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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Receita de Um Cara de Visão Para um Brasil Mais Eficiente

David Neeleman, dono das companhias aéreas Jet Blue e Azul

Uma das boas entrevistas que li nos últimos tempos foi a de David Neeleman, presidente da Azul Linhas Aéreas que já detém quase 10% do mercado brasileiro. É um cara que conhece bem o mercado americano, ele é dono da Jet Blue, e faz uma comparação com o mercado brasileiro. Temos, como se vê, problemas graves na nossa eficiência, culpa da falta de concorrência e da burocracia. Sublinho as partes que considero importantes.


Folha - A Copa está se aproximando e a ampliação dos aeroportos não saiu do papel.



David Neeleman - Vai ser um grande problema. Sabe, eu queria acabar com a lei 8.666 (Lei das Licitações) e com o TCU. Em Vitória, gastaram R$ 30 milhões com as obras do aeroporto. Aí sumiu R$ 1 milhão e o TCU mandou parar tudo. Faz cinco anos que a obra está parada e os R$ 30 milhões foram para o lixo. Tem que investigar, mas não precisa parar a obra. Eu sempre pergunto aos brasileiros sobre isso e eles dizem: "Isso é o Brasil". Não aceito. A Nigéria não faz coisa tão estúpida.


Teremos caos aéreo na Copa?


Vocês ficam sempre pensando na construção de prédios. Mas dá para fazer terminais temporários. Temos um plano para um terminal em Viracopos que pode ser aberto antes da Copa. Em seis meses a gente constrói um pátio e um terminal. Já fiz isso quatro vezes nos EUA. Existem uns terminais infláveis que você arma em 30 dias. As cidades que estão crescendo muito no mundo não esperam cinco anos.


O que fazer com a Infraero?


O Estado pode ser dono da empresa, mas tem que liberar da [lei] 8.666. Devia ser como nos EUA, onde a autoridade aeroportuária não pode distribuir lucro. Não pode aumentar tarifa pra aumentar o lucro fácil. O lucro precisa ser todo reinvestido.


Se o governo decidir conceder à iniciativa privada a construção de terminais, o sr. teria interesse?


Não acho uma boa política para o consumidor, mas, se for a melhor maneira de fazer, eu faria o investimento.


A Azul transportou 7 milhões de passageiros em dois anos -batendo o recorde que era da sua ex-empresa nos EUA, a JetBlue.


A Azul começou com mais aviões do que a JetBlue. Mas é porque, durante a crise [financeira internacional], a Embraer pediu para nós recebermos mais aeronaves para eles manterem a linha de produção sem precisar demitir mais. Foi bom para nós, foi bom para eles.


O crescimento econômico do país ajudou.


Sim, mas o setor aéreo está crescendo três vezes mais que a economia. Há dois anos, quando olhamos o mercado brasileiro, eram 50 milhões de pessoas viajando, mas deveria ter 150 milhões já naquela época [hoje são 70 milhões]. E as duopolistas [TAM e Gol] que estavam em Campinas antes de nós estavam voando com a taxa de ocupação bem baixa.


E qual foi a estratégia?


Seguimos dois princípios: começamos a segmentar as tarifas [política que prevê preços mais baixos para quem compra com antecedência], atraindo pessoas que estavam viajando de ônibus. E a oferecer voos diretos. As pessoas não gostam de fazer conexão.


Mas TAM e Gol também fazem segmentação de tarifa.


Antes da Azul, a diferença entre a tarifa mais baixa e a mais alta era 50%. Agora é mais de 300%. Quando começamos a voar em Campinas, a tarifa lá era 20% mais alta do que em Guarulhos. Era como se as empresas falassem: se você quiser voar de Campinas, tem que pagar mais. Nós mudamos isso e o aeroporto explodiu.


Uma das coisas mais elogiadas da JetBlue é o call center, com atendentes trabalhando de casa. Por que não deu certo aqui?


Porque a Telefônica cobra por minuto nas ligações locais. Nos EUA, você paga US$ 40 e fala 20 horas por dia. Isso é falta de concorrência. Tudo é mais caro no Brasil. Celular, internet, linhas de telefone. Fico impressionado. As pessoas ganham salários menores aqui, mas pagam mais por quase tudo. Só casa e comida é mais barato.


Onde é mais fácil ganhar dinheiro, aqui ou nos EUA?


Aqui. Já temos quase 10% do mercado. A JetBlue tem 4% nos EUA, depois de dez anos.

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