Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O Livre Pensar - Osmar Terra


Publico aqui no depósito o artigo do Osmar Terra, Secretário da Saúde do RS, sobre a polêmica pesquisa na área da neurociência nos jovens infratores da Fase (antiga Febem) no RS.


Este artigo foi publicado na Zero Hora de 2 de fevereiro.


O livre pensar, por Osmar Terra *

Em 1971, 10 pesquisadores brasileiros de renome, vinculados à Fiocruz, foram proibidos de pesquisar pelo governo militar. Seus laboratórios foram fechados e lacrados. Eram cientistas que faziam pesquisas importantes e que foram impedidos de realizá-las por serem ideologicamente de esquerda. Representavam, dentro de seus laboratórios, um "grande perigo" para o pensamento vigente. O episódio ficou conhecido como o "Massacre de Manguinhos" e teve enorme repercussão na comunidade científica mundial. Testemunhei o episódio porque estudava na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e estagiava no laboratório do professor Haiti Moussatché, um dos 10 atingidos pela intolerância absurda. Pensava então em ser pesquisador em Neurociências, mas devido àquelas circunstâncias adiei minha opção e fui trabalhar para mudar meu país.Ao retomar o antigo sonho de estudar neurociência fui novamente surpreendido pela intolerância, desta vez partindo de um grupo de pessoas que criticam publicamente um projeto de pesquisa, que é a base para vários trabalhos, inclusive o da minha tese de mestrado: as raízes da violência no desenvolvimento humano. Viram uma notícia sobre a proposta e, sem conhecer detalhes ou o seu texto, a condenaram a priori. Pior, alguns tentam impedi-la! Assim a motivação desse grupo fica parecida com aquela que testemunhei há 37 anos. Não toleram nada que possa contrariar suas crenças. No estilo, não vi, não sei direito, mas sou contra, fizeram abaixo-assinado com acusações estapafúrdias, agredindo cientistas respeitados que participam do trabalho.Fui motivado para o tema, pela vivência como coordenador do Programa Piá 2000, no governo Britto, quando trabalhamos com crianças e adolescentes em situação de risco. Também são extremamente motivadores os programas que coordeno hoje: o Primeira Infância Melhor e o Programa de Prevenção da Violência. Todos, de alguma forma, trabalham direto com as questões sociais que podem desencadear a violência, e me ajudaram a compreender que ela é um fenômeno de enorme complexidade tendo que ser considerado em todas as dimensões, inclusive na biológica e suas repercussões mentais. Comparar esse tipo de pesquisa com as teses decrépitas e pseudocientíficas de Lombroso, destruídas justamente pelo avanço das Neurociências, é ignorar a história do conhecimento. Mais ridículo ainda é relacionar a pesquisa genética com teorias nazistas de eugenia, ignorando que foi justamente o progresso da genética que desferiu o golpe mais poderoso nas teorias eugênicas, ao mostrar que não existem diferenças significativas entre as raças humanas, e que todos descendemos de uma Eva africana.Também não exporemos nosso projeto em site, como alguns estão propondo, para pedir permissão a quem quer que seja que não esteja envolvido nos trâmites acadêmicos e legais necessários para a sua realização. Não abriremos precedente para que a prática científica fique submetida à aprovação prévia de patrulhas de "iniciados", antes mesmo de existir. Para a ciência é vital o livre pensar!Quanto à pesquisa, posso dizer que ela tem um conteúdo rigorosamente ético, de profundo respeito aos direitos humanos, obedecendo a todas as instancias legais. É um trabalho de investigação sociológica, psicológica, e também biológica (por que não?), buscando um conhecimento maior sobre o comportamento violento. Envolve assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, geneticistas e neurologistas, numa amplitude rara em pesquisas sobre o assunto. Ao contrário de críticos do projeto, não consideramos o conhecimento sobre a gênese da violência completo. Não temos essa pretensão e é justamente por isso é que propomos cruzar um número maior de informações, comparando com outros trabalhos e buscando novos dados que ajudem tanto na prevenção quanto no atendimento de pessoas envolvidas em atos de violência.


* Médico, secretário estadual da Saúde e mestrando de Neurociências na PUCRS
*fotografia de Penna Prearo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esta restrição à pesquisa, é apenas a demonstração do caráter de algumas esquerdas brasileiras. O obscurantismo e a ignorância são ferramentas ideais para manter-se a população sob o jugo de falso moralismo.