Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 14 de abril de 2011

Muito Bons os Pitacos do Rudá Ricci


Do sempre muito bom, Angeli



Sou seguidor do Blog do sociólogo (de esquerda) Rudá Ricci. Volto a repetir aqui: gosto muito da esquerda sensata que não utiliza do maniqueísmo e da manipulação em seus discursos.

A entrevista completa que ele deu ao Jornal Tribuna do Planalto de Goiás está aqui . Pincei três partes do post  que considero mais interessante ou importante: a) o surgimento da nova classe C e a proposta de FHC de se aproximar mais dessa classe C e deixar o povão de lado; b) as diferenças entre Dilma e Lula e c) os movimentos sociais na era Lula e Dilma.

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Sobre a Classe C .

R: A classe C e a religiosidade são os dois principais fatores de formação de opinião política no Brasil atual. O que não significa que dure por muito tempo. Isto porque estamos vivendo um processo muito recente de mobilidade social ascendente (fenômeno da primeira década deste século XXI). Ora, se contamos uma geração a cada 25 anos, estamos vivenciando, possivelmente, o início da formação de uma geração que é filha dos emergentes de classe média e que possivelmente terão hábitos de classe média tradicional. De qualquer maneira, a Classe C forma opinião e é perceptível em vários estudos de comportamento eleitoral do país. Eles rompem com história secular de pobreza de sua família, são ressentidos, muito conservadores (porque querem abandonar o passado o mais rapidamente possível e assumir o padrão classe média), querem se inserir pelo consumo (e não pelo direito ou política) e são cínicos politicamente (o que significa que não acreditam em representantes). Resta saber se o PSDB tem condições de atrair este segmento. Temo que não. É um partido por demais elitizado.


O senhor considera que a nova classe C é conservadora. Em que sentido? Dessa forma estariam mais abertas para eleger um governo de direita?

R: Não necessariamente, já que não têm filiação ideológica. Eles possuem valores conservadores: contra aborto, contra discriminação da maconha, contra casamento gay, contra qualquer mudança relacionada à ordem. Eles querem conservar a situação que os ascendeu socialmente. Como sempre foram pobres, desconfiam de toda institucionalidade pública vigente, não lêem (a maior fonte de informação é o Jornal Nacional da rede Globo) e só acreditam em sua família (apontada por 83% deles como único segmento social que confiam). Formam um segmento que valoriza o círculo social mais íntimo, mais próximo e se ressentem das frustrações de sua vida passada. Mas nada que os identifiquem com elites ou segmentos sociais mais abastados. Neste sentido, Lula foi a expressão pública mais acabada deste segmento. Daí sua popularidade.

Que avaliação o senhor faz do governo de Dilma Rousseff? Ela é descendente do lulismo, mas deve continuar a seguí-lo?

R: Dilma tem a sorte de Lula e a racionalidade de FHC. É um personagem híbrido, gestor, pouco carismático, que tem dificuldades em assumir um papel de liderança pública. Mas faz parte do projeto lulista. E tem personalidade forte. Começou com uma agenda econômica muito negativa: aumento da taxa Selic, corte de 50 bilhões de reais do orçamento (afetando prefeitos e parlamentares), impediu aumento significativo do salário mínimo (pedra de toque da ascensão social na Era Lula). Mesmo assim, como foi adotada pela grande imprensa, como a oposição está em frangalhos e como o governo federal pulverizou verbas publicitárias para o interior do país, seus índices de aprovação foram ás alturas. Dilma não é uma figura popular. Mas o Brasil quer crer que é.
Que diferenças pontuais há entre Dilma e Lula? Ou não existem diferenças?

R: As diferenças são profundas. Dilma fala o discurso dos antigos formadores de opinião: a classe média tradicional. Tem este estilo anódino, reto, duro, formal, técnico, focado no resultado. A grande imprensa adora porque também fala para a classe média tradicional. Já Lula fala para a nova classe média, para os pobres que hoje são classe média baixa. Há uma evidente empatia e Lula soube falar a partir das referências culturais desta classe emergente: futebol, ironias e gracejos, valores familiares (sempre que podia aparecia com sua esposa e chegou a dizer que era contra o aborto, mas que tinha que ser gestor e estadista e pensar em saúde pública). Temo que Dilma, por sua formação como gerente de ações e programas, não consiga fazer a leitura do país novo que emerge e, principalmente, que não consiga assumir papel de liderança numa eventualidade de crise.

Qual a avaliação do senhor sobre os movimenos sociais nesses quase 10 anos de governo do PT? Eles perderam sua força porque foram para o governo? Mas ao mesmo o senhor não acha que eles têm mais força ou são mais respeitados pelo atual governo do que eram pelo governo FHC?

R: Parte significativa dos movimentos sociais se partidarizou e nem é mais movimento social. Se transformaram em organizações, com lógica própria, particular, privada, disputando recursos para se manter. Grande parte é financiada pelo Estado, por governos de todas cores ideológicas. Prestam serviços terceirizados, com competência técnica, em assistência às famílias, à crianças e adolescentes, na área de saúde e educação. Oferecem cursos e oficinas para escolas em tempo integral. E perderam o projeto político-ideológico. Há quem ainda faça discurso da transformação e mobilize socialmente, mas perde rapidamente seu apelo popular e até mesmo sua base social. Este é o caso do MST, que percebe que o fim da pobreza rural (segundo a FGV-RJ, a ascensão social é mais forte no campo) diminui sua base de arregimentação para ocupações. Para que uma família se arriscará a enfrentar um pelotão de choque se pode acessar o bolsa-família ou conquistar um emprego urbano? Finalmente, você me pergunta sobre respeito. Sim, há identidade de trajetórias entre o lulismo e estas organizações. Mas aprendi que em política só há acordo entre quem tem força. E estou afirmando que os antigos movimentos sociais perderam muita força política e são financiados pelo Estado. O fato é que o Brasil se fechou politicamente. Não há, hoje, espaço para um oposicionista ao lulismo. Por isto, a oposição se tornou discursiva. Perdeu o protagonismo da ação.

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