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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

É Sempre Bom Aprender com Mestre Armínio Fraga

Sim ele trabalhou com George Soros e daí?


Armínio Fraga dá entrevista, nesta segunda,  para a Folha  e a patota da nossa esquerda insiste em intepretá-lo de forma equivocada, como nos velhos tempos. Vejam o que diz o Diário Gauche sobre ele aqui. Armínio Fraga foi o cara que plantou a semente de toda a política econômica que está ai. Deveria, portanto, ser reconhecido, mas no Brasil das brigas ideológicas nada de positivo dos outros governos se reconhece. Ainda vamos superar essas limitações que são burras.

Abaixo entrevista de Armínio Fraga falando sobre a economia do Brasil atual. Recomendo, porque é uma aula.

Folha - O investimento está demorando para se reanimar?
Arminio Fraga - Está. Um fator muito relevante tem a ver com infraestrutura.
Doze, 15 anos atrás, caminhávamos para um regime de agências regulatórias com capital privado e supervisão pública. Esse modelo foi rechaçado pelos governos do PT, sem alternativa viável.
Carências passaram a ser verdadeiras barreiras ao crescimento. Foi uma combinação de eventos de natureza ideológica e prática.
Há muitas dificuldades na execução de projetos.
O esforço do governo foi em excesso para o consumo, em detrimento do investimento?
O consumo era um anseio natural da população. Explorar o crédito ao consumidor é bom, mas tem que vir acompanhado da oferta. Estamos com essa situação esdrúxula de desemprego muito baixo -que é, claro, motivo de festa- e crescimento baixo.
Precisa crescer com produtividade...
Sim, e para ter produtividade tem que investir e educar também. Sem mão de obra qualificada para se engajar na produção com mais capital, não se atinge o potencial.
Lembre que nosso PIB per capita é 20% do americano. Em tese, temos espaço para crescer a taxas relativamente elevadas por muitos anos.
Os investidores estão preocupados com uma tendência intervencionista do governo?
É uma preocupação antiga. Ganhou destaque recentemente com a Petrobras, o setor elétrico e o novo modelo para as ferrovias.
Poderia detalhar as desconfianças?
A Petrobras está exposta desde a pressões ligadas a inflação até política industrial do governo e do próprio modelo de royalties.
No setor elétrico, a presença do governo era imprescindível nas hidrelétricas, mas a revisão das concessões e das tarifas gerou um impacto negativo, não necessariamente pelo resultado final, mas pela falta de discussão.
No setor ferroviário, o risco ficará em grande parte nas mãos do próprio governo. Ou totalmente. E isso é perigoso. É bom colocar o risco no setor privado, é um incentivo para que o capital seja bem alocado, sem desperdício.
No próprio setor financeiro, é muito interessante a postura do governo de colocar os bancos federais na ponta de lança de redução dos spreads [o "lucro" dos bancos, a diferença entre o que eles pagam de juros e o que cobram quando emprestam]. É um experimento que tem que ser acompanhado.
É preocupante?
Não, porque vem misturado com certo pragmatismo e uma cobrança grande de resultados a partir da própria presidente Dilma. Ela terá que ir revisando os procedimentos todos. Não vejo nenhum sinal de que, definidas as regras, elas mudem. Isso, sim, seria grave.
O governo estava oferecendo uma remuneração de capital muito baixa nas concessões?
Esse é um ponto muito, muito importante. Primeiro existe o risco de afastar investidores. Mas existe também um outro risco, de revisões e até perda de qualidade. É um desafio monitorar isso.
