Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 31 de março de 2009

Entrevista de Lula na CNN



Alguns pontos interessantes da entrevista. A CNN conseguiu um tradutor que tem a voz parecida com a do Lula. E o Lula começa dizendo que nasceu pobre, na periferia do Brasil, passou fome, passou aperto. A família foi para São Paulo tentar a vida e hoje ele é presidente do Brasil. Ele sabe muito bem que esse é o sonho americano e esse tipo de discurso pega bem nos EUA. O cara que começou de baixo foi subindo, subindo e chegou lá.

O Fareed Zakaria apertou Lula sobre Chávez. Lula disse que existe democracia na Venezuela porque Chávez foi eleito zilhões de vezes. E o Zakaria mencionou que os chavistas usam de metodos violentos e intimidacao contra os opositores. A resposta de Lula: "Devemos entender que paises tem culturas diferentes". Francamente!

Protógenes Não Quer Falar




Copiei do Blog do Josias. Estranho o tão famoso justiceiro, o delegado Protógenes, faz o mesmo que os grandes culpados: ingressa no STF para ter o direito de ficar calado.

Protógenes vai ao STF pelo direito de ficar calado

Convocado a depor na CPI dos Grampos nesta quarta, um sugestivo 1º de abril, o delegado Protógenes Queiroz decidiu cercar-se de cuidados.
Protocolou, por meio de seus advogados, um
habeas corpus preventivo no STF. Deu-se nesta segunda (30), a dois dias da fatídica inquirição.
O ex-mandachuva da Satiagraja pede ao Supremo que lhe assegure os direitos. Deseja basicamente três coisas:
1. Salvo-conduto para não assinar o termo de compromisso que o obrigaria a depor à CPI como testemunha;
2. O direito de permanecer calado sem que os deputados lhe dêem voz de prisão;
3. A garantia de ser assistido por um advogado durante todo o depoimento na CPI.
No ano passado, Daniel Dantas, a quem Protógenes chama de “banqueiro bandido”, também batera às portas do STF antes de comparecer à mesma CPI.
O investigado-geral da República foi atendido. É bastante provável que Protógenes também tenha o seu pedido de liminar deferido.
Por uma dessas ironias da vida, Protógenes busca proteção no mesmo tribunal que libertara os suseitos que ele mandara à prisão, inclusive o “bandido”-mor.
É curioso, muito curioso, curiosíssimo que o delegado reinvindique o direito de calar poucos dias depois de ter prometido “dar nomes aos bois” no depoimento à CPI.
Indiciado pela PF por supostas ilegalidades cometidas na Satiagraha, Protógenes parece mais preocupado com o próprio futuro do que com o batismo da boiada.
A CPI obteve cópia do miolo do processo que corre contra Protógenes. Mas contam-se nos dedos de uma mão os deputados que se deram ao trabalho de estudar os autos.
Arma-se, como sói, um espetáculo na CPI. Um teatro dissociado do interesse da platéia, que vai à cena com o mero papel de financiador da bilheteria.
O (in)distinto público paga a montagem do palco. Paga os salários dos inquisidores e do inquirido. Paga a água e o cafezinho. Desatendido, não terá direito nem à vaia.

Déficit Zero Não é Amigo Imaginário



Existe algo de sobrenatural no Palácio Farroupilha? Talvez. Mas existe, também, algo de esquizofrênico no discurso da oposição. Vejam a charge acima do Kayser. Ele diz que o déficit zero é uma espécie de amigo imaginário. Essa charge está pendurada em 9 entre 10 blogs de oposição ao governo Yeda. Pesquei ela do RS Urgente. Ela faz a cabeça das ovelhinhas de plantão. Juro que não entendo muita coisa de contabilidade. Não posso crer, por exemplo, que nas contas públicas do Estado do Rio Grande do Sul o tão propagado déficit zero seja apenas uma ficção. Basta ver os balanços, os números, o resultado para se verificar, de forma concreta e objetiva, se existe ou continua não existindo o equilíbrio (entre receitas e despesas) nas contas públicas. Déficit zero não é, portanto, obra de ficção, não é amigo imaginário, ele é resultado concreto e objetivo. Mas toda essa tagarelice técnica parece não interessar a uma oposição que gosta e muito de ser truculenta.

Nosso Complicado Congresso




segunda-feira, 30 de março de 2009

Decisões "Em Nome do Povo"


Eliana Tranchesi ao sair da Penitenciária Feminina da Capital, no bairro do Carandirú, em SP, ao lado de sua advogada.

Em nome do povo?
Samuel Mac Dowell Figueiredo
Folha de hoje.

Decidir "em nome do povo", fora dos limites do processo, é sintoma de doença mais grave do que a existência da Daslu em si mesma

Não sendo advogado criminalista, não domino o sistema de aplicação e dosagem das penas. Quanto a essa questão, guardo tão-somente a noção de que deve ser respeitada a proporcionalidade entre delitos e penas. Ainda assim, nada, a meu ver, justifica ou explica por que pessoas como a sra. Tranchesi e seu irmão, mesmo que culpadas dos crimes dos quais são acusadas, mereçam penas de 94 anos e meio de prisão, que correspondem a uma verdadeira prisão perpétua, em suas idades, ou de morte, nas débeis condições físicas que a primeira parece apresentar.

Ao descrever um julgamento ocorrido na Martinica, na sua obra maior, "Tristes Trópicos", Lévi-Strauss manifestou perplexidade ante a ligeireza do julgamento e da gravidade da pena de oito anos de prisão imposta ao negro acusado de um crime banal. No filme "Em Nome do Povo Italiano", de Dino Risi, o juiz de instrução levou a julgamento o industrial mesmo após ter evidências de que ele não era culpado do crime de que era acusado, mas era culpado de crimes não mencionados no processo e que cometera contra a sociedade, enquanto industrial que explorava empregados e não pagava os impostos que devia.
São duas visões perturbadoras.
Como a rápida condenação a penas severas se compatibiliza com a melhor aplicação do direito, que, naturalmente, associa-se à dúvida, à relutância e à indecisão a que pode levar um conjunto complexo de provas? Como compreender que a sociedade ou um juiz, agindo em seu nome, condene alguém por razões diversas das que fundamentaram a acusação e em relação às quais teve a chance de se defender? Não tenho receio de afirmar que o motivo da pena de 94 anos e seis meses não foi, isoladamente, a prática dos delitos de contrabando, falsidade ideológica e sonegação de impostos, mas resultou da determinação de aplicação de uma pena exemplar ao setor da criminalidade "sofisticada". Ou seja, tratou-se de uma sentença relacionada à criminalidade própria de setores da sociedade que não apenas são ricos mas também produzem sua riqueza pela "delituosidade sofisticada" e ainda acreditam na sua impunidade -uma condenação, então, proferida "em nome do provo brasileiro", como no filme de Dino Risi.

Aos motivos dessa condenação poderiam ser acrescentados outros, cuja menção seria inadequada em sentença judicial: o tipo de comércio da Daslu representa, de modo ostensivo, preconceituoso e indiferente à repercussão social, o que há de pior na sociedade brasileira e nos desequilíbrios e diferenças sociais que contém, impõe e mantém. Representa, também, uma exibição acintosa de arrogância e prepotência. E, ao contrário do que muitos pensam em São Paulo, é uma manifestação do mau gosto de setores sociais que podem ser ricos quantas vezes quiserem, mas são dominados por complexos que vêm de sua própria falta de educação e mediocridade. Isso se reflete nas milícias de leões de chácara, nos acessos privativos e, entre outras coisas a lamentar, na arquitetura desses prédios, que enfeiam a cidade para sempre. Esse comércio de "alto luxo" não é praticado em cidades como Nova York, Londres, Paris ou Roma com tal exibicionismo, ostentação e preconceito, sem os quais pode perfeitamente existir e se desenvolver.

Com o caráter que expõe em São Paulo, porém, torna-se uma expressão das patologias e dos distúrbios da sociedade, nos quais se realimenta continuamente. Ainda assim, mesmo que a sentença condenatória tenha considerado argumentos e cálculos técnicos, não há, na dosagem da pena de 94 anos e meio, proporcionalidade e pertinência que a sociedade possa reconhecer como legítimas e aceitáveis.

Na minha condição leiga de cidadão, e não de advogado, tenho a convicção de que, se forem procedentes as acusações feitas aos donos da Daslu, o que não sei se ocorre, a responsabilização patrimonial, a recuperação do dinheiro público e a prisão por anos que caibam nos dedos das mãos atenderiam, com maior lógica, razoabilidade e aceitação social, a um sentido de proporcionalidade entre o delito e a pena que todos, e não só juízes e advogados, possam compreender. Decidir "em nome do povo", fora dos limites da acusação e do processo, é um sintoma de doença mais grave do que a existência da Daslu em si mesma e dos mecanismos delituosos de que possa se alimentar, se for o caso. Corresponde a entregar poderes ilimitados a quem deve, ao contrário, aplicar a lei e a quem não cabe alinhar-se à polícia ou ao Ministério Público, tendo o dever de exercer o controle dos seus respectivos atos e pretensões judiciais. Assim deve ser não somente nas democracias de padrão ocidental, mas em qualquer nação organizada, mesmo as dominadas por ditaduras. Ignorar esses limites é percorrer um atalho para o fascismo e outras modalidades de Estado sem garantias.

