cruzam. Uma questão de saúde pública pode ser também uma questão de segurança pública. E a cracolândia é também um problema de segurança pública, porque a área ocupada é também uma área violenta, suscetível a roubos e homicídios. As estatísticas explicam.
E estamos no Brasil de hoje vivenciando um grande problema de saúde e segurança pública que é o vício no crack. Na última vez que estive em Salvador, Bahia, o motorista de taxi me disse: que saudades do tempo da maconha, o pessoal fumava e ficava numa boa; hoje o pessoal fuma crack e sai por ai assaltando, roubando, estuprando e matando. Se o pessoal que fuma crack faz isso, a questão não é apenas de saúde pública, é também uma questão de segurança e por isso a internação deve ser compulsória.
E que se dane o políticamente correto.
3 comentários:
Também acompanho de longe o caso da cracolândia, mas uma coisa é certa: sem tratar os drogaditos, o que acontece é que estes vão apenas se mudar para outra zona.
É preciso enfrentar o problema do vício, talvez juntamente com o problema da segurança. Mas o mais importante é tratar o viciado para evitar que ele continue consumindo.
Para os liberais de plantão: é um problema de mercado, de demanda. Sem diminuir a demanda, não se diminui a oferta.
É, primariamente, um caso de saúde. Segurança trata as consequencias, e não a causa.
Concordo, Guimas, mas tua opinião é diferente daqueles que acham que se trata exclusivamente de caso de saúde. Não é.
Também acho que segurança é consequência, a causa está no vício que deve ser tratado por um sistema de saúde que, infelizmente, o Brasil não consegue oferecer.
Maia,
A sociedade se importa pouco com o problema de saúde. Infelizmente. O que dá machete positiva é "descer o cacetete nesses maconheiros".
E se tem uma coisa que qualquer político procura, é manchete positiva.
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