Juro que fiquei interessado pelo assunto da construção de muros nas favelas do Rio de Janeiro. Curioso, visitei alguns blogs de esquerda para ver como eles estão tratando do assunto. No
Vi o Mundo, do Luiz Carlos Azenha tem uma uma matéria com uma tal de Vera Malaguti, ela é socióloga e o discurso manjado e simplório é sempre o mesmo. É a velha tese da luta de classes em ação. Os ricos e a classe média estão querendo dizimar os pobres.
Diz a matéria. Eu comento depois.
Estamos na porta de entrada de tempos (ainda mais) difíceis no país. Com crise, desemprego e muita violência nas grandes cidades, os políticos, sem romper seus pactos, precisam apresentar soluções para combater tal quadro. Dessa forma, é produzida uma série de medidas que mais combatem os pobres do que a pobreza. Pintam as paredes, mas não mexem na estrutura interna do ‘prédio’.Por conta disso, o Rio de Janeiro vem sendo palco de seguidas políticas de limpeza e segregação social, como mostram os choques de ordem e agora o levantamento de muros no entorno de favelas, levados a cabo por prefeitura e governo do estado, respectivamente.Para a socióloga Vera Malaguti, do Instituto de Criminologia Carioca, o que vemos é a expressão de um fascismo estatal mancomunado com grandes interesses econômicos. O governo pretende levantar 11 mil metros de muros, com 3m de altura, começando pela zona sul, cuja expansão de favelas não chegou à metade do aferido na zona oeste, de 11,5% - dados do Instituto Pereira Passos.Malaguti aponta que os pobres no Rio de Janeiro são vítimas de crescente truculência oficial e vistos como ‘lixo humano’ que precisa ser removido da cidade, uma vez que a presença dessa parcela da população é prejudicial aos grandes negócios e à especulação imobiliária.Correio da Cidadania: Como você vê a idéia do governo local de construir muros no entorno de favelas, sob a alegação de preservar algumas áreas verdes da cidade?Vera Malaguti: É um absurdo e vem junto do circo de horrores do qual vem sendo palco o Rio de Janeiro, através de extermínios da polícia (a que mais mata no mundo), das remoções dos pobres, demolição de casas em áreas populares ilegais...Enfim, é todo um festival de truculência, em articulação da prefeitura com o governo do estado, completamente ligados aos grandes negócios privados, como os esportivos, e impondo um cerco fascista sobre os pobres. E, além do muro, que é uma vergonha, as remoções voltaram à pauta.Todo o processo é capitaneado pelas Organizações Globo, com campanha diária no RJTV, no jornal O Globo, sempre focalizando a pobreza como detrito, como algo que conspurca o ambiente. E tudo em nome dos grandes negócios privados, uma vergonha.O Rio de Janeiro talvez esteja passando pelo seu pior momento desde Lacerda. Parece uma volta com força total da UDN, terrível.
Meu comentário: Sobrou para o Lacerda. As pessoas têm que viver com dignidade e muitas dessas favelas não existe a mínima condição para esse tipo de convívio. A construção de muros é um limite para que a favela não se expanda, ameaçando, inclusive, o meio ambiente. Por exemplo, da Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio dá para se ver a favela da Rocinha chegando aos recantos da Gávea. E dona Vera ataca o governo Carlos Lacerda no Rio de Janeiro. Ele foi o primeiro governador da Guanabara após a inauguração de Brasília, em 1960 e, em sua gestão, foram removidas 12 favelas na zona norte e uma na zona sul do Rio. Lacerda construiu a Cidade de Deus para assentar os favelados. O modelo, como bem se sabe, não deu certo.
Todavia, é inquestionável que Lacerda foi um grande gestor e construtor de obras públicas.
Obras de Lacerda:
Construção da 2ª Adutora do Guandu, considerada a "Obra do Século", em defesa da qual amargou a adversidade e a ação negativa do governo federal, por exclusivas razões de cunho partidário.
No setor viário, a construção do Rebouças, o maior túnel urbano do mundo, e do túnel Rubens Vaz; o término do túnel Santa Bárbara há 14 anos inconcluso; a implantação dos viadutos dos Fuzileiros, Marinheiros, DeI Castilho, Cintra Vidal João XIII, Laranjeiras, Lagoa, Cosme Velho, Rio Comprido, Benfica, e o Park-way Faria Timbó.
Contratação do famoso urbanista grego Doxíadis, que apresentou um Plano de Urbanização, do qual resultou a concepção das vias expressas denominadas linhas policrômicas (vermelha, amarela, verde, etc) e elaboração de projeto da estrada litorânea Rio - Santos, num traçado que se desenvolve numa das regiões panorâmicas mais belas do mundo.
A conclusão das obras do Estádio do Maracanã, a criação do Fundo de Garantia do Atleta Profissional - FUGAP, e a recuperação do Teatro Municipal, realizações que tivemos a honra de dirigir.
Dentre incontáveis obras de reurbanização, a construção do maior parque urbano da América do Sul, com 1.200.000 m2 de área, no Aterro do Flamengo; do Parque Ari Barroso na Penha; do Parque Lage, preservado e tornado acessível ao público; da recuperação da Quinta da Boa Vista, do Jardim Zoológico e das praias de Ramos, Cocotá, Botafogo e FIamengo, bem como o asfaltamento de 830 km de ruas da cidade e o lançamento de 700 km de esgotos sanitários.
A área cultural foi aquinhoada, entre outras, com a construção da Sala Cecília Meirelles e do Museu da Imagem e do Som.