SAMUEL MAC DOWELL DE FIGUEIREDO, 58, é advogado, sócio do escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian - Advogados.

Perdemos o Trem. Para que Insistir no Trem?




Até quando a desrazão agrária?
Muito bom o artigo de Zander Navarro, publicado na Folha de hoje sobre a reforma agrária no Brasil. O Brasil perdeu o trem da reforma agrária. O trem passou e se perdeu no tempo. E tem gente que acha que o Brasil deve tomar aquele mesmo trem que não existe mais.

O irracionalismo que tem conduzido a reforma agrária no Brasil causa espanto. É tamanha a insensatez que lembra a frase de Mario Benedetti, que alertou: "Cuando el infierno son los otros, el paraíso no es uno mismo". Mas a atual administração não é paradisíaca e praticamente repete a anterior, e alguns desencontros são antigos. Uma diferença marcante tem sido a sistemática interdição do debate nos anos mais recentes, utilizando-se, inclusive, do mecanismo de cooptação de pesquisadores por meio de consultorias, calando-os pela cumplicidade. Antes tão loquazes, renderam-se ao reino do silêncio obsequioso. Parece que o governo comanda o consenso, somente quebrado quando organizações e grupos partidários, todos beneficiários do loteamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário, encenam o jogo das "pressões". Mas estas se destinam, meramente, a enganar o distinto público e, como resultado, obter mais poder e recursos. Trata-se de uma pantomina inacreditável que, futuramente, será esclarecida e, por certo, nos envergonhará. Há diversos ângulos, não sendo aqui possível apontar todos. Alguns são de crua obviedade. Por exemplo: reformas agrárias foram típicas dos anos 50 e 60, quando as sofridas condições da vida rural e a existência de governos autoritários justificaram tais esforços. Com raras exceções, os resultados foram desalentadores. Posteriormente, com as ondas democratizantes e a intensa urbanização em todo o mundo, essa política desapareceu da agenda -o Brasil é, de fato, o único país que ainda a realiza.

A crise alimentar não produzirá o ressurgimento da reforma agrária, e sim o desenvolvimento de uma agricultura mais tecnificada, sem que a redistribuição da terra retorne à pauta, por óbvia falta de demanda social.

No Brasil, sua execução é uma comédia, pois não enfrentamos os impasses reais e preferimos a omissão, em meio a fantasias religiosas e pedestres ideologias. Ou atiçando "lutas sociais" que só justificam a existência de algumas centenas de militantes que outra coisa não sabem fazer. São inúmeros os aspectos problemáticos.

O mais grave é que os que defendem a política atual fingem que não existiu a modernização da agricultura brasileira e a formação de um importante setor agrícola, que não cresce apenas aumentando a área plantada, como no passado dos latifúndios, mas é movido pela lógica capitalista do aumento da produtividade e da formação de lucro. Como reflete o Brasil pré-modernização, a legislação sobre a reforma agrária caducou e, como consequência, foi se tornando impossível o instrumento da desapropriação, porque sumiram os imóveis rurais enquadráveis nos critérios legais.


Qual é o resultado? Nos anos mais recentes, a ação governamental ficou encurralada em duas frentes. Aplicar a lei e desapropriar imóveis, mas quase exclusivamente no Norte, majoritariamente no Pará. Ali são graves as implicações ambientais, embora totalmente ignoradas, porque a meta só é difundir os grandes números, sempre acrescidos da observação mágica: "Assentamos mais do que FHC".
A outra frente, nas demais regiões, restringe-se a comprar as propriedades à venda, mesmo que pagando caro, pois, nesse caso, o objetivo é apenas aplacar as pressões locais. Nenhuma estratégia e inteligibilidade lógica, tudo ao acaso e ecoando a impressionante mediocridade de duas gestões de um ministério pilhado por militantes profissionais.
Como o debate inexiste, restam a propaganda, a manipulação e a tibieza, pois ninguém tem coragem de enfrentar os absurdos reinantes. Quem irá modificar esse quadro? Ninguém. Já estamos com a campanha presidencial em marcha e seria tolice mexer no vespeiro. Aguardemos o próximo governo, seja qual for.

Mas é urgente mudar a ação governamental, eliminando o esquizofrênico hibridismo institucional de dois ministérios para a mesma atividade econômica, extinguindo o Incra, cujo histórico é deplorável, e criando um único ministério para reformular radicalmente a política do setor. Uma reforma agrária regionalizada, especialmente no Nordeste, talvez ainda faça sentido, mas a agricultura demanda, em nossos dias, sobretudo mais tecnologia e melhor manejo dos recursos naturais.

Quem sabe, isso feito, o Brasil finalmente acordará e, fruto da ciência, não de ideologias, concretizará uma de suas maiores potencialidades, sem paralelo no mundo, tornando-se o maior provedor sustentável de alimentos da humanidade.

ZANDER NAVARRO, 57, é professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador visitante do Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento da Universidade de Sussex (Inglaterra).

O G20 em 10 questões


Angelo Segrillo, Caderno Mais da F0lha.


1. Ação coordenada
A crise econômica é o tema que vai dominar. O G20 não é um grupo de países, é uma reunião de ministros das Finanças e de presidentes de Bancos Centrais. Mesmo se não fosse essa sua vocação, o tema central seria mesmo a crise, atraindo líderes de Estado -o que dá dimensão política ao evento. A possibilidade de uma ação coordenada entre os países para combater a crise será a questão central. Até agora cada país seguiu uma receita diferente. Há várias resistências a essa coordenação, inclusive dos EUA, um dos países mais isolacionistas.


2. A diferença entre EUA e Europa
Os EUA estão sendo keynesianos, preferindo o estímulo fiscal. Os europeus consideram que o problema nos EUA era a falta de regulação, e estão dando ênfase à "rerregulação" do mercado financeiro. O difícil não é regular apenas cada país por si, e sim em nível mundial. Essas duas abordagens devem entrar em embate -se bem que o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, propõe uma forma de regulação.


3. Fundo Monetário Internacional
O FMI sempre foi um "clube dos países ricos". No G20, que inclui emergentes, deve-se discutir como mudar o FMI para abordar não só os desenvolvidos. O órgão já vem dando sinais de mudança, como não exigir a ortodoxia fiscal de antes.

4. China
Uma grande discussão será como integrar a China, principalmente, à questão da governança financeira global. No FMI, os EUA têm um peso desproporcional, por exemplo. Há que discutir como fazer o FMI refletir o peso crescente da economia chinesa.


5. Moeda internacional
A ideia, sugerida pelo presidente do Banco Central chinês, de criar uma moeda internacional para trocas em lugar do dólar, é importantíssima: atualmente os EUA têm o poder de emitir a moeda internacional, o que dá uma vantagem tremenda. Na prática, os EUA não vão aceitar, a China não deve levar a questão adiante nesta reunião, mas a ideia deve ficar para outras discussões.


6. Mercado financeiro internacional
Se nos EUA os fundos de hedge não eram regulados nacionalmente, mais difícil seria regulá-los internacionalmente. Deve-se discutir se é possível uma regulação financeira internacional. Não se deve chegar a esse extremo, mas pode-se discutir a criação de um mecanismo supervisor internacional. Agora haveria muita resistência, mas a ideia pode ser lançada para implementação futura.


7. Protecionismo
É uma tendência natural: para criar empregos em seu país, quanto menos importar, melhor. Um problema da crise de 1929 foi o protecionismo. Nesse caso, pode melhorar para uns e piorar para os outros. Sem protecionismo, de maneira geral acaba sendo melhor para todos, mas a reação irracional à crise pode levar a medidas protecionistas.


8. Temas de Doha
Países como o Brasil podem querer retormar questões levantadas na Rodada Doha (não a Rodada Doha em si, pois se dá no âmbito da Organização Mundial do Comércio): abrir os mercados industriais do Terceiro Mundo e os agrícolas do Primeiro Mundo.

9. Obama e Medvedev
O encontro dos presidentes dos EUA e da Rússia será muito importante. Obama está propondo uma mudança nas relações com a Rússia, o "Reset" (Reiniciar), e eles devem aproveitar para ir além das questões econômicas, discutindo o escudo de mísseis na Europa e a relação entre Rússia e Geórgia, por exemplo.

10. Distúrbios sociais
Um tema fundamental será como evitar distúrbios sociais em regiões mais empobrecidas, que não avançam em desenvolvimento. A elevação dos preços dos alimentos está criando uma tensão grande e, com a crise e o desemprego, a situação pode se tornar explosiva. Discutem-se os chamados "Estados falidos", em que praticamente não há mais Estado. Um exemplo é a Somália, cujos piratas ameaçam cargueiros do mundo inteiro. Nos EUA há o medo de o México se tornar um Estado falido, por conta da violência na região da fronteira.

11. E um tema esquecido
A questão ambiental vai ser mencionada, mas não ficará no primeiro plano -espero estar errado. Apenas Obama está aproveitando a oportunidade na crise: ele poderia se preocupar só com reativar a economia, mas, em vez disso, está propondo uma mudança de paradigma. Quer incentivar uma indústria alternativa, carros ecológicos... Ao emprestar dinheiro, os governos têm nas mãos o poder de cobrar algum avanço.


