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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quem Precisa de Raiz é Arvore

O preconceito não é contra essa pobre senhora e sua família que certamente votaram na Dilma, o preconceito é contra aqueles que enganam esse povo que sempre viveu na eterna miséria.



Muito bom o  artigo de Leandro Narloch hoje na Folha. Ele é autor de um livro que recomendo Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" (LeYa).

Sim, eu tenho preconceito


LEANDRO NARLOCH

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Eu tenho preconceito contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente, as potências mundiais) por seus problemas


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Logo depois de anunciada a vitória de Dilma Rousseff, pingaram comentários preconceituosos na internet contra os nordestinos, grupo que garantiu a vitória da candidata petista nas eleições.


A devida reação veio no dia seguinte: a expressão "orgulho de ser nordestino" passou a segunda-feira como uma das mais escritas no microblog Twitter.


O racismo das primeiras mensagens é, obviamente, estúpido e reprovável. Não se pode dizer o mesmo de outro tipo de preconceito -aquele relacionado não à origem ou aos traços físicos dos cidadãos, mas ao modo como as pessoas pensam e votam. Nesse caso, eu preciso admitir: sim, eu tenho preconceito.


Eu tenho preconceito contra os cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente. No fim de julho, antes de o horário eleitoral começar, as pesquisas espontâneas (aquela em que o entrevistador não mostra o nome dos candidatos) tinham percentual de acerto de 45%. Os outros 55% não sabiam dizer o nome dos concorrentes. Isso depois de jornais e canais de TV divulgarem diariamente a agenda dos presidenciáveis.


É interessante imaginar a postura desse cidadão diante dos entrevistadores. Vem à mente uma espécie de Homer Simpson verde e amarelo, soltando monossílabos enquanto coça a barriga: "Eu... hum... não sei... hum... o que você... hum... está falando". Foi gente assim, de todas as regiões do país, que decidiu a eleição.


Tampouco simpatizo com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país.


São sujeitos que não se dão conta de contradições básicas de raciocínio: são a favor do corte de impostos e do aumento dos gastos do Estado; reprovam o aborto, mas acham que as mulheres que tentam interromper a gravidez não devem ser presas; são contra a privatização, mas não largam o terceiro celular dos últimos dois anos. "Olha, hum... tem até câmera!".


Para gente assim, a vergonha é uma característica redentora; o orgulho é patético. Abster-se do voto, como fizeram cerca de 20% de brasileiros, é, nesse caso, um requisito ético. Também seria ótimo não precisar conviver com os 30% de eleitores que, segundo o Datafolha, não se lembravam, duas semanas depois da eleição, em quem tinham votado para deputado.


Não estou disposto a adotar uma postura relativista e entender esses indivíduos. Prefiro discriminá-los. Eu tenho preconceito contra quem adere ao "rouba, mas faz", sejam esses feitos grandes obras urbanas ou conquistas econômicas.


Contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente as potências mundiais, os "coronéis", os grandes empresários) por seus problemas. Como é preciso conviver com opiniões diferentes, eu faço um tremendo esforço para não prejulgar quem ainda defende Cuba e acredita em mitos marxistas que tornariam possível a existência de um "candidato dos pobres" contra um "candidato dos ricos".


Afinal, se há alguma receita testada e aprovada contra a pobreza, uma feliz receita que salvou milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas, é aquela que considera a melhor ajuda aos pobres a atitude de facilitar a vida dos criadores de riqueza.


É o caso do Chile e de Cingapura, onde a abertura da economia e a extinção de taxas e impostos fizeram bem tanto aos ricos quanto aos pobres. Não é o caso da Venezuela e da Bolívia.


Por fim, eu nutro um declarado e saboroso preconceito contra quem insiste em pregar o orgulho de sua origem. Uma das atitudes mais nobres que alguém pode tomar é negar suas próprias raízes e reavaliá-las com equilíbrio, percebendo o que há nelas de louvável e perverso. Quem precisa de raiz é árvore.
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LEANDRO NARLOCH, jornalista, é autor do livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" (LeYa). Foi repórter do "Jornal da Tarde" e da revista "Veja" e editor das revistas "Aventuras na História" e "Superinteressante".

8 comentários:

Anônimo disse...

Tinha até pensado em comprar esse livro na Feira. Mas agora que li esse "artigo" do autor, acabo de desistir... Um cara que se vangloria de ter preconceito, não merece nenhum centavo meu!!!
Sílvio Crim - silviocrim@hotmail.com

Carlos Eduardo da Maia disse...

Acho que você não entendeu, Silvio, o que ele disse no texto.

guimas disse...

Eu acho uma gracinha esses artigos. O autor está absolutamente correto... para quem mora na Suíça.

O artigo pode ser resumido no preconceito elitista de sempre: quem é pobre não pode decidir eleição.

EU é que sei o que é melhor pra você.

Falta um pouco de humildade nessa gente, e explica perfeitamente como uma pessoa que nunca concorreu em eleição e era desconhecida da maioria dos brasileiros 12 meses atrás se elegeu presidente.

