Hélio Sassen Paz fez o seguinte comentário que achei interessante:
"O espaço público em um ambiente urbano onde o automóvel e as perimetrais esvaziam as aglomerações humanas em favor do fluxo (fluxo de veículos, fluxo de mercadorias, fluxo de idéias, fluxo de informação - fluxo é o termo da moda) transforma o espaço da mídia (sobretudo da televisão) em espaço público.Não importa se é de esquerda ou de direita, pois todo motorista é midiatizado e tem o seu carango para ir e vir e vive estressado quando o trânsito não anda: tudo o que atrapalha o fluxo é malquisto.Pode ser a obra parada na periferia (Baltazar, entre POA e Alvorada); a manifestação do MST na RS 174; o Cansei no Parcão ou 10 caminhões de bombeiro pra resgatar o gatinho da dona Marocas que subiu na única árvore adulta que existe na praça da Encol, não importa: tudo o que interrompe o fluxo é antipático.E, como a quantidade de notícias é grande (mas a informação é pequena, ou por causa do Pensamento Único da Mídia, ou porque, simplesmente, não oferece novidade alguma), a comunicação mediada passou a ser o espaço público da atualidade.A esquerda, mesmo sem ser dona dos meios de produção midiática, precisa saber se apropriar dos raríssimos espaços que obtém nesse meio para ser impactante, ágil e leve em poucas palavras e sem dar trela para os repórteres e comentaristas, ao mesmo tempo em que deve tomar conta da internet."
A esquerda não se deu conta que seu discurso não cativa as pessoas que vão de um lado para o outro da cidade. Não cativa, porque é um discurso defasado, lento, que parou na história. O que, afinal, a esquerda defende, além de criticar? Qual, afinal, o modelo a seguir? O que a esquerda sugere para o RS vencer os desafios da crise financeira? Até meu cão, o Trosco, sabe que o discurso da esquerda anda mais perdido do que São Bernardo em bang bang. Por isso, que as pessoas se irritam quando a meia dúzia do MST, essa minoria participativa, fica trancando o trânsito nas cidades, porque todo mundo sabe que isso não adianta nada. A cidade moderna é complexa, é difusa, é multifacetária, é plural, é cheia de tribos e opções. Esse é o mundo pós-moderno que acabou com aquele maniqueísmo, aquele dualismo, aquela divisão restrita da sociedade entre exploradores e explorados que havia no século XIX e parte do século XX. O mundo mudou. Estamos embutidos num globo que necessita e -- muiiiito -- ser mais humanitário, mais igualitário, mais fraterno. Mas que caminho seguir?
Uma coisa é certa, Estado é fundamental. Serviço público é fundamental. É unica forma de se fazer um país funcionar. O Estado francês, sueco e norueguês funcionam. É exatamente ai que temos de chegar. E existe uma linguagem, uma receita para isso. E essa linguagem não é a da discórdia, da divergência e nem mesmo da divisão. Espanha e Portugal estão indo pelo mesmo caminho. O Chile que cresceu muito este ano também. É só o Brasil seguir essa receita. Não defendo Estado mínimo, mas eficiente. Não defendo livre fluxo de capital, mas um controle estatal responsável e transparente sobre a atividade privada que também deve participar e colaborar para a construção de um Brasil melhor e mais justo. O resto, o resto é pura burrice e anacronismo ideológico. Um materialismo histórico que virou determinismo idealista.
O fluxo não pode estar obstruído. Ele não pode ser poluído. Não pode ser ocupado por nenhum pensamento, religião e ideologia. O fluxo tem de ser livre. A esquerda adora interromper o fluxo e se meter na intimidade de cada um. E esse ideal está descolado. Não cativa. Irrita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário