Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A Luta dos Amigos Contra os Inimigos


No diario gauche de hoje leio um artigo do sociologo marxista argentino - Atilio Boron e que analisa a derrota de Chávez na Venezuela.

O artigo é o seguinte e volto a seguir.

Dialética de uma derrota


Como explicar a derrota do Sim, e até que ponto foi somente uma derrota?Chávez se defrontou com uma fenomenal coalizão política e social que aglutinava todas as forças da velha ordem carcomida até as suas entranhas, mas com os seus agentes históricos lutando uma batalha desesperada para salvá-la. A grande burguesia local; os fazendeiros; o capital financeiro; as direções sindicais corruptas; a velha partidocracia; a hierarquia da Igreja Católica; a embaixada norte-americana, todos obcecados em derrotar-lhe e, coroando todo esse ajuntamento, uma coalizão midiática nacional e internacional poucas vezes vista na história que reunia em seus ataques a Chávez os grandes expoentes da "imprensa livre" da Europa, EUA e América Latina.O líder bolivariano atraiu contra si todos os excrementos sociais com os quais deve lutar qualquer governo digno da América Latina e os combateu em quase solidão e de mãos limpas. O que unificou os conservadores não foi a cláusula da "reeleição permanente", e sim algo muito mais grave: a reforma que outorgava status constitucional ao projeto socialista em autogestão, uma coisa totalmente inaceitável. Em que pese a tão descomunal disparidade, o resultado eleitoral foi praticamente um empate.Para muitos venezuelanos a eleição não era importante, o que explica a abstenção de 44%. A grande maioria dequem não votou, teria sufragado o Sim, o qual revela a fragilidade do trabalho de construção hegemônica e de conscientização ideológica no seio das classes populares. A redistribuição de bens e serviços é imprescindível, mas não necessariamente cria consciência política emancipadora. Por outro lado, alguns governadores e prefeitos chavistas não se empenharam a fundo por uma reforma constitucional que democratizaria, em detrimento de suas atribuições, a organização política do Estado ao criar novas instituições do poder popular. Ademais, é preciso ter em conta também que após nove anos de gestão qualquer governo sofre um desgaste ou deixa de suscitar o entusiasmo coletivo de outrora. Junta-se a isso, igualmente, alguns erros cometidos na descontínua campanha eleitoral de um presidente que, por seu papel de protagonista no cenário mundial, não dispõe de muito tempo para outra tarefa.De qualquer modo, apesar da derrota, Chávez se esquivou bem do perigo. Suas credenciais democráticas se fortaleceram notavelmente. A oposição chegou dizendo nos comícios que jamais aceitaria o triunfo do Sim. Em caso de ocorrer a vitória do Sim, denunciariam como fraude e poriam em marcha o "Plano B" da Operação Pinça. Os sublevados democratas confessavam previamente que só se comportariam como tal em caso de vitória, caso contrário, sua resposta seria a desordem. Chávez, em troca, lhes deu uma lição de republicanismo democrático ao aceitar com fidalguia o veredicto das urnas. Imaginemos se houvesse ocorrido por essa ínfima diferença o triunfo do Sim. Os porta-vozes da "democracia" teriam incendiado a Venezuela. Em que pese a derrota, a estatura moral de Chávez e sua fidelidade aos valores da democracia convertem em pigmeus os seus adversários oportunistas, que só respeitam o resultado das urnas quando estas lhes favorecem. E, de lambuja, deixa os senadores brasileiros numa posição insustentável já que, pretextando uma "débil vocação democrática de Chávez", querem frustrar o ingresso da Venezuela no Mercosul.Artigo do sociólogo Atilio A. Boron, publicado hoje no jornal argentino Página/12.
Tradução de responsabilidade deste blogueiro.


Comentário do ditador deste Blog:


O grande equívoco da crítica marxista é o pensamento determinista que toca sempre o mesmo acorde, segundo o qual, o mundo é divido entre amigos e inimigos e estes são sempre os mesmos. Passa o tempo e as gerações, e eles continuam os mesmos. A eterna luta entre amigos e inimigos. O supra sumo do pensamento caduco. Atílio Boron toca o ensaio da mesma mediocridade ao afirmar "O líder bolivariano atraiu contra si todos os excrementos sociais com os quais deve lutar qualquer governo digno da América Latina e os combateu em quase solidão e de mãos limpas".OU seja, a dignidade de um gestão governamental se atinge com luta social e alimentando antagonismos e ressentimentos. Mas quem foi efetivamente para a rua fazer propaganda contra a reforma e foram os principais atores que contribuiram e agiram para a derrota de Hugo Chávez não foram os grandes empresários e nem os velhos políticos da corrupção do antigo regime, quem foi à rua foram os estudantes da principal Universidade Pública Venezuelana. Será mesmo que esses estudantes estão agindo em nome das velhas forças carcomidas, serão eles massa de manobra da velha elite, intelectuais orgânicos do conservadorismo? É evidente que não, mas é necessário sempre -- e esse é o lema principal da caduquice -- arranjar desculpas e cortinas de fumaça para compreender e explicar a derrota. O que os estudantes venezuelanos criticam em Chávez é exatamente aquilo que qualquer movimento democrático deve defender: a mania autoritária de dividir a sociedade entre amigos e inimigos, sendo que o papel dos amigos é lutar. Os estudantes venezuelanos lutam pela paz na Venezuela, como mostra a imagem acima. Quem muito pensa em inimigos e imagina sua presença em todos os lugares é o paranóico. E Chávez tem tido sim, nos últimos tempos, esse tipo de comportamento acirrando a "luta" contra os inimigos. Mas quem são, afinal, os inimigos? Dizem que são os EUA, mas são os EUA que financiam a revolução bolivariana, porque são eles que são os maiores importadores do petróleo venezuelano. Um amigo verdadeiro não vende seu principal produto ao seu principal inimigo. Há, pois, algo de errado no reino bolivariano da Venezuela. E os amigos devem ir para a luta para conseguir os objetivos, mas parte considerável dos "amigos" resolveu ficar em casas, se omitiram e, por isso, a abstenção. Abstenção, omissão também é VONTADE POLÍTICA. Se o povo venezuelano quisesse mesmo a reforma constitucional teria corrido para a rua. Não foi e essa omissão revela sim uma vontade implícita de não reformar a constituição da maneira como pretendia Chávez. A verdade verdadeira é que o futuro de Chávez não mais será como era antigamente, porque a maré vermelha se dissipa. E se dissipa, porque o povo é sabido, ele pensa, analisa, estuda e toma suas decisões, agindo e se omitindo. Acho muito difícil Chávez ter a mesma força de antes. A situação mudou, o caldo engrossou e a Venezuela caminha para novos tempos.

Um comentário:

senna madureira disse...

Meu caro Maia

Como o voto por lá não é obrigatório, a ABSTENÇÃO foi fator prepoderante ( basta ver os dados registrados ) das vitória anteriores de Chavez.

Agora foi a causa de sua derrota.

Por que antes o Chavez não fez o mesmo discurso para comemorar?

Como diria a Dora Kramer; "Plesbicitos são perigoso"

Forte abraço

Senna Madureira