Do Blog do David Coimbra
Contra as eleições
— Tudo que é demais derrama - vivia a repetir o velho sapateiro Walter, tachinha presa no canto da boca, enquanto martelava uma dura sola de vulcouro.
Sábio, o velho Walter. Aliás, e não por acaso, meu avô.
Pois hoje estamos assim. O Brasil sofre os efeitos do excesso de democracia, o democratismo, essa mutação perniciosa e fatal para a sociedade.
Um exemplo tão prosaico quanto contundente é a eleição para diretores de escolas no Estado. O candidato a diretor disputa o voto do colega professor, do aluno de 12 anos de idade, do faxineiro, do pai. Por aí se esvai a autoridade da Secretaria de Educação e, pior, do próprio diretor. Mais: é conferido ao aluno um status que ele não deve ter. Porque o aluno, necessariamente, tem de ser subalterno ao professor, e o professor ao diretor, e o diretor à Secretaria, e a Secretaria ao governador.
Verdade que há professores, e até muitos, que conseguem manter sua autoridade por obra de seu caráter, da sua firmeza. Mas o dano que se faz à criança é mais grave por outro motivo: porque a criança recebe um poder que ela não quer ter: o poder de decidir.
Pense numa mulher com quem você pretenda sair algum dia. Aquela mulher. A mulher. Você quer impressioná-la? Não deixe que ela decida nada na noite em que vocês saírem. Escolha o restaurante, escolha os pratos e a ordem dos pratos, escolha o vinho, escolha até a sobremesa. Avisando sempre, claro:
- Vou escolher pra ti, lindona.
Ela vai ficar encantada. Porque a mulher precisa de alguém que lhe dê segurança. A mulher quer um homem com autoridade.
Autoridade, não autoritarismo.
O funcionário, o eleitor, você e a criança, o mesmo.
A criança, os pais é que escolhem as roupas que ela veste, a hora em que ela vai deitar e o que ela irá comer. Não se trata de uma prerrogativa dos pais. Trata-se de um dever. Uma obrigação. Pais, professores e governos não podem se omitir de decidir. Eles existem para isso.
- Vou escolher pra ti, lindona.
Ela vai ficar encantada. Porque a mulher precisa de alguém que lhe dê segurança. A mulher quer um homem com autoridade.
Autoridade, não autoritarismo.
O funcionário, o eleitor, você e a criança, o mesmo.
A criança, os pais é que escolhem as roupas que ela veste, a hora em que ela vai deitar e o que ela irá comer. Não se trata de uma prerrogativa dos pais. Trata-se de um dever. Uma obrigação. Pais, professores e governos não podem se omitir de decidir. Eles existem para isso.
Filosofia
Um outro alemão que não o bom e velho sapateiro Walter, mas o bom e velho Hegel, definiria a situação brasileira como uma questão dialética. Uma fórmula simples:
Tese: o país passou décadas sob o tacão do autoritarismo.
Antítese: a reação da sociedade foi atirar-se para o outro extremo, o da supressão de tudo o que sugere mando.
Síntese: o brasileiro entenderá que o estado democrático só existe se se preservar a autoridade dos agentes da democracia.
Hegel diria que o busílis se resolveria assim. O sapateiro Walter também - tratava-se de um otimista. Já eu, não sei se dispomos de força e filosofia suficientes para tanto. Até porque, Caetano foi quem disse, filosofia é bem coisa de alemão.
Tese: o país passou décadas sob o tacão do autoritarismo.
Antítese: a reação da sociedade foi atirar-se para o outro extremo, o da supressão de tudo o que sugere mando.
Síntese: o brasileiro entenderá que o estado democrático só existe se se preservar a autoridade dos agentes da democracia.
Hegel diria que o busílis se resolveria assim. O sapateiro Walter também - tratava-se de um otimista. Já eu, não sei se dispomos de força e filosofia suficientes para tanto. Até porque, Caetano foi quem disse, filosofia é bem coisa de alemão.
*foto de G. W. F. HEGEL (1770 - 1831)
Nenhum comentário:
Postar um comentário