Lula, aquele que está acima do bem e do mal e que nunca sabe de nada, disse que não pretende se manifestar sobre assuntos particulares.
Realmente, assuntos íntimos e privados de autoridades não devem ser revelados. Isso é básico. Mas o caso é diferente, esse escândalo envolvendo sua ex secretária (e talvez otras cositas mas) Rosemary Noronha, cujos tentáculos estão sendo revelados em e-mails interceptados pela Polícia Federal, revelam uma longa relação de intimidade entre Rose e Lula, desde o ano de 1993.
O caso particular entre chefe e secretária passou a ser público, porque essa relação envolve o próprio estado brasileiro e dinheiro público.
Os e-mails e as provas até aqui colhidas revelam que Rose articulou para que o Banco do Brasil contratasse empresas de sua família. Rose recorreu a Lula para emplacar amigos e companheiros nas agências reguladoras, além de outras histórias.
Jorge Araujo - 3.jun.2009/Folhapress | ||
A ex-servidora do Planalto em SP Rosemary Noronha, em viagem de Lula à Costa Rica, em 2009 |
Leio na Folha:
Durante 19 anos, o relacionamento de Lula e Rose se manteve oculto do público.
Em Brasília, a agenda presidencial tornou a relação mais complicada.
Quando a então primeira-dama Marisa Letícia não acompanhava o marido nas viagens internacionais, Rose integrava a comitiva oficial.
Segundo levantamento da Folha tendo como base o "Diário Oficial", Marisa não participou de nenhuma das viagens oficiais do ex-presidente das quais Rosemary participou.
Integrantes do corpo diplomático ouvidos pela reportagem, na condição de anonimato, afirmam que a presença dela sempre causou mal-estar dentro do Itamaraty. Na opinião deles, a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo não era necessária.
Oficiais da Aeronáutica se preocupavam com o fato de que ela por vezes viajava no avião presidencial sem estar na lista oficial. Em muitas vezes, Rose seguia em voos da equipe que desembarca antes do presidente da República para preparar sua chegada.
Nessas viagens, seguranças que guardavam a porta da suíte presidencial nas missões fora do Brasil registravam ao superior imediato a presença da assessora. Oficiais do cerimonial elaboravam roteiro e mapa dos aposentos de modo a permitir que o presidente não fosse incomodado.
Durante esses quase 20 anos, Rose casou-se duas vezes. Seu primeiro marido, José Cláudio Noronha, trabalhou na Casa Civil do então ministro José Dirceu quando Rosemary assumiu o escritório de São Paulo.
Na chefia do gabinete, ela construiu a fama de pessoa de temperamento difícil. Lula chegou a receber de amigos reclamações dando conta de que ela tratava mal os funcionários.
Um deles descreveu um episódio em que ela teria pedido para serventes limparem "20 vezes" o chão do escritório até que ficasse realmente limpo.
Apesar do temperamento, Rose era discreta e não gostava de contato com a imprensa. Em algumas festas e cerimônias, controlava a porta de salas vips, decidindo quem podia ou não entrar. Também costumava se consultar com o médico de Lula e da presidente Dilma Rousseff, Roberto Kalil.
Rose acompanhou o ex-presidente em algumas internações durante o período em que este se recuperava do tratamento de um câncer no Sírio-Libanês, em São Paulo. Mas só pisava no hospital quando Marisa Letícia não estava por perto.
Na campanha presidencial de 2006, a chefe de gabinete circulou nos debates televisivos que Lula teve com o tucano Geraldo Alckmin.
Ministros e amigos do ex-presidente não negam o relacionamento de ambos. Foi de Lula a decisão de manter Rosemary em São Paulo, conforme relatos de pessoas próximas.
Procurado pela Folha, o porta-voz do Instituto Lula, José Chrispiniano, afirmou que o ex-presidente Lula não faria comentários sobre assuntos particulares
9 comentários:
Os inimigos cairão matando. Os eleitores não darão bola aos ataques. E Lula, como reagirá?
Pelo que se conhece até agora, a história de Lula e Rose pertence a um mundo antigo. Seria ridiculamente banal não fosse Lula ser Lula.
Nesse mundo antigo, longos casamentos eram mantidos quase sempre assim: a mulher cuidava da casa e dos filhos, e o marido pagava as contas. Num ambiente tão romântico quanto uma reunião do Rotary, o marido acabava com uma amante.
Desde que as contas continuassem a ser pagas e as aparências mantidas, estava tudo bem. Ou pelo menos parecia. As crianças não podiam prescindir de um lar clássico, era o que se pensava.
Rubem Braga captou, com fino humor, isso. Numa crônica, falou de um casal de velhinhos que andava de mãos dadas todos os dias pela orla da praia. “Ele a detestava, ela o desprezava”, escreveu Rubem.
Na política, reduto por excelência do conservadorismo, o fenômeno dos casamentos intermináveis sempre foi ainda mais forte.
Na França liberada, o primeiro presidente divorciado foi Nicolas Sarkozy. O presidente François Mitterrand passou todo o seu tempo no Palácio de Champs Elysée mantendo uma amante e uma filha num apartamento bancado pelo Estado. Um debate presidencial na tevê entre Mitterrand e seu adversário Chirac
foi mediado por uma jornalista que tinha um caso com ambos.
