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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O 18 do Brumário de Lula da Silva

Bouchot - Le general Bonaparte au Conseil des Cinq-Cents.


Muito feliz essa comparação do Marco Antônio Villa, em seu artigo hoje na Folha, comparando o governo Lula da Silva com Napoleão Bonaparte e seu 18 do Brumário e que gerou mais tarde o livro de Karl Marx.


O nosso 18 Brumário

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Lula quer aparecer como benfeitor de todas as classes, tal qual Luís Bonaparte

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O maior personagem da eleição não é candidato: Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje é o grande cabo eleitoral não só da sua candidata mas de toda base governamental. Chegou a esta condição contando com o auxílio inestimável da oposição.
No primeiro mandato teve sérios problemas, como na crise do mensalão. A oposição avaliou -erroneamente- que seria menos traumático e mais fácil deixá-lo nas cordas, para nocauteá-lo em 2006.
As saídas de José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken deram a Lula o protagonismo exclusivo. Só então teve condições de governar como sempre desejou.
A troika limitava sua ação e dividia as atenções políticas. Dava a impressão de que o chefe de Estado não era o chefe do governo.
A crise foi providencial para Lula: libertou-se do aparelho partidário, estabeleceu alianças como desejava e passou a ser a âncora exclusiva de sustentação do governo.
O segundo mandato, na prática, começou no início de 2006. A oposição mais uma vez evitou o confronto direto. Avaliou -erroneamente, novamente- que seria melhor manter os governos estaduais de São Paulo e Minas, transferindo o enfrentamento direto com Lula para 2010.
Em um terreno livre, Lula teve condições únicas para um presidente nos últimos 40 anos: estabilidade política, crescimento econômico e controle do Congresso.
As CPIs, que criaram problemas no primeiro mandato, perderam importância. Os frutos da estabilidade e uma conjuntura internacional favorável possibilitaram um rápido crescimento da economia e a expansão do consumo.
Paulatinamente, Lula foi afrouxando a política fiscal, abandonou as rígidas metas do primeiro mandato, manteve um câmbio artificial, incentivou o capital especulativo e foi empurrando para o próximo presidente uma bomba de efeito retardado.
Abrindo um imenso saco de bondades, ampliou o crédito para as classes C e D, favoreceu as viagens internacionais para a classe média e criou uma nova burguesia -a burguesia lulista- que ampliou o seu poder graças às benesses dos bancos oficiais. Expandiu numa escala nunca vista os programas assistenciais, como o Bolsa Família, e manietou os velhos movimentos sociais comprando suas lideranças.
Tal qual Luís Bonaparte, Lula "gostaria de aparecer como o benfeitor patriarcal de todas as classes". Foi ajudado pela oposição, sempre temerosa de enfrentar o governo. Usando uma imagem euclidiana, Lula "subiu, sem se elevar -porque se lhe operara em torno uma depressão profunda". Ele almeja transformar o 3 de outubro no seu 18 Brumário.

3 comentários:

guimas disse...

Eu gosto disso:

"Em um terreno livre, Lula teve condições únicas para um presidente nos últimos 40 anos: estabilidade política, crescimento econômico e controle do Congresso."

Parece que essas coisas caíram do céu no colo do Lula, e que ele não tem nada a ver com isso.

"Paulatinamente, Lula foi afrouxando a política fiscal, abandonou as rígidas metas do primeiro mandato, manteve um câmbio artificial, incentivou o capital especulativo e foi empurrando para o próximo presidente uma bomba de efeito retardado."

Gozado. Parece um resumo de governo do FHC. Curioso, não?

Adoro esses artigos que tentam transformar um governo bom (e FHC também teve seus bons momentos) em algo ruim. O País está crescendo e melhorando. Por que é tão difícil aceitar isso?

Carlos Eduardo da Maia disse...

A crítica que se faz a Lula são procedentes: nos últimos anos o governo vem descuidando da política fiscal. Isso é inegável. Os gastos públicos vêm aumentando de forma considerável. Os efeitos saberemos depois.

guimas disse...

"Os gastos públicos vêm aumentando de forma considerável. Os efeitos saberemos depois."

Bom, um dos efeitos do "descuido" da política fiscal foi o da marolinha da crise de 2008. Isso é inegável também.

Não há só efeitos negativos, e dizer que se cria uma "bomba de efeito retardado" para o futuro é um chute.

Esses artigos com críticas meia-boca reforçam o que eu digo: em vez de ficar como urubu dizendo que "mais adiante vai dar porcaria", podia se ressaltar os pontos positivos e insistir nos acertos. Ficar supondo que pode dar errado é fútil. Coisa de oposição frouxa.