Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Pobreza da Cidade do Cairo

"cidade da morte" no Cairo, a população teve de invadir o cemitério. A necrópole que virou metrópole. Quase um milhão de pessoas moram nessa favela.

Estive no Cairo em 1996. Fiquei num hotel em Giza, pertinho das pirâmides. Um paraíso, um oasis, luxuosíssimo. Em Giza, onde estão localizados os melhores hotéis e resorts, pode-se caminhar pelas ruas tranquilamente. Giza é apenas um bairro nobre da cidade do Cairo, que é cortada por uma grande avenida, onde se vê poucos carros novos e muitos carros velhos, além de diversas carroças. Isso foi em 1996 e Mubarak governava soberano o Egito,  não sei como está o Cairo hoje, mas parece que está igual.

Lembro que a duas quadras dessa grande avenida que corta o Cairo se avistava esgoto a céu aberto que corria entre as casas e edifícios exalando o cheiro característico. Seria o mesmo, guardadas as proporções,  que encontrar esgoto a céu aberto a duas quadras da Av. Paulista. E ao lado do esgoto a céu aberto um vendedor de pães que vendia seus produtos no chão. E a população comprava.

No caminho do aeroporto, ainda no Cairo,  existe uma grande favela, mas é diferente das outras comunidades, porque ela está localizada no meio de um cemitério. Entre os túmulos e templos destinados aos mortos residem quase 1 milhão de vivos com seus puxadinhos.

Leio hoje na Folha que esse bairo se chama Al Majauirun, onde moram alguns dos 40% de egípcios que ganham menos de US$ 2 ao dia.

Majauirun é um cemitério que se estende por um labirinto de ruas transformado em favela. Cada quarteirão é composto por túmulos coletivos cercados por muros ou grades.


Ao longo do século 20, famílias sem dinheiro para pagar aluguel instalaram barracos ao lado dos túmulos após terem prometido aos parentes dos mortos cuidar das sepulturas.


O acordo não previa pagamento aos moradores, muitos dos quais acabaram ficando mesmo após perder contato com os proprietários dos jazigos.


Hoje, milhares vivem amontoados em construções minúsculas, muitas sem água encanada, que ocupam cada espaço disponível entre os túmulos.


Hamid, 52, dentes escuros e cigarro na mão, diz não conseguir mais fazer bicos de vendedor de feira. "Quero que aquilo termine logo. Preciso trabalhar."


A alguns metros, mora o casal Hassan, 48, e Safa, 40. Eles mostram com orgulho a suntuosa sepultura de mármore branco do homem que foi sapateiro do rei Farouk, deposto em 1952 pelo general Gamal Abdel Nasser, fundador do Egito moderno.


Hassan sobrevive graças a uma picape velha, mas bem cuidada, na qual faz fretes que lhe rendem cerca de US$ 100 por mês.


"Há uma semana não tenho serviço. Ninguém precisa transportar uma máquina de lavar enquanto o país vive protestos tão grandes", constata.


Do outro lado da favela moram Hamida, 60, e nove filhos e netos num cortiço apertado onde é preciso cuidado para não tocar em remendos de fios elétricos.


Hamida, que sofre de reumatismo e anda com uma bengala, riu quando perguntada do que achava dos protestos antigoverno.


"Temos mais o que fazer do que discutir política. No fim das contas, todo mundo morrerá e ficará em covas como essas".


Em Majauirun, ninguém participou ainda dos protestos.

(SA)

4 comentários:

Pulha Garcia disse...

Muito curiosa a reportagem do velhote que fazia os fretes a USD 100 por mês. Contas feitas a população quer é prosseguir a sua vida.

Fábio Mayer disse...

A pobreza extrema é a regra no mundo árabe e principalmente no Magreb, a região norte da África acima do Saara.

O problema é que aquela parte do mundo está em outro estágio evolucionário, mas o mundo insistiu em levar para lá o século XXI e isso tudo gerou os conflitos que temos praticamente em todo mundo árabe: de um lado, poderosos oligarcas que controlam as riquezas do país, de outro, um povo conduzido por uma religião.

Agora, com TV, rádio, internet, twitter, facebook e quetais, deu-se um salto de cidadania em uma parte da população daqueles países, que cansou da situação de sempre e resolveu reinvindicar a modernidade... onde vai dar, não sei, mas é grande, é enorme a possibilidade que grupos religiosos radicais tomem o poder, apresentem uma face inicial de democracia e depois virem regimes como o do Irã ou o Talibã, como a matéria comprova: as verdadeiras massas do lugar, que vivem de modo miserável, ainda estão à mercê do jugo religioso-político...

sei lá disse...

Muito Legal a reportagem, mas confesso que o seu relato tbm foi preciosissímo, principalmente pela foto, aliás a minha critica sobre a reportagem da folha é exatamente pelo fato de não terem colocado fotos.Obrigado.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Pulha, os egipcios estão nas ruas por melhor qualidade de vida. E os espertos aproveitam.

Fábio, a Africa talvez seja o grande problema mundial. E isso tem de ser resolvido, pois estamos no século XXI.

Sérgio, tive dificuldade de conseguir essa foto. Fiquei uns 20 minutos pesquisando. Obrigado pela visita.