Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Inteligência e Estupidez


O assessor que sabia javanês

Carlos Brickmann

Entre as tradições da diplomacia brasileira, há duas mais fortes do que todas as outras:1 - O Itamaraty, nosso Ministério das Relações Exteriores, é extremamente profissional e competente, um celeiro de quadros de excelente qualidade para todas as áreas do governo;2 - Os curiosos que se arvoram em diplomatas sempre dão errado, mesmo quando assumem com a fama de gênios. São como "O Homem que Sabia Javanês", de Lima Barreto: valem enquanto não aparece ninguém que fale javanês de verdade e fique demonstrado que não entendem nada.


A fauna de curiosos que atrapalharam a diplomacia brasileira é rica. Envolve um ex-presidente que, embaixador em Portugal, teve como principal feito a construção de um galinheiro na residência oficial, para fornecer-lhe a matéria-prima essencial para o frango à mineira; e, transferido para a Itália, morando no magnífico palácio Doria Pamphili, não se sentia bem e passou a maior parte do tempo no Brasil.

Houve um general de pijama, que fez parte da Junta Militar de 1969 (aquela que o deputado Ulysses Guimarães imortalizou com o nome de "Os Três Patetas"), que foi embaixador em Paris.


Outro general, chefe dos subterrâneos das informações, virou embaixador em Lisboa -obrigado, Portugal, pela paciência que teve conosco!


Apoiar a eleição de Evo Morales, que logo depois de tomar posse ocuparia militarmente as instalações da Petrobras?


Apoiar a eleição de Rafael Correa, cujo maior sonho é não pagar o que deve ao Brasil?


Ficar ao lado dos narcoterroristas das Farc, que a Colômbia atacou em território equatoriano?


Tentar importar para nosso país a luta entre israelenses e palestinos -justo aqui, onde árabes e judeus convivem bem entre si, brasileiros que são?


Intervir na política interna de um país vizinho, fornecendo gasolina para que o presidente venezuelano Hugo Chávez pudesse derrotar os grevistas da Petroleos de Venezuela e apoiando sua polêmica decisão de fechar a TV oposicionista?


Vestir-se com roupas de colonizador inglês na Índia para esperar, na selva colombiana, uma libertação de reféns que não ocorreu?Nada disso é Itamaraty: nossos diplomatas não fazem papel ridículo.


Tudo isso é Marco Aurélio Garcia, o estranho especialista em política latino-americana que jamais escreveu nenhuma obra sobre o assunto, mas conseguiu se transformar em conselheiro do presidente Lula.


Garcia, é bom que se recorde, não se limita às atividades paradiplomáticas: foi também aquele que fez o famoso "top, top", o obsceno "top, top" para comemorar o fato de que não era o governo o responsável pelo acidente da TAM que matou 199 pessoas -isso enquanto o país, de luto, não tinha como aceitar nenhuma comemoração.


E é Marco Aurélio Garcia que, tomando partido numa luta com a qual o Brasil nada tem a ver, dá total razão aos palestinos do Hamas.

A briga é deles, não nossa; mas Garcia conseguiu convencer Lula de que o Brasil pode ter êxito onde Estados Unidos, França, Rússia, Inglaterra e ONU falharam.O Brasil, como país neutro, como ponto de convergência de árabes e judeus, poderia ter um papel importante na busca da paz. Mas, tomando partido, perdeu quaisquer condições de influir na região.Há poucos dias, o presidente Lula afastou Marco Aurélio Garcia da função de palpiteiro-mor de política externa, mas o manteve como assessor.


Entretanto, sua influência sobre o presidente é tamanha, ou foi tamanha, que as coisas que diz são tomadas internacionalmente como o pensamento de Lula. É ruim para o presidente, é ruim para o Itamaraty, é pior para o Brasil.Talvez a solução fosse enviá-lo para a França, onde estudou, e onde estão os trotskistas que, há 40 anos, influenciaram sua cabeça stalinista.

O ex-primeiro-ministro alemão Konrad Adenauer tem uma frase clássica, que é impossível não citar aqui: "O bom Deus, que limitou a inteligência humana, bem que poderia ter limitado também a estupidez".

Artigo publicado na Folha de hoje: CARLOS BRICKMANN, jornalista e consultor de comunicação, é diretor da Brickmann & Associados. Foi editor e repórter especial da Folha e editor-chefe da "Folha da Tarde" (1984 a 1991).

Um comentário:

Anônimo disse...

Melhor artigo!!