Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"As Novas Diretrizes Para os Tempos de Paz"


Ao funcionário da imigração do porto, Clausewitz falou com forte sotaque polonês:  Sou agricultor, estou aqui porque o Brasilll precisa de maos para a lavoura! O Brasilll precisa de  maos para a lavoura!
E por esboçar o  português, inclusive declamando Drummond, esse ser incomum se encrencou. Os funcionários, que se entreolhavam, não tinham dúvidas: ele parecia subversivo.
E as novas diretrizes para os tempos de paz ainda não chegaram, as regras disponíveis são para  os tempos de guerra.  E a guerra recém acabou e os navios traziam imigrantes para colonizar o Brasil.
Cabia, portanto, ao chefe do setor interpretar e decidir caso a caso.
Clausewitz foi levado para o sótão - ou para o porão.
Estranho, suas mãos são suaves, como as de uma criança. Ele nunca pegou numa enxada.
Porque, ao final de tudo, Clausewitz, era um ator e que grande ator.

Belo e sensível filme Tempos de Paz, direção de Daniel Filho (ele também faz parte do elenco) e com as excelentes participações de Tony Ramos e Dan Stulbach.

Abaixo Monólogo de Segismundo de Pedro Calderón de La Barca (1.600-1681) declamado por Dan Stulbach nesse filme curto que recomendo.

4 comentários:

senna madureira disse...

Ai miserável de mim e infeliz!
Apurar, ó céus, pretendo,
já que me tratais assim,
que delito cometi
contra vós outros, nascendo;
que, se nasci, já entendo
qual delito hei cometido:
bastante causa há servido
vossa justiça e rigor,
pois que o delito maior
do homem é ter nascido.

E só quisera saber,
para apurar males meus
deixando de parte, ó céus,
o delito de nascer,
em que vos pude ofender
por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram,
que privilégios tiveram
como eu não gozei jamais?

Nasce a ave, e com as graças
que lhe dão beleza suma,
apenas é flor de pluma,
ou ramalhete com asas,
quando as etéreas plagas
corta com velocidade,
negando-se à piedade
do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma,
tenho menos liberdade?

Nasce a fera, e com a pele
que desenham manchas belas,
apenas signo é de estrelas
graças ao douto pincel,
quando atrevida e cruel,
a humana necessidade
lhe ensina a ter crueldade,
monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto,
tenho menos liberdade?

Nasce o peixe, e não respira,
aborto de ovas e lamas,
e apenas baixel de escamas
por sobre as ondas se mira,
quando a toda a parte gira,
num medir da imensidade
co'a tanta capacidade
que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio,
tenho menos liberdade?

Nasce o arroio, uma cobra
que entre as flores se desata,
e apenas, serpe de prata,
por entre as flores se desdobra,
já, cantor, celebra a obrada natura em piedade
que lhe dá a majestade
do campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida,
tenho menos liberdade?

Em chegando a esta paixão
um vulcão, um Etna feito,
quisera arrancar do peito
pedaços do coração.
Que lei, justiça, ou razão,
nega aos homens - ó céu grave!
privilégio tão suave,
exceção tão principal,
que Deus a deu a um cristal,
ao peixe, à fera, e a uma ave?"

MONÓLOGO DE SEGISMUNDO

(LA VIDA ES SUEÑO, Ato I, Cena I) de Pedro Calderón de la Barca

Carlos Eduardo da Maia disse...

Senna, estava mesmo pensando em fazer um post sobre esse belo poema do século XVII brilhantemente declamado pelo Dan Stulbach no filme Tempos de Paz. Abraços

Pulha Garcia disse...

Vou ver o filme. Fiquei curioso.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Veja, Pulha, que recomendo.