Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sobre Jornalistas e Criminosos



Um jornalista tem todo o direito do mundo de entrevistar e coletar informações junto a um criminoso. O que não pode acontecer -- e é duvidoso que isso tenha acontecido -- é o criminoso pautar as notícias da mídia.

Outra questão, a concorrência aproveita e dá lição de moral,  como se vê pela capa  e editorial da Revista Carta Capital do Mino Carta -- que trabalhou, por muitos anos, na Veja.

O editorial da Revista Carta Capital dando puxão de orelhas na Veja está abaixo.



Por que a mídia nativa fecha-se em copas diante das relações entre Carlinhos Cachoeira e a revista Veja? O que a induz ao silêncio? O espírito de corpo? Não é o que acontece nos países onde o jornalismo não se confunde com o poder e em vez de servir a este serve ao seu público. Ali os órgãos midiáticos estão atentos aos deslizes deste ou daquele entre seus pares e não hesitam em denunciar a traição aos valores indispensáveis à prática do jornalismo. Trata-se de combater o mal para preservar a saúde de todos. Ou seja, a dignidade da profissão.



O Reino Unido é excelente e atualíssimo exemplo. Estabelecida com absoluta nitidez a diferença entre o sensacionalismo desvairado dos tabloides e o arraigado senso de responsabilidade da mídia tradicional, foi esta que precipitou a CPI habilitada a demolir o castelo britânico de Rupert Murdoch. Isto é, a revelar o comportamento da tropa murdoquiana com o mesmo empenho investigativo reservado à elucidação de qualquer gênero de crime. Não pode haver condão para figuras da laia do magnata midiático australiano e ele está sujeito à expulsão da ilha para o seu bunker nova-iorquino, declarado incapaz de gerir sua empresa.


O Brasil não é o Reino Unido, a gente sabe. A mídia britânica, aberta em leque, representa todas as correntes de pensamento. Aqui, terra dos herdeiros da casa-grande e da senzala, padecemos a presença maciça da mídia do pensamento único. Na hora em que vislumbram a chance, por mais remota, de algum risco, os senhores da casa-grande unem-se na mesma margem, de sorte a manter seu reduto intocado. Nada de mudanças, e que o deus da marcha da família nos abençoe. A corporação é o próprio poder, de sorte a entender liberdade de imprensa como a sua liberdade de divulgar o que bem lhe aprouver. A distorcer, a inventar, a omitir, a mentir. Neste enredo vale acentuar o desempenho da revista Veja. De puríssima marca murdoquiana.


Não que os demais não mandem às favas os princípios mais elementares do jornalismo quando lhes convém. Neste momento, haja vista, omitem a parceria Cachoeira-Policarpo Jr., diretor da sucursal de Veja em Brasília e autor de algumas das mais fantasmagóricas páginas da semanal da Editora Abril, inspiradas e adubadas pelo criminoso, quando não se entregam a alguma pena inspirada à tarefa de tomar-lhe as dores. Veja, entretanto, superou-se em uma série de situações que, em matéria de jornalismo onírico, bateram todos os recordes nacionais e levariam o espelho de Murdoch a murmurar a possibilidade da existência de alguém tão inclinado à mazela quanto ele. E até mais inclinado, quem sabe.


O jornalismo brasileiro sempre serviu à casa-grande, mesmo porque seus donos moravam e moram nela. Roberto Civita, patrão abriliano, é relativamente novo na corporação. Sua editora, fundada pelo pai Victor, nasceu em 1951 e Veja foi lançada em setembro de 1968. De todo modo, a se considerarem suas intermináveis certezas, trata-se de alguém que não se percebe como intruso, e sim como mestre desbravador, divisor de águas, pastor da grei. O sábio que ilumina o caminho. Roberto Civita não se permite dúvidas, mas um companheiro meu na Veja censurada pela ditadura o definia como inventor da lâmpada Skuromatic, aquela que produz a treva ao meio-dia.


Indiscutível é que a Veja tem assumido a dianteira na arte de ignorar princípios. A revista exibe um currículo excepcional neste campo e cabe perguntar qual seria seu momento mais torpe. Talvez aquele em que divulgou uma lista de figurões encabeçada pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, apontados como donos de contas em paraísos fiscais.


