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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O Inimigo da Moral é a Parcialidade


Estão a dizer que o professor Vladimir  Safatle escreveu ontem na Folha o seu último artigo para aquele Jornal.

O artigo começa com um belo título, o inimigo da moral e uma  bela frase que esse humilde blogueiro endossa:

O maior inimigo da moralidade não é a imoralidade, mas a parcialidade.

Depois, Safatle questiona a moralidade dos amorais o "silêncio destável da mídia" para derramar todo o seu ódio às corruptas administrações tucanas em Minas, São Paulo e Brasil. Depois eu volto:

O primeiro atributo dos julgamentos morais é a universalidade. Pois espera-se de tais julgamentos que sejam simétricos, que tratem casos semelhantes de forma equivalente. Quando tal simetria se quebra, então os gritos moralizadores começam a soar como astúcia estratégica submetida à lógica do "para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei".


Devemos ter isso em mente quando a questão é pensar as relações entre moral e política no Brasil. Muitas vezes, a imprensa desempenhou um papel importante na revelação de práticas de corrupção arraigadas em vários estratos dos governos. No entanto houve momentos em que seu silêncio foi inaceitável.

Por exemplo, no auge do dito caso do mensalão, descobriu-se que o esquema de corrupção que gerou o escândalo fora montado pelo presidente do maior partido de oposição. Esquema criado não só para financiar sua campanha como senador mas (como o próprio afirmou em entrevista à Folha) também para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu candidato.

Em qualquer lugar do mundo, uma informação dessa natureza seria uma notícia espetacular. No Brasil, alguns importantes veículos da imprensa simplesmente omitiram essa informação a seus leitores durante meses.


Outro exemplo ilustrativo acontece com o metrô de São Paulo. Não bastasse ser uma obra construída a passos inacreditavelmente lentos, marcada por adiamentos reiterados, com direito a acidentes mortais resultantes de parcerias público-privadas lesivas aos interesses públicos, temos um histórico de denúncias de corrupção (caso Alstom), licitações forjadas e afastamento de seu presidente pela Justiça, que justificariam que nossos melhores jornalistas investigativos se voltassem ao subsolo de São Paulo.


Agora volta a discussão sobre o processo de privatização do governo FHC. Na época, as denúncias de malversações se avolumaram, algumas apresentadas por esta Folha. Mas vimos um festival de "engavetamento" de pedidos de investigação pela Procuradoria-Geral da União, assim como CPIs abortadas por manobras regimentais ou sufocadas em seu nascedouro. Ou seja, nada foi, de fato, investigado.

O povo brasileiro tem o direito de saber o que realmente aconteceu na venda de algumas de suas empresas mais importantes. Não é mais possível vermos essa situação na qual uma exigência de investigação concreta de corrupção é imediatamente vista por alguns como expressão de interesses partidários. O Brasil será melhor quando o ímpeto investigativo atingir a todos de maneira simétrica.


Voltei:

 O parcial Safatle teve o cuidado de pinçar três exemplos de suposta corrupção tucana no artigo. O comentário causa espécie, porque, como diz o "cara", nunca antes na história deste país, um governo teve 6 ministros demitidos, num ano, por suspeita de corrupção.


Esse sim é um fato extraordinário. E esses ministros caíram não por conta da nossa fraca, fraquérrima oposição, mas porque a mídia investigou, foi atrás. E, vejam só, alguns querem calar a mídia, fazer o chamado "controle social", que interesses defendem?

Por que o parcial Safatle não tece nenhum comentário sobre esse fato atual, candente?

4 comentários:

guimas disse...

Vou defender o artigo, e é bem fácil fazê-lo.

O "parcial Safatle" não é um jornal. É um articulista. Tem espaço reduzido. Além disso, escreve artigos de opinião, e opiniões são, por definição, muito parciais.

O jornal, por outro lado, é uma corporação enorme, com várias pessoas, vários repórteres. Some-se a isso o fato que nossa grande imprensa diz que um de seus atributos mais positivos é justamente a imparcialidade.

Eu concordo com o artigo por um motivo simples: está escancarado que a mídia está defendendo um grupo político, e ao fazê-lo, atua, de maneira aberta, como um partido político.

Até aí, tudo bem.

O problema é que a defesa parcial de um grupo político acaba varrendo para baixo do tapete as mazelas, os vícios dos defendidos. E isso é extremamente ruim para o país, em todos os aspectos.

Não dá para pensar em mudar o país deste jeito. E não dá pra defender o indefensável. Isso serve pro Lula, pra Dilma, pro FHC e pro Serra.

O livro do Amaury Junior plantou um mamute no meio da sala. Nossa imprensa (e tu também, Maia), tá fazendo de conta que o mamute é, na verdade, um mosquitinho, e que ninguém precisa dar bola pra ele.

Seria mais fácil para a imprensa dizer, abertamente, que não se interessa (e não se importa) quando a corrupção ocorre no ninho dos tucanos. Seria mais honesto. Do jeito que está, e bem pior.

guimas disse...

E mais um comentário:

"O comentário causa espécie, porque, como diz o "cara", nunca antes na história deste país, um governo teve 6 ministros demitidos, num ano, por suspeita de corrupção."

Tem muita gente que diz, e eu concordo, que as demissões têm mais a ver com a vontade de Dilma de se livrar dos ministros herdados de Lula do que com as denúncias. É claro, para a oposição fica mais fácil "acusar" a presidenta de estar se pautando pela mídia. Eu penso que Dilma é mais esperta.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, este Blog não é um crítico ácido da presidentA. Ele até é muito mais elogioso à Dilma do que ao Lula.

TAmbém concordo, a Dilma nunca engoliu os ministros herdados ou impostos por Lula. E quando teve oportunidade, porque a mídia deu, ela demitiu. E fez muito bem.

Sobre a privataria, li que o Jereissati depositou valores na conta do assessor (que trabalhava na época no BB) num paraíso fiscal dois anos após o encerramento das licitações da privatização.

O fato ocorreu há mais de 10 anos.

Essa talvez seja a denúncia mais grave, mas não significa que essa transação tenha a ver com as privatizações.

Certa esquerda adora criar fatos e factóides não apenas para colocar o governo que ela não gosta, como fez com a yeda no RS, numa situação de pressão, como também, como se vê agora, para colocar a grande mídia denuncista nessa mesma pressão.

Isso faz parte do jogo político, como gosta de dizer o nosso governador Tarso Genro.

Safatle poderia no artigo, ao menos, citar algum exemplo dos tantos sobre corrupção petista. Por que não fez?

abraços

guimas disse...

Maia,

Ainda não entendeste o que quero dizer. É simples: eu não torço pra nenhum time. Eu quero ver os tucanos investigados assim como quero ver os petistas investigados.

E não me venha com essa história de que "Certa esquerda adora criar fatos e factóides". A mídia vive de factóides! A Veja é campeã dos factóides. E não vejo tu criticando a Veja. Pelo contrário, elogias toda a vez que ela publica factóides (às vezes mais fracos).

O Safatle está criticando justamente esse lado canalha da mídia. Ele não precisa citar exemplos petistas, eles estão no jornal todo o tempo.

E, vê bem: aceitas sem crítica qualquer bobagem que a Veja da vida publica (lembro de um artigo que escreveste quando saiu aquela matéria do José Dirceu, elogiando a pataquada), mas fica questionando os interesses por trás quando o assunto atinge os tucanos.

Maia, desse jeito ficas parecendo a velhinha de Taubaté dos tucanos.