Se algum dia o Brasil tiver um governo liberal... hoje não existe nem liberalismo aqui... até um governo liberal vai ter esse problema, porque terá que administrar um Estado de tamanho relevante.
Como o sr. classifica politicamente o governo hoje?
Pouco liberal (risos)... Ou nada liberal... Não, nada liberal é exagero. É um governo de esquerda, que está testando seus limites.
Eu acreditava que o governo Fernando Henrique tinha chegado próximo ao que, na minha leitura, são limites razoáveis: um governo com um papel importante, senão de produção, de regulação e fiscalização, que focou os escassos recursos públicos em educação, saúde e tomou a decisão estratégica de sair da produção em setores que foram privatizados.
Um movimento liberal...
Esse foi o movimento liberal de um governo de esquerda. Não abriu mão de ter um impacto relevante sobre distribuição de renda, pobreza, de regulação adequada e assim por diante.
Era um limite razoável. Hoje estão testando um pouco esse limite, correndo o risco de fazer bobagem.
O governo se desviou do tripé da política econômica [meta de inflação, câmbio livre e superavit fiscal]? Abandonou a meta de inflação?
O tripé em geral sobrevive, mas está um pouco ameaçado, começando pelas metas para a inflação. A inflação vem se beneficiando de medidas e eventos não recorrentes, como a contenção dos preços dos combustíveis e a redução das tarifas de energia. São pequenos remendos.
Com isso tudo, as projeções continuam acima de 5%.
O segundo ponto é a taxa de câmbio. A introdução de uma aparente meta, friso o aparente, traz um elemento de confusão.
Há quem venha argumentando que o papel do Banco Central não é só defender a moeda, mas olhar o crescimento.
Acredito piamente que a melhor coisa que o Banco Central pode fazer pelo crescimento é preservar uma taxa de inflação baixa e estável. E suavizar um pouco as flutuações do PIB. E cuidar da estabilidade financeira.
Cuidar de ser um agente de fomento traz o risco de errar a mão na demanda quando os problemas estão na oferta.
É o caso do Brasil hoje? É cedo para julgar. O BC é acusado de estar se arriscando um pouco nessa área, mas eu não seria muito taxativo.
Acredito, ao contrário de muitos colegas economistas, que, quando for necessário, ele vai aumentar os juros.
Essas últimas reduções estão preocupando. Os economistas que olham para as projeções de inflação questionam muito. Não ficou muito claro o porquê do último corte [em setembro]. Mais um neste momento requer uma certa explicação do Banco Central. Alguma coisa que nos leve a crer que a inflação vai convergir para a meta, que é 4,5%. A meta não é 5,2%. É 4,5%.
Cortar 0,25 agora tem efeito na anemia da economia?
Mas a economia está a pleno emprego. Estamos combatendo o problema errado. O BC faz um trabalho minucioso. Certamente vão explicar. No último corte, as explicações não foram muito claras.
O sr. revisaria alguma decisão que tomou enquanto no BC?
De modo geral, não. Foi um período muito reativo, na chegada teve crise, depois teve a crise da Argentina, da Bolsa americana, a nossa crise de confiança, no final.
Não dá uma vontade de poder ser presidente do BC agora, só para poder determinar taxas de juros de 7%, em vez de 45%, como teve que fazer na primeira reunião do Copom de que participou, em 1999?
No início de 1999 as expectativas de inflação eram de 20% a 50% ao ano e as de crescimento, de menos 4%. Entregamos 9% de inflação e 1% de crescimento. Não tenho queixas; plantamos uma boa semente.
Ser economista era sonho de criança?
Não! Ia ser médico. Até hoje me pergunto como teria sido minha vida. Amo a medicina.