Sugiro ao autor do artigo pegar o uísque escocês dele e ir debater política na Daslu. Lá tem platéia pra ele.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Infelizmente, Guimas, no Brasil e no mundo, quem é pobre é manipulado, é chantageado e a politicagem, como nos ensina Tropa de Elite 2, lucra com a pobreza. Por isso digo e repito mil vezes: a quem interessa a pobreza, a miséria, a alienação do povo?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, whisky está fora de moda. O bom debate agora é com um bom vinho.

Pablo Vilarnovo disse...

Guimas, releia o texto. Acho que você não entendeu. O preconceito do autor é contra as pessoas que usam e manipulam os pobres. Preconceito sim com aquelas pessoas que ficam felizes em "apenas" votar, que na verdade pouco se importam em quem estão votando, não se informam, não estudam.

Porque vc acha que o voto no Brasil é obrigatório?

guimas disse...

Maia,

Coloquei um "uísque" na roda justamente porque acho que o artigo é fora de moda, como o destilado.

E eu disse que Dilma se elegeu justamente porque nossa elite não entendeu (ou não percebeu) que a decisão do voto afastou-se dela.

Quem manipula os pobres? Quem diminui a pobreza ou quem a mantém?

O autor (e o blogueiro) abstrai, ao pensar no "voto educado" ou "voto consciente", que não é só a educação ou a erudição que tem poder de decisão.

É mais do que óbvio que eu preferiria ver todos os votos sendo sustentados, ou embasados.

Mas o Brasil não é a Noruega. Aqui, temos uma multidão de pobres (que, graças ao governo do "abominável semi-analfabeto e bêbado" que ocupa a presidência, diminuiu consideravelmente).

O autor propõe descartar esses votos, pois são "manipulados".

E isto é uma enorme bobagem. A vida destes descartáveis melhorou. Eles votaram em Dilma por isso. Simples assim.

Pontualmente, discordo do maniqueísmo anti-esquerdista, que insiste em colocar os chatos da "certa esquerda" como os donos da opinião de quem vota no PT.

Por exemplo:

"São sujeitos que não se dão conta de contradições básicas de raciocínio: são a favor do corte de impostos e do aumento dos gastos do Estado; reprovam o aborto, mas acham que as mulheres que tentam interromper a gravidez não devem ser presas; são contra a privatização, mas não largam o terceiro celular dos últimos dois anos."

Não há contradições nos exemplos dele. É possível cortar impostos e, através de uma boa gestão, melhorar ou aumentar os gastos públicos.
É possível ser contra o aborto e contra a criminalização do aborto.
Talvez eu concorde em relação à privatização, mas no Brasil esse assunto é um tabu. Não sou contra, mas acho que quem considera privatizar uma solução mágica é um bobo.

Por fim, o autor disse "Afinal, se há alguma receita testada e aprovada contra a pobreza, uma feliz receita que salvou milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas, é aquela que considera a melhor ajuda aos pobres a atitude de facilitar a vida dos criadores de riqueza."

E isto me fez rir. Ele ignora que tivemos pelo menos duas décadas perdidas, onde a pobreza aumentou, mas a riqueza não. Quem acredita no que ele disse deve acreditar naquela estorinha de que "precisamos aumentar o bolo para depois dividi-lo".

Isto não funcionou na ditadura, não funcionou na nova República e não funcionou no governo FHC. Agora funciona (de modo insuficiente, no meu entender), e temos esse exagero.

Quem está se colocando nesta luta de classes e abrindo "frentes de guerra" são as viúvas do PSDB. O PT está no poder, e o Brasil vai bem, obrigado.

Editor da Caverna disse...

Guimas, perfeito... Existe um raciocínio que perdeu espaço até mesmo no em voga até mesmo no liberal EUA de que o aumento da riqueza dos poucos ajuda apenas aos poucos, que se sustentam no poder com o famoso ´é preciso aumentar o bolo para depois dividi-lo´ agora somado ao mentiroso (porém egocentricamente inspirador) ´veja bem, mesmo que não dividamos o bolo com o resto, você também poderá ter um pedaço desse bolo, basta nos manter como donos do bolo e, certamente vc terá sua chance´... Depois de décadas inteiras perdidas com isso, a elitezinha preconceituosa que se rói por ter hoje que dividir o assento do avião com gente que antes nem pegava ônibus, por falta de dinheiro, ou de ter como presidente mais popular da história do país um ´ignorante´ agora tenta nos empurrar a já surrada cantilena de que somos um país moderno pq. temos uma elite moderna, e o somos APESAR do povo... E vc em casa, que têm internet, que lê jornal é diferenciado e poderá ser como um deles, basta ter o mesmo preconceito e visão egocêntrica (embora com o bolso vazio, se comparado a eles).

O Brasil começou a ser um país de todos, temos vários problemas (corrupção, por exemplo), mas pelo menos temos um governo popular (não populista como têm tentado fazer parecer essa elitizinha medíocre). Prefiro mil vezes o ignorante que não sabe quem votou no mês passado, mas votou pq. teve uma melhora de vida do que aquele que sabe em quem votou no mês passado, mas votou pensando no seu pedaço de bolo apenas (ainda que tenha, desse bolo, apenas a cereja do preconceito).