Na Casa Branca, Kennedy dizia que tinha dor de cabeça se passasse um dia sem sexo, e ele não estava se referindo às relações com a primeira dama Jacqueline.
Ainda na Casa Branca, décadas depois, Bill Clinton jurou que não tinha feito sexo com uma certa estagiária de 22 anos. E eles estão juntos, Hillary e Bill, provavelmente representando na vida real o casal da crônica imaginária de Rubem Braga.
Na Itália, o premiê Berlusconi usava o avião governamental para se deslocar com amigos e garotas bem pagas para sua mansão na Sardenha, palco de orgias grupais conhecidas como bunga-bunga.
Na história do Brasil, as histórias assim são rotineiras. Rute permaneceu com FHC mesmo quando ele achava – sem razão, afinal — ser pai do filho de uma jornalista da Globo. Todos os jornalistas sabiam e fofocavam sobre isso, mas ninguém publicou nada enquanto FHC foi presidente.
Era, em suma, o mundo velho.
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Hoje, a aceitação social do divórcio e a conquista de espaço das mulheres mudaram tudo. Mas – no campo pessoal — é importante entender a história de Lula e Rose sob esta ótica, a antiga, e não a moderna. Atire a primeira pedra quem, da geração de Lula, não percorreu o mesmo caminho.
Tudo isso considerado e pesado, é inadmissível, naturalmente, premiar paixões com empregos pagos pelo contribuinte. Esposas à antiga podem suportar, mas o contribuinte não tem nada a ver com isso.
Se a reforma dos costumes chegasse mais rapidamente à política, ficaria mais fácil rastrear favorecimentos dessa natureza. O político A se separa para casar com seu amor B. Logo, B não recebe nenhum tipo de vantagem porque as coisas estão sob a luz do sol.
Os inimigos de Lula explorarão este caso com fúria, com hipocrisia e com impiedade. Darão ao episódio uma dimensão provavelmente muito acima da realidade. E martelarão, e martelarão, e martelarão.
A voz rouca das ruas tenderá, como em outras ocasiões, a dar seu desconto com aquela sabedoria que ninguém sabe exatamente de onde vem. “Ah, estão querendo ganhar no grito”, será provavelmente a reação dominante entre os admiradores de Lula, sobretudo naquele extrato que decide eleições, os 99%. “Por que não falam nas amantes dos outros e seus cargos?”
Resta saber como Lula, pessoalmente, reagirá. Os imperadores orientais costumavam largar tudo, concluído o seu trabalho, para meditar e relaxar em seus últimos anos, longe dos inevitáveis tumultos da vida no poder.
É uma hipótese atraente para Lula.
Com ou sem Rosemary, sua contribuição milionária ao combate à abjeta miséria no país já pertence à história. Ela está registrada nas estatísticas.
Em seus anos no poder, Lula despertou a atenção da sociedade para algo que ela não notava, ou fingia não notar: é insustentável, é vergonhoso um país com tantos miseráveis e excluídos. A consciência disso já se alastrou entre os brasileiros, e a rigor a causa anda hoje sem Lula.
Nenhum partido no Brasil moderno pode aspirar à relevância sem que em sua plataforma figure, com destaque, a luta contra a extrema iniquidade nacional. O emagrecimento assombroso do PSDB é prova disso.
Todos os ataques que serão feitos agora a Lula – com munição fornecida por ele mesmo, fique registrado – não mudarão isso.
A oposição em desespero
Maurício Dias
Acostumada a se regalar com o controle do poder no Brasil, a oposição conservadora vive horas, dias, semanas, meses e, para ser mais exato, dez anos de desespero. E ainda pode ficar sem perspectiva por mais seis se aos dois anos restantes do primeiro mandato de Dilma Rousseff se somem outros quatro, em caso de reeleição da presidenta.
Pesquisa do Ibope, realizada entre 8 e 12 de novembro, aponta a dimensão da dificuldade da oposição numa disputa com ela. Está marcada para perder nas condições de agora. Ressalve-se, é claro, uma hecatombe política ou econômica e, ainda, uma interferência inesperada como, por exemplo, a do “Sobrenatural de Almeida”, personagem das ¬elu¬cubrações ficcionais de Nelson Rodrigues, especialista em criar surpresas.
Caso a eleição fosse hoje, mostra o Ibope, Dilma esmagaria todos os potenciais ¬adversários ainda no primeiro turno. Ela obteve 58% das intenções de voto, contra 11% de Marina Silva (sem partido), 9% de Aécio Neves (PSDB) e 2% de Eduardo Campos (PSB).
Pesquisa Ibope mostra um cenário de reeleição de Dilma
É curioso destacar o resultado da ¬sondagem espontânea: Dilma foi lembrada por 26% dos eleitores e Lula vem logo após, com 19% das menções. José Serra teve 4% de citações e Marina Silva, 2%. Ambos beneficiados pelo recall da disputa de 2010. Aécio Neves foi citado espontaneamente por 3%.
