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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Deus Salve a Irlanda

Imagens da crise irlandesa

Não li até agora nada de interessante sobre a crise irlandesa. Apenas algumas propagandas contra o neoliberalismo como no artigo abaixo do site Carta Maior, de uma certa esquerda.

A Irlanda está com problemas de caixa - financeiro. Os bancos estão sem grana, sem liquidez. Com a crise de 2008, os investidores deixaram de derramar seu dinheiro. E a economia não bomba mais como bombava antigamente. Há de se evitar -- como já ocorreu por aqui em terras brasucas -- uma corrida aos bancos. Ou seja, o efeito cascata que sempre pode haver numa crise financeira. E a comunidade européia está ali para servir nessas horas. E isso tem um custo razoável.

As razões desse déficit também tem a ver com a baixa taxa de tributos que o governo cobra das empresas para ali se instalar: apenas 12,5%. A menor do continente europeu. Outros países alegam que isso é concorrência desleal. O objetivo, of course, é atrair empresas. E a Irlanda atraiu zilhões de bons empreendimentos. Isso fez o país bombar por algum tempo, até a crise de 2008 que fez  tudo mudar.

Mas essa taxa de tributos cobrada é muito baixa. O problema não é tão grave assim, basta um ajuste para levantar esses impostos e gerar receita para o estado desenvolver o importante e fundamental serviço público e também para se pagar o déficit que o estado gera. A questão é de equilíbrio nas contas. E alguém vai ser chamado a pagar essa dívida. Espera-se que não seja a população de menor renda que precisa de emprego.

Tenho um amigo que esteve na Irlanda no início deste ano. Disse-me ele, passei cinco dias em Dublin num hotel de quinta. Nunca bebi tanto na minha vida. Eles estão bombando. Meu amigo parece saber das coisas.
 
O artigo abaixo, do Carta Maior, pretende dar uma receita (equivocada) aos queridinhos do mercado que participam da equipe de transição de Dilma Rousseff.
 
Nos anos 80 e 90, a palavra ‘Irlanda’ era pronunciada com a reverencia reservada aos quitutes finos nos banquetes neoliberais. O ‘ajuste irlandês’, iguaria produzida a partir de uma receita de cortes brutais nos gastos públicos, demissão em massa de funcionalismo e isenções maciças de impostos, era vendido nas praças de alimentação do mundo pobre como o cardápio da hora. A Irlanda era por assim dizer a garota do quarteirão do Consenso de Washingnton. Ombrear-se a ela era possível, mas exigiria uma aplicação de ferro, explicavamos os ventrílocos nativos que agora demonstram súbita amnésia em relação ao passado deste que é a bola da vez da derrocada européia. Recapitulemos então:

1.em meados dos anos 80, a Irlanda adotou um ‘padrão perene’ de ajuste fiscal, cercado de salvas & vivas da ortodoxia mundial;
2.um serviço à la carte foi providenciado na cozinha irlandesa para atender a freguesia do mercado: a anistia tributária veio junto com cortes de despesas e redução dos investimentos públicos em 1987;
3. 14 mil funcionários públicos foram demitidos ou aderiram a programas de demissão voluntária (isso numa população de 4 milhões de pessoas);
4.o ajuste iniciado em 87 veio para ficar. Até meados dos anos 2000, a Irlanda manteve-se fiel à santíssima trindade neoliberal: controle dos gastos públicos, teto no reajuste dos salários públicos [taxa máxima de 2,5% ao ano entre 1988 e 1990 ]e incentivos 'amigáveis' aos mercados [leia-se, desonerações e vale-tudo];
5.o arrocho fiscal produziu, naturalmente, uma redução substantiva da dívida interna derrubando a despesa com juros de modo a obter um permente superávit nominal [outro mantra dos neoliberais];
6. a supremacia dos mercados desregulados cavava, porém, vertedouros subterrâneos que corroíam as bases economicas do país. O foguetório de superfície permanecia: ‘o Tigre Celta’ crescia a taxas chinesas com macroeconomia de paraíso fiscal [nenhuma empresa pagava imposto acima de 12,5%) Quer coisa melhor que isso? Era o prato da hora. Resquícios dessa receita, agora indigesta, ainda frequentam a agenda do grupo pró-mercados que participa da equipe de transição da presidente-eleita Dilma Rousseff;
7. o desfecho irlandês recomendaria maior prudencia na transposição de seus fundamentos aos ares tropicais. Os números indicam que o banquete redundou em um artordoante desarranjo gastrointestinal que transformou o ‘Tigre Celta’ numa espécie de Haiti financeiro. A saber:
a) a economia irlandesa degringola desde a explosão da bolha financeira em 2008: de lá para cá o país acumula uma queda de apreciáveis 11,6% do PIB , taxa que o coloca algumas cabeças à frente do que se poderia chamar de recessão. Depressão talvez seja um termo mais apropriado para a convalescência de sangue, suor e lágrimas que pode durar até 15 anos;
b) a Irlanda quebrou quando os fluxos de capitais deixaram de alimentar a ciranda doméstica ancorada em desonerações atraentes aos fundos especulativos, cuja maior obra foi a bolha a imobiliária, agora em estado terminal.
c) A ex-queridinha dos mercados desregulados atingiu um déficit fiscal 12% do PIB este ano e terá que reduzí-lo a 4% até 2014. O nome disso é arrocho.
d)os preços dos imóveis já perderam 50% do valor; a inadimplencia grassa junto com o desemprego, a fuga de capitais e o arrocho salarial. Há milhares de imóveis vazios e os bancos estão virtualmente falidos: para salvá-los, o país negocia um empréstimo de 100 bilhões de euros com o FMI, sujeito às condicionalidades conhecidas.
e) O que a frivolidade midiática esquece, porém, é que o ‘Tigre Celta’ quebrou, sobretudo, porque não dispunha mais de políticas públicas, de aparato público, de fôlego fiscal e, sobretudo, de ideologia do interesse público para contrastar a derrocada dos mercados especulativos com medidas anticíclicas em defesa do emprego e da sociedade.
f) O ajuste irlandês’ cantado em prosa e verso pelos bardos da mídia nativa havia reduzido o país a mera extensão dos mercados. Sem contrapesos institucionais soberanos, perdera a capacidade de reagir aos instintos suicidas aflorados em seu próprio metabolismo. A crise estava na essencia da Irlanda e a Irlanda se transformou na essencia da crise. Que sirva de alerta aos discípulos da 'agenda das reformas' que participam ativamente da equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff.

