Diversidade, Liberdade e Inclusão Social
Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Está Tudo Invertido
Artigo do sempre polêmico Vladimir Safatle na Folha de hoje.
Esse pessoal de esquerda é estranho. Seus ideais foram para o espaço e o que eles mais gostam de fazer é navegar na crítica. Eles têm sempre as melhores idéias e o monopólio da boa ação. Eles detestam a modernidade e a pós modernidade que relativiza tudo. E essa estratégia não é interessante, o importante é radicalizar, voltar ao mundo bipolar onde a definição de direita e esquerda era bem concreta. Hoje pensadores de direita são a favor do aborto e contra a pena de morte, bandeiras que eram de uma certa esquerda. Está tudo misturado e embaralhado e isso não interessa. E por isso surgem figuras do tipo Vladimir Safatle para tentar colocar uma ordem nesse mundo invertido. Pena que essa ordem também pode ser invertida.
Um mundo invertido
Há certas épocas e situações em que podemos observar o esgotamento de processos históricos que até então pareciam guiar nossa maneira de nos orientarmos na política. Quando isso ocorre, nos vemos diante da dança vertiginosa das inversões. Valores e normas que antes pareciam ter a força de garantir a efetivação de expectativas de liberdade, autorrealização e justiça passam simplesmente a funcionar de maneira contrária.
Nessas horas, vemos um cenário político macabro, composto de tolerantes que usam o discurso da tolerância para justificar a intolerância mais crassa contra estrangeiros, democratas que defendem práticas autoritárias, pacifistas que gostariam de tratar com bombas tudo o que está abaixo da Turquia e cosmopolitas comunitaristas. Isso quando não somos assombrados pelo retorno de pensamentos edulcorados de crítica da modernidade pregando a necessidade de uma refundação conservadora de nossos vínculos sociais.
No fundo, todas estas figuras indicam como a substância normativa das nossas sociedades ocidentais não tem mais força nenhuma para orientar a crítica social.
Por isso, não é difícil entender por que intelectuais atentos como Antonio Cícero estranhem o fato de que insisti nesta coluna na existência de uma dinâmica bipolar e complementar entre liberais e conservadores. Se voltarmos os olhos para o mundo anglo-saxão, os liberais não são definidos exatamente por contraposição ao pensamento conservador fortemente tingido de matizes religiosas?
Scott Fitzgerald disse que a prova de uma inteligência superior consistia em ter duas ideias contrárias na cabeça e continuar a funcionar. Talvez isso não seja mais privilégio de inteligências superiores.
Um país como o Brasil, que, já no século 19, mostrou como era possível ser, ao mesmo tempo, liberal e escravagista, não deveria estranhar o fato de que, em certas situações, as ideias saem do lugar.
Já não é de hoje que o pensamento liberal demonstrou ter a flexibilidade necessária para ora se adequar aos laivos esquerdistas de um liberal nova-iorquino ora se adequar àqueles que elevam a "luta contra os tentáculos do Estado" e o direito de propriedade à medida de todas as coisas.
Hoje, ele alimenta, de maneira hegemônica, uma visão de mundo profundamente atomizada, que consiste em ver a sociedade como uma mera associação de indivíduos.
Vale a pena ficar atento a essas inversões, porque, atualmente, é difícil encontrar algo como um "tipo ideal" conservador. Ao contrário, eles sempre vêm com alguns traços atenuantes, com alguns discursos híbridos. Maneira de conjugar certas exigências contraditórias que habitam nossa sociedade, maneira de tirar certas ideias do lugar.
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