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Aécio e Campos, ressalve-se, são pouco ¬conhecidos. Dilma, dois anos antes da vitória, em 2010, também não existia. Lula fez a diferença.
Tabela inédita da pesquisa Ibope mostra a tendência e a lógica da distribuição das intenções de voto por região. A presidenta Dilma cresceu em todas as regiões e, como já se sabia, alcançou melhor apoio do eleitorado do Sul do País do que Lula.
Marina tem bom desempenho na área dela: os rincões do Norte/Centro-Oeste, Aécio Neves desponta no Sudeste, onde mora e faz política, e Eduardo Campos, com base em Pernambuco, é melhor no Nordeste.
Tudo é possível a dois anos da disputa para a Presidência. A oposição percebeu, no entanto, que para construir uma candidatura ¬viável para 2014 tem de começar agora. E o ambiente político reflete claramente a disputa pelo poder. Uma disputa não necessariamente tendo em vista a conquista de votos, já que a maioria do eleitorado não abandonou o PT, como se viu na eleição municipal.
Os petistas, em 2010, conseguiram quase 17,5 milhões de votos. Um número superado, por pouco, se somados os votos do PSDB (13,9 milhões) e DEM (4,5 milhões), os dois partidos que, organicamente, mais expressam a reação conservadora. Nessa conta, a grande diferença é que o PT cresceu quase 4,5%. Pouco em relação a 2008. No mesmo período, entretanto, o PSDB e o DEM encolheram. A queda dos tucanos foi pequena (4,18%), mas, a do DEM foi superior a 50%.
A oposição, desnorteada por isso e, principalmente, sem programa alternativo, tem dificuldade para encontrar um candidato. Esgotaram-se as opções paulistas. José Serra perdeu duas vezes. Uma vez perdeu Alckmin. O mineiro Aécio Neves se oferece. O pernambucano Eduardo Campos vacila.
Isso projeta o ciclo Lula-Dilma ao menos por mais quatro anos, se não for interrompido abruptamente. Isso porque o desespero, quando não leva ao suicídio, empurra o desesperado para o crime.
Acabo de ler uma mensagem de um leitor que merece as luzes do holofote, porque faz pensar. O autor dela se chama Manuel Henrique.
O texto é auto-explicativo, e demonstra apenas que o PT pode ser culpado de muitas coisas, a maior das quais é ter frustrado as expectativas de muita gente que acreditava que o partido tinha um código de ética puro como São Francisco de Assis.
Mas não dá para acusá-lo de ter inventado a nomeação de amigos e fazer o que FHC definiu, hoje, como uma “mistura entre o público e o privado”.
Ao texto de Manuel:
Hoje, os jornais destacaram a fala de FHC em um seminário, em que criticou subrepticiamente Lula por misturar o público e o privado. Seria cômico, se não … Mesmo nos comentários anti-FHC poucos lembraram do quanto ele misturou o público e o privado. FHC sabe bem do que fala. Afinal, como presidente da República, nomeou o então genro David Zylbersztajn como diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (sem nem passar pela sabatina do Congresso) e para o Conselho Administrativo do Banco do Brasil. Também garantiu emprego para o filho Paulo Henrique no comissariado-geral responsável pelo pavilhão do Brasil na Expo 2000, na Alemanha. O comissariado, criado por decreto presidencial, geriu projeto orçado em R$ 14 milhões, mas realizado por 18 milhões, com recursos públicos. Para montar o estande foi contratada (sem licitação), por R$ 13,7 milhões, a Artplan Prime, uma agência de publicidade (!) dirigida por Fernanda Bornhausen Sá e Ricardo Dalcane Bornhausen, filha e sobrinho do então senador Jorge Bornhausen, na época presidente do então PFL (aliado do governo e hoje renomeado DEM). E olha que nem falei na “boquinhas” que Fernando Henrique conseguiu para o mesmo filho nas ex-estatais Companhia Siderúrgica Nacional na Light. Tudo isso enquanto ocupava a Presidência da República. Temos que reavivar essas memórias.
[faltou a filha recebendo sem trabalhar no senado]
Há um erro básico nas afirmações que se tem feito a respeito do "particular". Se um homem público tem na sua vida privada atos que o desabonam perante a moral vigente, então como esperar que ele siga sendo honesto e reto nos assuntos públicos? Ou seja, se ele é um safado na vida privada, o será também na vida pública...
e não vale dizer que outros fizeram. os outros também merecem o repúdio da sociedade! o que valeu para Lula durante todo este tempo em que tinha a amante no próprio palácio e nas viagens internacionais não vale mais, ao se saber que ela usou disso para enriquecer. E, convenhamos, sem ele saber?
Ih, baixou a tropa de choque do moralismo. Seletivo, claro. Trolinha de estimação da blogosfera...
Popa, o cara nunca sabe de nada, ele só tem popularidade...
Não tenham dúvidas, todas essas falcatruas não vão atingir a popularidade do Lula. Ele e seus postes vão continuar sendo eleitos. Coisas do Brasil, mas que este país, apesar de tudo, continue fazendo o que efetivamente importa: inclusão social.
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