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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Que deus salve a Rainha

Cartaz do excelente filme Maria Antonieta de Sofia Coppola

Existem massas e massas, histórias e histórias, narradores e hipócritas. Nem toda a massa tem razão, assim como nem toda a história e seus narradores (muitos dos quais são hipócritas). Nem sempre a massa faz a história. Muitas vezes a massa faz a história - que não tem fim.

Algumas coisas são certas nesses tempos incertos. Caetano nos ensinou que o certo é saber que o certo é o certo. Então, o certo é que Sofia Coppola é uma grande cabeça dos nossos tempos e formidável diretora. Esse filme sobre Maria Antonieta é uma obra prima. É uma autêntica revolução.


Maria Antonieta foi excelentemente retratada em duas monumentais biografias as quais recomendo: Antonia Frazer -- o filme de Coppola é roteiro adaptado dessa biografia -- e Evelyne Lever.

Que deus salve a rainha, é assim que Antonia Frazer e a revolucionária Sofia Coppola se comunicavam em seus e-mails sobre o filme.

Por que digo isso? Porque foi uma mensagem que enviei no Diário Gauche sobre o seguinte texto de Vladimir Safatle, sobre as revoltas de nossas épocas e as Maria Antonietas da nossa época. Será mesmo?



Maria Antonieta

Em 2006, a cineasta Sofia Coppola lançou um filme sobre Maria Antonieta. Ao contar a história da rainha juvenil que vivia de festa em festa enquanto o mundo desabava em silêncio, Coppola acabou por falar de sua própria geração.
Esta mesma que cresceu nos anos 1990.
No filme, há uma cena premonitória sobre nosso destino. Após acompanharmos a jovem Maria por festas que duravam até a manhã com trilhas de Siouxsie and the Banshees, depois de vermos sua felicidade pela descoberta do "glamour" do consumo conspícuo, algo estranho ocorre.
Maria Antonieta está agora em um balcão diante de uma massa que nunca aparece, da qual apenas ouvimos os gritos confusos. Uma massa sem representação, mas que agora clama por sua cabeça.
Maria Antonieta está diante do que não deveria ter lugar no filme, ou seja, da Revolução Francesa. Essa massa sem rosto e lugar é normalmente quem faz a história. Ela não estava nas raves, não entrou em nenhuma concept store para procurar o tênis mais stylish.
Porém ela tem a força de, com seus gritos surdos, fazer todo esse mundo desabar.
Talvez valha a pena lembrar disso agora porque quem cresceu nos anos 1990 foi doutrinado para repetir compulsivamente que tal massa não existia mais, que seus gritos nunca seriam mais ouvidos, que estávamos seguros entre uma rave, uma escapada em uma concept store e um emprego de "criativo" na publicidade.
Para quem cresceu com tal ideia na cabeça, é difícil entender o que 400 mil pessoas fazem nas ruas de Santiago, o que 300 mil pessoas gritam atualmente em Tel Aviv.
Por trás de palavras de ordem como "educação pública de qualidade e gratuita", "nós queremos justiça social e um Estado-providência", "democracia real" ou o impressionante "aqui é o Egito" ouvido (vejam só) em Israel, eles dizem simplesmente: o mundo que conhecemos acabou.
Enganam-se aqueles que veem em tais palavras apenas a nostalgia de um Estado de bem-estar social que morreu exatamente na passagem dos anos 1980 para 1990.
Essas milhares de pessoas dizem algo muito mais irrepresentável, a saber, todas as respostas são de novo possíveis, nada tem a garantia de que ficará de pé, estamos dispostos a experimentar algo que ainda não tem nome.
Nessas horas, vale a lição de Maria Antonieta: aqueles que não percebem o fim de um mundo são destruídos com ele. Há momentos na história em que tudo parece acontecer de maneira muito acelerada.
Já temos sinais demais de que nosso presente caminha nessa direção. Nada pior do que continuar a agir como se nada de decisivo e novo estivesse acontecendo

3 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Olá, tudo bem? :-)
Estaremos entrevistando coletivamente a Bípede no blog Roxo-violeta e gostaria de contar com sua participação, pode ser?
Estou recebendo perguntas no meu e-mail: trcontreiras@gmail.com.
Conto com você.
Abraços,
Tânia

Carlos Eduardo da Maia disse...

oK, Tania, obrigado pelo convite. Vou enviar minha pergunta por e-mail.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Ah, te inseri no meu bloglist. E já te enviei as perguntas.