Diversidade, Liberdade e Inclusão Social
Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Sobre Malas e Turmas
Publiquei aqui no depósito, um post chamado "Não me encham o saco seus malas", um artigo do David Coimbra que começa assim:
Eu não tenho turma
Os petistas são uns malas. Os ecologistas inimigos dos sacos plásticos, os budistas meditadores, os (cruzcredo) veganos, as feministas, os defensores dos animais, todos esses são uns malas. Insuportavelmente malas também são os evangélicos, os mórmons de camisa de manga curta, os católicos recitadores da Bíblia, os liberais de fóruns e os idiotas que suspiram pela ditadura. Malas, e além de malas tacanhos atrasados, são os racistas de qualquer cor, mas alguns integrantes do Movimento Negro também sabem ser malas. Os antitabagistas são malíssimos e a Massa Crítica aquela é uma mala pedalante. Os malas modelo 2011 saltaram de um repositório de malas: a Academia. São os linguistas e intelectuais que juram que há quem sofra com o “preconceito linguístico”. Eu aqui bem posso ser um tremendo mala, mas pelo menos não fico tentando cooptar os outros para a minha malice, nem crio sites em defesa da minha malice, nem saio a gritar que a minha malice é a salvação do planeta. Vocês, malas organizados, fazem isso. Não me encham o saco, seus malas!
Cara, juro, eu achei o artigo muito bom e me identifico com ele, porque uma das coisas que mais detesto é essa ditadura impostas pelas minorias participativas, que são minorias e não maiorias.
Li agora no RS Urgente que o pessoal de uma certa esquerda está indignadíssimo com o David Coimbra -- e seus patrões da RBS -- porque publicou tal texto. Um tal jornalista Vitor Necchi, postou em seu facebook, postado no RS Urgente, um artigo chamado Eu tenho Turma que diz o seguinte:
Afinal, quem é o mala: Coimbra ou Necchi? Alguma dúvida?
Eu Tenho Turma
Quando me sinto cansado demais, quando tenho muito o que fazer, quando fico tenso, quando o dia e a semana exigem e parece que o tempo não será suficiente para tudo, nesses momentos fraquejo e tenho vontade de chorar. Hoje foi um dia assim. Pelo menos em dois momentos quase chorei, mas me contive, porque frescura tem hora, né? Mas o fato é que esta sexta-feira, que nem diria um saudoso e sensível ex-aluno, esta sexta-feira veio de gangue pra cima de mim.
Logo cedo me irritei profundamente com a crônica do David Coimbra em ZH. Intitulada “Eu não tenho turma”, ele dispara sua cólera retórica contra petistas, ecologistas, budistas meditadores, veganos, feministas e defensores dos animais, todos perfilados sob o mesmo adjetivo: malas. Seguindo a verve de cronista esperto, ele dispara contra alguns religiosos, liberais, saudosistas da ditadura, racistas, integrantes do movimento negro, antitabagistas, o pessoal da Massa Crítica e linguistas e intelectuais que discutem preconceito linguístico. David Coimbra se mostra irritado com os malas organizados que enchem o saco dele. E dispara: “Eu não tenho turma, eu não quero ter turma, com exceção das pessoas de quem gosto, que não formam uma associação, que não são ONG (malas!), nem movimento de coisa nenhuma”.
Pois num dia que se iniciou me irritando com o texto do David Coimbra e que me deu vontade de chorar durante seu desenrolar em razão da loucura da vida, esse dia terminou há pouco e eu sorri porque sou um mala. Tive vontade de sorrir, sobretudo, porque tenho amigos malas que acreditam no poder que têm de transformar o mundo, por mais clichê que isso possa soar para os espertos que não gostam dos malas que se agrupam em torno de causas comuns.
