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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Resgatando Keynes


Sir John Maynard Keynes

Por que Keynes?


Delfim Netto - Folha de hoje

Os economistas dão o nome de "bem público" aos bens ou serviços que gozam de duas propriedades: 1) ninguém pode ser excluído de seu uso e 2) o uso que cada um faz dele não diminui a quantidade disponível para os outros, como é o caso, por exemplo, da defesa nacional.
Existem pessoas cujo pensamento tem um vigor e uma originalidade (mas não clareza) que gozam das propriedades dos bens públicos: transformam-se em instituições. Alguns economistas de várias tribos (esta expressão já está na "Riqueza das Nações"), Adam Smith (1723-1790), Karl Marx (1819-1883), Leon Walras (1834-1910), Alfred Marshall (1842-1924) e John Maynard Keynes (1883-1946), assumiram esse "status".
Existe um Smith, um Marx, um Walras, um Marshall e um Keynes para cada um de nós. Seus pensamentos são tão vigorosos e originais que depois de nos atingirem nunca mais nos livramos completamente deles. Felizmente não são claros. É essa ambiguidade que permite que cada um deles possa ser o "nosso" sem que isso impeça que seja também dos "outros", cada um à sua maneira.
Nenhum deles produziu uma "explicação" definitiva do "universo econômico". Todos, entretanto, viram alguns aspectos fundamentais da vida econômica (e de sua influência sobre a condição humana) que um dia, talvez, integrarão uma compreensão da contínua e crescente complexidade que a domina.
É por isso que hoje todos podemos ser um pouco smithianos, marxistas, walrasianos, marshallianos e keynesianos, sem arrependimento, sem vexame e sem contradição.
O que parece inegável é que a crise que estamos vivendo, produzida pela maléfica "autonomização" do sistema financeiro, encontra a sua melhor explicação em Keynes. Afinal isso não deveria ser surpresa: ele enxergou mais longe porque subiu nos ombros dos antecessores que, às vezes, finge ignorar. Com a sua teoria monetária da produção, ele colocou a moeda, o crédito, a demanda e a incerteza no coração do sistema. Os macroeconomistas, em lugar de continuarem a cultivar uma teoria monetária obviamente estéril, e os economistas "financeiros", em lugar de procurarem distribuições "gordas" para justificar os "desastres" nos preços dos ativos, deveriam procurar desenvolver a intuição keynesiana sobre como funciona a economia tocada a crédito quando o futuro é rigorosamente opaco e imprevisível.
É hora de aceitar que entre os modelos de equilíbrio geral (que fazem a "ciência" de alguns de nossos bons economistas) e a economia monetária da produção existe distância intransponível. Naqueles, a moeda e o crédito sempre serão fatores essencialmente estranhos.

9 comentários:

Anônimo disse...

Keynes!? Keynes é um daqueles economistas que imaginaram ser possível controlar o Mercado usando o poder coercitivo do Estado. Um dos pais do intervencionismo, que não acredita no poder do povo de determinar o que é melhor para si mesmo, achando que o governo deveria fazer algumas destas escolhas. Pior ainda! Keynes é o um dos fundadores da política inflacionária para combater o desemprego! O “pleno emprego” seria atingido simplesmente imprimindo dinheiro e desvalorizando a moeda.

“O desemprego é um mal. Se quiser que desapareça, inflacione o meio circulante”. A idéia do "lord" é a de que o valor nominal se mantendo o mesmo, mas seu valor real caindo, o nível de desemprego também cai, o que está correto. Claro, a conseqüência óbvia é a queda do poder de compra da população (ou aumento dos preços) e um empobrecimento geral. O trabalhador não iria perceber, em tese, que seu salário nominal não corresponde ao antigo valor, e isso evitaria uma crise social. O que ele não previu foi a ascensão do sindicalismo...

Sr. Keynes não via problema em enganar o trabalhador com uma política sem-vergonha. Não me parece estranho ele estar sendo citado pela esquerda desde que a crise iniciou...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Charlie, são interessantes essas contradições da nossa época. Até mesmo o Soros admite que a decantada eficiência do mercado "foi desmentida", assim como foi desmentida a tese de que os mercados, deixados por sua conta, "tendem ao equilíbrio".

Anônimo disse...

Mas Maia, os mercados nunca foram deixados por sua conta. Nem nesta década, nem nas décadas passadas. Mesmo os países ricos promovem intervenção na economia, sempre promoveram, alias. As bolhas que estão estourando são evidências deste fato. A diferença é que conseguiram sustentar a situação por um período mais longo do que os pobres do terceiro mundo.

Quem aqui disser que os EUA e a Europa não promovem protecionismo, assistencialismo (principalmente alguns países europeus) e até monopolios, não vive no mesmo planeta que eu.

