Em direção a lugar nenhum
Por César Benjamin (foto dele acima)
Dias atrás, mais uma vez, o presidente Lula comparou seu PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) ao Plano de Metas, do governo Kubitschek, e ao 2º PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), do governo Geisel. É um delírio. Esses últimos expressavam considerável esforço de pensamento sobre a economia brasileira.Propunham-se a realizar mutações ou alterações de qualidade, separando épocas. O PAC não é nada.O Plano de Metas produziu um salto impressionante na infra-estrutura e nas indústrias de base, associado à passagem da industrialização a um novo patamar, com a implantação do setor automobilístico, dotado de elevada capacidade de encadeamento. Somou-se a isso a construção de Brasília, chamada "metassíntese", que refez os eixos de deslocamento no interior do país e, para o bem e para o mal, alterou todo o processo de ocupação do território nacional. O 2º PND, por sua vez, completou o ciclo de industrialização por substituição de importações, conduzindo-o até os insumos básicos e a indústria de bens de capital, expandindo atividades estratégicas, como a produção de petróleo e a transmissão de grandes blocos de eletricidade, além de, igualmente, abrir setores novos, entre os quais a indústria nuclear.Muito se pode debater sobre acertos e erros desses planos, bem como sobre os respectivos contextos, mas não lhes faltavam ousadia e implicações de longo prazo. Para ficarmos no Plano de Metas, realizado sob fortes restrições externas, ele envolveu diretamente cerca de 25% da capacidade produtiva do país. Foram estudados os pontos de germinação e de estrangulamento, a interdependência dos setores e a demanda derivada dos investimentos, definindo-se então metas ambiciosas para cinco áreas prioritárias: energia, transportes, indústrias de base, alimentação e educação.Os resultados impressionam até hoje. Em cinco anos, a malha de estradas pavimentadas cresceu 100%, a produção siderúrgica, 82%, a geração de eletricidade, 36%, o transporte ferroviário de cargas, 32%, e assim por diante.Ao reiterar comparações entre essas experiências e o PAC, até mesmo com vantagem para este último, o presidente Lula mostra que não teme o ridículo. Pois, repito, o PAC não é nada. Ou melhor, é apenas uma catalogação de projetos preexistentes, quase sempre miúdos, concebidos isoladamente, sem visão sistêmica ou capacidade estruturante, sem perspectiva histórica, sem a vocação de produzir mutações.Os documentos oficiais que apresentam a previsão de investimentos federais e os indicadores macroeconômicos durante a implantação do PAC mostram o tamanho da pequenez. A União deve investir 0,6% do PIB, e as estatais, 3,7%. Nem esses diminutos recursos são novos, pois estavam previstos no Orçamento ou nos planos das empresas, especialmente a Petrobras e a Eletrobrás.A gestão macroeconômica hostil ao crescimento se mantém: o superávit primário e os juros permanecerão altos, o câmbio ficará onde os especuladores desejam. Continuamos crescendo menos que a média do mundo, perdendo posições.A rotina de governo tornou-se um permanente espetáculo. A tímida execução do Orçamento da União e os investimentos das estatais viraram PAC, e o PAC é Lula. Não há mais coisa pública. É um tremendo retrocesso político e cultural. O presidente não se constrange em cumprir uma agenda de vereador federal, inaugurando, freneticamente, insignificâncias e promessas. Comporta-se como um animador de auditórios. É ágil para discursar, mas seu governo não executa: nos últimos meses, apenas 12% dos recursos anunciados foram efetivamente desembolsados.As claques aplaudem. O povo gosta. Políticos sôfregos pegam carona.E o Brasil não vai a lugar nenhum. Quem viver verá.
(César Benjamim, economista, é editor da Editora Contraponto e do PSOL)
4 comentários:
Se o PAC não é nada porque a oposição está apavorada?
Porque acusa o PAC de eleitoreiro? Porque ficou louca quando Lula nomeou Dilma mãe do PAC?
Porque PSDB/dEM não fizeram um nada igual ao PAC quando eram governo?
Porque o PAC preocupa?
Porque falam do PAC, criticam e querem derrubá-lo?
O PAC não é nada, não é mesmo?
Zé, quem diz isso é o PSOL. Sou daqueles que acha e tem convicção de que o Estado deve induzir o crescimento fazendo obras de infra-estrutura. Temos sim que construir estradas, melhorar as estradas, aeroportos, portos, melhorar a qualidade de vida nas cidades, etc. FHC não fez nada no PAC, porque tinha a preocupação de conter a inflação. Era necessário fazer uma reforma no Estado antes dele induzir investimentos. Fica complicado, naquele período histórico, fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Agora que a inflação aparentemente está controlada é mais sensato e responsável fazer isso.
Maia,
Um NADA que vai investir um total de 4 BILHÕES no RS, incentivar uma porrada de indústrias, melhorar substancialmente a infra-estrutura logística, agradar a todo e qualquer empresário e gerar milhares de empregos na região mais pobre do Estado não é NADA?!
Se tu lês Zero Hora, certamente todas as obras com financiamento do BNDES e as obras do PAC são da Yeda e do Fogaça, ambos mantiverar o Orçamento Participativo e tratam a educação e a saúde com lisura.
AH! Se bobear, o LULA e o OLÍVIO foram quem desviaram 44 milhões do DETRAN.
Te considero bastante porque és inteligente e não és rançoso. Contudo, eu sou da área e sei como funciona a economia política da comunicação.
FHC triplicou a dívida do país, aceitou a carta de obrigações anti-investimento do FMI (assim como Yeda fez agora com o BIRD) e o Mensalão foi CAFEZINHO-INHO-INHO perto do lobby e do tráfico de influências das privatizações a troco de banana; os gastos com o cartão corporativo dele foram dezenas de vezes superiores, sendo que os ministros do PT todos devolveram os gastos extras; sem contar o MENSALÃO-ZÃO-ZÃO que FHC pagou para votarem a emenda da reeleição.
[]'s,
Hélio
Prezado Hélio, também te considero uma das melhores cabeças dos blogueiros gaúchos de esquerda. E exatamente por que não és rançoso. É assim que o Brasil vai além. Mas FHC fez muito bem, Hélio, de privatizar serviços que são melhor realizados pela iniciativa privada. Por que o Estado tem que ser dono de uma companhia de telefonia? de um porto? de uma companhia elétrica? A desestatizaçaõ de certos serviços e o controle da inflação foram dos grandes marcos de FHC, que fez sim um bom governo. Sem ranços,Hélio, please. Lula segue a mesma política. Esses serviços continuam públicos, mas concedidos à iniciativa privada, como ocorre em Qualquer país do mundo socialmente desenvolvido. O problema do PT é que prometeu ao país um Brasil decente, e a gente está vendo que a roubalheira continua, a politicagem também, o fisiologismo e todos os vícios equivocados da política....
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