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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Nosso Destino É Mesmo a Hipocrisia

O novo ministro da Casa Civil e a escada da hipocrisia - charge de Jean.


Muito bom o editorial da Folha de hoje - A grande família -- sobre a demissão da ministra Erenice Guerra e as suspeitas de que a Casa Civil de Dilma Rousseff era, na realidade, um balcão de negócios. Todos sabem que a Folha é serrista, torce por José Serra, mas não admite isso de forma expressa. É uma torcida implícita, na surdina, hipócrita. Mas a política, nesse país, é mesmo uma grande hipocrisia.

Como foram  hipócritas, com todo o respeito e data venias, as últimas palavras de Erenice como Chefe da Casa Civil e braço direito do governo Lula:

Não posso deixar dúvida pairando acerca de minha honradez"
Mesmo com todas as medidas por mim adotadas, (...) a sórdida campanha para desconstituição de minha imagem, meu trabalho e minha família continuou implacável"
"Por ter formação cristã não desejo nem para o pior dos meus inimigos que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que se desencadeou contra mim e minha família. As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo".

Erenice quis posar de tadinha, mas eu não tenho nenhuma pena dela.

Abaixo, para quem quiser ler, o editorial da Folha de hoje que recomendo.



A grande família


Demissão de Erenice Guerra alimenta suspeitas sobre a montagem de um balcão de negócios no ex-ministério da candidata Dilma Rousseff

A ministra Erenice Guerra, braço direito e substituta da petista Dilma Rousseff na Casa Civil, não resistiu a mais uma reportagem com relatos acerca de atividades de tráfico de influência e cobrança de comissões supostamente praticadas por membros de sua família. A Folha trouxe, na edição de ontem, a explosiva história de uma empresa que afirmou ter sido orientada a procurar a Capital Consultoria, de um filho da então secretária-executiva do ministério, para liberar um empréstimo bilionário do BNDES.


Segundo os autores da denúncia, em conversas gravadas pela reportagem, houve troca de e-mails com um assessor da Casa Civil e realizou-se uma reunião entre representantes da empresa que pleiteava o empréstimo e Erenice.


A firma do filho da ministra demissionária teria cobrado pelo serviço seis pagamentos mensais de R$ 40 mil, além de uma "taxa de êxito" -um eufemismo para propina- de 5% sobre o valor do financiamento. Segundo as declarações, o pacote também incluiria uma doação de R$ 5 milhões, supostamente para a campanha de Dilma Rousseff.


Em síntese, de acordo com os depoimentos colhidos pelo jornal, um balcão de negócios, montado no coração do Poder Executivo, tentou vender facilidades para uma empresa interessada em recursos bilionários do banco de fomento do governo federal -que utiliza dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador na concessão de crédito a juros subsidiados.


Para completar o descalabro, segundo um dos entrevistados, o ministério servia de guichê partidário com a finalidade de arrecadar fundos para a candidatura oficial. Em que pesem as negativas, o pedido de demissão da ministra reforçou conjeturas acerca de sua participação nas tratativas.


O caso, que se reúne aos malfeitos reportados pela revista "Veja" nesta semana, também lança dúvidas sobre o comportamento de Dilma Rousseff e da própria Presidência da República. Todas as reportagens dão conta de que havia uma quadrilha atuando sob o nariz do chefe do Executivo, em seu mais próximo e estratégico gabinete -a mesma Casa Civil em que se montou, no primeiro mandato, o esquema do mensalão.


O episódio não deixa dúvida quanto à crescente promiscuidade, no atual governo, entre interesses públicos e privados. Oito anos de incrustação petista na máquina pública foram suficientes para promover, além do conhecido loteamento fisiológico, a partidarização sem precedentes do Estado brasileiro.


O pequeno clã dos Guerra talvez possa ser visto como uma espécie de ilustração em miniatura de um conglomerado maior, a grande família dos sócios do lulismo, formada por uma legião de militantes, aproveitadores e bajuladores que parece ver no exercício das funções públicas uma chance imperdível para enriquecer e perpetuar privilégios.


Infelizmente, essa espantosa instrumentalização das estruturas governamentais, em tudo compatível com o perfil estatizante, corporativo e arrivista do PT, tem encontrado na figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o seu principal fiador.


Inebriado com seus elevados índices de popularidade, o mandatário é o primeiro a estimular a impunidade e a minimizar os "erros" de seus companheiros.


Da compra do apoio de partidos e parlamentares à violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, passando pela devassa no Imposto de Renda de milhares de cidadãos, entre os quais adversários políticos do PT, tudo é atribuído a conspirações da imprensa ou de "inimigos do povo"; nada é investigado a fundo.


Apurar, ao que tudo indica, não é mesmo um verbo que se conjugue no Palácio do Planalto. Ali, prefere-se iludir, tergiversar, apaniguar. Por isso mesmo é de esperar que ainda existam instituições públicas com suficiente independência e iniciativa para proceder a uma averiguação rigorosa desses episódios.


Nesta hora em que as pesquisas de intenção de voto apontam para uma vitória acachapante da candidata oficial, mais do que nunca é preciso estabelecer limites e encontrar um paradeiro à ação de um grupo político que se mostra disposto a afrontar garantias democráticas e princípios republicanos de forma recorrente.


O Brasil não pode ser confundido com uma espécie de "hacienda" da grande família petista.


Se não há evidências sobre a participação de Dilma Rousseff em desvios como os agora apontados, é inevitável questionar a escolha de Erenice Guerra para exercer as funções de secretária-executiva e, posteriormente, chefe da Casa Civil da Presidência.


Ninguém mais do que Dilma sabia com quem estava tratando. Faltou-lhe argúcia para perceber o que se passava? Desconfiou, mas não tomou providências? Tudo não passa de um grande engano? É preciso que se responda.


