Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sábado, 27 de fevereiro de 2010

Vamos Filosofar?


Antígona contraria o rei e enterra o irmão.

Em Busca do Carpe Diem

Não quero ser aqui um conselheiro sentimental da revista Contigo. Não tenho essa pretensão. Estive lendo alguns livros, revendo certas anotações a respeito de como se viver uma vida melhor. Não, não se trata de receitas que se encontra em livros piegas de "auto ajuda", mas de filosofia. A nossa vã filosofia. O meu guru, o filósofo Luc Ferry, parece que acertou na mosca. Ele, como bom estóico, recorreu a sabedoria dos mitos gregos. Pois os gregos compreendiam muito melhor o universo do cosmos do que nós, os modernos, influenciados pelo pensamento judaico cristão. Infelizmente temos esse vício. Mas qual, afinal, a receita para viver uma vida boa, pois é isso o que efetivamente importa para todo mundo. É ou não é? Nós temos uma dificuldade imensa de aceitar nossa própria existência, o mundo que vivemos estamos embutidos. Pensamos muito na história que passou e no futuro que virá. Fazemos planos, temos receios, nos preocupamos e nos estressamos em face disso. Temos, sobretudo medo líquido, sólido e gasoso. Como disse Ferry: dois males pesam sobre a existência humana, são dois freios que bloqueiam e impede o pleno desabrochar resultante da vitória contra o medo, a nostalgia e a esperança, a vinculação com o passado e a preocupação com o futuro. de não aceitarmos o mundo que vivemos e estamos embutidos. O passado permanente, a "paixão triste", como diria Espinosa, a nostalgia nos puxa para trás, quando lembramos do passado bom. E quando a história foi dolorosa gera rancor, remorso, arrependimento, culpa. Nós, personagens do mundo moderno imaginamos que podemos nos livrar do peso do mundo e da nossa existência adquirindo uma Tv LCD, um mp3, um novo computador, um carro, fazendo um novo corte de cabelo, comprando uma linda calça amarela e um sapato de bico redondo. Pensamos que se assim fizemos tudo vai melhorar. Vivemos um engodo, porque passamos o tempo todo nos desvindo do momento presente e isso nos impede de viver plenamente. Os atrativos do passado e as miragens do futuro são focos permanente de medo e angústia e não há obstáculo pior para a vida boa (ou a boa vida) do que o temor. Em resumo bem resumido, precisamos saber aprender a viver sem nostalgia do passado e sem receio supérfluo em relação ao futuro. Essas dimensões do tempo -- se pararmos melhor para refletir vamos nos dar conta disso -- não existem, não tem existência. O passado não existe mais e o futuro ainda não chegou. Vejamos o tadinho do Édipo que foi abandonado pelos pais Laio e Jocasta em Tebas, porque as previsões do futuro, as profecias do oráculo diziam que ele iria matar o pai e se casar com a mãe e lá se foi ele tentar a vida em Corinto. Mas um dia ele resolve passear por Tebas e, por acaso, briga com um senhor na via e o mata, esse senhor era Laio. E depois de decifrar o enigma da esfinge -- o que nenhum humano até então tinha condições de fazer -- ele se casa com Jocasta e se torna rei. Édipo rei que não imagina nada disso, vive bem, vive muito bem, com sua esposa mãe Jocasta por 20 anos. Vida boa, vida mansa, vida amorosa, de glória e felicidade até que um dia a tragédia chega a sua porta, porque toda a verdade vem a tona. A base de construção da felicidade de Édipo, a morte do pai e o casamento com a mãe, se tornou o princípio fatal da própria tragédia. Como diz Ferry: deve-se aproveitar a vida enqanto ela é boa, enquanto se está bem. Essa tragédia de Édipo originou outra tragédia, a da pobrezinha da Antígona, filha de Édipo e Jocasta que contrariou o rei de Tebas, Creonte e foi enterrar o irmão e, por ter feito isso, foi condenada a morte, mas se suicidou antes da execução -- que havia sido depois cancelada. As tragédias da vida existem, já existiram e poderão existir. Elas podem fazer parte do nosso passado, da nossa herança, podem chegar no nosso futuro, o que nos gera medo. Mas como superar isso? Os gregos antigos parece tinham razão. Uma frase pode sintetizar bem isso: o verdadeiro sábio é aquele que, em qualquer circunstância, consegue esperar um pouco menos, lamentar um pouco menos e amar um pouco mais, como disse outro filósofo francês, André Comte-Sponville, que resume muito bem o espírito da sabedoria grega.

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