Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Fogueira da Maldade


Cartaz do PNR português contra o aborto, contra a imigração e nacionalista.



O dono deste depósito é a favor do aborto. No Brasil são feitos um milhão de abortos por ano em clínicas clandestinas. Muitos desses abortos são feitos por meninas que não têm nenhuma condição (econômica, social, emocional, psíquica etc. ) de ter filhos. Outras mulheres fazem aborto porque já têm vários filhos e não tem nenhuma condição de ter mais um filho. O direito ao aborto é uma opção da mulher. É questionável que um feto de três meses, por exemplo, tenha pleno desenvolvimento cerebral. E tem deputado, como o tal de Luiz Bassuma do PT da Bahia que é contra até a pílula do dia seguinte. O fim da picada. E o artigo da socióloga Lícia Peres (ZH de hoje) é esclarecedor e assustador, porque tem gente que quer punir mulheres que, por motivos relevantes, fizeram aborto.


CPI da Fogueira, por Lícia Peres*

Não bastasse todo o absurdo que nos últimos dias ocupou o noticiário nacional com a excomunhão pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, dos profissionais envolvidos e da mãe da menina de nove anos estuprada pelo padrasto, grávida de gêmeos e que, sob risco de vida, teve a gravidez interrompida, agora surge a tentativa de instalar-se a CPI da Fogueira no Congresso Nacional.


Os grupos fundamentalistas não dão trégua.Ao tomar como pretexto a denúncia do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que divulgou a estimativa de 1 milhão de abortos realizados por ano no Brasil, alertando para a gravidade do problema e suas consequências para a saúde e a vida das mulheres em razão da clandestinidade, os deputados autodenominados “defensores da vida” querem agora a instalação de uma CPI para execrar as mulheres que decidiram interromper a gravidez, ampliando o ocorrido em Mato Grosso do Sul, onde, com o fechamento de uma clínica, houve a apreensão do prontuário médico de quase 10 mil mulheres para “investigação”.


Buscam, assim, repetir os métodos da Inquisição, que condenou milhares de mulheres à fogueira: a Idade Média em pleno século 21.


A ameaça é séria.O deputado federal Luiz Bassuma (PT-BA) – autor de projeto que restringe ainda mais o direito à interrupção da gravidez, retirando até aquela decorrente de estupro – encaminhou dia 11 mais um pedido para que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará os abortos clandestinos no país inicie imediatamente seus trabalhos. A moção foi aprovada durante o 2º Encontro Brasileiro de Legisladores e Governantes pela Vida (essa foi a denominação da reunião). A CPI do Aborto chegou a ser instalada em dezembro pelo então presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP), mas devido à não-indicação dos integrantes pelos líderes partidários, não pôde iniciar os trabalhos.


Pelo visto, houve apenas uma pequena trégua, antes de nova e furiosa investida.Após acompanhar durante muitos anos os trabalhos no Congresso Nacional, a representante do CFemea, Natália Mori, declarou ser este um dos momentos mais medievais que já presenciou. O movimento de mulheres condena a instauração de uma comissão com tal finalidade, ao mesmo tempo em que defende a descriminalização do aborto.Para tanto, precisamos contar com uma grande e importante aliada: a opinião pública. Foi seu repúdio à excomunhão e à complacência demonstrada em relação ao estuprador, no episódio da menina pernambucana, que levou a própria Igreja Católica, através da CNBB, a desautorizar o arcebispo e declarar que “ninguém foi excomungado”.É grande o número de fiéis que se afastam dos cultos por discordar das posições conservadoras adotadas, situadas na contramão do progresso e das questões do cotidiano, a exemplo da condenação às pesquisas com células-tronco embrionárias e ao uso de preservativos.É preciso um constante esclarecimento à sociedade de que criminalizar o aborto representa mortes e prejuízos à saúde feminina. Em razão disso, é cada vez maior o número de países a optar pela legalização.A opinião pública é nossa grande trincheira e com seu apoio desmontaremos a fogueira alimentada pelo ultraconservadorismo, que pretende atingir as mulheres cujo “pecado” é defender o direito de decidir e a autonomia sobre seu próprio corpo.


*Socióloga

4 comentários:

PoPa disse...

Bem, eu não sou favorável ao aborto. Mas não chego ao cúmulo de dizer o que cada mulher pode fazer de seu corpo e acho que esta discussão precisa aprofundar-se.

Não gosto da idéia do aborto, pois existem muitas maneiras de evitar a gravidez. Mas também não gosto da idéia de tornar as mulheres criminosas por terem feito abortos. E, claro, é sempre melhor que isto seja feito em condições controladas, para evitar riscos desnecessários às mães. E com acompanhamento psicológico, para evitar danos futuros.

Acho que o aborto, como controle de natalidade, é um absurdo. E é a banalização de um procedimento de risco, que mexe com a cabeça das mulheres. Afinal, quem gosta de imaginar que matou o próprio filho?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Não é matar o próprio filho, Popa. É discutível que um embrião de poucas semanas seja um filho, porque ele ainda não está formado. é apenas um embrião. O fato é que o aborto vai continuar sendo feito e praticado mesmo criminalizando essa prática. E hoje, no Brasil, o aborto é feito em clínicas clandestinas sem nenhuma condição de saúde e higiene, sobretudo aquelas que atendem a população de baixa renda. O ideal é que o aborto seja liberado até o momento em que não represente risco e que seja feito em hospitais decentes, via SUS. Concordo que o aborto mexe com a cabeça das mulheres e também acho que deve haver também um atendimento psicológico.

Charlie disse...

Não existe pessoa mais apta para saber o momento ideal para maternidade do que a própria mulher. Se a mulher, logo no início da gestação está convencida de que não pode ter um filho, não é o governo, o Estado com sua mão forte que irá coagir a mulher a ter o filho. O fardo, afinal, será da própria mulher que nunca desejou a maternidade, pelo menos naquele momento.

De qualquer maneira, a proibição do aborto é solenemente ignorada pela população. Tal medida, como normalmente acontece, gera mais problemas do que soluções. No final das contas, o aborto foi elitizado, já que as mulheres mais ricas que praticam o aborto o fazem nos melhores estabelecimentos do mercado clandestino. As pobres? Bom, qualquer açougueiro serve.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Muito bem, Charlie, concordo plenamente.