Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Capitalismo Não Morreu




Investimento + flexibilidade


Delfim Netto



A confiança entre os indivíduos está na base de todo o sistema produtivo em que os colaboradores conservam a sua liberdade. Ela permite a "divisão do trabalho" que, pela especialização, aumenta a produtividade de todos. E foi a liberdade, somada ao fato de que cada um poderia apropriar-se dos benefícios de sua iniciativa (a propriedade privada garantida pelo Estado), que permitiu a expansão da divisão do trabalho e a incorporação da inventividade do homem ao processo produtivo. Ele "descobriu" esse caminho ao longo da sua dolorosa busca de eficiência produtiva combinada com sua liberdade. É a esse conjunto de instituições, em permanente mutação adaptativa produzida por uma seleção quase natural, que se dá o nome impreciso de "capitalismo". E é por isso que não há miopia histórica maior do que afirmar solenemente que "nesta crise o capitalismo morreu"! Todos sabemos que quando, por qualquer motivo, o "circuito econômico" é interrompido de forma dramática (por exemplo, uma quebra de confiança entre os agentes econômicos) e se destrói a expectativa de que ele volte a ser restabelecido no curto prazo, o nível de atividade econômica pode encolher para níveis intoleráveis e pode estimular aventuras políticas, como demonstram os regimes totalitários dos anos 30. No momento em que a morte da confiança leva cada um a encolher-se sobre si mesmo para tentar salvar-se da tormenta (o consumidor não compra, o industrial não fabrica, os bancos não emprestam), a única racionalidade possível é a derivada do ente que sustenta o sistema, o Estado, que deve prover as condições necessárias para ressuscitá-lo. Mas, infelizmente, só o tempo pode produzir a condição suficiente para fazê-lo. O que ele deve fazer no entretempo? Manter sua política social e utilizar o único instrumento à sua disposição: cortar e diferir despesas de custeio (os funcionários não correm o risco do desemprego e têm sua aposentadoria garantida), ampliar os investimentos diretos e estimular toda a sorte de concessão de serviços públicos. Isso aumentará o emprego do setor privado e preparará a retomada com maior produtividade. Por outro lado, o Estado deve abster-se de tomar medidas falsamente "protetoras" que engessam os mercados (de bens e de trabalho). Deve estimular a maior liberdade de negociação e o aumento da competição. Com isso, diminuirá o tempo do ajuste e preparará a retomada com maior vigor.


Folha de hoje.

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