ANGELO SEGRILLO é professor de história contemporânea na USP. Atualmente é "visiting scholar" na American University (Washington).

Paradoxos de Giddens


O sociólogo britânico da "terceira via", Anthony Giddens deu uma entrevista publicada no Caderno Mais da Folha de S. Paulo de ontem, domingo. A entrevista é longa e pode ser lida aqui. Pesquei alguns pontos que achei interessante.

[Francis] Fukuyama inventou a versão moderna da frase do fim da história, e o que ele quis dizer foi que chegamos a uma fase da história em que não podemos ver nada diferente do mundo em que vivemos: de um lado, a democracia parlamentarista e, de outro, o sistema capitalista, com competição e mercados abertos. Acho que não se pode mais tomar essa posição como aceitável, pois uma sociedade de baixo carbono provavelmente mudará bastante o comportamento das pessoas, o modo como veem o mundo. Pode envolver uma crítica forte de viver num tipo de sociedade baseada no consumo, sem outros valores. O que quis dizer foi que temos de nos preparar para pensar novamente de modo muito radical lá na frente. É claro que, agora, temos de lidar com o mundo como o vemos. Mas sou a favor de um retorno parcial a certo utopismo. O mundo que criamos é insustentável, sabemos que não podemos continuar como estamos.

Não podemos impedir os países em desenvolvimento de se desenvolverem. Não seria moralmente correto nem seria factível, na prática. Parte desse desenvolvimento tende a depender pesadamente de combustíveis fósseis e, logo, de emissões de carbono. É por isso que os países já industrializados têm de arcar com 95% do fardo pelos próximos 10, 15, 20 anos até, para reduzir as emissões. Por outro lado, é preciso que o mundo em desenvolvimento assuma um papel importante, não mais a posição passiva, de que isso "não tem nada a ver com a gente". Mas, no caminho, precisamos de avanços tecnológicos e de grandes áreas daquilo que chamo de "convergência econômica e convergência política", para que os países em desenvolvimento sigam um caminho diferente do que o que estão seguindo agora. Em primeiro lugar, estamos atrás de avanços tecnológicos que sejam capazes de levar os países em desenvolvimento a pular algumas etapas de desenvolvimento. Em segundo lugar, estamos procurando vários acordos bilaterais, não apenas a conferência de Copenhague, especialmente entre EUA e China, que produzem quase 50% das emissões. Idealmente, é necessário algum acordo entre os dois, como os EUA permitirem acesso a inovações tecnológicas, com a suspensão de patentes, em troca de algum tipo de concessão da China para os EUA. Mas isso é determinado politicamente. Se não há como repetir o modelo de desenvolvimento, temos de encontrar avanços. Até agora, não conseguimos. A China ainda está fazendo usinas de carvão. Os políticos se sentem muito confortáveis, prometendo cortar as emissões em 80% até 2050, mas não ficam nem um pouco felizes quando você diz que precisam começar agora. Existe muita retórica vazia nesse debate e temos de ver como superar isso para que os acordos sejam atingidos. Temos de olhar para o que pode ser feito, de modo a produzir uma combinação de competitividade e mudança tecnológica. Estou convencido de que países que seguirem o caminho tradicional de desenvolvimento industrial não serão competitivos no médio prazo.

Vejo o Brasil como um negociador ou uma terceira parte nas negociações entre os EUA, a União Europeia e a China. Vejo o Brasil capaz de ter uma liderança entre os países de industrialização recente para levar os outros países a uma posição decente. O país pode ter um papel bastante importante, e seria desejável se de fato o exercesse. Mas isso também depende de uma liderança política forte.

FOLHA - Estamos vivendo a pior crise econômica desde a Grande Depressão. Quais serão seus efeitos?

GIDDENS - Depende de em que nível você está falando. Nos próximos dois anos e no momento, ninguém sabe realmente o que acontecerá, independentemente de suas credenciais acadêmicas. Se haverá declínio contínuo com desemprego crescente ou se, nesse período, haverá algum tipo de recuperação, pelo menos em algumas áreas. Ambos são possíveis. Muito depende de um fenômeno do qual ainda estamos nas mãos: o mercado. Toda vez que uma decisão é tomada, as pessoas querem saber como os mercados irão reagir. Ainda estamos nas mãos do mercado global, para o bem e para o mal. No médio prazo, pessoas como eu deveriam estar pensando em um modelo de capitalismo responsável. Pois existe uma convergência entre o debate sobre mudanças climáticas e a recessão, por razões óbvias. Nos dois casos, estamos falando de um papel forte do Estado e de mais regulação, de um planejamento de longo prazo que não houve antes, de controlar mecanismos de mercado de modo mais efetivo do que foi feito nos últimos 30 anos, de inovações tecnológicas. Mas ainda estamos no estágio inicial de descobrir o que seria um novo modelo de capitalismo responsável e global. A crise é mundial, não importa o que a Europa ou os EUA façam. Essa é uma questão em aberto, pois os países não têm sido bons em chegar a acordos, mesmo quando é de seu interesse. A Rodada Doha e a Organização Mundial do Comércio são exemplos perfeitos.



FOLHA - Muitos teóricos têm falado em "desglobalização", como no caso do aumento do protecionismo.

GIDDENS - A globalização é um termo que abarca muitas mudanças, e é preciso quebrá-lo em várias partes. Há alguns aspectos muito improváveis de serem revertidos, como a revolução das comunicações, uma das maiores forças da globalização. Goste-se ou não, isso ainda será o futuro: o mundo estará integrado imediatamente pela tecnologia e quase certamente isso continuará a ter avanços. Nesse sentido, a globalização está aqui para ficar. Mas, quando se fala em livre mercado, é diferente. Alguns aspectos podem ser revertidos, isso já aconteceu antes, e, em uma situação de recessão, as pessoas tendem a se voltar para seus países. Mas, se sabemos alguma coisa de teoria econômica, é que protecionismo, no final, prejudica sua própria economia. Nenhuma economia que se isolou do mercado global conseguiu realmente prosperar. Pessoalmente, não acho que o protecionismo voltará, como nos anos 1930.

Blue Eyes


"Olhos azuis", o surto chavista

Eliane Castanhêde- Folha de Domingo.


Ser "branca azeda" foi um pesadelo de gerações de adolescentes brasileiras. Passavam horas sob o sol escaldante, sem filtro (nem existia), e tudo o que conseguiam era uma vermelhidão de doer, descascar dos pés à cabeça e, no meu caso, centenas de pintas no corpo e três cânceres na cara. Não tenho culpa de não ser um Michael Jackson às avessas nem por crise nenhuma, muito menos pela maior crise econômica mundial desde a Segunda Guerra. Nem eu nem milhões de cidadãos que não são negros, nem índios, e condenam o racismo com igual veemência. Todo racismo. Lula perdeu uma bela chance de ficar calado, ao culpar os "brancos de olhos azuis" pela crise. E justamente ao lado do primeiro-ministro britânico Gordon Brown -que, segundo a imprensa londrina, ficou "constrangido". Poderia ser só mais uma brincadeirinha errada, na hora errada e com a pessoa errada, não fosse o chavismo que há nela e que remete a outros episódios. Lembra do discurso de Lula na Namíbia, "tão limpinha que nem parece a África"? E do "ponto G" na entrevista ao lado de Bush? E do "pepino" depois do encontro com Obama? As metáforas futebolísticas rendem pontos para Lula nas pesquisas no Brasil. Mas expressões de caráter sexista e de incitação racista diante de outros governantes e sob holofotes internacionais soam ridículas, coisa para Chávez e Evo Morales, de países rachados ao meio e em crise. Não é o caso do Brasil, que tem estabilidade, almeja uma vaga no conselho permanente da ONU e quer falar de igual para igual no G20 nesta semana. A frase de Lula parece inocente, mas reflete um preconceito de alma contra "brancos de olhos azuis" e recicla o lance marqueteiro de eleger um inimigo comum para mobilizar a massa: a tal "elite branca", que não aceita o pobre migrante nordestino porque é (ou foi, há décadas) migrante nordestino. Não é coisa de Chávez?

sexta-feira, 27 de março de 2009

Aspecto Positivo do Governo Olívio?