6 comentários:

senna madureira disse...

Maia

Os liberais se acham a oitava maravilha do mundo.

A Irlanda foi cantada em prosa e em verso pelos liberais como a melhor forma de governo.

Taí no que deu.

O Brasil deveria aprender com a Grécia e agora com a Irlanda e manter o Dr. Meilleres no BACEN

Fábio Mayer disse...

O que está claro nessa crise é que o sistema bancário precisa de regulação firme, aquela que o FHC instituiu contra os nossos bancos e que ainda assim, nem sempre é suficiente.

Porque a ganância de operadores financeiros é realmente espepacular e desmesurada, eles não pensam duas vezes em agregar alguns milhõeszinhos em seus bônus (vide Lehman Brothers) à custa de manobras contábeis.

senna madureira disse...

Se eu fosse rico igual ao Maia, eu pagaria direitos autorais ao Fabio Mayer para usar seu comentário como meu fosse.


Ou seja, concordo com o Fábio e tenho inveja da grana que o Maia tem

Carlos Eduardo da Maia disse...

Rico! Eu? Bem capaz, Senna. Eu nem conheço a Irlanda!

Fábio, a Irlanda foi alvo da ganância. Quando um país concede muito benefício fiscal pode ocorrer o que está acontecendo com o tão cantado tigre celta.

Pablo Vilarnovo disse...

O artigo da Carta Capital é de uma idiotice tremenda. A letra "e" então é exemplar. Quer dizer que a Irlanda quebrou por falta de funcionários públicos? Que imaginação!?

A Irlanda quebrou pelo mesmo motivo que a Grécia, Espanha e outros: não souberam aproveitar dos anos dourados que sim, o liberalismo proporcionou.


Dado a melhor econômica vem sempre a boa vontade dos governos: "vamos dar casas para todos, pois é socialmente justo".

Toma lhe créditos imobiliários (bem mais baratos por conta dos riscos mais baixos do Euro), toma lhe incentivos fiscais, o negócio era dar dinheiro às pessoas. O preço dos imóveis explodiu não por conta de desrregulamentação. Explodiu por excesso de crédito e isso não vem dos bancos, vem do governo.

Enquanto continuarem a achar que a crise foi causada por banqueiros, por falta de regulação (o que é uma bruta mentira) e não olhar as medidas que os governos fizeram para inundar os países de crédito nunca irão sair dessa crise.

Quer ver? Olhe o contraponto da Suécia e de como está respondendo à crise.

http://www.spectator.co.uk/politics/all/6296398/swedish-conservatives-bucked-the-recession-by-lowering-taxes-and-won-reelection.thtml

Pablo Vilarnovo disse...

Aliás a frase chave do texto que eu enviei sobre o sucesso da Suécia no combate a crise é essa:

"A Gordon Brown figure would have been impossible in Sweden BECAUSE ITS LAWS PROHIBIT POLITICIANS RUNNING UP TEH NATIONAL DEBT IN BOOM YEARS."

Agora compare com a Grécia onde o governo fraudava as estatísticas.
Percebem a diferença?