É madrugada de sábado. Moro no Rio Grande do Sul, o estado mais meridional do Brasil onde o frio não é retórica. Mais do que chamariz para turistas encasacados, o frio sulino fere a carne e a dignidade de quem vive nas ruas. O povo das ruas, que muitos chamam de mendigos, desocupados, bêbados, viciados ou vagabundos, são pessoas que em algum momento da vida perderam o vínculo com a formalidade do mundo. A família, o teto, o trabalho, a capacidade produtiva, os afetos, o orgulho, as posses, tudo ficou para trás, e a rua, sedutora e perigosa, se tornou abrigo desse contigente. A rua, dizem, é de todos, e ela recebe quem se esquiva da vida pretérita ou quem teve seu futuro subtraído.
É madrugada de sábado em Porto Alegre e pela primeira vez em muitos intermináveis anos o seu Valdir terá um teto. Em Viamão, município vizinho desta Porto Alegre gelada, seu Valdir e sua cadela, a Princesa, se encontram abrigados numa casa. Deve estar meio escuro, pois a correria e a excitação causadas pela bondade impediram que os benfeitores se lembrassem de solicitar à CEEE que a eletricidade fosse restabelecida na casa humilde, mas tudo bem. O escuro não deve assustar quem sobreviveu no hiato da vida mimetizada sob a curva de um viaduto cinza.
É madrugada. Na sexta-feira que se encerrou há pouco, fiquei irritado com o David Coimbra e a exaustão me deu vontade de chorar, mas em poucos minutos deitarei sorrindo porque tenho amigos malas que formam um grupo e compartilham crenças. Entre esses malas, há aqueles que salvam animais. A Thiane, por exemplo, é muito mala, essa guria. Vocês não imaginam quantos animais ela já salvou e conduziu a uma casa onde fossem bem tratados. Dezenas de malas doam dinheiro para a Thiane, compram as rifas da Thiane, comparecem aos bazares organizados por ela com o único propósito de ajudar gatos. Cada vez que eu faço uma doação para ela, sei que a causa desta mala dá mais um passo. Confio cegamente nessa mala e seguirei contribuindo com suas loucuras. Há outros malas que conheço e que abrigam em suas casas animais enxovalhados por seres humanos. Eu mesmo sou um mala. O Rufus e seus três irmãos foram resgatados de dentro de um saco amarrado jogado num mato. A morte era certa, mas a Candice resgatou a prole e cuidou dos gatinhos até eles completarem dois meses. Um deles é o Rufus, que há mais de dois anos mia todo dia quando pressente minha chegada. Outra mala é a Cleide, que resgatou a Yolanda na beira de um esgoto na Região Metropolitana. Quando a trouxe para casa, ela tinha medo das pessoas, do vento, de espirro. Com o tempo, a vilania dos chutes e pedradas restou no passado e ela foi se chegando, se aninhando. Hoje, a linda gata plúmbea lambe minha barba antes de deitar ao meu lado e esfrega a cabeça na mão das visitas.Mas a mala suprema da semana e de todos os dias é a Katarina, amiga exuberante que transborda afeto e indignação. Essa mala tem uma turma de malas que compartilham sentimentos. A Katarina, mala como sempre, descobriu seu Valdir e sua Princesa na rua. A força do seu olhar insubordinado detectou que a dignidade podia ser devolvida para este cidadão que vive na rua mas não é da rua. Ela descobriu que seu Valdir teria direito a benefícios sociais e foi atrás deles. Ela acenou e os amigos malas atenderam. Uns deram dinheiro, outros, móveis e roupas. Foram dias e dias de mobilização, e o resultado é que o seu Valdir se encontra, nesta madrugada gelada, abrigado sob um teto que pode chamar de seu.Nesta madrugada gelada que sucede um dia tenso de uma semana louca que me deu vontade de chorar, vou para a cama sorrindo porque a Thiane é uma mala, a Candice é uma mala, a Cleide é uma mala. Deito sorrindo porque tenho amigos malas. Deito emocionado porque a Katarina é uma mala imensa. A bondade e o amor não são clichê, nem cafonice, muito menos retórica na vida da exuberante Katarina. E essa malice contagia.