10 comentários:

guimas disse...

É curioso ler o saudosismo das políticas liberais da época de FHC.

A política econômica da era FHC teve acertos, é claro. O combate à inflação com o Plano Real, o maior deles.

Mas ele esquece vários poréns.

FHC (e Armínio) também "entregou" (bom esse termo, né) uma carga tributária 50% maior e uma dívida gigantescamente maior.

Não enxergar isso, ou até fazer vista grossa (como ele faz na entrevista) é desonestidade, pura e simples.

O maior gasto do orçamento brasileiro, hoje, é com o serviço da dívida. Esse dinheiro vai direto para os bolsos dos Armínios Fragas espalhados por aí.

Ele está reclamando de quê, mesmo? De que isto não pode mudar?

E ele fala em um Estado Brasileiro liberal, sabendo que a desigualdade aqui é uma das piores do mundo?

Ele vive em que realidade?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, sim ele aumentou a carga tributária justamente porque ele, inicialmente, aumentou as taxas de juros que foi sendo reduzida gradualmente, porque na época havia o risco de volta da inflação. Eu não acredito, sinceramente, que um gestor do Banco Central vá aumentar juros pela maldade do proveito próprio. As questões econômicas devem ser interpretadas de acordo com o contexto da época. Armínio pegou o Brasil quando o país estava no meio do furacão, o dólar havia disparado. Era o início do segundo mandato de FHC. E aplicou o inflation target, até hoje utilizado, mas os sucessivos governos do PT sempre aumentam, no meio do caminho, o tamanho do alvo, como está acontecer este ano.

Não vejo Armínio como liberal, um liberal nunca diria o que ele disse: Eu acreditava que o governo Fernando Henrique tinha chegado próximo ao que, na minha leitura, são limites razoáveis: um governo com um papel importante, senão de produção, de regulação e fiscalização, que focou os escassos recursos públicos em educação, saúde e tomou a decisão estratégica de sair da produção em setores que foram privatizados.


guimas disse...

"Eu não acredito, sinceramente, que um gestor do Banco Central vá aumentar juros pela maldade do proveito próprio."

Reveja seus conceitos. Essa "maldade" é a base da crise econômica americana de 2008. E tenho certeza de que gestores do BC levam em conta o que os investidores financeiros querem antes de pensar nas necessidades da população de baixa renda.

E nem digo que deveriam se concentrar na população de baixa renda - isso é tarefa do executivo, não do BC. Mas algumas políticas econômicas limitantes - como as da época de FHC - contribuiram, e muito, para que a desigualdade esteja onde está.

"Armínio pegou o Brasil quando o país estava no meio do furacão, o dólar havia disparado."

E entregou o país com o dólar a R$ 4,00, colocando a culpa em... Lula. Em 2002, a economia brasileira não estava lá tão bem quanto ele pensa. Foi mérito da equipe do governo Lula colocar a coisa nos eixos. Eu sei que isso dói nos anti-petistas (e nos esquerdistas a la Diario Gauche), mas é verdade.

Talvez Armínio não seja um liberal radical, mas dizer que o governo FHC "focou os escassos recursos públicos em educação, saúde" é uma ficção. Como disse antes, o grosso dos recursos que o governo dispõe através de impostos vai para pagar juros de dívidas - que cresceram muitíssimo durante a era FHC. Isso também é resultado de decisões estratégicas - decisões que beneficiam, curiosamente, o setor onde ele trabalha.

Lembre, Maia, o exemplo gaúcho: o governo Britto comemorou a renegociação de nossa dívida, o que fez dobrar o gosto com pagamentos de juros. Aí se passaram 12 anos e a dívida é o dobro do que era, apesar do governo já ter gasto uma quantia superior ao montante da dívida em 1998.

Bela renegociação, né? Não passa de uma garantia de que o governo pagará, indefinidamente, uma mesada mensal ao sistema financeiro.

É como se tu comprasse um imóvel com um financiamento que tu, teus filhos e teus netos (e assim por diante) tivessem de pagar. E que, a cada ano, cresce.

Algo está errado, não achas?

Anônimo disse...

O troll de estimação, rever conceitos, Guimas? Deves estar brincando, hahaha

Carlos Eduardo da Maia disse...

Sim, Armínio entregou o Brasil com dólar disparado porque havia incertezas do mercado em relação a um governo petista. Incerteza essa que não existe mais. Mas na época havia e isso é inegável. O PT não era confiável ao mercado e isso não é culpa do Armínio. Depois que o PT assumiu o poder e fez algumas reformas, inclusive a da previdência, o mercado começou a olhar o PT com outros olhos.