Hélio Sassen Paz disse...
Maia,Concordo com o teu gremismo, com a tua paixão por correr, com o teu excelente gosto musical e cinematográfico e com a tua paixão pela Cidade Maravilhosa.Politicamente, lamento: nossas opiniões, as visões e as escolhas que determinam formas de se discutir, acompanhar, praticar, acreditar, duvidar e criticar sobre política divergem diametralmente.Por curiosidade e com bastante sinceridade, quero saber o que tu consegues achar de positivo no GOVERNO Olívio (independentemente da pessoa dele e do PT) e no GOVERNO Yeda (independentemente da pessoa dela e de sua aliança).Pessoalmente, sinto a necessidade de tentar entender minimamente como pensa uma pessoa honesta de direita que não seja rica. Afinal de contas, talvez seja uma falha minha ter a pretensão de tentar encontrar alguma coerência no pensamento do senso comum de profissionais liberais, descendentes de imigrantes da Serra, latifundiários e do pseudointelectualismo que endossa esse jeito de governar.[]'s,Hélio
26/03/09 20:03
Hélio Sassen Paz disse...
Maia,Um adendo: não acredito em imparcialidade, em neutralidade e nem tampouco em isenção. Sou ateu assumido e consciente desde os 10 anos de idade (não confundir com agnóstico), creio na ciência não-mercantilista e desvinculada de interesses político-partidários e não acredito em poder centralizado e hierarquizado.Ao mesmo tempo em que assumo ser de esquerda, simpatizo e até faço campanha para o PT por crer que se, infelizmente, a votação e a administração com base em hierarquias, nepotismo, acomodação de militantes tecnicamente incompetentes com personalidade fraca e no taylorismo-fordismo ainda é considerada legal e sociologicamente como uma condição sine qua non para a existência da democracia, o resto é muito pior e não dá pra votar na pessoa.Não acredito no centro e nem na direita, mas também não acredito nem no capitalismo privatista, oligopolista, oligárquico e tampouco no socialismo puro que não sabe interpretar o marxismo porque as pessoas são diferentes e, mesmo que ele seja menos nocivo do que a direita, apresenta em termos políticos, econômicos e de igualdade de direitos as mesmíssimas mazelas. Pra terminar, sou pacifista.Depois dessa apresentação mais clara, também acho que seria melhor se tu falasses um pouco daquilo em que tu acreditas pra eu tentar entender melhor a lógica da tua crença e da tua prática política.[]'s,Hélio
26/03/09 20:13
guimas disse...
Hélio, É fácil entender o Maia. Ele é anti-petista, e aprendeu a ser troll de blog.A lógica não faz parte da questão. O Maia é contra o PT, e contra coisas que simpatizantes do PT defendem. Só isso. Não importa o que aconteça no governo Yeda, não importa o que aconteceu no governo Rigotto, e no governo Britto, ele sempre vai dizer que o governo Olívio foi pior. Como eu disse, a lógica não faz parte da equação.Já frequentei o blog dele, tentando argumentar (polidamente, como fizeste). Mas sempre dei de cara numa parede de generalidades fajutas, em contra-argumentações falaciosas e rasas, enfim, na falta de conteúdo.E esse é o resumo dos posts do Maia: falta de conteúdo. Ele é só mais um troll anti-petista.
27/03/09 10:51
Carlos Eduardo da Maia disse...
Hélio, positivo no governo Olivio? O fato do PT, como partido de oposição, ter chegado ao poder no Rs, a necessária alternância. Era uma forma do PT aprender a não fazer oposição truculenta, mas, infelizmente, não aprendeu. Ninguém faz oposição como o PT no RS. Aspectos positivos no governo Yeda, o pagamento em dia dos servidores, dos fornecedores, o pagamento de precatórios (está saindo sim), a lei Britto.Acho que Tarso pode ser um bom governador. Hoje no Lasier ele falou que acha interessante as PPP´s (parcerias público privadas) e as OSCIPS. Eu votaria no Tarso tranquilamente. Aliás, votei nele para prefeito.
27/03/09 16:04

Dicionário da "Outra" Economia



Leio no Diário Gauche que está sendo lançado em Porto Alegre o Dicionário Internacional da Outra Economia.
Local: Palavraria – Rua Vasco da Gama, 165, Bom Fim – Porto AlegreDia 27 de março de 2009, sexta-feira, às 18h30Estarão presentes os dois coordenadores brasileiros da obra: Antonio David Cattani e Luiz Inácio Gaiger

Diz o DG:

O “Dicionário Internacional da Outra Economia” é uma edição publicada em Coimbra, Portugal, e representa o ponto culminante de trabalho em progresso que gerou quatro outros livros sobre alternativas para uma nova economia que não a capitalista."

Meu pitaco:

Uma nova economia que não a capitalista??? Tá bom, tá bom.... E tem cara pálida -- gente branca de olhos azuis, como os Stédiles da vida -- que acredita.... No munda da diversidade da Daslu e do MST cada um consome o que acredita.. É questão de opção. O importante é que exista a liberdade de opção econômica e política. Hoje vi uma foto da via campesina com a bandeira de Cuba, que é um país onde não tem Daslu, não tem classe média e todos vivem na mesma miséria, porque impõe uma restrição a toda a sociedade -- com exceção dos companheiros, of course -- a opção exclusiva do monopólio estatal.

Certamente não é essa a nova economia que se busca para um mundo melhor e possível, mas por que, então, a via campesina e o MST insistem em tremular por ai a bandeira de Cuba? Todos os ítens relacionados no Dicionário de Outra Economia são plenamente viáveis numa economia capitalista. É inegável que uma empresa tem função social, uma propriedade tem função social. Totalmente equivocado, portanto, o que está dito no primeiro parágrafo do post. Todas as propostas elencadas são plenamente possíveis de serem estabelecidas numa economia capitalista e numa sociedade democrática, onde seja possível a alternância no poder.

Um, Dois e Três


Muito boa a crônica do José Pedro Goulart na ZH de hoje.


O que importa


Um – Abasteço o carro. É noite. Calor. Que tal uma picolé? Vou até a lojinha do posto. Perto da porta, três crianças me pedem que eu compre algo para elas. Pedem não, exigem. Dou-me conta que elas tem consciência da situação: são crianças pobres, com fome; e eu adulto com grana sobrando: xeque-mate. Entro na loja, pego um saco grande de salgadinhos, mostro para a moça da caixa e aviso: “Já pago”. Abro a porta e entrego ao maiorzinho. Ele não sorri, nem agradece. Ok, decido, era isso. Mas logo noto que a questão ainda me incomoda. Talvez uma Fanta vá bem, crianças gostam de Fanta. Apanho uma grande e abro a porta – desta vez virá um sorriso, estou certo. Não. Não estou. Pegam a Fanta sem sequer olhar para mim. E aí me vem uma indignação, é claro. Mas logo me dou conta da situação e trato de me conter: por alguma razão essas crianças não estão aceitando suborno. Ou será que imaginei que iria pagar a dívida que tenho com elas com um saco de salgadinhos e um refri?


Dois – Minha filha de cinco anos e eu estamos jogando uma espécie de jogo de memória que tem umas mãozinhas de plástico e personagens do Shrek. Ganha quem for rápido e pegar mais cartas; mas ela, sobretudo, quer muito capturar uma que tem a imagem de um boneco feito de biscoito. Então, sorrateiramente, espia o baralho à procura da carta desejada. Ela sabe que isso é fraude, mas aposta na minha condescendência. Acredito, porém, que devo ensinar a ela que o jogo deve ser justo. Portanto, como forma de punição, uso de rapidez e apanho a carta/biscoito antes dela. Ela olha para mim incrédula. Depois chora. Grita. Corre para a mãe. Recolho o jogo e saboreio minha lição. Isso é que é ser pai. Só no outro dia é que fui me dar conta de que talvez ela nem quisesse tanto a tal carta com a imagem do biscoito. Ela só queria que eu deixasse que ela trapaceasse. Como prova de amor.


Três – Fronteiras do Pensamento, última segunda-feira: Steven Pinker, linguista, psicólogo, estudioso do cérebro humano, faz uma palestra/síntese do que vem publicando. Entre outras coisas, minimiza os efeitos da criação que os pais dão para os filhos. Dá como exemplo casos em que gêmeos idênticos foram separados depois do nascimento e, apesar disso, ao se reencontrarem depois de muito tempo, tinham incríveis semelhanças de atitude. Pinker diz que isso prova que o fator genético é muito mais preponderante do que o meio. Ainda sugere que crianças que sofrem de violência tendem à violência quando adultas muito menos em razão dos maus tratos e muito mais porque recebem como herança uma carga genética de pais violentos.Não sei se ele está certo. Mas há algo que eu sei. Até mesmo levando em conta o que ele disse. E também o que não disse. Só há duas coisas na vida que realmente importam: a sorte e o amor. O resto é bobagem.

Gente Branca de Olhos Azuis


Stan O'Neal que comandou a Merril Lynch não é branco de olhos azuis.

Impressionante como o Lula tropeça nas amarguras de um ressentimento imbecil.
Lula disse ontem ao premiê britânico Gordon Brown que a crise financeira foi causada por gente branca de olhos azuis.
O que o Brasil ganha alimentando esse tipo de recalque?
Alimentar preconceito é o fim da picada.
O comentário foi destaque na imprensa britânica.

Leio no Terra:

O diário Financial Times diz que Brown tentou se distanciar de Lula ao ouvir o comentário sobre "gente branca de olhos azuis", respondendo que "não ia atribuir culpa a nenhum indivíduo".
Para o jornal The Guardian, os comentários de Lula "animaram a viagem de cinco dias de Gordon Brown pelas Américas do Sul e do Norte. Ela foi planejada para preparar o caminho para um acordo global sobre como combater o desaquecimento econômico na reunião do G-20, na próxima semana, a ser presidida por Brown".
O Guardian destaca ainda que Brown viajou para o Brasil para anunciar sua última iniciativa para estimular o comércio global e que ele foi extremamente elogiado por Lula.
"Mas enquanto eles esperavam na entrada formal do palácio presidencial, Brown teve que assistir enquanto o combativo ex-líder sindical embarcou em uma de suas conhecidas tiradas."
Mas em editorial, o jornal afirma que talvez o premiê britânico devesse usar melhor o seu tempo, preparando o encontro do G20 na semana que vem.
O editorial afirma que a reunião está ficando tão ambiciosa que será "impossível resolver qualquer coisa".
O Independent cita um secretário do Ministério do Exterior britânico, que durante a vista de Brown a Brasília disse que "os líderes das maiores economias globais vão ter que produzir mais do que retórica vazia" na reunião do G20.
O diário afirma que o premiê britânico ficou "constrangido" quando Lula citou a "gente branca de olhos azuis", mas que fontes do governo sugeriram que os comentários foram para "consumo doméstico".
O Daily Telegraph também diz que Brown parecia "constrangido", e que o comentário de Lula ofuscou o anúncio do fundo para estimular o comércio global.
E o Daily Mirror classificou os comentários de Lula como "bizarros" afirmando que outro secretário do governo, que estava na platéia, demonstrou uma expressão de enfado ao ouvir as palavras.


