Neste mundo vazio de categorias morais, somente a sensibilidade a conduz. Curada do gosto pelo luxo e mundanismos, coloca-se com decisão do lado dos pobres, dos abandonados. Permanece assim fiel ao despojamento e às alegrias modestas de sua infância e também à sua vida presente, pois que, após os anos triunfantes do mercado negro, viu-se sem um vintém. Sente veneração pela pobreza de Van Gogh, pelo cura d'Ars. Todas as angústias encontram uma ressonância nela: a dos abandonados, dos desgarrados, das crianças sem lar, dos velhos sem filhos, dos vagabundos, dos párias, das lavadeiras de mãos gretadas, das empregadinhas de quinze anos. Desola-se quando — em Trésors à Prendre, antes da guerra da Argélia — assiste à dona de um restaurante se recusar a servir um argelino vendedor de tapetes. Diante da injustiça, toma logo o partido do oprimido, do explorado. São seus irmãos, se reconhece neles. Além do que, as pessoas situadas à margem da sociedade lhe parecem mais verdadeiras que os cidadãos bem colocados que se curvam a funções. Prefere um boteco do campo a um bar elegante. Ao conforto das primeiras classes, um compartimento de terceira que cheira a alho e lilás. Seus ambientes, seus personagens pertencem a esse mundo da gente humilde que a literatura atual, em geral, relega ao silêncio.
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Um comentário:
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