Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

As Flutuações do Capitalismo


Muito bom o artigo do Delfim Netto publicado hoje na Folha. Recomendooooo.

Cuidado
Não deixa de ser um pouco assustadora a facilidade com que se fala em "refundar" o capitalismo como resposta à crise que o laxismo dos Bancos Centrais e a imoralidade de agentes do sistema financeiro depositaram sobre a economia real.


"Capitalismo" é o codinome de um sistema de organização econômica apoiado no livre funcionamento dos mercados. Nele há uma clara separação entre os detentores do capital (os empresários) que correm os riscos da produção e os trabalhadores que eles empregam com o pagamento de salários fixados pelo mercado. É possível (e até necessário) discutir a qualidade dessa organização e sugerir-lhe alternativas. O difícil é negar a sua eficiência, a sua convivência com a liberdade individual e os dramáticos resultados que desta última emergiram a partir dos meados do século 18.


Depois de uma estagnação milenar, nos últimos 250 anos ela permitiu a multiplicação por seis da população mundial, multiplicou por dez a sua produção per capita e elevou de 30 para 60 anos a expectativa de vida do homem, o que não é pouco.Certamente ela não é perfeita.Tem, por exemplo, uma tendência a produzir uma detestável desigualdade. Mas o seu problema mais grave -conhecido desde sempre- é a sua ínsita tendência à flutuação (em períodos e amplitudes variáveis) com repercussões sobre o emprego e a segurança econômica dos cidadãos.


Quando se trata das flutuações macroeconômicas e da desigualdade, os economistas se dividem em duas tribos: uma crê que o sistema de economia de mercado, deixado a si mesmo e com tempo suficiente, resolve os dois problemas. Logo, ela dá ênfase à estabilidade monetária, fundamental para o bom funcionamento dos mercados. A outra crê que a solução exige uma intervenção inteligente, cuidadosa e firme do Estado que corrija a desigualdade de oportunidades e mantenha a demanda global. Logo, ela dá ênfase à estabilidade do emprego no nível mais alto possível.A tentativa (de falsa inspiração keynesiana) patrocinada pelo Partido Trabalhista inglês depois da Segunda Guerra, de produzir simultaneamente a estabilidade monetária e o pleno emprego, terminou, como todos sabemos, num Estado-corporativo ineficiente, cuja desmontagem foi iniciada por Thatcher.


As implicações políticas (na organização do Estado) e econômicas (na limitação da liberdade de iniciativa produtora das inovações) da "refundação" do capitalismo para eliminar as "crises" são muito mais sérias do que supõe a vã filosofia de alguns trêfegos passageiros do G20. Como diriam os romanos: Cuidado, o cachorro é perigoso!

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom artigo, mas poderia ter desenvolvido mais! Meus comentários serão dirigidos ao terceiro destes parágrafos.

Sobre o sistema capitalista, o autor assinala que ele “não é perfeito. Tem, por exemplo, uma tendência a produzir uma detestável desigualdade”. Pouco antes esclareceu que a coisa toda se desenvolveu nos últimos 250 anos. Oras! Que grande besteira! Como se durante a idade média não existisse uma desigualdade muito maior do que a que experimentamos atualmente. O capitalismo moderno não só enriqueceu os povos do planeta, mas, de fato, diminuiu as desigualdades.

Logo em seguida, no mesmo parágrafo, declara que o problema principal são as flutuações do mercado. Concordo. É um problema real, mas natural. Como dizia Mises (ou outro alguém) mercado é expressão da vontade humana. E como comportamento humano é algo imprevisível, logo o mercado não é algo perene ou linear. É aí que os Estados entram. Os governos tentam gerar segurança social através de intervenções pontuais na economia, que invariavelmente crescem além do previsto. E estas intervenções, por definição, tentam simplesmente tolher a liberdade de ação da demanda. Ou, em outras palavras, tentam controlar a vontade humana. Outra característica da vontade humana é que ela é osso duro de roer. Pra torcê-la, o Estado precisa de muita força (e um “governo forte” é tudo que não precisamos).

Tem um livro que li uns tempos atrás que me marcou bastante, do Hayek, chamado “O Caminho da Servidão” (recomendo pra cacete, tem pra vender no Instituto Liberal). A idéia do livro é que é através do controle e da intervenção dos mercados pelo Estado que uma sociedade assume o rumo de um estado tirânico. A partir do momento em que as pessoas aceitam como normal que “os lá de cima” decidam como devem gastar seu próprio dinheiro, o resto deve despencar ladeira abaixo sem grandes dificuldades.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Concordo, Charlie, acho que o capitalismo tem todas as condições de se desenvolver de se tornar mais justo etc.... Basta seguir certas linguagens como investir em educação. E não em qualquer educação, mas na boa educação. Eu detesto o ceticismo das pessoas que acham que o capitalismo é um lixo e ponto final.