Lista fornecida pelo banqueiro Daniel Dantas, especialista no assunto, conforme informação divulgada pela própria Veja. O orelhudo logo desmentiu a revista, a qual, em revide, relatou seus contatos com DD, sem deixar de declinar-lhes hora e local. A questão, como era previsível, dissolveu-se no ar do trópico. Miúda observação: Dantas conta entre seus advogados, ou contou, com Luiz Eduardo Greenhalgh e Márcio Thomaz Bastos, e este é agora defensor de Cachoeira. É o caso de dizer que nenhuma bala seria perdida?


Sim, sim, mesmo os mais eminentes criminosos merecem defesa em juízo, assim como se admite que jornalistas conversem com contraventores. Tudo depende do uso das informações recebidas. Inaceitável é o conluio. A societas sceleris. A bandidagem em comum.

3 comentários:

guimas disse...

Maia,

Está cada vez mais aparente que Policarpo obteve alguns de seus "furos" com os arapongas do Cachoeira.

Quando dizes "e é duvidoso que isso tenha acontecido" estás colocando panos quentes em uma situação indefensável. O pior cego é o que não quer ver.

O Brasil precisa de oposição, não disto aí. A Veja pauta a oposição e a leva junto para o vale-tudo que não ajuda o país em nada. Aliás, não temos oposição hoje justamente porque ela está ancorada na produção de notícias das Vejas da vida.

Tá na hora de ir pra frente. A Veja ficou lá pra trás.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, nada contra uma revista obter furos com arapongas, isso não é ilegal e nem ilícito. O que não pode acontecer, repito, é o araponga ficar pautando a mídia. O fato é que as denúncias da Veja derrubaram 06 ministros da Dilma. E eles não cairam apenas porque Veja denunciou, não se tratava apenas de pequenas ilações, tanto que eles caíram. Alguém tem dúvida de que Palocci enriqueceu quando ministro ou homem forte do governo? Veja é fundamental no Brasil de hoje, foi ela quem estampou na capa o vergonhoso contrato de financiamento entre o PT (assinado por Genuino) e a empresa de Marcos Valério. O contrato por acaso era falso? Claro que não, tanto que os dirigentes do PT admitiram que realizaram o ato. Por isso o pessoal do PT tem tanta raiva da Veja. A revista pode sim pisar na bola, mas ela é imprescindível no Brasil de nossos dias. Abraço

guimas disse...

Maia,

É óbvio que o pessoal do PT tem raiva da Veja. Ela está há dez anos atacando o partido e o governo do partido sem cessar.

Eu não tenho raiva da Veja. Não tenho raiva de ninguém. Mas fico extremamente decepcionado ao ver pessoas inteligentes defendendo a associação com a corrupção como algo que "faz parte do jogo".

Veja é fundamental pra uma minoria, que é a zélite que ainda acredita que o bicho-papão é o PT.

Eu não gosto do PHA, mas li no site dele, há um bom tempo, algo do tipo só num país subdesenvolvido culturalmente como o Brasil se aceita uma imprensa de má qualidade tão desonesta como a nossa.

Depois dizes "nada contra uma revista obter furos com arapongas, isso não é ilegal e nem ilícito".

Mesmo? Ok. Façamos o seguinte: araponguemos (olha só a conjugação!) José Serra e sua família. Depois, divulguemos em uma revista qualquer (Carta Capital, ou até no site do PHA) qualquer ilegalidade que se descubra. Podemos até inventar alguma coisa. Depois, quando José Serra processar quem quer que seja, diremos que não é errado obter furos com arapongas. Não é ilegal ou ilícito. Depois foi um jornalista que fez a denúncia. Processar jornalista é atentar contra a liberdade de imprensa! Não podemos limitar a liberdade de investigação de nossa imprensa!

Dois pesos, duas medidas. Está em vigor agora. Anti-petistas defendem que a imprensa se associe a corruptos e criminosos, desde que se obtenha informação contra o PT. Se vier contra outros, esquece, não vale nada. Imprescindível para o país!

Eu juro que não entendo esse apego à Veja. É só uma revista. Que pisou feio na bola inúmeras vezes. E que está atendendo interesses óbvios, com o máximo de parcialidade que pode se usar.

E tem gente que acha isso "liberdade de imprensa".