Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

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terça-feira, 21 de junho de 2011

Quem Paga a Orquestra Escolhe a Música?


Manifestantes em confronto com a policia na semana passada em Atenas, Grécia.




Tem que ter muita cautela com essa história de "democracia real". Muitas vezes essas demonstrações populares não são tão representativas assim, como se alardeia. É muito fácil hoje em dia, em tempos de twitter e facebook, reunir pessoas em torno de reivindicações comuns. Mas isso não significa que o povo (qual o povo?) esteja efetivamente interessado nessas reivindicações. O fato de algumas pessoas participarem dessas manifestações na Grécia ou na Espanha, por exemplo, não significa que o povo esteja do lado delas. Não significa, em resumo, que elas sejam maiorias participativas. Elas podem ser minorias participativas. A chamada "democracia direta" ou "democracia real" também pode ser uma grande ilusão.


Agora essa história de quem paga a orquestra escolhe a música é interessante.


Sobre o assunto, Artigo do Professor Vladimir Safatle publicado na Folha 


Democracia real 

As atuais manifestações que sacodem a Europa trouxeram uma reivindicação que há muito não se ouvia em países como Reino Unido, Espanha, França: democracia real. Há algo de importante aqui.
Pois poderíamos nos perguntar o que haveria de fictício na democracia de países que aprendemos a ver como exemplos de sistemas políticos consolidados. Por que largas parcelas de sua população compreendem que há algo no jogo democrático que parece ter se reduzido exatamente à condição de mero jogo?
Talvez tais manifestantes entenderam que a democracia parlamentar é incapaz de impor limites e de resistir aos interesses do sistema financeiro. Ela é incapaz de defender as populações quando os agentes financeiros começam a operar, de modo cinicamente claro, a partir dos princípios de um capitalismo de espoliação dos recursos públicos.
Não é por outra razão que se ouve, cada vez mais, a afirmação de que a alternância de partidos no poder não implica mais alternativas de modelos de compreensão dos conflitos e políticas sociais. Por isso, o cansaço em relação aos partidos tradicionais não é sinal do esgotamento da política. Na verdade, ele é o sintoma mais evidente de uma demanda de política, de uma demanda de politização da economia.
Em momentos assim, devemos lembrar que a democracia parlamentar não é o último capítulo da democracia efetiva. A Islândia tem algo a nos ensinar sobre isso.
Um dos primeiros países atingidos pela crise econômica de 2008, a Islândia decidiu que o uso de dinheiro público para indenizar bancos seria objeto de plebiscito. Maneira de recuperar um conceito decisivo, mas bem esquecido, da democracia, a saber, a soberania popular. O resultado foi o apoio massivo ao calote.
Mesmo sabendo dos riscos de tal decisão, o povo islandês preferiu realizar um princípio básico da soberania popular: quem paga a orquestra, escolhe a música.
Se a conta vai para a população, é ela quem deve decidir o que fazer, e não um conjunto de tecnocratas que terão seus empregos garantidos nos bancos ou de parlamentares cujas campanhas são financiadas por esses bancos. Como disse o presidente islandês, Ólafur Ragnar Grímsson: "A Islândia é uma democracia, não um sistema financeiro".
O interessante é que, com isso, saímos dos impasses da democracia parlamentar para dar um passo decisivo em direção a uma democracia plebiscitária capaz de institucionalizar a manifestação necessária da soberania popular.
É tal processo que nos coloca nas vias de uma democracia real. Ele é a condição primeira para sair da crise. Pois a verdadeira questão que tal crise nos coloca é política: que regime político é este que permitiu um descalabro deste tamanho na calada da noite?



2 comentários:

Pablo Vilarnovo disse...

Isso de não pagar, de não fazer o bailout aos bancos é algo que os liberais sempre falaram. E por um motivo simples que não tem nada a ver com o arrozado Safatle.

Bancos trabalham com risco. Na hora de emprestar dinheiro levam em consideração a possibilidade de não pagamento. Isso acontece com todos. Quando não avaliam bem e erram devem sofrer as consequências como qualquer empresa do mundo.

É só jogar no google as pelavras "bailout" e "tea party".

Pelo outro lado, a galera do "professor" fez o bailout como "prova" de que o Estado tem que se meter na economia, que o mercado. A alegria do Mercadante com a crise foi muito grande.

PoPa disse...

goste-se ou não, a democracia real é aquela que é regida pelas regras do parlamento. Eles é que foram eleitos para fazer o que o povo quer... se não funciona direito, temos que insistir nesta linha e buscar melhores representantes. O resto é piada.

btw, o que o supremo anda fazendo, modificando a letra da Constituição também não é democracia, por mais que sejam meritórias suas intenções. Que ele sugira ao parlamento fazer as alterações devidas na Constituição, mas não tome seu espaço. Não é democracia, o supremo fazer o que tem feito!