Liberais ou comunistas radicais existem apenas no âmbito das ideias. Nenhum comunista hoje em dia vai querer estatizar tudo e nenhum liberal vai privatizar tudo.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Antes do governo FHC as dívidas dos estados para com a União ou não eram pagas ou se pagava muito menos do que o devido. Era uma baguna. No governo FHC essa questão foi organizada e racionalizada. Isso foi necessário. Creio que hoje -- passados quase 15 anos -- há espaço para uma forma de renegociação, até mesmo porque é o estado o responsável pela educação e necessita cumprir as leis impostas pela União, como a lei do piso -- editada pela União fixando regras com dinheiro dos estados.

Anônimo disse...

FHC quebrou o Brasil para se reeleger (com votos comprados), com a anuência de seus Armínios.

Diario Gauche (te popuo, troll de estimação)

Veja só: os postes estão mesmo mijando nos cachorros

Ex-assessor de George Soros, o mega especulador planetário, ex-presidente do Banco Central, ao tempo do presidente Cardoso, atual especulador credenciado com um banco de investimento, Arminio Fraga dá entrevista hoje ao jornal Folha de S. Paulo, onde exige explicações do Bacen sobre a queda gradual das taxas de juros no Brasil.

A bronca do especulador é uma garantia de que a política monetária do governo Dilma está no caminho certo. O jus esperneandi do banqueiro mostra duas coisas:

1) os banqueiros já não estão mais no poder, pelo menos no Brasil;

2) depois de trinta anos de política monetária com permanente desestímulo às atividades produtivas, temos uma política econômica orientada desde o Palácio do Planalto, e não desde a Febraban e os centros financeiros do mundo, como Londres e Nova York.

Nós podemos discordar pontualmente de aspectos e sobretudo dos ritmos da política econômica dilmista, mas a direção e o sentido, bem como o comando hegemônico, estão em processo de correção permanente, haja vista a chiadeira do especulador símbolo dos quatrocentos mil brasileiros que viveram à tripa forra nas três últimas décadas graças à política de financeiração da vida e dos indivíduos.

Enquanto os banqueiros chiam, o Brasil, aos poucos, recupera a sua soberania. Falta muito para andar, mas estamos no caminho certo.

guimas disse...

"O PT não era confiável ao mercado e isso não é culpa do Armínio."

Isso se chama tapar o sol com a peneira. A culpa é do Armínio e da equipe econômica sim. O país estava vulnerável o suficiente a ponto de permitir a loucura que aconteceu. Isso se chama falta de estabilidade. É culpa de FHC, Malan e Armínio, sim.

"No governo FHC essa questão foi organizada e racionalizada. Isso foi necessário."

Foi organizada e racionalizada de uma maneira que tornou a dívida impagável. Hoje, passados 15 anos, se sabe disso bem. E não é "espaço para renegociação" que há. É absoluta necessidade. A dívida, como está, afunda, impede o desenvolvimento dos Estados. Sem um novo pacto, educação e segurança, obrigações dos estados, estarão no segundo plano.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, refresque sua memória, o PT não assinou a constituição de 1988 porque era contra a ordem burguesa. Era um partido que dizia claramente que era anticapitalista. Isso naquela época, hoje o PT não é mais isso.

Sobre a dívida dos estados, ela não se tornou impagável, porque os estados estão pagando, mas concordo com vc, depois de 15 anos acho que chegou a hora de uma renegociação.

guimas disse...

"Guimas, refresque sua memória, o PT não assinou a constituição de 1988 porque era contra a ordem burguesa."

É. E teve político no PSDB de FHC que apoiou fielmente ditadura. E daí? O PT mudou, o mercado sabia disso. Mas aproveitou e abusou mais um pouco. A incerteza de um governo petista vivia na cabeça dos Tio Reis da vida. E, lembra, em 2002 FHC tinha uma popularidade ruim e a economia ia mal.

"Sobre a dívida dos estados, ela não se tornou impagável, porque os estados estão pagando."

Não estão. Não há amortização do principal da dívida, o que os Estados pagam cobre apenas os juros, e olhe lá. É perfeito para os credores: os Estados não vão à falência, pagam a maior grana mensalmente, e a dívida aumenta.