David Coimbra, eu amo meus amigos malas. Eu me inspiro nos militantes malas. Eu respeito as ONGs malas. Eu financio malas que cuidam de bichos escorraçados. Eu defendo malas negros, gays, deficientes, travestis, ambientalistas. Eu me somo aos malas que ampararam seu Valdir e sua cadela. Eu tenho uma amiga chamada Katarina que tem o coração do tamanho de uma Kombi anos 70 e, de tão mala que é, de tão obstinada, de tão desbragadamente mala, conseguiu dar dignidade a um homem que precisava apenas de um aceno para recompor sua vida.David Coimbra, mais do que amigos, eu tenho uma turma de malas. E isso me dá um baita orgulho.
(*) Jornalista (texto publicado originalmente na página de Vitor Necchi no Facebook)
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5 comentários:
Caro Maia, o problema deste jornalista, é que contrapor um texto ao David Coimbra beira ao suicídio literário, se o cara não for bom - é o caso - pois Coimbra escreve bem pra caramba! Podemos até não concordar, mas é preciso reconhecer que o cara sabe escrever! E, neste caso particular, concordo com ele integralmente...
Cruzes. Dizer que o David Coimbra escreve bem é uma infâmia. O cara escreve o que escreve só pra fazer polêmica, e o texto é bem rasteirinho, fraquinho. Chega a dar pena.
O que o Coimbra não sabe é que ele também faz parte de uma turminha, bem chata, por sinal: a turma dos indignadinhos gaúchos da classe B.
E que turminha mala! Encontro gente dessa turminha sempre que vou em festinhas de aniversários dos colegas dos meus filhos. Ou jantares mais sociais. Tão sempre reclamando de alguma coisa.
O divertido do texto do Coimbra é que ele não diz nada. O que seria a motivação do artigo, que é contrapor a manifestação de outros, não existe. O cara é contra os outros. E pronto. Se alguém quer dizer algo (e não tem um jornal pra publicar um texto), é um mala!
Sempre achei esse cara um mala, mas esse artigo me fez rir bastante. Parece que ele escreveu todo ele olhando para um espelho. Hilário.
Popa e Guimas, a diferença entre o texto de David Coimbra e Necchi é da água para o vinho. É imensa. Tanto em relação ao estilo, a forma e também quanto ao conteúdo. David Coimbra pode escrever em Zero Hora pode não ser simpatizante do PT (como de fato não é), mas ele tem coragem de escrever o que outros tem receio de dizer. Prova disso é esse artigo. Não considero esse artigo rasteirinho e nem fraquinho. É um artigo forte que gerou polêmica porque acertou no fígado da patrulha ideológica do politicamente correto. Esses são os verdadeiros malas.
Este Coimbra não lembrou de nominar o Pai de todos os malas, que é o mala que não tolera malas e por meio de uma coluna quer impor e arrebanhar para sua turma malas que não toleram malas.
Maia,
A polêmica está em chamar de malas pessoas que têm uma identidade ideológica. Ótimo. Mas isso também é uma patrulha, no estilo "não me interesso por nada que tu dizes, portanto cale a boca".
Digo de novo. O artigo é vazio, coloca todo mundo num mesmo saco (ou mala?), e tenta posar de "moderninho". Fraquíssimo. Bem no estilo do escritor.
Essa coisa de dizer "não tenho nenhuma turma, me deixa em paz" numa coluna de jornal é absolutamente contraditória. Ainda mais ele, que tem posições políticas bem definidas.
E depois, eu não tenho "receio" de chamar de mala uns que outros por aí. A diferença é que ele chamou todo mundo, incluindo eu e tu, de mala.
Eu concordo contigo que tem gente por aí, principalmente da "certa esquerda", que radicaliza o discurso do politicamente correto. São uns chatos mesmo. Mas daí a fazer uma generalização trouxa como essa, vai uma distância gigante. E essa distância o texto achatou. Argumento fraquíssimo, que gerou um texto fraco. Mas, repito, não tinha como esperar algo diferente dele mesmo!
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