Os países desenvolvidos chegaram onde chegaram apesar do intervencionismo. Infelizmente o welfeare state e politicas estilo "new deal" possuem um apelo politico mais forte do que a liberdade de mercado.

Anônimo disse...

E Maia, o que [i]tu[/i] achas? Que o sistema financeiro americano é livre da intervenção do Estado, do governo? Que a Europa aplica a doutrina do livre mercado a risca?

Ora! Até onde me consta, não existe país cujo governo não tente desvirtuar o funcionamento do mercado. Mas tenho uma suspeita de que quanto mais livre o país, maior a riqueza acumulada, e maior a satisfação material de seu povo.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Eu acho que o mercado não pode ser absolutamente livre. Ele tem que ser fiscalizado por um Estado democrático. E, volto a dizer, a crise foi de falta de regulamentação e fiscalização dos Estados mundiais. Quem conhece os balanços dos grandes grupos sabe muito bem que muito dos créditos que ali estão arrolados como ativos não são ativos, são créditos podres. E o Estado americano fez vista grossa aos balanços dos grandes grupos e deixou a bolha estourar. Todos os Estados fazem isso, porque também não tem condições adequadas e modernas de fiscalização. É isso que tem que ser modificado. Não estou defendendo uma nova fase de intervenção estatal nos mercados, mas de maior controle, regulamentação e fiscalização.

Anônimo disse...

Se o problema é crédito furado, não lastreado, então a tendência são estes empreendimentos quebrarem, falirem na primeira dificuldade. Se isso não acontece (a morte natural de um negócio deficitário) alguma coisa está errada.

A intervenção começa quando estes empreendimentos, que disfarçaram seu verdadeiro balanço e quebraram na seqüência são resgatados logo em seguida pelos governos. Que é o que normalmente acontece!

O mercado não permite que negócios furados tenham vida longa. Quem permite são os governos que, em função da pressão de certos grupos (ou até com a boa intenção de tentar salvar empregos e finanças de pessoas de boa fé que dependem do negócio em questão), acabam por "resgatar" estes negócios de uma morte certa. Mas as leis do mercado são inexoráveis, e as bolhas estouram. Sempre. Mesmo que demore, como é o caso das bolhas dos países ricos.

Que o Estado fiscalize a conduta destes entes financeiros, não há problema, é sua função. Quando identificado uma ilegalidade, que se punam os responsáveis. O mercado cuida do resto.

Anônimo disse...

A transparência nas atividades financeiras seria facilmente atingida caso os grupos que agiram de má fé e maquiaram seus verdadeiros números fossem punidos pelo mercado com sua morte econômica.

Mas o exemplo que estamos dando é outro: façam o que quiser, enganem, se acharem necessário! Se por acaso o fantasma da falência começar a assombrar, lhes daremos milhões, bilhões!! Nunca quebrarão!

Não é por nada que fazem o que fazem....

Carlos Eduardo da Maia disse...

Mas é complicado o Estado simplesmente deixar as bolhas estourarem e lavar as mãos. O mesmo Soros sugeriu que se fizesse uma espécie de Proer mundial, com dinheiro público, of course. Eu sou contra, mas acho que o Estado tem também que olhar o caráter social das crises. Quando uma bolha estoura ela pode gerar um efeito cascata de desemprego em massa e isso tem que ser evitado. O dinheiro público que serve para tapar esses buracos pode ser menor do que o que pode servir para tabar os rombos posteriores gerados pelo efeito cascata. Dizem que o grande equívoco de Bush foi não ter socorrido o Lehmann Brothers, porque teria evitado o efeito cascata da atual crise...

Anônimo disse...

Maia, as bolhas estouram. O governo pode adiar, mas não pode evitar. O ideal é impedir que essas bolhas se formem. E isto só é possível com o mercado agindo com liberdade, com a oferta se ajustando a demanda.

Bolhas são coisas que existem quando não deveriam existir. Existem porque alguma força externa as manteve saudaveis por algum tempo.

Manaus, por exemplo. Não fosse o esforço homérico de nosso governo, não haveria, no meio da floresta, uma métropole com mais de um milhão de habitantes. Não é natural! O momento que os subsidios da ZFM cairem, cai a cidade inteira. A bolha estoura e centenas de milhares serao prejudicados.

Mas porque diabos alguem permitiu que surgisse ali uma bolha tao gigantesca? Ela simplesmente nao deveria existir, e soh existe gracas a estupidez de nossos governantes. E para marcar bem, ela soh existe as custas de todos os contribuintes do Brasil, alem de prejudicar o desenvolvimento economico de outras regioes.