Notinha da Folha de hoje:

A revista "Time" discorda do presidente Lula. Na sua lista sobre os 25 principais responsáveis pela crise (na sua maioria brancos, nem todos de olhos azuis), aparecem dois negros: Stan O'Neal, que comandou o Merrill Lynch, e Frank Raines, que foi presidente-executivo da Fannie Mae. Nela, também aparecem a população americana, o premiê chinês, Wen Jiabao, e os ex-presidentes dos EUA George W. Bush e Bill Clinton.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Cositas de La Vida


charge de kayser

Interessante a postura de uma certa esquerda. Quando o Palocci mandou quebrar o sigilo do caseiro, certa esquerda ficou caladinha. Ficou por quê? E a Veja, a Folha de S. Paulo foram para cima do caso e foram taxadas, of course, de golpista. A crítica do chamado PIG era tão falsa que o Palocci caiu com o episódio. O ex ouvidor da secretaria de segurança do Rs, Adão Paiani, que estranhamente não revelou esses fatos quando estava no poder, está a dizer que o sistema de escutas telefônicas guardião faz escutas ilegais. Algumas escutas eram legais, outras não, tinham finalidades particulares e partidárias, o que, por si só, é grave. Mas atire a primeira pedra o governo que nunca fez escutas ilegais! Não vamos ser hipócritas, por que motivos o companheiro governador Olívio Dutra determinou e se engajou em adquirir o sistema guardião? Na Venezuela de Chávez, os donos do poder da república do socialismo do século XXI adoram fazer escutas ilegais e colocar e manipular seu conteúdo no site bolivariano aporrea. Isso faz parte do jogo do poder dessa complicada américa latina. Tudo isso está a demonstrar que a América Latina está muito distante de uma democracia decente. Ontem no jogo do Grêmio na Bolívia de Evo, era necessária a presença da tropa de choque da polícia para permitir que o Souza cobrasse escanteio. Isso é demonstração de má educação do povo e ausência completa de serviço público básico. Cositas de la vida.

Comemorando as Notícias da Crise


As viúvas do estatismo estão comemorando, abrindo garrafas e garrafas de espumante com as notícias da crise.
Hoje o Diário Gauche lavou a alma com a notícia do crescimento negativo de 11% da República da Irlanda.
Diz o DG e depois, of course, eu comento.

Irlanda resvala para o abismo econômico em 2009

O gráfico acima foi publicado pelo jornal francês “Le Monde”, de alguns dias atrás. Mostra a previsão da Comissão Européia de desempenho econômico de vários países da zona do euro-moeda. Chama a atenção a bancarrota anunciada da República da Irlanda, com crescimento negativo de 11% para o corrente ano.Em pensar que a Irlanda já foi proclamada pela imprensa neoliberal como o “Tigre Céltico”, quando logrou crescer cerca de 9% ao ano, no período de 1995 a 2001.Evidentemente um crescimento insustentável, episódico, artificial, porque baseado no receituário clássico do neoliberalismo mais ortodoxo: desregulação selvagem, radical encolhimento do Estado, liberação à entrada de capitais predadores, flexibilização total das leis trabalhistas, privatização de setores estratégicos, altas taxas de endividamento interno, hipertrofia no consumo de supérfluos, financeirização da economia produtiva, etc. Só um elemento dinâmico pode salvar a Irlanda, o fato de ter estimulado a alta tecnologia, em detrimento das indústrias de tecnologia obsoleta. Essa talvez seja a saída do velho tigre agora desdentado.
A propósito: gostaríamos muito de ouvir a voz doutoral do “comunicador” Lasier Martins, que ainda recentemente cantava a Irlanda em prosa e verso em suas “inteligentes” locuções no rádio e na tevê da RBS.

Meu pitaco:
A Irlanda progrediu além da conta e agora está passando pela fase natural do refluxo. Isso é absolutamente normal. Mas a receita que a Irlanda seguiu não estava errada. Como tudo na vida é dialética. E eu acredito piamente na força da dialética, o que a Irlanda deve fazer são ajustes e, talvez até, pequenos ajustes na sua gestão, sobretudo na fiscalização e na regulação. Ao contrário do que dizem por ai a atual crise não é o muro de Berlim. Em 1989 as economias socialistas ruiram como castelo de cartas. Em poucos meses nada mais existia, como mostrou o excelente filme: Adeus Lennin. Nem mesmo a lata de bons pepinos da estatal da DDR sobrou. Elas viraram peças de museu. Não se preocupem, os princípios do livre mercado, do Estado enxuto, mas com a responsabilidade de fiscalizar e regular vão continuar perenes.

A Nhaca do Governo Yeda




O governo da Yeda parece o time do Grêmio. A Yeda é o Celso Roth. Nunca vi um time perder tantos gols como faz o Grêmio na Libertadores. É impressionante. E no governo da Yeda parece só existir má notícia. E a oposição pressiona e os estudantes ligados à oposição estão pintando as caras para sair às ruas. É uma nhaca. Ontem, pelo menos, o Grêmio teve sorte e saiu um gol no final, graças a um frango monumental do goleiro do Aurora de Cochabamba. Sorte desse tipo não tem a Yeda. Leio na Zero Hora de hoje que o IML do Distrito Federal não conseguiu determinar a causa da morte do ex-representante do governo do Estado em Brasília Marcelo Cavalcante. Os laudos voltam a indicar provável afogamento, mas não são conclusivos. O problema do governo Yeda é que se denuncia, algumas vezes sem provas e tudo fica como está. Nada é conclusivo. E fica no ar aquela terrível sombra de dúvida de que o governo é corrupto ou assassino. Isso pega mal, gera dúvida e impopularidade. E o gaúcho é desconfiado. A gente sabe disso. O governo Yeda precisa é de um frango monumental do adversário. Mas a oposição está atenta, sabe que não pode falhar, está arregimentando as pessoas para saírem às ruas com caras pintadas. O fracasso do governo Yeda pode ser o fracasso da eleição de Serra no Rio Grande do Sul. O PT sabe disso e aposta todas suas fichas arregimentando a militância e simpatizantes para pintar as caras. É uma nhaca.

A Guerrilha nos Palácios de Governo


Maurício Funes, presidente eleito de El Salvador pelo partido da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional (FMLN) que largou as armas para apostar suas fichas no mundo das urnas

O novo tempo da insurgência latino-americana: a antiga guerrilha entra nos palácios de governo

Juan Jesús Aznárez - El Pais


O salvadorenho Joaquín Villalobos, estrategista da insurgente Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional e fundador do Exército Revolucionário do Povo durante a guerra civil que sofreu seu país (1980-1992), não se preocupava tanto com morrer em combate quanto com envelhecer guerrilheiro.Villalobos, 58 anos, ex-chefe da milícia mais ousada do FMLN, não chegará a velho empunhando as armas.
Assim como boa parte da geração de revolucionários latino-americanos amparados pelos acordos de paz dos anos 1990, depois de longos e cruéis conflitos, o ex-guerrilheiro participa há tempo da política. O faz como pesquisador em Oxford e como consultor para a solução de conflitos internacionais.Não poucos dirigentes daquela geração que subiu a serra ao grito de justiça social ocupam hoje conselhos administrativos, cátedras universitárias ou ministérios.

O extremismo ideológico perdeu terreno ou se adaptou às exigências eleitorais com formatos de conveniência. Um grupo de ex-insurgentes integra os governos do Brasil e da Argentina, e outros dois são vice-presidentes na Bolívia e em El Salvador: Álvaro García Linera, ex-membro do Exército Guerrilheiro Tupac Kataren, e Salvador Sánchez, do FMLN. A ex-milícia urbana Tupamaros se mantém e prospera na coalizão governamental do Uruguai.

A vitória do FMLN em El Salvador no último dia 15, com o jornalista Mauricio Funes como presidente eleito, reforça, através da alternância no poder, o processo de normalização democrática da América Latina. O moderado Funes deverá conviver e conciliar-se com Sánchez Cerén, vulgo Comandante Leonel na guerra, de posições mais radicais."As mudanças que estão ocorrendo são consequência da virada democrática no continente. E creio que a democracia chegou para ficar", afirma Villalobos.


