Leio no diário gauche um artigo interessante sobre filosofia, estética e política. O título no blog é a mídia (sempre ela) elimina a possibilidade de ver.´
Diz o artigo:
"Há pelo menos trinta anos, a reflexão de Paul Virilio gira em torno da idéia de que a velocidade com a qual se processa a inovação tecnológica não permite mais nenhuma possibilidade de controle da parte de um indivíduo político racional."
O dono deste depósito não pode deixar de considerar que é exatamente essa falta de controle que alimenta a imagem do pós modernismo (seja ela falsa ou verdadeira), no sentido de que a humanidade perdeu as rédeas da história.
Fukuyama, aquele que matou a história, não estaria certo em suas previsões?
Segundo o Diário Gauche, Paul Virilo "lança, em seu ensaio L’arte del accecamento [A arte do cegamento] (Raffaelo Cortina, 104 pp.) um novo apelo: objetivo do estudioso é pôr desta vez um freio ao predomínio asfixiante da imagem, que pouco a pouco tem desgastado aquela que Virilio define como “a arte de ver”. Afogando-nos nas imagens televisivas, observa o filósofo, enfraquecemos, sem dar-nos conta, a lateralidade e a profundidade da visão. Falta a percepção do “tempo aberto”, do qual falava Rilke nas Elegias de Duíno: tempo de vida que abre ao “espaço puro onde desabrocham sem cessar as flores”, ou seja, aquela dimensão que é própria da arte e da poesia. Vivemos na ilusão de ver tudo, mas, ao invés, o olho não capta quase nada: transitamos “da objetividade à tele-objetividade”, a uma realidade na qual a visão daquilo que está longe esconde a visão do próximo, com enormes recaídas sobre as relações intersubjetivas.
Antecipado por Merleau-Ponty, que já em 1953 constatava que “a obediência cega é o início do pânico”, Virilio – tendo experimentado a ditadura do olho insone de um sistema da informação totalizante – pode relançar o seu alarme, definindo com a metáfora da “tele-objetividade” a condição de quem pode apenas olhar “além do horizonte das aparências objetivas”. A superação dramática “daquilo que era apenas esboçado com a reprodução industrial das imagens, analisada por Walter Benjamin”, é evidenciada assinalando, na era da webcam e da tele-vigilância, a destruição definitiva da experiência estética, construída nos séculos das artes visuais. Por este motivo, na paisagem da destruição provocada pela difusão e pelo desenvolvimento ilimitado das tecnologias audiovisuais, “a arte de ver” se tornou “a arte do cegamento”.
A superexposição midiática das artes plásticas contemporâneas torna atualmente obsoleta até mesmo a crítica de Marcel Duchamp, que denunciava os limites da arte retínica, considerada insuficiente para descrever um mundo em veloz mutação: “Numa época em que a nossa visão do mundo se tornou mais teleobjetiva do que objetiva, como persistir no ser?” se pergunta Virilio; “como opor uma resistência eficaz à repentina desrealização de um mundo no qual tudo é visto?”.
Embora exigindo uma crítica radical à idéia de uma inovação tecnológica que já fugiu completamente ao controle humano, a posição de Virilio não o impede de rejeitar qualquer etiqueta “apocalíptica”. A idéia de que o progresso tecnológico seja o caráter peculiar da atividade humana entra inevitavelmente em crise, enquanto a inovação acelerada é antes obra dos automatismos do sistema.
Aquilo que se torna verdadeiramente humano é, então, o cuidado dos vestígios do vivido, da literatura, da arte e da poesia. Aqui não se trata de preservar obras boas para um museu; está em jogo a defesa de uma condição da experiência humana que corre o risco de ser definitivamente dissolvida. A exigência explícita é por uma “filosofia política” que esteja em condições, mais do que de descrever uma passagem crucial, de individuar estratégias através das quais “o conjunto dos viventes reunidos diante de suas telas” possam libertar-se desta nova versão de capitalismo global que se apossa sempre mais das tecnologias da informação e de uma nova estratégia da comunicação. Os poderes que atravessam estas novas tecnologias criam agora dispositivos centrais da biopolítica, entendida como produção dos corpos vivos.
Artigo de Nando Vitale, publicado no jornal Il Manifesto, de 17 de julho de 2007."
O proprietário deste empório recentemente leu o livro do filosofo francês Luc Ferry, Aprender a Viver, que proclama mais ou menos o seguinte:
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