Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Os Palhaços



O professor José Arthur Giannoti está lançando um novo livro: Lições de Filosofia Primeira e concedeu uma entrevista para o caderno de cultura da ZH do último sábado.

Destaco a seguinte parte da entrevista:

 
ZH – Como o senhor vê a relação entre a academia e os intelectuais públicos?

Giannotti – A figura do pensador público está cada vez mais restrita. Você não tem mais os maîtres à penser, mesmo na França. Quais são os grandes mestres do pensamento francês hoje? O último caso que tivemos foi na Alemanha, com Jürgen Habermas, e depois que a Europa entrou em crise o pensamento de Habermas se afundou. Você não tem mais grandes mestres do pensamento. Temos uma situação de medianidade.


ZH – Na sua opinião, esse tipo de intelectual está em declínio?
Giannotti – Eu acho. Hoje, meu caro, quem ocupa a cena pública são basicamente os palhaços. Não é à toa que nós temos Berlusconi.


ZH – Que outros exemplos o senhor daria?

Giannotti – Temos o Berlusconi (Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da Itália) o palhaço escrachado, temos o palhaço refinado, que é o Sarkozy (Nicolas Sarkozy, primeiro-ministro da França), ou temos o palhaço maravilhoso, o Macunaíma, que tem a capacidade de levantar todo o país, mas na hora de tomar grandes decisões as deixa para o sucessor. É o Lula.



ZH – O senhor é a favor da política de cotas nas universidades?

Giannotti – Sim. Não é possível deixar toda essa massa da população fora do ensino universitário, porque será prejudicada em sua formação. Só que tem um problema: eu prefiro que essas cotas não sejam raciais. Hoje, mais da metade da população brasileira é negra. Os negros são, basicamente, as classes pobres do país. Se houver cotas para pobres, tenho um processo de integração da população negra sem que meu filho precise, na escola, se declarar branco ou negro. Ainda quero conciliar o programa de cotas com a preservação do espaço público onde as pessoas não tenham que declarar suas raças, suas origens, sua sexualidade, sua religião e assim por diante.


ZH – Qual é o futuro do socialismo?

Giannotti – “Socialismo” é a palavra mais ambígua possível. Define-se o que é socialismo em uma determinada situação. No final do século 19, Oscar Wilde (escritor britânico) se dizia socialista. Não sei por que tenho dizer que Bakunin (anarquista russo) era socialista, e Oscar Wilde, não. O que é socialismo, você sabe? Socialismo é uma palavra vazia. O que nós temos são políticas de justiça social. Isso é o que vamos tentar construir. É mais fácil haver um socialismo brasileiro do que uma filosofia brasileira. Ninguém sabe o que é socialismo hoje! Sabemos o que é socialdemocracia. Isso sabemos. E sabemos que todo socialista é favorável à economia de mercado. (Risos.)


ZH – Recentemente, um comentarista escreveu que os intelectuais falharam ao não fazer um balanço sistemático dos anos Lula.
Giannotti – (Interrompendo.) Mas não se fez uma boa análise nem do governo Fernando Henrique Cardoso!

ZH – Como o senhor vê essa ausência de balanço?


Giannotti – Não se fez um balanço crítico nem do governo Fernando Henrique nem do governo Lula. Mas o governo Lula está acabando agora. O que está se escrevendo sobre o governo Lula, todo mundo sabe, é extremamente seminal.


ZH – Por que não se fez essa análise?
Giannotti – Porque os intelectuais estão fechados neles mesmos.


ZH – Há um componente ideológico nisso?
Giannotti – Não creio que haja um componente ideológico. O que existe é uma cegueira em relação à importância desses dois governos. Vamos dizer francamente: esses dois governos mudaram as perspectivas do país, com suas diferenças e suas proximidades. Fazer uma boa análise desses dois governos significa desenhar um projeto para o Brasil. E isso ninguém está fazendo.


ZH – O senhor tem se desinteressado da função de intelectual público?
Giannotti – Não, pelo contrário. Acompanho os acontecimentos políticos com o maior entusiasmo. Não desgrudei da TV enquanto a situação no Egito não se configurava.


ZH – O senhor arriscaria dizer o que se pode esperar do governo Dilma Rousseff?
Giannotti – Por enquanto, ela está se saindo bem no papel.


ZH – O Brasil pode ocupar um papel de protagonista no cenário mundial?
Giannotti – Não sei. Está diferente. Temos uma política que está mais ou menos correta, mas se fizermos cagada, vamos para o brejo. A inflação está rondando os nossos bolsos. Vamos ver como Dilma conseguirá segurar essa inflação. E o fenômeno não é apenas brasileiro. Já há linhas mundiais inflacionárias.

Um comentário:

Pablo Vilarnovo disse...

O argumento que ele usa a favor das cotas é mentiroso. Sempre repetem essa mentira pois não possuem outros argumentos.

"Em 2000, o Brasil possuía uma população de 170 milhões
de habitantes, dos quais 91 milhões se classificaram como brancos
(53,7%), 10 milhões como pretos (6,2%), 761 mil como
amarelos (0,4%), 65 milhões como pardos (38,4%) e 734 mil
indígenas (0,4%)."

Fonte: Censo 2000 IBGE