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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Lula Concentrou Poder Após Mensalão


Boa, muito boa a entrevista do sociólogo, professor da USP, Brasílio Sallum, publicada na Folha de hoje, no sentido de que Lula concentrou poder após crise do mensalão.

FOLHA - O que mudou no rumo do governo após o mensalão?

BRASÍLIO SALLUM - Depois que lideranças foram atingidas, especialmente José Dirceu, o governo ficou com muito pouca capacidade propositiva. Além disso, o partido foi muito atingido. Como o presidente conseguiu se isolar relativamente, aumentou a capacidade dele de comandar o governo e se reduziu o peso do PT na coalizão. O PT ficou mais dependente da figura do presidente.
FOLHA - Isso é bom ou ruim?

SALLUM - O Executivo no Brasil tende a ter uma posição muito proeminente. No primeiro governo Lula, o PT contrariava essa tendência usual da nossa organização política. O segundo mandato é muito mais tradicional: o chefe do Executivo exercita muito mais o seu poder. Aparentemente o presidente arbitra mais, apesar de ter dificuldade de arbitrar.

FOLHA - Isso é bom?

SALLUM - Temos um sistema político anacrônico em relação ao processo de democratização. Houve um aumento do poder de ação das camadas médias e das situadas na base da pirâmide social. Apesar desse ambiente mais democratizado, temos um padrão de organização política que concentra muito poder na Presidência. Os partidos ficam, depois das eleições, negociando apoio à Presidência, atrás dos recursos que são essenciais a sua própria existência, levando pouco em conta o eleitorado.
FOLHA - Não se articulam com a sociedade?

SALLUM - Exatamente. A exceção disso era, e ainda é em parte, o PT, que cresceu vinculado a sindicatos, movimentos sociais. Ocorre que, como cresceu nesse sistema, está sendo devorado por ele. O PT se tornou muito mais um partido comum, com menos vinculação com movimentos sociais, parecido com outros partidos, embora não seja igual.
FOLHA - Como diminuir a distância?

SALLUM - Qualquer reforma política que se preze precisa achar mecanismos de vinculação. Por exemplo, reduzir o âmbito onde se dão as eleições parlamentares. Sem mudar o voto proporcional. O controle do espaço público fica muito centrado no Executivo e os partidos ficam colhendo migalhas. Se os partidos aumentassem sua ligação com a sociedade, você ampliaria o debate propriamente político.
FOLHA - O problema é o "presidencialismo de coalizão"?

SALLUM - Veja, presidencialismo de coalizão não é um defeito. É claro que quem se elege sem maioria precisa achar uma para governar. O ruim é que os partidos só exijam cargos e que as trocas não sejam em função de um programa qualquer. Você não vê nenhuma discussão de intenções de governo. Coalizão não é problema. O problema é que se dá num contexto de dissociação da sociedade.
FOLHA - O PT se afastou das bases com o mensalão?

SALLUM - Acho que o mensalão é parte desse processo de acomodação do PT. Se for comprovado que houve troca de dinheiro por apoio ao governo, o mensalão seria uma variante ilegal do padrão. As dificuldades de operação do sistema político atingiram grandes proporções no governo Lula. O partido, quando se tornou nacional, virou um partido com uma burocracia semi-profissional grande. Os recursos dos descontos dos salários dos militantes se tornaram insuficientes para sustentar uma máquina que se queria nacional.Provavelmente, começaram a surgir os mecanismos de financiamento tradicionais. Minha impressão é que ocorreram acordos eleitorais, promessas de transferências de recursos, que foram saldadas em momentos de votações difíceis em função de pressão dos aliados.

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