No campo da política habitacional, a construção das Vilas Kennedy, Aliança e Esperança, que possibilitou a aquisição de casa própria a 44.000 ex-favelados, e dos conjuntos residenciais de Marquês de São Vicente, Álvaro Ramos e Santo Amaro e conclusão do de Vila Isabel.
Remoção parcial de 16 e total de 12 favelas, com remanejamento de 5.966 famílias, merecendo registro a transformação da favela do Esqueleto no "campus" da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ e o desmonte da favela do Pasmado, medidas corajosas que caracterizaram uma política eficaz, que se não houvesse sofrido solução de continuidade, sem dúvida os graves problemas de segurança que hoje afligem a população carioca não teriam atingido o grau de calamidade a que hoje assistimos.
O setor de Educação foi contemplado com a criação da Fundação Otávio Mangabeira - FOM, que propiciou a construção de 230 escolas de nível primário, abrigando 446.844 alunos, e de 40 ginásios de ensino médio, acrescendo-se 53.726 postos de matrícula, a par da concessão de 43.000 bolsas escolares e 3.195 matrículas no ensino normal.
Criação da Cia. de Transportes Coletivos - CTC, com recuperação de 160 ônibus elétricos, aquisição de 400 ônibus Diesel e racionalização do trânsito de veículos, projeto que teve repercussão internacional.
Implantação da CETEL, cobrindo área majoritária da cidade não atendida pela concessionária, Cia. Telefônica Brasileira, e criação da Cia. Progresso do Estado da Guanabara - COPEG, que proporcionou auxilio financeiro a 121 indústrias e emprego a milhares de trabalhadores cariocas.
Na área da Saúde, um substancial aumento de 1.309 leitos, resultante da construção de novos anexos dos hospitais Miguel Couto, Souza Aguiar, Moncorro Filho, Getúlio Vargas, Rocha Faria, Salgado Filho, Oliveira Kramer, Instituto de Cardiologia Eduardo Rabelo e Maternidade Herculano Carneiro, obras secundadas pela reforma em toda a rede hospitalar do Estado.
Recuperação econômico-financeira do antigo Banco da Prefeitura, transformado em Banco do Estado da Guanabara - BEG, na época, a oitava instituição bancária do país, tendo sido construído um moderno prédio para sua sede e instaladas 36 agências, com filiais em São Paulo, Belo Horizonte e Niterói.
Remodelação do corpo marítimo de salvamento e modernização dos equipamentos do Corpo de Bombeiros.
Construção de usinas para industrialização do lixo, em Bangu e Irajá, e substituição da frota de veículos coletores de lixo, possibilitando a normalização dos serviços de limpeza pública.
No campo administrativo, foram implantadas as Regiões Administrativas, visando a um processo de descentralização da gestão governamental; foi adotada a oficialização da Justiça e estabelecido o sistema de mérito no Estado, com a realização de mais de 200 concursos para ingresso no Serviço Público Estadual, tendo sido criada para isso, a Fundação Escola do Serviço Público - FESP.
Na
Veja on line descubro o seguinte:
Em 1960, a cidade tinha 3,3 milhões de habitantes e crescera quase 40% nos dez anos anteriores. Havia 147 favelas, onde viviam 10% da população. A precariedade era retratada com bom humor em ditos como "Rio, cidade que me seduz, de dia falta água e de noite falta luz", mas a insatisfação era crescente. Lacerda fez seu plano de governo baseado na pauta que estava evidente desde o início dos anos 50. "Não houve nenhuma solução genial", diz Perez.
Na Tupi, em um dos inúmeros pronunciamentos pela TV: o dom da oratória como arma no governo
O dinheiro para essa montoeira de obras não veio do exterior, como se costuma alardear. O Banco Mundial financiou 42% da adutora de Guandu, ainda hoje responsável pela maior parte do abastecimento de água da cidade – o restante foi pago pela correção da tarifa, congelada desde 1947. Também não veio de nenhum tarifaço, e sim do prosseguimento da correção de impostos que começou na década anterior, como demonstra Perez em inúmeros gráficos e tabelas. A educação mereceu atenção especial. No governo Lacerda, construíram-se escolas e contrataram-se professores em ritmo acelerado. O resultado foi o fim do déficit de vagas no ensino primário, algo inédito nos anos 60. O governador comemorou com um decreto que previa processo contra os pais que não matriculassem seus filhos na escola.
A remoção de favelas é o capítulo mais polêmico da administração Lacerda. Em seu governo, foram removidas doze favelas, a maior parte na Zona Norte da cidade, e apenas uma na Zona Sul. Numericamente é pouco, e ele não foi o primeiro governante a tomar essa acertada medida. Mas não há dúvida de que foi durante seu mandato que essa política ganhou impulso, inclusive com a construção de seu mais conhecido símbolo: a Cidade de Deus, conjunto habitacional que sintetiza todas as mazelas desse modelo. Foi erguida numa região distante do centro do Rio, sem infra-estrutura alguma de transporte, demonstrando a despreocupação com esse aspecto. Evidentemente não se pode atribuir a Lacerda total responsabilidade pelos problemas atuais, num estado em que a decadência econômica e a demagogia dos governantes só agravaram o problema habitacional. Mas esse é um ponto importante e relativamente pouco analisado no texto – talvez porque pertença a uma seara urbanística com forte componente ideológico na qual o autor se sente menos à vontade. "Pretendi apenas mostrar que ele não era um demônio", diz Perez.