Editorial da Folha hoje analisando os oito anos do governo Álvaro Uribe:
Álvaro Uribe
Acusado de atrair presença militar dos EUA e de tolerar abusos do Exército, líder colombiano reunificou o país e garantiu direitos essenciais
Ao tomar posse, em agosto de 2002, um exército de 20 mil homens ligados às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) dominava vastas regiões do interior do país, impondo controle militarista sobre amplos setores da população. Outra parcela dos colombianos se encontrava à mercê dos desmandos de organizações paramilitares de direita, surgidas em reação ao avanço da guerrilha de origem esquerdista.
Simultaneamente, grupos ligados ao narcotráfico agiam com grande desenvoltura nas principais cidades do país. Cerca de 2.300 sequestros foram registrados apenas naquele ano.
Dois mandatos depois, no momento em que Uribe transfere a faixa presidencial a seu ex-ministro Juan Manuel Santos, o contingente de guerrilheiros se encontra reduzido à metade, e os grupos paramilitares, desmobilizados.
As forças de segurança retomaram o controle contínuo do país. As Farc hoje se refugiam na selva e em regiões de fronteira. Os sequestros foram cortados a uma sétima parte do total contabilizado em 2002, e as cidades colombianas têm oferecido lições de urbanismo e segurança a autoridades e governantes brasileiros.
Um país foi reunificado, o Estado se faz presente, restabeleceu-se o direito de ir e vir dos cidadãos, que podem, afinal, planejar suas vidas dentro de padrões mínimos de normalidade. Essas conquistas representam um divisor de águas.
Há poucas mudanças na história recente do Brasil que possam ser comparadas, em seu alcance, à imposição da lei e da ordem no país vizinho. É fácil acusá-lo de atrair apoio militar norte-americano para a América do Sul, mas a aliança com os EUA é também fruto da desarticulação e do desinteresse de governos da região em apoiar o combate à guerrilha.
O ex-mandatário também tem resultados a apresentar no campo econômico. Embora índices de desemprego (12%) e de pobreza (quase metade da população) pouco tenham mudado, o PIB da Colômbia cresceu a uma taxa média de 4,4% sob seu governo e, em oito anos, o valor das exportações foi multiplicado por três.
Uribe está longe de ser um modelo de perfeição. Pesam sobre ele graves denúncias de abuso de poder. Há indícios de que tenha se beneficiado, em sucessivos pleitos, de votos de cabresto arregimentados por paramilitares.
Na ânsia de combater as Farc, abusos cometidos pelo Exército foram tolerados. Um sistema de benefícios a soldados por baixas no lado inimigo gerou milhares de casos de "falsos positivos". Civis inocentes, quase sempre agricultores pobres, foram mortos e apresentados como guerrilheiros derrubados em combate.
Além disso, Uribe tentou até o último momento viabilizar seu projeto de concorrer a um terceiro mandato. No início deste ano, a Corte Constitucional do país vetou, enfim, a realização de um plebiscito sobre o tema, evitando que mais uma vez o continuísmo personalista prosperasse na região.
Juan Manoel Santos, que comandou a pasta da Defesa no governo Uribe, promete melhorar relações com os países vizinhos, inclusive com a Venezuela de Hugo Chávez, acusada pelo ex-mandatário de dar abrigo a guerrilheiros.
Com esse último gesto, Uribe pretendeu reforçar a vitória sobre as Farc como tópico fundamental da agenda do país e da região. Será difícil ignorá-lo.
Um comentário:
Dizer o que mais?
Meu reparo é que ele tentou uma segunda reeleição e isso merece, sim, críticas.
No entanto, deixou uma Colòmbia melhor do que a recebeu, sendo que a recebeu de Andres Pastrana em plena guerra declarada contra as FARC e soube continuá-la.
A comparação com Hugo Chaves é inevitável, porque Chaves, é obcecado com a Colômbia e as 9 bases fantasmas dos EUA... ele não entende que a ajuda americana foi fundamental no combate às FARC e consequentemente, na diminuição sensível da violência e no progresso econômico.
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