Há tempos o país vem assistindo à modelagem da figura pública da postulante petista pelo presidente da República e seus propagandistas. Já é hora de o marketing dar lugar ao debate e ao questionamento. Os brasileiros precisam de informações que permitam aferir com mais acuidade as virtudes e defeitos daquela a quem Lula, em mais uma de suas sintomáticas e infelizes metáforas, empenha-se em entronizar como a "mãe" do país.







8 comentários:

Fábio Mayer disse...

Carta Capital e Caros Amigos são claramente dilmistas e ninguém fala mal delas... porque será né?

guimas disse...

Fabio,

Deve ser porque ninguém fala delas.

Anônimo disse...

O que a Folha está fazendo é algo inédito, que nunca testemunhei em quarenta anos de jornalismo, mesmo com todos os exageros dos anos 90.

Ontem, apresentou um suposto empresário, sócio de uma empresa, a EDRB, que teria pleiteado um financiamento de mais de R$ 9 bilhões no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para implantar um parque eólico,. Segundo o jornal, o financiamento teria sido rejeitado pelo fato do tal empresário não ter concordado em pagar R$ 5 milhões em propinas ao filho da Ministra-Chefe da Casa Civil.

"Não aceitamos pagar nada. Temos investidores, empresas que querem construir, gerar alguma coisa, e não criar vagabundos dessa forma", disse à Folha Rubnei Quícoli.

Em um boxe pequeno, o jornal admitia que esse poço de virtudes - cuja palavra era a única prova que apresentava - tinha dois inquéritos por golps na praça (interceptção de carga roubada e posse de dinheiro falso) e passara dez meses preso em 2007. Essa é a única fonte na qual o jornal se baseou para a denúncia.

No decorrer do dia, apareceram as seguintes informações:

1. A EDRB negou que o sujeito fosse sócio. O sujeito – um escroque condenado – apareceu na empresa e pediu dados para tentar obter financiamentos e ajuda para o projeto, assim como várias outras pessoas, segundo nota oficial da EDRB.

2. Ele vai até o filho da Erenice e apresenta uma proposta para que seja consultor do projeto., acompanhando a parte jurídica do projeto No mercado é praxe comissão de 5 a 7% para projetos elaborados para o BNDES. É evidente que, pelas informações até agora veiculadas, Israel Guerra não tem a menor condição de ser consultor de nada.

3. Aí, foi até o BNDES e encaminhou um pedido de financiamento de R$ 2,3 bilhões, que não tinha NENHUMA condição de ser aceito. A empresa não tinha porte para obter o financiamento e sequer tinha definido o local do projeto. Logo, não tinha como apresentar o laudo do Ibama – condição necessária para a aprovação de qualquer projeto dessa natureza. O projeto foi rejeitado liminarmente em reunião do qual participam todos os superinetendentes do banco. Nem com ordem direta do presidente da República seria possível a aprovação do projeto.

4. A EDRB é uma pequena empresa de Campinas, subsidiária da Órion Tecnologia, empresa média que trabalha com automação industrial.

As informações acima são públicas, divulgadas através de notas oficiais da EDRB e do BNDES.

Confira o que o jornal faz com as informações:

Na primeira página:

«A empresa EDRB, de Campinas, acusa o filho de Erenice e um assessor dela de pedir R$ 240 mil mais 5% de comissão para intermediar empréstimo no BNDES».

A EDRB negou qualquer contato com quem quer que fosse. Informa que o tal escroque apareceu na empresa e pediu dados sobre a tecnologia desenvolvida, prometendo ajudar.

Anônimo disse...

O caso do sigilo fiscal e a fraude do bebê-diabo

Em 1975, o diário paulista “Notícias Populares”, do grupo Folha, sustentou por quase 30 dias uma notícia forjada em torno de um tal “bebê-diabo”, que multiplicou a tiragem do jornal. Quando o público começou a se cansar, o jornal anunciou a fuga do “bebê-diabo” – e encerrou o assunto. O episódio atual em torno do sigilo fiscal repete o embuste, um clássico do jornalismo marrom, desta vez com a participação generalizada da mídia dominante. Quando ficou claro que a sucessão de manchetes não estava arranhando o favoritismo da coligação petista, os jornalões mudaram de assunto, trocando-o por outro.

Carlos Eduardo da Maia disse...

A questão é a seguinte, Israel Guerra era lobista e Erenice sabia disso. Este é o ponto. Empresas se aproximavam dele, porque ele era filho do braço direito da Dilma. E isso, por si só, é muito grave.

Terráqueo disse...

O Brasil é assim. O povo brasileiro dá sempre um jeitinho, não respeita o trânsito, dá propina para o guarda, sonega imposto, transgride sempre que possível. Os brasileiros contrabandeiam, cortam matas, poluem sem qualquer pudor. Por que nossos governantes seriam diferentes? Eles representam bem o nosso povo. Vergonha sobre nós.

Fábio Mayer disse...

Perguntar não ofende:

Terá filhos o novo ministro da Casa Civil?

PoPa disse...

A situação da casa covil é insustentável. Não dá para dizer que é invenção deste ou daquele, pois as coisas estão muito bem embasadas. Tinha (tinha?) muita safadeza ali dentro, e não é só agora, pois isso não se cria de um dia para o outro. Estava lá, no tempo da Dilma e continuou porque a própria Dilma insistiu com Lula para que colocasse a parceirona no cargo (agora fala que é uma ex-assessora...)

Nem a patrulha oficial está se animando muito em defender Erenice. Já foi jogada aos leões de sempre, será tratada como "traidora" ou "aloprada", mas continuará com a grana embaixo do colchão (este povo parece que não gosta de banco...)