Centenas de jovens que se levantaram contra as ditaduras militares e os autoritarismos civis de quase meio século atrás, alguns com a idéia de substituí-los por totalitarismos de corte marxista, hoje perseveram por vias políticas diferentes, no seio das grandes correntes políticas regionais.
"Temos a que é manifestada por Chávez, Nicarágua, Bolívia e Equador, e outra, mais à centro-esquerda, que tem seu pilar no Chile, Brasil e Uruguai. A Argentina tem um pouco das duas", segundo Villalobos. "Em El Salvador ainda não sabemos, porque pode haver um conflito entre o presidente eleito e o partido", o FMLN.
Para Carlos Malamud, analista do Real Instituto Elcano, as progressivas transformações registradas na América Latina permitiram a convivência, e às vezes a convergência, de antigos inimigos. A teoria de que algumas oligarquias perenes, nascidas há 500 anos, continuam governando alguns países não consegue convencê-lo. "Eu vejo mais uma renovação constante das elites", diz. E apesar do relatório do Banco Mundial alertando para as consequências da atual crise financeira global, 6 milhões de novos pobres na América Latina, Malamud não considera possível que a eventual legião de desesperados aposte na ressurreição das guerrilhas. "Não há espaço nem apoio. Quem vai apoiar uma aventura desse tipo? Cuba já não está nisso, e a Venezuela viu que é mais rentável ir pela via democrática, apesar de depois Chávez fazer o que tem vontade."

quarta-feira, 25 de março de 2009

Chávez Gosta de Estatizar e Pagar


O empresário Gustavo Cisneros do grupo de comunicações Venevision que fez acordo com Chávez

Leio na Folha de hoje que o governo da Venezuela fez acordo com o grupo empresarial argentino Techint para compensar a nacionalização, realizada em abril de 2008, da siderúrgica Sidor.

OU seja o governo Chávez pagou o valor da indenização e todos, parece, saíram satisfeitos.



Chávez gosta de nacionalizar e estatizar empresas, mas gosta também de pagar aos titulares dos direitos os valores respectivos. Talvez mais até que o valor de mercado, porque todos os empresários que fazem acordo com Chávez saem satisfeitos.

Na época do famoso golpe midiático que fortaleceu Chávez, ele qualificou a Venevisión do empresário Gustavo Cisneros, como um dos quatro cavaleiros do apocalipse, junto com outras cadeias privadas de televisão, (Televen, RCTV e Globovisión).



Chávez tirou do ar a RCTV, mas fez um acordo com Cisneros e a Venevision continua no ar... Mas continua no ar sem fazer críticas ao governo Chávez.

Chávez começou em 2007 a nacionalizar indústrias estratégicas, incluindo os setores elétrico e de telecomunicações. Em 2008, houve nacionalizações nos setores siderúrgico, bancário e de cimento. E a tática de Chávez parece ser essa: estatiza e nacionaliza empresas e acerta os valores com os empresários que saem bem satisfeitos....

O Inferno Astral de Yeda


Outdoor divulgado pelo CPERS contra o governo Yeda.

Em agressivo artigo publicado na ZH, Luciana Genro ataca forte o governo de Dona Yedinha. O complicado Lair Ferst teria feito acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal e abriu a boca para incriminar Yeda, seu marido e parte do governo. Diz ela que a quebra do sigilo desvendará a corrupção. Luciana chega a dizer o seguinte: "A morte misteriosa de Marcelo Cavalcante, que estava prestes a dar um depoimento confirmando as informações já prestadas por Lair Ferst foi a gota-d’água. Até agora não foi descartada, pelo delegado da Polícia Civil do DF, a possibilidade de homicídio e muito menos de um suicídio fruto de pressões brutais para que ele não falasse. Nós dissemos, e foi confirmado pela família de Marcelo, que a governadora esteve oferecendo um novo cargo ao seu ex-assessor poucos dias antes de sua morte. Mas a maior prova de que falamos a verdade é que a governadora, supostamente caluniada pelo PSOL, não pediu a quebra do segredo de Justiça. É ela, e todos os que querem proteger os corruptos e seguir com o desmonte do Estado, que torce para manter o sigilo desse processo. Assim, Yeda pode seguir “arrumando a (sua) casa”. O PSOL não aceita esse escândalo. Cumprimos nossa obrigação de dizer onde estão as provas do assalto aos cofres públicos. Cabe à Justiça prender os ladrões."


Ou seja, segundo Luciana Genro, o governo Yeda é um bando de mafioso ou ladrões que tomou o poder e que pode ter cometido até homicídio.

O problema é que esses assuntos continuam no ar, são divulgados pela mídia a conta gotas e nada se resolve, nada se soluciona. E o pior de tudo, o governo não se empenha em elucidar os fatos. É claro que a prova da corrupção deve ser feita por quem alega, mas a situação está ficando insustentável para o governo Yeda.

Enquanto isso, a popularidade da governadora despenca.

Hoje a Folha de S. Paulo divulgou o ranking dos governadores. Yeda Crusius tirou o último lugar. Na corrida para o governo gaúcho em 2.010, Yeda aparece fora do segundo turno.

O governo Yeda começou mal, comprou briga com a população na tentantiva de aumentar impostos. Depois despediu um secretário de segurança que estava colocando a polícia na rua. No ano seguinte, insistiu com a tentativa imbecil de aumentar impostos. Os escândalos surgiram, o Detran foi a gota dágua. Surgiu um personagem complicado, o Lair Ferst, pivô de todo o escândalo que -- parece -- fez delação premiada. O que vale a palavra de Lair Ferst?

Mas o governo tucano gaúcho parece estar arrumando a casa. Zerou o déficit, está pagando os precatórios, os servidores estão recebendo em dia e os fornecedores também. Mas isso parece ser pouco importante.

Uma coisa é certa, a pior oposição do mundo é a oposição que o PT ( e também o PSOL) faz. Os caras são craques em fazer oposição e qualquer resvalo, descuido pode ser fatal.

terça-feira, 24 de março de 2009

Tirania Bolivariana


O estudante venezuelano Nixon Moreno é procurado pelas redes bolivarianas que apoiam o governo Chávez.


Chávez se lança ao assédio da oposição democrática venezuelana



Maye Primera do El Pais



O presidente utiliza o aparato judicial para livrar-se dos rivais; centenas de políticos, estudantes e ativistas sofrem o assédio da justiça. Mais vale procurar um bom advogado antes de se alistar como dirigente da oposição na Venezuela. Desde 2002, centenas de políticos, militares aposentados, policiais, estudantes, jornalistas, empresários e ativistas de organizações não-governamentais foram declarados inimigos do governo do presidente Hugo Chávez e investigados, ameaçados, denunciados, politicamente inabilitados ou encarcerados por incorrer em supostos crimes comuns, traição à pátria ou rebelião.


Com exceção dos que foram julgados por tribunais militares, nenhum foi condenado pelas acusações apresentadas. A prisão preventiva, os atrasos processuais e as medidas administrativas que a promotoria geral e os tribunais exibem para manter todos esses casos em suspenso mostraram-se uma ferramenta eficaz para afastar do caminho político os que tentam fazer sombra ao poder do comandante.


O caso de Manuel Rosales (prefeito de Maracaibo, ex-governador do Estado de Zulia e ex-candidato à presidência) é o exemplo mais recente.Segundo os registros mais conservadores de ONGs como o Fórum Penal Venezuelano, desde 2002 pelo menos 20 venezuelanos - entre eles um ex-governador, um prefeito, um banqueiro e 13 policiais - foram presos por até seis anos sem que um juiz ditasse sentença contra eles; 272 funcionários públicos foram inabilitados para exercer seus cargos e 256 estudantes foram detidos por participar de manifestações e submetidos a um regime de apresentação especial aos tribunais, com proibição de abandonar o país.

Também foram registrados casos de jornalistas e representantes de ONGs acusados no Parlamento e em tribunais de "trair a pátria" por receber financiamento externo, sem que as investigações concluam em nada."O que se pretende com tudo isso", opina o advogado Gonzalo Himiob, integrante do Fórum Penal, "não é buscar a verdade através de um processo, mas que o processo em si se transforme na sanção, além do que seja demonstrado.


Que a investigação penda permanentemente sobre as pessoas como uma espada de Dâmocles."Eduardo Lapi, governador do Estado de Yaracuy entre 1996 e 2004, foi o primeiro ex-mandatário regional a ser detido por casos de suposta corrupção, em maio de 2006. Esteve preso durante 11 meses sem ser apresentado a um juiz. Em abril de 2007 Lapi fugiu da prisão e em 2008 o Peru lhe concedeu asilo. Do exílio, Lapi se apresentou para voltar a ser governador de Yaracuy em 2008. Mas um mês antes das eleições o Conselho Nacional Eleitoral anulou sua candidatura.Em junho de 2008 a Controladoria Geral da República (tribunal de contas) anunciou que outros 272 funcionários também não poderiam se apresentar às eleições regionais, pois haviam sido inabilitados por até 15 anos.


O controlador Clodosvaldo Russián explicou então que se tratava de uma "sanção administrativa muito especial" para "preservar o patrimônio público", editada sem que os funcionários fossem condenados de fato. A justiça, segundo Russián, viria depois; 89% dos afetados por essa medida militavam em partidos de oposição.O caso mais emblemático dessa inabilitação foi o do ex-prefeito do município de Chacao, Leopoldo López, acusado em 1999 de tráfico de influência e inabilitado por três anos. López, da oposição, aparecia como favorito nas eleições de novembro passado para ocupar a prefeitura da Grande Caracas. Em 24 de março próximo, López participará de uma audiência na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Sua aspiração é transformar-se no candidato unitário da oposição para as eleições presidenciais de 2012, nas quais se prevê que Hugo Chávez disputará um terceiro mandato de seis anos.


