Muito bom o artigo do Delfim Netto na Folha de hoje. Não é que aquele jargão "o que é bom para os EUA é bom para o Brasil" tinha sim um fundo de boa razão. Uma pena que não seguimos -- ao menos em parte -- esse conselho. Culpa de nossa teimosia, inveja, neurose e com uma dose razoável de burrice.
Origem dos EUA
Um brilhante intelectual acaba de publicar uma extraordinária história econômica dos EUA. Merece ser lida por quem se interessa pelo papel do Estado e dos estadistas na construção de instituições que tendem a promover o desenvolvimento econômico de um país num regime de liberdade de iniciativa dos seus cidadãos. O livro é "Land of Promise" (HarperCollins). O autor é o considerado Michael Lind.
Trata-se da saga da quase inacreditável construção política que, a partir da segunda metade do século 19, transformou uma coleção heterogênea de pequenas colônias inglesas na maior, mais eficiente, produtiva e democrática sociedade do mundo, com a enxuta e poderosa Constituição de 1787.
Essa construção exigia uma conveniente organização econômica, que foi entregue ao gênio Alexander Hamilton, secretário do Tesouro de 1789 a 1795.
A história revela que, desde o início, duas diferentes concepções dominaram a formação da sociedade americana. Uma, a hamiltoniana, que sugere que uma nação forte precisa de uma organização com um governo central estimulador da atividade privada e construtor da infraestrutura.
A outra, jefersoniana, acredita que a prosperidade é produzida pelo trabalho de pequenos produtores independentes e competitivos. A situação ao longo dos últimos 220 anos não é muito clara, mas podemos, no nosso tempo, incluir na primeira Franklin Roosevelt e, na segunda, Ronald Reagan.
Lind não deixa dúvida sobre o fato de que esse jogo entre as duas correntes foi fundamental para construir os EUA. Elas são visíveis na disputa Obama versus Romney.
O autor chama a atenção para o movimento cíclico desse desenvolvimento. Fala, na verdade, em três Repúblicas: a dos fundadores, a estabelecida após a guerra civil com Lincoln e a construída depois da depressão de 1929.
A construção de Hamilton se fez apelando para um inteligente protecionismo que negava Adam Smith. O progresso da Inglaterra foi feito com o protecionismo. E só quando dominou a economia mundial ela passou a defender o livre funcionamento dos mercados.
Vale à pena acompanhar a construção de Hamilton nos seus relatórios ao Congresso: sobre o crédito público (janeiro de 1790), sobre a criação de um banco nacional dos EUA (dezembro de 1790) e sobre as manufaturas (janeiro de 1791).
É hora de lembrar que do tamanho de Alexander Hamilton tivemos um Silva. José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838). A mediocridade política que nos persegue impediu que aproveitássemos seus projetos para terminar com a escravatura, desenvolver a siderurgia e tornar a educação primária obrigatória já nos anos 20 do século 19. O Brasil hoje seria outro.
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