Entre os estudantes, Nixon Moreno - presidente da Federação de Centros Universitários da Universidade de Los Andes - levou a pior. Em maio de 2006 Moreno foi acusado de cometer supostos atos lascivos contra uma funcionária policial, durante um protesto estudantil. Em março de 2007 ele se refugiou na Nunciatura Apostólica de Caracas. O Vaticano lhe concedeu asilo político e pediu ao governo a emissão de um salvo-conduto para transferir Moreno para um terceiro país. Mas passou um ano, o salvo-conduto não chegou e Moreno abandonou a Nunciatura. O Ministério do Interior pediu sua busca através da Interpol.

No setor militar, as condenações vieram pontualmente. Em outubro de 2004, o general Francisco Usón foi condenado a cinco anos e seis meses de prisão por "ultraje" às forças armadas. Em julho de 2007 o capitão Otto Gebauer foi condenado a 12 anos de prisão por "cumplicidade" na detenção de Chávez durante o golpe de Estado de abril de 2002. E desde que o ex-ministro da Defesa Raúl Isaías Baduel se desligou do governo foi citado várias vezes pela Promotoria Militar e investigado por suposto enriquecimento ilícito.Para evitar futuras conspirações nos quartéis, o governo aprovou esta semana um novo organograma do Ministério da Defesa para que a partir deste mês todas as decisões operacionais da Força Armada Nacional se concentrem no presidente da República, seu comandante-em-chefe. Nesse novo sistema, o ministro da Defesa fica reduzido a uma figura administrativa, e todos os comandantes deverão prestar contas diretamente a Chávez, que terá todas as armas em um só punho.

Além da Globalização


Desglobalização

Marcio Pochmann - Folha de hoje

A crise econômica atual dissemina-se num mundo ineditamente integrado e subordinado à lógica de funcionamento das forças de mercado. Noutras oportunidades, como nas grandes crises sistêmicas de 1873, 1929 e 1973, o mundo era constituído parcialmente por países com economias de mercado. Nas depressões de 1873 e 1929, por exemplo, havia uma quantidade significativa de colônias vinculadas aos velhos impérios (Inglaterra, França, Holanda e Portugal) que mantinham ativos os modos de produção e consumo pré-capitalistas, e nas crises de 1929 e de 1973 existiam economias centralmente planejadas, como a antiga União Soviética.

Hoje, constata-se que o avançado grau de internacionalização capitalista sofre importante abalo por decorrência da crise econômica, que coloca em xeque as principais forças privadas responsáveis pela sustentação da própria globalização.Sem a ação pública coordenada e civilizada, a inflexão desglobalizadora tende a prosseguir pela via da saída clássica. Ou seja, a promoção da maior concentração de capital nas grandes empresas em meio à contração da demanda estimulada por cortes no nível de emprego e de remuneração dos ocupados. Na sequência das medidas estatais adotadas para salvar empresas financeiras e não-financeiras insolventes e para compensar parcialmente a queda no consumo, ganham maiores destaques as intervenções de caráter protecionista.

Outro ciclo de conflitos entre nações pode estar sendo gestado no mundo no caso de continuar predominando a ausência das condições concretas de retomada da trajetória do crescimento econômico e social. Com a fragmentação em curso da economia global, a dinâmica geográfica deve assumir novo patamar, com estruturas de hegemonias regionalizadas.

Noutras palavras, a transição do mundo unipolar desde o fim da Guerra Fria para a multipolaridade evidenciada por sinais crescentes da decadência dos EUA. No mesmo sentido, ressalta-se que o desenvolvimento econômico deve ser reconfigurado tendo em vista a quebra dos vínculos entre as finanças nacionais e globais. De um lado, pelo enfraquecimento das fontes geradoras de liquidez internacional, fundamentais na retroalimentação dos esquemas de financeirização da riqueza interna e externa. Na ausência de novas formas confiáveis de drenagem dos recursos entre países, empresas e famílias, deficitárias ou não, a base do financiamento da globalização torna-se ainda mais escassa. Para os países não desenvolvidos, os fluxos internacionais de crédito foram praticamente interrompidos, com queda estimada para 2009 de quase US$ 1,2 trilhão para menos de US$ 200 bilhões. Ademais da dificuldade para as empresas que operam em rede manterem o circuito da produção desterritorializada, o comércio externo sofre enorme retrocesso.

Por conta disso, não se mostra desprezível o surgimento de nova onda de recomposição produtiva no mundo multipolar, consagrado por escassos esquemas de financiamentos nacionais e regionais. O fluxo de migrações inversas (das regiões ricas às não desenvolvidas), acompanhado da maior discriminação contra migrantes na Europa, por exemplo, revela o quadro geral de disputa do emprego fora da globalização. De outro lado, pelo fortalecimento das moedas de curso regional, que pode levar ao estabelecimento de estruturas bancárias modificadas, já que o esvaziamento dos bancos locais, estaduais e regionais terminou por concentrar a quase totalidade dos depósitos em poucas localidades. Ou seja, a quebra de compromissos que poderiam haver entre a poupança e a aplicação de recursos na mesma localidade. De maneira geral, tende a prevalecer a transferência da poupança bancária de regiões pobres para as regiões mais ricas, estimulada fortemente pela concentração bancária.

Em síntese, a desglobalização já desponta como uma das consequências da crise econômica atual. Sua reversão parece possível, mas depende da adoção de outra modalidade de saída da crise que não seja a clássica. Nesse caso, o padrão de financiamento precisa ser reconstituído, bem como outro modelo de produção e consumo necessita ser adotado. Mas, para isso, uma nova maioria política global deveria ocupar o lugar deixado vago pelo grupo de interesses articulados pelo ciclo da financeirização de riquezas, estabelecendo na esteira da governança mundial outra institucionalidade para além das agências multilaterais como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, entre outras.

MARCIO POCHMANN, 46, economista, é presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp. Foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo (gestão Marta Suplicy).

Este Papa Não é POP


O papa vai à guerra
Marcos Nobre na Folha de hoje


O Papa está reunindo seu exército. Primeiro, invocou os mortos: padres e freiras aliados do ditador Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola. Depois, reabilitou os excomungados integristas, cujo líder nega o Holocausto nazista. Agora, aliou-se às forças obscurantistas que rejeitam o uso da camisinha como meio eficaz de proteção contra a Aids. Na mesma África que viu a Igreja Católica, durante séculos, exercer o papel de principal aliada da rapina escravagista. É um chamamento a uma nova cruzada. E o raciocínio do papa tem se mostrado de uma cristalina simplicidade: mais vale um exército menor, mas mais aguerrido, do que uma multidão de crentes com pouca disposição para o combate. Seu antecessor, João Paulo 2º, respondeu ao desafio dos fundamentalismos religiosos com uma volta ao mistério do sagrado, mas também com o diálogo ecumênico. O então cardeal Ratzinger impôs o silêncio obsequioso aos que divergiam da sua orientação e substituiu um a um os bispos mais críticos. Escolhido papa, Bento 16 responde aos fundamentalismos religiosos com a criação de um fundamentalismo católico. Não há dúvida de que, como fenômeno social, a fé declinou no último século. Mas prossegue sendo uma referência essencial para a vida da grande maioria das pessoas. A mudança realmente decisiva se deu na maneira de demonstrar essa fé. Hoje é muito comum as pessoas transitarem de uma religião para outra. Ou se declararem membros de uma determinada religião e, ao mesmo tempo, frequentarem rituais e cultos de outras religiões. É muito comum também que crentes não aceitem integralmente os preceitos de conduta de vida de suas religiões sem por isso deixarem de se identificar com sua adesão religiosa. A fidelidade -o atributo essencial da fé- não é mais simplesmente a uma religião, mas, antes, à transcendência, ao sagrado e ao místico. Não se trata apenas de tolerar externamente a existência de outras religiões, mas de aceitar a ideia de que é possível e legítimo expressar a fé de diferentes maneiras, em diferentes religiões. Essa nova forma da tolerância religiosa mostra que é possível uma certa separação entre fé e religião sem que elas desapareçam por isso. O fundamentalismo religioso prega uma completa identificação de fé e religião. É uma recusa da forma atual do pluralismo religioso e político. O fundamentalismo praticado hoje pelo Vaticano destrói não apenas milhões de vidas. Destrói também as bases de uma convivência tolerante que levou séculos para ser construída.

Crise de Autoridade


Mais uma Professora é agredida por alunos em Porto Alegre

Na minha época não tinha nada disso. Aluno agredir professor? Não lembro de ter acontecido nos colégios que estudei. Hoje - parece - virou moda. Uma professora da 4ª série da Escola Estadual Bahia, no bairro Boa Vista em Porto Alegre, foi agredida por uma aluna de 15 anos.

A professora e a aluna foram entrevistadas por Zero Hora.

Segundo a professora: Glaucia da Silva – Eu estava dando aula para a minha turma de 4ª série, quando algumas meninas vieram correndo até a minha porta, bateram com o pé, abrindo, gritando pelos corredores. Como estava atrapalhando a minha aula, fechei a porta. Comecei a ouvir desaforos. Depois saíram correndo. Fui até a direção e comuniquei. A direção chamou algumas meninas. Quando voltei para a sala, meus alunos disseram que tinha uma outra menina, da 8ª série, que também estava envolvida, que eu não tinha visto.

Fui até a sala dela e solicitei que descesse até a direção. Ela disse que não iria porque eu não mandava nela, eu não era professora dela e eu não era ninguém. Eu disse que ela iria descer, sim, porque não era a primeira vez que fazia isso. Nesse momento, virei as costas, ela me agarrou pelos cabelos, por trás, me derrubou e começou a me agredir. Quando ela me derrubou no chão, caí de lado e bati a cabeça. Ela continuou me agredindo. Eu tentei proteger o rosto, ela me arranhou todo o pescoço, me deu socos e chutes. ZH – Mas uma colega sua disse que a senhora usou termos como “vileira” e palavras racistas.Glaucia – Eu disse que aquela reação era bem coisa dela, posso ter dito que era coisa de uma vileira, mas não utilizei nenhum termo racista.ZH – Pretende continuar lecionando?Glaucia – Para lá, não volto mais.

A versão da aluna:

Meu primo deixou cair um chá da professora, e ela jogou o resto em cima dele. Quando bateu para o último período, fui falar com a professora, mas ela fechou a porta na minha cara. Chamei ela de ignorante e virei as costas, mas alguns colegas ficaram tumultuando, xingaram ela, botaram o pé na porta dela. Ela foi na minha sala de aula, mandou eu pegar as minhas coisas e ir para a direção. Eu respondi que não ia, que ela não era minha professora e não podia falar comigo daquela maneira. Que só iria se pedisse com educação ou se a diretora viesse. Aí a professora disse que isso era coisa de gente gorda, maloqueira e vileira. Nunca ninguém falou isso pra mim. Aí eu fui pra cima dela. Peguei ela pelo cabelo, ela caiu. Outros alunos tentaram separar. Sempre fui esquentada, mas nunca tinha agredido ninguém.ZH – Já havia se envolvido em algum outro problema na escola?Aluna – Já, por ter xingado a diretora. Mas nunca agredi nenhum professor. Foi a primeira vez.ZH – E está arrependida?Aluna – Não me arrependo do que fiz. Se tivesse de fazer de novo, eu faria. A professora não podia ter falado comigo daquele jeito.ZH – O que acha que vai acontecer contigo?Aluna – Não sei. Mas pretendo sair da escola.ZH – Como é o clima na escola?Aluna – É uma bagunça. Tem professor que não consegue ter pulso firme, então às vezes fica até difícil ter aula. Mas a minha turma é uma das mais calmas.

Vejam que interessante, a aluna reclama que tem professor que não consegue ter pulso firme, mas quando tem é agredido e o aluno agressor não se arrepende do que fez. Caminha bem esse Brasil.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Clô



Dei boas risadas com a entrevista que o falecido Clodovil concedeu para a Revista Veja em julho de 2008. A entrevista está na última edição.

Em julho do ano passado, Clodovil conversou com o repórter Diego Escosteguy, de VEJA, em seu extravagante gabinete na Câmara. A entrevista que se segue, extraída dessa conversa, é um bom retrato de quem era Clodovil – e do que ele pensava. Foi como se o deputado estivesse no quadro A Lente da Verdade, de um de seus programas de televisão.


O senhor gosta de Brasília?


Clodovil - É uma cidade que sempre buscou o glamour, mas nunca encontrou. Brasília foi maltratada desde o início, nasceu apanhando. Quem construiu Brasília foi Juscelino (Kubitschek, ex-presidente), mas quem deu os acabamentos foram os primos do demônio: uma gente que fez uns acabamentos de quinta. Em compensação, os empreiteiros, que manipularam as obras, estão riquíssimos.

O senhor fez amizades na Câmara?


Clodovil - Não. A maioria só aparece quando precisa de alguma coisa. O Arlindo Chinaglia me ligou uma vez. Falou horas a respeito das qualidades dele, todo pomposo, mas não prestei atenção. Ainda mais porque sei que ele é da turma da Marta Suplicy. Essa eu conheço desde menina. Ela é uma pendurada na influência do ex-marido. Uma pessoa que não muda o sobrenome para explorar a influência do ex-marido é o fim do mundo.



O senhor acha a Câmara malcuidada?
Clodovil - Está tudo caindo aos pedaços, velho, cheio de ácaros. Por isso não costumo sair do gabinete. Só saio quando tenho de ir ao plenário votar. Várias pessoas vêm conhecer o meu gabinete. É o mais visitado da Câmara. Você pode até não gostar de branco, mas não pode dizer que o gabinete seja de mau gosto.



É possível resgatar a ética da Câmara?
Clodovil - E o brasileiro tem ética, por acaso? A Câmara é o reflexo do Brasil. O problema é que o brasileiro se vende barato. É só o político dar uma cesta básica que ganha o voto. Isso acontece no país inteiro, é uma tradição que vem dos índios. Eles se vendiam por colares e espelhinhos. Esse processo continua igual na escolha das pessoas que vão comandar o país. Elas vêm para Brasília e saem gordas de tanto mamar na vaca profana.


Quem é a vaca profana?


Clodovil - É o país, claro. A verdade é que a maioria dos brasileiros não gosta de trabalhar. Quer um emprego para ficar encostado, e só. Gente desse tipo é que é conivente com as poucas-vergonhas, com os Duda Mendonça. Nosso país se fez dessa maneira: de degredados, de índios de má qualidade... Ou as pessoas acordam ou o país vai para o caos.



Por que o senhor entrou na política?


Clodovil - Eu não vim para Brasília porque quis. Foi o universo que me mandou, por uma razão que ainda não sei. Meses antes da campanha, quando descobri que estava com câncer, tive um insight. Sonhei com o prefeito de Ubatuba, um sujeito de péssima qualidade. Ele estava com as mãos nos quadris e me disse: "Você quer poder, então vire deputado federal". Não sei por que sonhei com ele. São histórias mirabolantes da minha vida. No dia seguinte ao insight, fui fazer um exame e descobri que meu câncer, que era do tamanho de uma moeda, estava do tamanho de um grão de arroz. Ninguém pôde explicar como diminuiu. Operei depois de uma semana. E eis que apareceu um senhor no hospital e me convidou para ser deputado. Era o Ciro Moura, presidente do PTC. Aceitei na hora.



Um sinal do universo?


Clodovil - Evidentemente. Por que aquele senhor apareceu justamente naquela hora? Nós recebemos recados todos os dias. Mas esse cidadão tinha intenções que eu não sabia. Ele queria usar meu nome para dar prestígio ao partidinho dele. Queria me explorar, usar meu nome para eleger outros deputados. Ainda bem que só um entrou pendurado em mim, como suplente. O universo é sábio. A verdade é que os partidos nanicos são desonestos, vivem de sugar dinheiro público. Mudei de partido e eles me processaram. Mas o fato é que os votos foram para mim – não para o partido.



O senhor teve 494 000 votos. O que explica essa votação expressiva?


Clodovil - Dizem que a população votou em mim como uma forma de contestação. Na verdade, não foi. Meu voto veio da mãe de família, que induziu o filho e o esposo a votar em mim. Tenho uma história que ilustra bem isso. Quando eu era candidato, dois assaltantes invadiram minha casa. Eu estava pintando de cueca, e de cueca continuei. Eles pediram dinheiro, mas, quando descobriram quem eu era e ouviram um pito, saíram rastejando da minha casa, pedindo desculpas. No dia seguinte, a mãe de um deles me ligou para me agradecer por ter dado aquela lição. E me contou que os dezesseis votos da família dela seriam para mim. Isso não é voto de protesto. É voto de quem acredita nos meus valores.



O senhor venceu um câncer de próstata e sobreviveu sem sequelas a um derrame...

Clodovil - Sofri muito com o câncer, mas foi algo que eu mesmo causei. Acho que aquilo aconteceu como uma forma de eu tentar me redimir da minha homossexualidade. Quando o médico me ligou para me informar que eu estava com câncer, fiquei aliviado. Dei graças a Deus.
Por quê?Imagine se fosse aids. Eu poderia ter infectado muita gente. Mas paguei um preço alto pelo câncer. Fiquei impotente. O que eu posso fazer? Nada. Nem tudo pode ser uma maravilha. Às vezes consigo ter um orgasmo seco. Mas tem de haver uma ligação espiritual com o parceiro.



Por que o senhor não apresentou nenhum projeto defendendo o direito dos homossexuais?

Clodovil - Deus me livre. Quais direitos? Direito de promover passeata gay? Não tenho orgulho de transar com homem. O primeiro homem que vi transando com outro foi meu pai – era o meu tio, irmão da minha mãe. Eu tinha 13 anos. Foi num domingo, depois da missa. Sentei no chão e pensei: meu Deus, minha mãe não é amada por ninguém. Meu pai nunca soube que eu vi. Quando ele me perguntou, dois anos depois, se eu era gay, não respondi. Nunca mais se falou sobre isso lá em casa. Mas eu poderia ter dito o diabo para ele.